28 dezembro 2009

MUITO ALÉM DA COP-15

Reinaldo Canto*, especial para a Envolverde

Foram duas semanas de trabalho intenso, muitas expectativas e um final decepcionante? Não, não é assim que quero deixar registrada a minha participação na COP-15 em Copenhague. É preciso fazer uma análise se não de Poliana, mas que mantenha uma boa distância da opinião daqueles que acreditam ver nos resultados da conferência o fim da linha na luta contra as mudanças climáticas.

Baixar a guarda e jogar tudo para o alto, talvez seja o caminho mais fácil e natural, se considerarmos todos os prognósticos até chegarmos a fatídica e última semana do encontro. Pois foi um grande banho de água fria. Ainda mais ao lembrar que durante o período que estivemos em contato direto com os participantes das mais variadas matizes, muitos com larga experiência nesse tipo de conferência, eram possíveis de serem encontradas opiniões diversas, mas em praticamente todos os casos havia algum otimismo. Fiz várias entrevistas e elas demonstravam com quase unanimidade que Copenhague teria um acordo, não o acordo dos sonhos, mas algo acima do razoável.

Os experientes negociadores brasileiros, por exemplo, acreditavam nesse bom acordo e, claro, com muitas lacunas em aberto que seriam solucionadas ao longo do próximo ano. Ninguém apostava num acordo “corajoso, ambicioso e com força de lei”, como pregavam os países em desenvolvimento e os manifestantes das ONGs que diariamente pressionavam as lideranças mundiais a assumir compromissos efetivos. Mesmo assim, não havia quem apostasse num acordo tão tímido.

Ao final, o interesse particular prevaleceu de maneira pouco inteligente, pois a ausência de um acordo global de redução das emissões de gases de efeito estufa vai custar mais caro em recursos, em vidas e em riquezas da biodiversidade do planeta.

Mas, como diziam os velhos militantes da esquerda brasileira: - a luta continua, companheiro! Copenhague não era a última trincheira dessa batalha, outras virão. O que precisa ficar bem claro é que a COP-15, mostrou de maneira muito clara, a importância e a urgência que o tema das mudanças climáticas passou a ter na agenda das discussões mundiais.

A participação de 5 mil jornalistas do mundo todo, mais de uma centena de chefes de estado e milhares de integrantes de delegações nacionais e organizações da sociedade civil comprovaram o sucesso desse encontro. Os semblantes carregados dos líderes mundiais ao falar do aquecimento global não deixam dúvidas: a busca pelo desenvolvimento sustentável, ou melhor, menos insustentável está na ordem do dia e assim irá permanecer ao longo dos próximos anos.

*Jornalista, consultor e palestrante, foi correspondente da Envolverde na COP-15 em Copenhague

GALERIA DE FOTOS COP-15 (2)







16 dezembro 2009

ENTREVISTA: PREFEITO AMAZONINO MENDES




Reinaldo Canto, direto de Copenhague

Dois dias depois de chegar a Copenhague, o Prefeito Amazonino Mendes concedeu essa entrevista exclusiva falando de suas primeiras impressões e de seu papel como representante das cidades da América Latina e Caribe na Conferência do Clima.
Reinaldo Canto – Como o senhor vê o panorama atual de discussão das questões ambientais?

Amazonino Mendes – A gente sente que existe uma total convergência para a identificação do problema ambiental. A tal ponto que a presidente da COP-15 (Connie Hedegaard), dizer que “vamos sair daqui com fama ou com vergonha”, isso me marcou. O mundo cobra, existe uma cobrança geral e precisaremos procurar os caminhos para superar os problemas antagônicos.

RC – Como fazer isso?

Amazonino – Existem sérios entraves, eles não são simples dependem de situações que vão além do poder do governante. Esses entraves requerem competência, persuasão, vontade política e muita consciência dos sacrifícios que terão de ser feitos para a conquista desses objetivos.

RC – E esses problemas podem ser superados?

Amazonino – Já existem sinais. O Bush, por exemplo, passou ao largo dessa questão e a eleição do Obama já refletiu a consciência americana para o tema ambiental.

RC – Qual o seu papel aqui em Copenhague?

Amazonino – É o da presença de quem está num grupo. De quem faz o esforço de ser ouvido pela primeira vez e está na luta para criar as oportunidades e alcançar objetivos. Tenho aqui um papel duplo. O de ser prefeito de cidade e também da
Amazônia. Darei minha colaboração tanto quanto for possível.

RC – Como foi esse trabalho até chegar aqui?

Amazonino – Começou com uma articulação positiva dos governos locais em Manaus. Envolvemos a FLACMA (Federação Latino-americana de Cidades, Municípios e Associações de Governos Locais), a CGLU (Cidades e Governos Locais Unidos) e agora também a ONU (Organização das Nações Unidas). Agora nosso objetivo é o empenho, a abertura para reivindicar os financiamentos na aplicação do REDD (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação).

RC – Mas Manaus seria muito beneficiada com a adoção do REDD?
Amazonino - De forma indireta sim. Manaus é a cidade que mais oferece empregos na região e até mesmo empregos para estados vizinhos e isso gera diversos problemas na cidade. Em muitos casos, são pessoas pobres que precisam de meios para sobreviver e elas abandonam as áreas em que vivem, para viver mal na cidade em busca de trabalho. O REDD não serve apenas para manter a floresta em pé. O mecanismo servirá também para as populações da floresta ficarem em suas comunidades e terem saúde, educação, o direito de se deslocar...Não vai haver êxodo, se os projetos forem bem feitos o caboclo vai preferir viver na região dele, isso ajuda muito. Outra coisa, Manaus é um empório. As pessoas vêm do interior para comprar todo o tipo de produto, se elas receberem investimentos do REDD, isso vai beneficiar Manaus dessa maneira indireta da qual falei antes.

RC – Existem outras maneiras de se obter financiamento ambiental além das florestas?

Amazonino – Temos um projeto de manejo de resíduos. Vamos implantar uma usina que utiliza lixo para transformar biomassa em energia. Como nosso lixo é pobre, na verdade o lixo brasileiro é pobre, já temos um estudo em estágio adiantado de enriquecer a queima utilizando capim elefante para o ganho de escala utilizando esses dois insumos, lixo e capim para gerar energia. Esse projeto já está bem avançado e poderá obter financiamento, pois faz o seqüestro do carbono que deixa de ser emitido.

RC – Ainda existe muito desconhecimento sobre a Amazônia?

Amazonino – Com certeza. Muita gente pensa que a Amazônia é homogênea. Existem diferenças entre os biomas, contrastes enormes. Temos na região o maior pico do país, várias savanas. De um lado temos terras ruins para plantar e, de outro, ali na região dos estados do Amazonas, Rondônia, Pará e Mato Grosso tem as melhores terras para plantio do Brasil e acredito que do mundo. E o Brasil legisla de maneira homogênea sem considerar essas diferenças. É bom lembrar que o Amazonas ainda possui 98% de sua área de floresta intacta e ela ainda é muito desconhecida.

RC – O senhor se refere a própria floresta?

Amazonino – Há um desconhecimento absoluto. É imperiosa a necessidade de se criar a Universidade do Trópico Úmido e que ela seja financiada pelos países ricos e administrada pelos países amazônicos. Quando o REDD for adotado vai se preservar algo que não se conhece. Que se estude esse patrimônio. Quem sabe ali não podem ser descobertas drogas, princípios ativos que podem beneficiar o mundo todo.
Sem falar numa preocupação que tenho há anos: a fauna ictiológica (estudo dos peixes). O equilíbrio dos rios, de tudo. Nada foi feito. A pesca predatória, pouco se fala, mas as perdas são maiores até do que a da floresta amazônica.

RC – O senhor tem uma preocupação especial com o caboclo amazonense, por que?

Amazonino - Porque até hoje ele padeceu muito nas questões ambientais. Ele nunca foi levado em conta. Ele não é branco e não é índio, é uma mistura dos dois e uma benção da Amazônia. Ele povoa a região e tem espírito de conservação. Mesmo assim ele sofre por imposição de leis abruptas, que de repente, o proíbe de pescar, sem estudo prévio. A legislação sempre foi muito rigorosa com o caboclo, sem ouvi-lo. Isso precisa mudar.

COP-15: TUMULTOS E DESORGANIZAÇÃO MOSTRAM O LADO FEIO DA CONFERÊNCIA DO CLIMA

Reinaldo Canto, direto de Copenhague para a Envolverde

No mesmo dia que a presidente da Conferência das Partes das Nações Unidas para mudanças climáticas em Copenhague, Connie Hedegaard, renunciou ao cargo, a segurança do evento mostrou-se bastante confusa, agressiva e no mínimo pouco eficiente.

As verdadeiras razões são desconhecidas para a renúncia da presidente. Difícil aceitar a sua alegação de que o fato de como muitos chefes de estado estarem chegando para as negociações, o melhor seria deixar a direção da COP-15 a cargo do primeiro-ministro da Dinamarca, Lars Lokke Rasmussen que já começou a trabalhar. Isso significaria que ela não deveria ter aceitado a presidência definida em votação na primeira semana do encontro.

Mais estranhas ainda devem ser as razões da segurança da conferência para, após protestos no interior do Bella Center, impedir a entrada de credenciados por mais de duas horas. O Prefeito de Manaus, Amazonino Mendes, também impedido de entrar, perdeu a coletiva de imprensa quando falaria sobre a sua presença na COP e sobre a importância da participação dos governos locais aqui em Copenhague.

O jornalista Washington Novaes, da Tv Cultura e do Estadão, passou por maus bocados e pensou que seria agredido pelos seguranças, pois tentava sair do tumulto e não conseguia. Agora ninguém precisa se preocupar, o Washington está bem e são e salvo dentro do pavilhão.

Um dos principais negociadores brasileiros, o embaixador Luis Figueiredo, por incrível que pareça, passou pelos mesmos inconvenientes e prometeu demonstrar seu descontentamento com o tumulto que se formou debaixo de frio, chuva e neve, sem que fossem prestadas quaisquer informações. Inclusive, muita gente indignada foi embora.

Logo depois de cruzar a severa segurança, havia um grupo de ativistas sentados no chão e isolados por seguranças. Todos que passavam por ali eram orientados a não tirar fotos. Fui um dos que não seguiu a determinação que, no meu entender, é totalmente descabida.

Claramente, a segurança da COP demonstra seu temor quanto a algo que saia do controle. O excesso de zelo e a tensão dos agentes só contribui para acirrar os ânimos dos ativistas que, aí sim, poderiam deslanchar por atos de violência.

E o ambiente interno da conferência não demonstrou ser muito mais harmônico. Os problemas das negociações continuam do mesmo tamanho: indefinição de metas, de aportes financeiros... resumindo, a questão continua sendo a mesma desde muito antes dessa conferência começar, ou seja, ninguém quer pagar a conta.

Como afirmou Rubens Born, do Vitae Civilis, temos que ter paciência até o último minuto da conferência ou além. Ele lembrou que o Protoco de Kyoto foi assinado na manhã seguinte ao encerramento da convenção.

A esperança deve ser mantida apesar dos fatos em contrário. Mas o que com certeza devemos aguardar é o aumento progressivo dos protestos organizados por aqueles que não pretendem ficar apenas na torcida e exigem um real posicionamento das lideranças mundiais, além de reuniões a portas fechadas.

13 dezembro 2009

CAPA DO SITE CARTA CAPITAL: Os ricos têm grana, os pobres, pressa

Economia
Reinaldo Canto, de Copenhague

Os mais de 5 mil jornalistas reunidos em Copenhague fazem o jogo previsível de amplificar vazamentos de informação em busca de manchetes. É muito difícil, neste momento, saber o que os países realmente querem e o que estão levando apenas como moeda de troca nas negociações. Em reuniões fechadas, pequenos grupos de diplomatas trabalham para construir propostas que agradem às nações desenvolvidas, que terão de pagar a conta, e os pobres, que já estão lidando com os impactos mais extremos das mudanças climáticas.

Além dos números financeiros, há outro que circula pelos corredores: 360 milhões de seres humanos vão morrer nas áreas de maior risco, caso a temperatura do planeta aumente apenas 2 graus, em média. São áreas localizadas em sua quase totalidade na Índia, Bangladesh, África e algumas regiões das Américas Central e do Sul. Não há maiores problemas para a América do Norte e Europa, que em alguns casos poderão até mesmo beneficiar-se com um pouco mais de calor.

Um sentimento também comum é de que o encontro possa terminar sem um acordo definitivo assinado pelos mais de cem chefes de Estado que prometem participar da reunião. É muito poder junto, principalmente se lembrarmos que na COP-13, na Indonésia, o único chefe de Estado presente era o anfitrião. Segundo o embaixador Luís Alberto Figueiredo, um dos principais negociadores da delegação brasileira, “o processo é longo e mesmo pontos consensuais ainda passarão por negociações detalhadas para a sua implementação”.

Um desses casos é o mecanismo de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (Redd), não previsto pelo Protocolo de Kyoto, de 1997. O Redd é antes de tudo um projeto que vai apoiar financeiramente a preservação de florestas e áreas degradadas. Para o Brasil, esta é uma aposta importante, e que entrou na agenda oficial apenas nos últimos meses. De acordo com o embaixador brasileiro, não se discute mais se o mecanismo de compensação entra ou não no acordo final. “Sem o Redd não existe acordo.”

A afirmação de Luís Alberto Figueiredo agradou aos brasileiros da Amazônia. O secretário de Meio Ambiente de Manaus, Marcelo Dutra, defensor firme da implantação do mecanismo, afirma que o apoio ao Reed é essencial para os povos do bioma. “A floresta passa a ser vista como aliada do desenvolvimento e não como um entrave”, diz. Outra voz a favor é a de Virgílio Viana, da Fundação Amazonas Sustentável, que aposta no mecanismo não apenas para manter a floresta em pé, mas “para melhorar a qualidade de vida e erradicar a pobreza na região”. Da perspectiva do Brasil, que já assumiu o compromisso de redução do desmatamento na Amazônia em 80% até 2020, o Reed é muito importante, pois o Estado não tem capacidade de cumprir essas metas sem o apoio de projetos de governos locais, empresas e ONGs.

Diante da pressão dos países mais frágeis às mudanças climáticas, há um certo pessimismo em relação ao sucesso de Copenhague. Não existe por parte das economias que vão doar recursos o senso de urgência necessário e apontado pelos mais pobres. Bangladesh, por exemplo, estima que 20% de sua população terá de ser deslocada nos próximos anos para áreas mais altas e seguras, em consequência do avanço do mar. Por conta disso, a delegação do país quer receber 15% da ajuda internacional, seja ela qual for. Terá de disputar com outras centenas de vítimas. Os protestos da comitiva de Tuvalu, estado da Polinésia ameaçado de desaparecer tragado pelo mar, foram tão intensos que chegaram a paralisar o evento em Copenhague.

O presidente do Instituto Ethos, Ricardo Young, acredita que não chegaremos ao “acordo dos sonhos”, mas olha o horizonte com algum otimismo. “Não teremos retrocessos, haverá avanços, pois empatar ou perder, definitivamente, não é mais uma opção.” Mesmo com tantas dúvidas, a primeira semana da conferência é a mais amena. Em vez de discussões sérias, assistem-se a festas e eventos de congraçamento de culturas, línguas e nacionalidades. Muitas das atenções estão voltadas para os estandes das ONGs que expõem seus trabalhos e explicam como será possível salvar o ser humano da extinção com ações diversas, do reflorestamento de extensas áreas ao redor do mundo à redução no consumo de carne, da utilização de energias limpas às mudanças nos padrões de produção e do consumo em direção a uma economia de baixo carbono.

A segunda semana da conferência promete ser bem mais contundente, com a chegada dos chefes de Estado e a conclusão das centenas de negociações paralelas. Entre afirmações e desmentidos, compromissos descartados e depois reassumidos, o clima não deverá ser tão ameno. O auge do aquecimento local será quando os principais protagonistas, Estados Unidos, Europa, China, Índia e Brasil, ocuparem seus assentos. Só então o jogo começa para valer.

COP-15: CASA DE FERREIRO, ESPETO DE PAU



Reinaldo Canto, direto de Copenhague para a Envolverde

Milhares de folhetos, manuais, livros e papéis diversos sendo impressos vertiginosamente revelam uma face da COP

O velho ditado do título representa uma das muitas dificuldades enfrentadas por todos nós que trabalhamos com sustentabilidade, mas habitamos um mundo real cheio de contradições e difíceis quebras de paradigma e comportamentos arraigados.

Pois como explicar a quantidade enorme de papéis que circula em todas as áreas do Bella Center, o enorme pavilhão que abriga a COP-15 aqui em Copenhague, quando justamente se discute a adoção de uma considerável redução nas emissões de gases de efeito estufa?

Muitos poderão alegar que todos esses materiais têm o mérito de fornecer informações e caminhos para o combate aos efeitos do aquecimento global. Mas será que realmente são necessários? Todos eles?

A responsabilidade, sem dúvida, deve ser dividida por todos. Segundo as Nações Unidas, organizadora do evento, as centenas de impressoras espalhadas pelo complexo que trabalham sem parar, precisam estar ali, pois as delegações tem o direito de fazer cópias de todos os materiais que assim desejarem, sem interferência ou ações restritivas da ONU. Ok, é uma questão diplomática. Mas será que todos precisam imprimir tanto e o tempo todo? Aqui no Bella Center a resposta não pode ser a falta de computadores para a leitura desses documentos e a fácil disponibilidade para se fazer cópias em pen-drives ou CDs. Há disponibilidade para todos e a qualquer hora do dia.

E o que dizer das Organizações Não Governamentais? Quase sem exceção os stands da área de exposições estão repletos de materiais, muitos belíssimos e bem feitos vale destacar. Eles não poderiam ter sido, em sua maioria, disponibilizados digitalmente?
Creio que dois exemplos possam demonstrar porque esse tema me chamou ainda mais a atenção nesta primeira semana de COP-15. Um deles diz respeito ao anúncio da divulgação dos primeiros textos oficiais que buscam o sonhado acordo global. Os jornalistas ávidos por conhecer o seu conteúdo foram, obviamente, atrás de quem tinha acesso a esse texto. Cópias impressas, então, começaram a surgir e a ser copiadas em ritmo industrial. Se eram textos oficiais, em primeiro lugar, para que causar esse estresse a quem queria obter o material precisando literalmente como eu fiz, “correr atrás”? E se, novamente, eram oficiais, por que não foram diretamente para o site da COP-15? Alguns poderiam até obter uma cópia impressa, mas muitos como eu, teríamos uma vida até mais fácil para trabalhar, simplesmente tendo à disposição, uma cópia digital.

Agora, o segundo exemplo demonstra como os caminhos podem ser tortos na luta por fazer, como muitos dizem, o “bem”. Do lado de fora do Bella Center, dezenas de seguidores da vietnamita “Mestre Suprema Ching Hai” distribui enorme quantidade e sem limites, livros que fazem campanha pelo vegetarianismo, acompanhados de folhetos e guias com explicações sobre a proposta e sobre a trajetória da “Mestra Suprema” quase na mesma proporção. Tentei obter os números dessa distribuição, mas não obtive sucesso. O que não resta dúvidas é que todos os cerca de 20 mil participantes que já circularam pela COP-15 tiveram acesso aos materiais de Ching Hai. Os dois livros até agora distribuídos são: um sobre cães e outro sobre pássaros. Capa dura e papel couche luxuoso, os livros são bem ilustrados e o gosto...bem, cada um tem o seu!

Nos primeiros dias os livros forem entregues na saída da conferência aí incluído um kit composto de uma sacola com folhetos. Ao tomarem contato com o conteúdo muitos dos participantes foram se desfazendo desse material, nos lixos das estações de metrô e trem, no interior dos vagões e sabe se lá onde mais.

Já nos dias posteriores era possível encontrar os livros e os folhetos de Ching Hai em todos os cantos do Bella Center. Não quero aqui colocar em cheque a causa defendida por ela e o seu trabalho realizado em defesa do vegetarianismo e dos animais. Até porque como diz o seu site “Ching Hai é uma mestra viva que conseguiu completa iluminação no Himalaia, usando uma técnica de meditação baseada na contemplação de luz e som internos”. Também informa o site oficial que ela é reconhecida internacionalmente por presidentes e estadistas pelas atividades humanitárias e socorro prestado em catástrofes nos cinco continentes e, além do mais, “possui contato direto com Deus”. Longe de mim, portanto, questionar suas intenções. Faço apenas a pergunta que pontua esse artigo: será preciso tanto papel para divulgar essa causa? Afinal, as árvores que se transformaram em papéis, em geral, também são grandes aliadas dos animais? Não recebi a resposta quando perguntado, mas vou continuar tentando.

Procurei usar esses fatos, para demonstrar que o caminho ainda é muito longo na busca pela sustentabilidade. Esses papéis, com certeza representam uma pequena parcela das emissões causadas pela COP-15 (como os materiais vêm de fontes muito diferentes, a ONU não chegou a esse cálculo. E informações já divulgadas dão conta de que 90% dos impactos causados pela conferência têm origem nas viagens aéreas dos participantes). Também acredito, aliás, espero, que esses materiais impressos sejam originários de madeira certificada e de reflorestamento.

Independentemente dos pequenos impactos e das enormes contribuições que todos estão se esforçando por dar a esse encontro histórico, é preciso refletir sobre esses atos. Antes de mais nada, essas pessoas aqui presentes, devem representar os grandes exemplos para as mudanças que esperamos que ocorram no mais breve tempo possível.

GALERIA DE FOTOS DA COP 15




11 dezembro 2009

COP-15 – Dinamarca apresenta sua Vila Sustentável para o mundo

Por Reinaldo Canto, direto de Copenhague para a Envolverde


Realidade européia aponta que investimentos em residências é um excelente caminho para uma economia de baixo carbono.

Em evento paralelo da COP-15, a Dinamarca apresentou uma vila repleta de casas algumas ainda em construção e outras já habitadas que possuem o grande mérito de buscar a máxima redução nos gastos com energia.

Afinal, reduzir os custos de energia e ao mesmo tempo reduzir as emissões de CO2 são desafios de todo o mundo, mas tem significativa importância aqui na Europa, onde a energia é cada vez mais cara e obtida por meio de fontes energéticas com alto grau de emissão de gases de efeitos estufa.

Para se ter um panorama da importância dessas construções, vale lembrar que, entre os principais setores responsáveis pelas emissões de carbono no âmbito da União Européia, 33% vem da área de transporte, 26% da indústria e 41% do setor de edificações. Desses 41%, dois terços dessa energia são usadas no consumo, principalmente, para três atendimentos básicos: aquecimento, refrigeração e ventilação. Segundo cálculos das autoridades européias do setor de energia, 80% dessa energia é simplesmente desperdiçada.

Esse projeto está localizado cerca de 70 quilômetros da capital Copenhague, são 300 casas que estão sendo construídas na pequena cidade de Egedal e prometem atingir uma alta eficiência energética. Algumas delas já estão prontas e possuem diversas soluções conhecidas dos brasileiros, painéis solares, reuso da água de chuva e projeto arquitetônico que procura garantir aproveitamento máximo da circulação de ar para ventilação, além de janelas e tetos de vidro transparente que privilegiam a iluminação natural.

Em matéria de novidades tecnológicas, a que mais chamou a atenção foram os vidros especiais colocados nas janelas das casas. Eles foram desenvolvidos a partir da moderníssima nanotecnologia. Micropartículas misturadas ao vidro, garantem os idealizadores, permite que a janela nunca precise ser limpa, ela é, nada mais, nada menos do que auto-limpante.

Outra novidade envolve o uso de materiais isolantes entre as paredes de madeira, (exatamente a casa é de madeira de reflorestamento) que retêm o calor e permite que se gaste muito menos com a calefação, cujo problema no Brasil não existe, mas apresenta um consumo altíssimo na Europa por causa do frio intenso.

Mas muito mais do que tecnologias inéditas o primordial no projeto é o esforço que uniu os setores público e privado, na superação dos obstáculos e no apoio aos interessados em adquirir os imóveis com financiamento de 30 anos e valores ao alcance dos bolsos. Já que, segundo os representantes da empresa responsável pela construção das casas, elas custam em torno de 20 mil euros ou 52 mil reais a mais que residências do mesmo porte (uma casa de dois quartos com cerca de 80 m²). E esse investimento inicial será totalmente compensado para os moradores num prazo de 10 anos, já que o consumo médio de uma casa desse porte na Europa é de 3 mil euros por ano e o consumo menor de energia da “casa eficiente” ou se preferir, “casa inteligente”, é de apenas mil euros anuais, ou seja, a economia atingirá a bagatela de 2 mil euros por ano.

E consumir menos não significa viver pior. As famílias que já vivem ali afirmam que o conforto é o mesmo de qualquer casa que gasta muito mais energia do modo tradicional e perdulário.

Para o consultor especial da cidade, Jan Poulsen, a eficiência energética é a chave para se atingir uma economia de baixo carbono. “Nós podemos usar 90% menos energia para aquecimento e refrigeração das casas”. E, segundo ele, isso não vale apenas para casos como o dessa vila sustentável. “As construções já existentes podem passar por um processo de renovação e modernização que diminuiria em muito os custos energéticos das moradias européias e seriam capazes de colaborar com a criação de 500 mil empregos”.

Somente o continente europeu consome 270 bilhões de euros em energia por ano (cerca de 500 euros por habitante da comunidade) ou 460 milhões de toneladas de CO² por ano (que corresponde ao total das emissões anuais da Itália).

Vamos aguardar que exemplos como esse “contaminem” nossos líderes na busca por um grande acordo aqui na COP-15.



Material produzido e editado pela Envolverde/Mercado Ético/Carbono Brasil/Rebia/Campanha Tic-Tac/EcoAgência, e distribuído para reprodução livre com o apoio da Fundação Amazonas Sustentável.



(Agência Envolverde)

COP-15 - Cresce tensão antes da semana decisiva

Por Reinaldo Canto*, direto de Copenhague para a Envolverde



A interrupção das negociações na última quarta-feira, dia 9, no plenário da COP-15 em Copenhague revelou que os ânimos começam a mudar aqui no Pavilhão Bella Center. A iniciativa do pequeno Tuvalu de parar os trabalhos uniu-se a indignação das Organizações Não Governamentais como WWF e Greenpeace entre outras, que temem pelos resultados da conferência.

É possível observar os semblantes carregados dos milhares de participantes nas conversas do café ou diante dos muitos computadores espalhados por todos os ambientes da COP. Deve-se levar em conta que a maioria dos atores presentes a convenção são, fora o direito de fazer manifestações ou de cobrir os fatos, espectadores impotentes diante de “forças maiores” que estão em algum lugar decidindo pelo destino de todos.

Já no Media Centre, onde os jornalistas tem seu espaço de trabalho, profissionais trocam informações de forma vertiginosa e acompanham por meio de fones de ouvido as discussões em plenário. As notícias que chegam de maneira oficial ou por ouvir falar são seguidas de ligações nervosas para as devidas confirmações ou desmentidos. Isso quando não são as próprias redações na centena de países presentes que tentam confirmar algum dado que acabaram de ouvir, ler ou assistir, muitas vezes do concorrente. Nesse momento, o enviado especial a Copenhague é pressionado a tomar providências urgentes com relação aos novos fatos que acabam de surgir. Basta imaginar a sensação de um futuro enforcado quando lhe colocam a corda no pescoço, muitas vezes é o caso desses correspondentes quando chega algo inesperado. Felizmente não é o meu caso!

O formato da conferência também não contribui muito para deixar os ânimos menos exaltados. São duas semanas de reunião, muitas conversas de bastidores, sendo que é na segunda que realmente vão ser tomadas as decisões que valem alguma coisa, como já explicou em coletiva, o embaixador Luis Figueiredo, um dos principais negociadores da delegação brasileira.

Se assim é, o espaço maior da primeira semana, além de encontros e confraternizações, é exatamente, o espaço para boatos, fofocas, além de textos, vários textos como o dinamarquês no começo da semana, que são divulgados antes da hora, ou mesmo que nem deveriam vir a público.

Antes que as definitivas decisões venham à tona deveremos ainda assistir a diversas especulações e mais manifestações que cobram coragem e atitude dos negociadores. Daqui até a semana que vem, a temperatura de Copenhague promete cair do lado de fora e esquentar muito aqui do lado de dentro da COP-15.

Aí nos restará esperar que as legítimas pressões da sociedade sejam suficientemente entendidas pelos líderes como a vontade expressa da humanidade por um compromisso vigoroso contra as mudanças climáticas.



Material produzido e editado pela Envolverde/Mercado Ético/Carbono Brasil/Rebia/Campanha Tic-Tac/EcoAgência, e distribuído para reprodução livre com o apoio da Fundação Amazonas Sustentável.



(Agência Envolverde)

09 dezembro 2009

Embaixador Serra confirma que país conhecia documento vazado

Reinaldo Canto* Direto de Copenhague para a Envolverde

O embaixador Sergio Serra, negociador da delegação brasileira na COP-15, afirmou à imprensa em Copenhague que o governo do Brasil conhecia o texto vazado pelo jornal britânico The Guardian. Segundo ele, o texto havia sido apresentado pela delegação dinamarquesa na semana passada para alguns poucos países com “papel relevante” nas discussões climáticas. E, diante das reações negativas foi recolhido, inclusive, sem deixar cópias em mãos dos negociadores presentes a essa reunião.

Serra disse que quem estava representando o Brasil era o embaixador Luis Figueiredo e que ele mesmo não conhecia em detalhes o documento. Sergio Serra minimizou o assunto afirmando que o mais importante é o esforço que está se fazendo para se chegar a um texto de consenso. “Essa divulgação causou algum desconforto, mas não irá levar as atuais discussões ao caos”, mas por outro lado não deixou de ressaltar: “não acredito que tenha sido útil para as negociações”.

O negociador brasileiro demonstrou tranqüilidade ao dizer que quem deve se sentir incomodado com o furo do jornal inglês é a delegação dinamarquesa.
A proposta divulgada pelo The Guardian confere mais poderes aos países desenvolvidos e coloca em segundo plano o papel da ONU nas negociações das mudanças climáticas.

O texto que além da Dinamarca teria contado com a participação dos EUA e do Reino Unido também estabeleceria limites diferentes e desiguais de emissão entre os países em desenvolvimento, contra-partidas dos países que queiram receber recursos para o combate às mudanças climáticas e ainda daria o direito das nações mais desenvolvidas emitir quase o dobro em relação aos demais países.

*Jornalista, consultor e palestrante, foi Diretor de Comunicação do Greenpeace e Coordenador de Comunicação do Instituto Akatu

REDD PODERÁ SER A GRANDE CONQUISTA DE COPENHAGUE

Reinaldo Canto* Direto de Copenhague para a Envolverde

Em entrevista exclusiva para a Envolverde direto da COP-15, Virgilio Viana, diretor-geral da Fundação Amazonas Sustentável afirmou que a adoção da REDD em Copenhague será a oportunidade histórica de se salvar a floresta amazônica. Além disso, afirma Virgilio, é uma maneira de, “melhorar a qualidade de vida e erradicar a pobreza dos povos amazônicos”.

Virgilio explicou que um dos principais nós da conferência é buscar uma fórmula de inclusão de todos os países. Os Estados Unidos que eram o principal ausente, agora colocaram em sua legislação a questão das florestas que, por sua vez, não fez parte da convenção anterior em Kyoto. “E o que nós temos trabalhado nos últimos anos é para a inclusão do carbono florestal que nada mais é do que o desmatamento evitado e conhecido pela sigla REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação) e hoje nós estamos colhendo aqui os resultados desse trabalho de uma forma muito significativa” disse o diretor da FAS.

Segundo ele, a partir da Carta dos Governadores ao Presidente da República que estabeleceu uma força-tarefa envolvendo presidência, ministérios e 8 governos estaduais chegou-se a um relatório que recomendou a mudança da posição histórica do Brasil no sentido de incluir três mecanismos de financiamento do REDD. São eles: financiamento público, financiamento de mercado compensatório e o financiamento de mercado não compensatório. Para Virgilio, esse foi o principal avanço do país nas negociações dos últimos tempos, aliada a meta anunciada recentemente pelo governo federal de redução das emissões entre 36% e 39%.

A partir de agora em que a REDD passou a ser uma questão praticamente consensual dentro das negociações em Copenhague, o desafio agora é estabelecer como se dará a sua regulamentação. O objetivo da FAS é conseguir que 10% de todos os investimentos voltados para a redução das emissões de carbono sejam destinados ao REDD. Portanto, uma conquista acompanhada de novos desafios.

*Jornalista, consultor e palestrante, foi Diretor de Comunicação do Greenpeace e Coordenador de Comunicação do Instituto Akatu

COLETIVA BRASILEIRA NA COP-15 RESSALTA IMPORTÂNCIA DA REDD

Reinaldo Canto* Direto de Copenhague para a Envolverde

No primeiro encontro oficial do governo brasileiro com a imprensa, o embaixador Luis Figueiredo fez apenas um relato inicial dos difíceis caminhos que serão trilhados nas próximas duas semanas. A conferência entra amanhã na fase de reunião dos grupos de trabalho que depois irão culminar com a chegada, como ele mesmo definiu “do segmento de alto nível”, ou seja, dos chefes de estado nos últimos dias da próxima semana. Os textos concebidos por esses grupos servirão de apoio para que as lideranças nacionais possam chegar as conclusões finais da COP-15. É bom lembrar que as resoluções devem ser aprovadas por consenso para serem aprovadas.

O momento importante a ser destacado foi quando o embaixador respondeu enfaticamente sobre a presença ou não da REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação) no documento de encerramento da conferência. Segundo ele, não há dúvida quanto a entrada da REDD, “sem REDD simplesmente não haverá acordo”. Quanto a sua regulamentação, Figueiredo disse que as discussões farão parte de um longo processo que deverá terminar apenas no próximo ano.

O negociador brasileiro explicou que a RED, assim mesmo com um D a menos de Degradação, havia sido proposto pelo Brasil em 2005 e rechaçado por outros países, pois consideraram a proposta, a “cara do Brasil” por ser um país com grandes florestas e, portanto, candidato a receber grandes benefícios. Depois disso o outro D de Degradação foi incluído para agradar a outros países com grandes áreas já desmatadas.

Se as previsões do embaixador forem confirmadas, o Brasil, principalmente o bioma Amazônia, irá receber atenção, recursos e instrumentos para deixar de ser destruída e, finalmente, passará a ser reconhecida como um patrimônio de valor inestimável.

*Jornalista, consultor e palestrante, foi Diretor de Comunicação do Greenpeace e Coordenador de Comunicação do Instituto Akatu

08 dezembro 2009

CAMPANHA TIC TAC PROMETE AÇÕES PARA “ACORDAR LÍDERES”




Reinaldo Canto* Direto de Copenhague para a Envolverde

A campanha ou melhor o movimento mundial TicTacTicTac, chamou a atenção de milhões de pessoas em milhares de cidades nos últimos meses, para o perigo representado pelas mudanças climáticas e a urgência de ações efetivas no combate ao aquecimento global.

Na abertura da COP-15, uma lista com 10 milhões de assinaturas foi entregue reivindicando um acordo que contribua para “frear” as mudanças climáticas.
E mesmo que o relógio do TicTac estabelecesse a data de 7 de dezembro, início da COP-15, como o ápice de sua atuação, o trabalho desenvolvido por seus membros manterá os ponteiros em movimento durante toda a conferência.

Segundo Adriana Charoux, brasileira que faz parte do conselho consultivo da campanha, a entrega das assinaturas, foi a primeira ação de várias que visam “acordar os líderes”, para que não se omitam na busca de um acordo “justo, ambicioso e com força de lei”.

“Queremos fazer ações rápidas e surpreendentes”, explicou Adriana e, “que sejam carregadas de significados” como os da abertura da COP-15. Pois junto com a lista foram entregues uma peça de lego para representar o início da construção do processo de ações de combate ao aquecimento global; uma caneta para a assinatura do acordo e uma chave que sirva para “destravar” os obstáculos que impeçam o avanço das negociações.

É melhor, portanto, que os negociadores na COP-15 mantenham os olhos, a mente e o coração atentos, não por se preocuparem com as surpreendentes ações da campanha TicTac, mas muito mais por atender aos anseios dos 10 milhões que assinaram o documento e dos bilhões de seres humanos da atual e das futuras gerações que vão depender de um acordo satisfatório que seja uma garantia a sua própria sobrevivência.

*Jornalista, consultor e palestrante, foi Diretor de Comunicação do Greenpeace e Coordenador de Comunicação do Instituto Akatu

COP-15: AQUECIMENTO ATINGIU NÍVEIS RECORDES, NESTA DÉCADA

Por Reinaldo Canto, direto de Copenhague para a Envolverde



Copenhague, 08/12/2009 - A organização Met Office Hardley Center sediada no Reino Unido, divulgou hoje aqui em Copenhague, durante a COP-15, que esta década atingiu níveis históricos de calor. Apesar de 1998 ainda representar, individualmente, o recorde de temperatura, nos últimos dez anos atingimos os mais altos níveis de calor dos últimos 160 anos no Planeta.

Resultados similares foram revelados pelo Centro Nacional do Clima dos Estados Unidos (NCDC) e pelo Instituto Goddard de Estudos Espaciais ligado a NASA.

Os estudos também demonstraram que o planeta mantêm um aumento crescente de sua temperatura graças, principalmente, ao aumento da emissão de gases de efeito estufa lançados na atmosfera.

Em outro comunicado, a Organização Mundial de Meteorologia informou que, o ano de 2009 entrará para a lista dos dez anos mais quentes. O resultado preliminar já aponta para um aumento de 0,44°C acima da média de 14 graus. Este ano será mais quente que 2008 em virtude, principalmente, da ação do fenômeno El Niño no Oceano Pacífico e pode ainda se tornar o quinto ano mais quente desde quando começaram as medições em 1850.

Material produzido e editado pela Envolverde/Mercado Ético/Carbono Brasil/Rebia/Campanha Tic-Tac/EcoAgência, e distribuído para reprodução livre com o apoio da Fundação Amazonas Sustentável.

07 dezembro 2009

Cidades buscam reconhecimento durante a Conferência do Clima em Copenhague

*Reinaldo Canto direto de Copenhague para a Envolverde

Cidades e governos locais ao redor do mundo devem ser reconhecidos com parceiros dos governos nacionais se a luta contra as mudanças climáticas tem o objetivo de ser efetivamente vencida. O ICLEI – Governos locais pela Sustentabilidade, fez essa afirmação antes do início da Conferência de Mudanças Climáticas das Nações Unidas, a COP-15.

"Fracassar não é uma opção: os cidadãos do mundo, por meio de suas cidades e governos locais , representão mais da metade da população mundial e clamam urgentemente por um novo e forte regime de discussão sobre o clima global”, afirmou o presidente do ICLEI, David Cadman, antes de deixar Vancouver no Canadá e se juntar aos 1.200 cidades representantes na conferência de Copenhague. "Nós precisamos de uma colaboração internacional que reúna o conhecimento das regras e responsabilidades em todos os níveis de governo, todos os cidadãos e que tenha por objetivo essencial, contribuir com ações de redução das emissões de carbono e que comprometem o nosso futuro”.

A mensagem de Cadman faz parte da essência de um único processo de dois anos em que as cidades e governos locais em todo o mundo tem se organizado por meio do projeto Mapa do Caminho dos Governos Locais pelo Clima.

"Acordos podem e devem ser atingidos em Copenhague baseados na justiça social e nas relações internacionais de respeito. Copenhague deve representar um momento de coragem
para implementar mudanças nas relações entre as nações que visem maior solidariedade e apoio aos menos favorecidos”, disse Bertrand Delanöe, Prefeito de Paris e Presidente da UCLG.

*Jornalista, consultor e palestrante, foi Diretor de Comunicação do Greenpeace e Coordenador de Comunicação do Instituto Akatu

Abertura da COP-15 revela incertezas e esperanças

*Reinaldo Canto direto de Copenhague para a Envolverde



Diante do plenário lotado por representantes dos 192 países presentes e alguns poucos privilegiados, o primeiro-ministro da Dinamarca, Lars Loekke Rasmussen, fez a abertura oficial da 15ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre mudanças climáticas em Copenhague. Segundo o anfitrião do evento, a reunião é uma "grande oportunidade que o mundo não pode se dar ao luxo de perder". Rasmussen também aproveitou para criticar as últimas especulações sobre as reais intensidades das alterações do clima no planeta e reforçando a importância de se tomarem medidas urgentes, eficazes e imediatas.

Talvez preocupado com os possíveis resultados do encontro em sua casa, o primeiro-ministro dinamarquês enfatizou a necessidade de se alcançar um acordo "forte e ambicioso" que vai suceder o Protocolo de Kyoto.

O Dr. Rajendra Pachauri, presidente do IPCC (Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas), afirmou na abertura da conferência que o tempo é cada vez mais curto para ações urgentes. “Os custos das respostas para as mudanças do clima vão se tornar progressivamente mais altas e não podemos mais protelar essas ações, a hora de agir é agora”.

A ministra dinamarquesa Connie Hedegaard foi eleita presidente da COP-15.
Para a agora responsável por liderar os principais movimentos da conferência, “Copenhague será a cidade dos três “Cs”: ‘Cooperação’, Compromisso’ e ‘Consenso’. É hora de capturarmos este momento e concluir um ambicioso acordo global.” Connie ainda completou, “Essa é a nossa chance. Se nós perdermos essa oportunidade, nós não teremos um outro momento melhor”.

A maior parte dos presentes a Conferência acompanhou a abertura por televisões e telões espalhados pelo pavilhão de eventos Bella Center. Mesmo de olho na tela, as pessoas demonstravam ter a atenção dividida entre os discursos e o reconhecimento do terreno nessa mega conferência que está dando seus primeiros passos e ainda muito longe de se saber onde realmente irá chegar.

*Jornalista, consultor e palestrante, foi Diretor de Comunicação do Greenpeace e Coordenador de Comunicação do Instituto Akatu

O ESPETÁCULO JÁ VAI COMEÇAR

Reinaldo Canto* Direto de Copenhague para a Envolverde

Na véspera da abertura da COP-15 em Copenhague, o que mais se via no Bella Center, palco da maior conferência internacional do novo milênio, eram sorrisos um pouco tensos dos muitos participantes que já corriam atrás do seu credenciamento, que efetivamente, só vai valer a partir de amanhã.
A boa organização comandada desde o aeroporto pelos anfitriões dinamarqueses, perdeu um pouco do seu brilho, durante o processo de confirmação dos registros de delegados governamentais, membros de ONGs, jornalistas e de observadores vindos de todos os cantos do mundo. As filas, ou melhor, a ausência delas tumultuava o ambiente, mas não chegavam a perturbar o bom humor das pessoas, a maioria delas esperançosas por resultados satisfatórios até o encerramento do encontro no próximo dia 18.
Afinal, o que mais se comentava era a alteração de data na agenda do presidente norte-americano Barack Obama que mudou do início do evento para o final da conferência a sua chegada e participação na capital dinamarqueza. Fato que possui um significado de maior comprometimento com os resultados e gerando expectativas em muita gente. Foi o que me disse o jornalista indiano Amitabh Sinha, correspondente especial do jornal The Indian Express, confiante agora que, até o seu país, um dos mais refratários a apresentar alguma proposta efetiva, possa se sentir motivada. “Nosso primeiro-ministro também estará presente no final da conferência e não vai querer fazer feio se todos os grandes países emissores de gases de efeito estufa assinarem compromissos efetivos para o futuro do planeta”, afirmou Amitabh.
O cenário do belo espaço montado para receber mais de 60 mil pessoas de 192 países, entre elas 5 mil jornalistas, não será desculpa para o não aprofundamento das metas a serem definidas pelos nossos líderes o auditório principal do evento e a sala de conferência de imprensa, por exemplo, recebiam apenas alguns retoques e dava gosto ver o capricho e o empenho dos organizadores em deixar tudo pronto, no tempo certo e na hora certa.
O que deve demorar um pouco é para que as pessoas consigam se encontrar, não por qualquer confusão causada pela organização, mas pela profusão de eventos, exibições e reuniões que deverão ocorrer por todos os lados. Afinal, todo mundo tem o que falar, mostrar e contribuir.
A repórter especial da Exame, Ana Luiza Herzog, não disfarçava a sua preocupação com o tamanho desse evento. Ela procurava ler e anotar todos os possíveis itens dessa enorme agenda trocando horas de sono a caminho de Copenhague para mapear algumas das prováveis pautas de interesse da publicação de economia da Editora Abril.
Mas não somos apenas nós os jornalistas que ficamos zonzos com tantos acontecimentos simultâneos, o prefeito de Porto Velho, Roberto Sobrinho, por exemplo, buscava informações a todo momento conversando com outros brasileiros que iam de Lisboa para Copenhague para identificar os espaços de relevância para a sua cidade. Afinal, Porto Velho faz parte do bioma amazônico que vai buscar uma posição de destaque durante a conferência sobre o comando da maior cidade amazônica, Manaus. No dia 7, primeiro dia da conferência, começa a receber a delegação de Manaus que irá liderar as cidades da América Latina e Caribe nas discussões sobre a importância de se dar voz e voto aos governos locais nas principais decisões que serão tomadas no âmbito da COP-15. “Até hoje os povos amazônicos não foram ouvidos sobre o destino de sua própria região, isso agora vai começar”, afirmou o Secretário de Meio Ambiente de Manaus, Marcelo Dutra.
“Nas próximas duas semanas a partir desta segunda, os governos deverão dar respostas adequadas para a urgência e desafios das mudanças climáticas,” disse o Secretário-Executivo da COP-15 Yvo de Boer. “Os negociadores agora terão de dar sinais claros de que os principais líderes do mundo vão apresentar propostas claras e ações de implementação imediata” acrescentou Boer.
Se as expectativas do responsável pela COP vão se concretizar, os próximos dias servirão para apresentar um desenho a ser definido no documento final e que deverá ser assinado somente nos instantes derradeiros da conferência. A única coisa certa é que o interesse despertado por tanta gente ao redor do mundo coloca uma lente de aumento em cada um dos responsáveis pelos destinos do planeta. Agora, o quanto esse olhar atento vai influenciar as decisões e medidas corajosas e efetivas rumo a um futuro, só saberemos mesmo daqui a duas semanas.
*Jornalista, consultor e palestrante, foi Diretor de Comunicação do Greenpeace e Coordenador de Comunicação do Instituto Akatu

06 dezembro 2009

A CHEGADA EM COPENHAGUE


Do calor de São Paulo para os 6 graus celsius de Copenhague serviu para dar um choque, afastar o sono e me fazer correr até o Bella Center local que vai abrigar a COP-15 que começa amanhã.

Fora o tumulto para se obter o credenciamento, a organização está fantástica desde o aeroporto com pessoas prestando informações até ônibus para levar ao local do evento.

O lugar é muito bom com um centro de imprensa enorme que tentará dar conta dos 5 mil jornalistas aguardados por lá.

Tive encontros e conversas interessantes com alguns brasileiros, entre os quais posso citar o Prefeito Roberto Sobrinho de Porto Velho com o qual comentei que dirigi a campanha de um seu adversário (Davi Chiquilito) e que rendeu boas risadas, até a repórter especial da Exame, Ana Luiza Herzog, que foi a responsável por mediar o debate sobre sustentabilidade no evento Exame Fórum que rendeu, inclusive, um artigo aqui no blog e publicado também pela Envolverde e pelo Mercado Ético.

Aliás, a Ana Luiza e eu, trocamos preocupações quanto as dificuldades de se cobrir um evento gigante como esse.

Agora da Dinamarca para meu hotel em Malmo na Suécia, (calma, é outro país, mas tudo aqui é pertinho), vou descansar um pouco, pois amanhã começa pra valer a COP-15.

05 dezembro 2009

A CAMINHO DE COPENHAGUE

Depois de muito estresse me encontro agora na sala de embarque de Guarulhos rumo a Copenhague passando primeiro por Lisboa. Estresse porque só hoje pela manhã o meu embarque foi confirmado. Malas prontas e sem saber se iria viajar foi muito desgastante!!

Muito frio e trabalho me esperam vou cobrir a COP-15 pela Envolverde (www.envolverde.com.br) farei uma matéria para a revista Carta Capital e também vou divulgar as ações da Prefeitura de Manaus como representante dos governos locais na conferência. Manaus é a cidade que irá representar e liderar as cidades da América Latina e Caribe, além do bioma amazônico.

Pretendo atualizar o blog diariamente com as principais observações sobre o andamento da conferência.

Próximo boletim vai ser em terras européias.

24 novembro 2009

ENTREVISTA: Marcelo Dutra, Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Manaus




Colocar Manaus e a Amazônia no centro das discussões sobre meio ambiente e mudanças climáticas é o grande desafio da participação da Prefeitura da capital do estado do Amazonas na reunião de Copenhague. Para o atuante secretário de meio ambiente, o objetivo de colocar os governos locais no centro das atenções mundiais vem sendo perseguido em inúmeros encontros nacionais e internacionais dos quais, segundo ele, estão sendo colocados argumentos incontestáveis, entre eles, o fato de que as pessoas que residem nas cidades amazônicas precisam ter vez e voz em qualquer decisão e também que o bioma amazônico ultrapassa fronteiras e precisa ser pensado como um todo.

Acompanhe abaixo a entrevista exclusiva concedida aos jornalistas Dal Marcondes e Reinaldo Canto, especialmente para a Envolverde:

Envolverde – Quais as expectativas e objetivos que estão sendo levados para a COP-15?

Marcelo Dutra - Manaus está fazendo um trabalho além da COP-15. A cidade está assumindo a responsabilidade de ser a maior cidade do bioma Amazônia, localizado mais ao centro do bioma e, portanto, a capital natural da Amazônia.
Manaus precisa se inserir nos debates com esta bandeira que é na cidade que a vida acontece é no município que se aplicam as políticas públicas e as decisões de governo. O Protocolo de Kyoto é um instrumento de decisões de governos nacionais que muito pouco chegou ao cidadão, que não foi debatido. Foi um instrumento que ficou distante do cidadão. Porque uma decisão de governo a nível nacional, ela vira lei, ela vira regra e causa um impacto noticioso, mas ela não chega ao trabalho, ela não chega a escola, enfim não chega na vida de cada um.
O envolvimento do governo local, dos municípios, é a bandeira maior que Manaus defende.

Envolverde – Como será a participação de Manaus na Conferência em Copenhague?

Dutra - Nós temos a participação na COP-15 através de um grupo de prefeitos que a partir dessa decisão de se trabalhar no âmbito dos governos locais foram reunidos na CGLU para participar das negociações.

Envolverde - Como se chegou a essa etapa em que Manaus assumiu a posição de representar os países da América Latina e Caribe?

Dutra - Vamos começar lá do comecinho como diz o caboclo. Em março deste ano, estávamos discutindo com o ministro Luis Figueiredo, que é o ministro-chefe da delegação negociadora brasileira. E perguntamos ao ministro por que a Amazônia não havia sido incluída nas discussões do Protocolo de Kyoto. Ele nos apresentou argumentações que não nos convenceram e depois perguntamos por que a Amazônia está fora da atual proposta. Ele colocou alguns pontos, primeiro que a Amazônia não poderia estar nas negociações, porque a Amazônia seria um passivo. O argumento frágil do ministro era de que a Amazônia tem os seus milhões de toneladas de carbono já neutralizadas e se um cidadão de um país desenvolvido comprar um crédito desse carbono já neutralizado, ele estaria se creditando a lançar outra tonelada de carbono. Então, o peso da Amazônia resultaria no mesmo peso em emissões. Considero esse um argumento furado, porque a matemática ensina milhares de caminhos além do crédito. Existe o do débito, tem o do passivo mesmo.
Depois disso a discussão se aprofundou. Por exemplo, nenhuma capital nacional está localizada no bioma amazônico. A do Brasil é no Planalto Central, a da Bolívia é no Pantanal boliviano e as outras são a beira-mar. Segundo ponto, o Brasil tem 64% da Amazônia. Se o país não cuida da sua região dentro de uma proposta internacional, os outros países do bioma se sentem pequenos. É como um irmão mais velho da família, se ele não cuida da família, não serão os menores que irão cuidar, então isso significava que os outros oito países não tinham proposta para a Amazônia.
Portanto, a partir dessa realidade, fomos a CGLU (Cidades e Governos Locais Unidos) pedir o apoio para realizar uma cúpula de prefeitos do bioma Amazônia, fizemos a Cúpula de Manaus e, constatamos que a Amazônia, até então, não se conhecia. Um exemplo claro disso é o do Peru. Os peruanos nos informaram que estão liberando garimpo com mercúrio. Eles têm soberania para isso, mas a questão é que nos demos conta de que a Amazônia é uma casa só, que as fronteiras políticas não são respeitadas pelo meio ambiente e, portanto, esse mercúrio vai acabar por contaminar também os rios da Amazônia brasileira. Então, ficou clara a necessidade de nos entendermos, nos entrosar e discutir os nossos rumos. Dissemos para o representante da CGLU: “A Amazônia agora está falando por si própria está pedindo para ser consultada na decisão nacional de cada um dos nossos países”. Com esses argumentos a CGLU reivindicou um espaço para os governos locais nos debates sobre mudanças climáticas na ONU e foi concedida a uma comissão de prefeitos que participasse, não só na COP-15, a partir de agora nós temos um espaço nas negociações de todas as discussões sobre mudanças climáticas. Em princípio estão os municípios de Nantes na França, Dakar no Senegal, Durban na África do Sul, Manaus na Amazônia e serão ainda definidos os representantes da América do Norte e Ásia.

Envolverde - O trabalho das cidades dos governos locais não está em duplicidade com a força-tarefa montada pelos governadores?

Dutra - Não, porque o trabalho dos governadores se restringiu ao âmbito nacional sem ultrapassar as fronteiras. Eles trataram de uma maneira como se a Amazônia fosse nossa apenas. Essa visão que a gente precisa entender. A Amazônia nunca teve um destino e rumo, nunca foi vista como um bioma, porque nunca foi gestada como um bioma. Era sempre os 7 governadores da Amazônia ou 9 se considerarmos a Amazônia Legal, o resto da Amazônia deixa pra lá, como se conseguíssemos gerir a fumaça, a água, o fluxo gênico dentro da nossa fronteira política como se não houvesse essa extrapolação desse limite através da região toda.
As nossas nascentes estão lá fora e o poder de decisão também está lá fora. Quando o governo brasileiro quer fazer um fórum sobre a Amazônia o faz em Brasilia ou no Rio de Janeiro, não faz um fórum em Manaus. Eu nunca vi um fórum aqui, para que as pessoas que vivem aqui sejam ouvidas sobre o que pensam da Amazônia.
Então, o que os governadores fizeram tem a sua importância como governos subnacionais. Ocorre que na ONU nós estamos tentando discutir, argumentar, que você estaria numa outra esfera fictícia. O governo nacional, a União tem a soberania do país e o cidadão mora no município. O governo estadual é fictício, ele é um repassador. O movimento dos governadores também não provocou debates com os cidadãos, não provocou nenhum fórum. Dos fóruns que eu participei com o governo do estado eram com 50, 60 pessoas. Nós fizemos um com 1.200. É preciso ampliar o debate, enraizar na sociedade o que é esse debate.

Envolverde – Então diante desses argumentos, qual será o ponto principal que Manaus irá defender na COP-15?

Dutra - Antes de mais nada, nós temos que trazer para a sociedade resultados. Como é que funcionam os créditos de carbono hoje? Funcionam entre empresas, empresas que negociam que trocam entre si. Nós queremos inserir os governos locais nesse debate. Principalmente se tratando de REDD, já que as coisas serão mais voluntárias que no crédito de carbono. Precisamos que os projetos atinjam o poder público dos municípios que tenham o poder de decisão.
Um exemplo é a BR-319, o governo federal criou 7 unidades de conservação sem consulta pública a nenhum município. Consultou por meio de pesquisadores algumas comunidades, entendeu a socioeconomia de alguns povos e criou as unidades. E o governo local como é que fica? O plano diretor do município possa fazer na questão do uso do solo, o desenvolvimento planejado dessa cidade, a vocação natural desse município não é considerada, não é levada em conta.

Envolverde - O que se discute muito quando se fala da Amazônia, numa economia de baixo carbono, é a necessidade de se incluir o fator humano nessa conta, os mais de 20 milhões de pessoas que vivem na Amazônia.

Dutra - 40 milhões quando se discute o bioma todo no Brasil e nos outros países.

Envolverde - O que você imagina que a Amazônia poderá receber de recursos nos próximos dez anos, por exemplo, para que o cidadão amazônico possa ter uma qualidade de vida tão boa quanto a de um cidadão que viva em outras regiões?

Dutra - Manaus no meu entender, mesmo tendo a maior população, seria uma das menos beneficiadas com o REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação). Porque não seria justo fazer a divisão de um REDD populacionalmente. Você teria que fazer um REDD pelo significado do bioma. Eu imagino que o índice de adicionalidade responde tudo. Se nós conseguirmos auditar os resultados, nós vamos entender que não adianta só atuar dentro de unidades de conservação, pois essas unidades já possuem regras claras de uso. Nós temos que começar a trazer o projeto REDD para as comunidades ribeirinhas rurais externas às unidades de conservação, porque são as áreas que estão ameaçadas de início. Se você observar o arcabouço jurídico brasileiro, ele já trata de reserva legal, de APPs (Áreas de Proteção Permanente), encostas, vegetação especial, de mananciais e recursos hídricos. No entanto, o caboclo que mora lá no mato, que precisa sustentar sua família e que não tem acesso a tecnologia, ele desmata alguns hectares, planta a sua mandioca, o terreno fica ruim e ele não tem conhecimento e recurso para fazer a correção do solo. Aí, ele simplesmente avança mais dois ou três hectares e a reserva legal não é considerada, não é considerada a APP, não é considerada nada. Se nós desenvolvêssemos um programa, tivéssemos como acessar esse cidadão, valorar a terra dele em pé, valorar o conhecimento e a praticidade da reserva dele, da encosta e da vegetação dele, aí sim ele vai entender aquilo lá como um recurso financeiro anual...

Envolverde - O pagamento por serviços ambientais.

Dutra - ...também podemos chamar de pagamento por serviços ambientais. Ele passaria a ver aquela floresta como algo rentável e aí ele teria também acesso a tecnologia para fazer no mesmo espaço o que ele faria num espaço muito maior.

Envolverde - Uma das maneiras de levar esses recursos ao cidadão é a presença do estado. Numa cidade como Manaus é mais fácil. Como fazer para que os serviços do estado cheguem aos moradores de áreas mais distantes.

Dutra – Sem dúvida, nós precisamos aparelhar melhor a Amazônia. Eu vou citar uma cidade que se chama Japurá que fica as margens do Rio Japurá. Esse é um rio pobre em peixe, é um rio belíssimo! A cidade ainda não tem parto cesariano. Então, as mulheres ainda morrem de parto. Lá não existe um centro cirúrgico. É o menor PIB das cidades amazônicas. Vive de que: de favores do narcotráfico, de fechar os olhos ao garimpo ilegal no Rio Puruê. Vive de uma terra indígena que não tem mais indígenas na frente e cobra para que os pescadores possam ir lá para pegar peixes na área indígena... Então está tudo na ilegalidade, falta o braço do governo em Japurá. Como falta o governo nas 5.500 comunidades que o Estado do Amazonas tem. Quase o mesmo número de municípios que o Brasil tem, o Amazonas tem em comunidades rurais. Se nós construíssemos um projeto de REDD vinculado aos governos locais você já começa a aparelhar o governo local. Aquele braço que está mais perto do cidadão. O município tem um orçamento apertado, mas graças a Deus temos combatido melhor a corrupção. Se nós conseguíssemos agregar valor a esse município, mais próximo do cidadão, você conseguiria melhorar o gerenciamento desses projetos.

Envolverde - Você quer dizer que a presença do estado nessas comunidades deve começar pelo município?

Dutra – Exatamente, pelo governo local.

Envolverde - Se hoje fosse o dia seguinte a COP-15 e os seus objetivos tivessem sido alcançados, o que você teria a dizer e a comemorar?

Dutra - Eu teria a dizer que nós conseguimos estabelecer o papel dos governos locais como aplicadores da divisão desses novos mecanismos que serão colocados. O MDL só será pleno se ele também agregar o patrimônio vegetal que este planeta tem, os serviços ambientais da Amazônia. Existem estudos fantásticos sobre os índices de reciclagem natural de água que a Amazônia provoca para o Aquífero Guarani, para a Colômbia, chegamos mesmo a regular o clima na África.
O melhor resultado seria: os serviços ambientais proporcionados pela Amazônia, patrimônio dos amazonidas a serviço da humanidade agregaria valor ao caboclo. Não adianta absolutamente nada nós gerirmos tudo isso se a qualidade de vida continuar em Dubai e não em Japurá, isso se nós não dividirmos um pouco o que é viver bem.

12 novembro 2009

PRÊMIO ALLIANZ DE JORNALISMO AMBIENTAL

Ontem tive o prazer de participar da festa de entrega do Prêmio Allianz de Jornalismo. Fiz parte da banca que escolheu os 5 finalistas do Tema Especial de Sustentabilidade – Mudanças Ambientais na categoria de Mídia Impressa e On-line Nacional e Regional.

A dificuldade de selecionar apenas 5 matérias entre tantas que mereceriam um prêmio foi enorme. Tive que fazer uma primeira pré-seleção escolhendo apenas 4 de 65 matérias, a maioria de altíssima qualidade!

No final ganhou a matéria O CAOS NO CLIMA - AQUECIMENTO LETAL, de Soraya Aggege, do jornal O Globo. Um belo relato mostrando na prática as terríveis consequências resultantes do aquecimento global. Parabéns Soraya!

Abaixo está o release onde sou citado como um dos jurados e a lista completa dos finalistas ao prêmio.

Quando sair a lista de todos os vencedores irei publicar neste espaço.

Agradeço muito a Allianz pelo convite e espero estar presente em outras edições.


SAI A LISTA DE FINALISTAS
DO PRÊMIO ALLIANZ SEGUROS DE JORNALISMO

Em 27 e 28 de outubro, o Comitê de Seleção e Julgamento se reuniu na sede da Allianz Seguros para
selecionar os 30 trabalhos finalistas. Os vencedores serão revelados em 11 de novembro, após votação do júri de premiação.

O começo desta semana foi decisivo para os 847 inscritos na edição 2009 do Prêmio Allianz Seguros de Jornalismo, que tem como objetivo reconhecer matérias que abordem os temas Seguros e, nesse ano, Sustentabilidade – Mudanças Ambientais. Um júri renomado teve a difícil tarefa de eleger os cinco trabalhos finalistas de cada uma das seis subcategorias do concurso. Todas as matérias foram escolhidas por votação, sem qualquer interferência ou participação da Allianz Seguros.

A próxima etapa será feita pelo Comitê de Premiação, também formado por jornalistas e profissionais especializados nos temas do concurso, que irão analisar a qualidade técnica e jornalística das matérias e decidir os primeiros colocados do Prêmio Allianz Seguros de Jornalismo, que receberão R$ 15 mil cada. A divulgação dos vencedores acontece durante cerimônia de premiação, que será realizada em 11 de novembro, em São Paulo.

Tema Seguros

Cinco jurados especializados em Economia, Finanças e Seguros avaliaram as 311 matérias da categoria Linguagem Escrita e suas subcategorias Mídia Impressa e On-line Nacional e Regional; Mídia Impressa e On-line Especializada em Seguros; Mídia Impressa e On-line Especializada em Economia e Finanças.
Os trabalhos finalistas são:


Mídia Impressa e Online Nacional e Regional

Matéria Autor Veículo Cidade/Estado

Aos poucos, meio acadêmico vai descobrindo os resseguros

Olavo Soares


USP Online


São Paulo/SP




Brasileiro prefere correr risco


Marinella Castro
(co-autora: Sandra Kiefer) Estado de Minas


Belo Horizonte-MG


Especial Seguros

José Carlos Chaves
(co-autores: Cláudio Gradilone, Tatiany Cavalcante e Ana Borges)
Revista Quatro Rodas


São Paulo/SP
Seguro de vida é investimento


Chrystiane Silva
(co-autora: Erica Martin) Revista Você S/A

São Paulo/SP


Sua moto está segura? Marcelo Assumpção Revista Duas Rodas São Paulo/SP



Mídia Impressa e Online Especializada em Seguros

Matéria Autor Veículo
Cidade/Estado
MP Fraciona indenização por partes do corpo
Maria Luisa Barros


Revista Previdência e Seguros
Rio de Janeiro/RJ

Portadores especiais de seguros
Pedro Duarte

Revista Seguro Total

São Paulo/SP

Reciclagem de veículos beneficia mercado e sociedade

Kelly Lubiato

Revista Apólice


São Paulo/SP


Retrato de uma empresa em notas
Luciano Máximo
Revista Apólice

São Paulo/SP

Show business descobre o Brasil e o seguro
Aline Bronzati
Revista Apólice

São Paulo/SP


Mídia Impressa e Online Especializada em Economia e Finanças

Matéria Autor Veículo Cidade/Estado
A guerra dos seguros

Marcio Kroehn
(co-autor: Milton Gamez) IstoÉ Dinheiro
São Paulo/SP

Crise faz mercado mundial de seguros recuar 2%; Brasil sobe 8% Altamiro Silva Júnior
Valor Econômico
São Paulo/SP


Especial: área coberta por seguro rural cresce com subvenção Fabíola Gomes

Agência Estado - AE Agronegócios São Paulo/SP



Sob a proteção de lei mais rigorosa
Denise Bueno

Revista Valor
1000

São Paulo/SP


Temporada de duras negociações na saúde Beth Koike

Valor Econômico
São Paulo/SP



Tema Especial de Sustentabilidade – Mudanças Ambientais

Neste tema, dividido nas categorias Linguagem Escrita e Linguagem Audiovisual, subcategorias Mídia Impressa e On-line Nacional e Regional, Mídia Eletrônica – Telejornalismo e Mídia Eletrônica – Radiojornalismo, dez jurados foram responsáveis pela seleção dos 536 trabalhos inscritos. Veja o resultado abaixo:

Categoria Mudanças Ambientais - Mídia Impressa e Online Nacional e Regional

Matéria Autor Veículo Cidade/Estado
O caos no clima - Aquecimento letal

Soraya Aggege


O Globo



Rio de Janeiro



O patrimônio que resiste



Vinícius Jorge Carneiro Sassine


O Popular


Goiânia/GO



Fim da linha


Renata Viana de Carvalho
Revista Autoesporte

São Paulo/SP


O que os ventos trazem

Henriette de Salvi
(co-autor: Andreh Jonathas)
O Povo

Fortaleza/CE


A morte lenta da floresta do mar
Leonardo Cavalcanti
Correio Braziliense
Brasília/DF




Mudanças Ambientais – Telejornalismo

Matéria Autor Veículo Estado
Série Esperança - Curas que vêm da floresta




Fernanda Menegotto / repórter: Neide Duarte
(Paulo Ferreira e Wilson Araújo)
TV Globo - Bom Dia Brasil


Rio de Janeiro / RJ




Estação ecológica de Murici
Beatriz Castro

TV Globo Nordeste
Recife/PE


Tom da Caatinga


Lucia Araújo
(equipe: João Alegria e Ana Lagoa) Canal Futura

Rio de Janeiro/RJ




Os extremos do clima
Vinicius Dônola

Rede Record

Rio de Janeiro/RJ



Buriti Veredas









Jorge Luiz dos Santos/repórter: Nelson Araújo
(equipe: Sandro Queiroz; Francisco Maffezolli Jr.; Epitácio Araújo; Wilson Berzuini; Fernando Passarelli)

TV Globo - Globo Rural










São Paulo-SP












Mudanças Ambientais – Radiojornalismo

Matéria Autor Veículo Cidade/Estado
Lixo: as oportunidades da reciclagem

Juliano Dip


Rádio CBN


São Paulo




Os desafios da caatinga para resistir às mudanças climáticas no Nordeste


Joffre Bandeira de Melo


Rádio CBN Recife



Recife / PE






Todos pelo cerrado: pesquisa, tecnologia e prevenção
Akemi Nitahara


Rádio Nacional


Brasília




Sobrevoo na mata ciliar de Itaipu

Geraldo Nunes

Rádio Eldorado

São Paulo



Série Especial Tietê
Século XXI
Flávio Perez

Rádio Eldorado

São Paulo



Premiação

Os primeiros colocados de cada categoria e subcategoria de ambos os temas receberão prêmio de R$ 15 mil.

Dentre os trabalhos inscritos no tema Seguros, subcategoria Mídia Impressa Nacional e Regional, serão homenageados, com menções honrosas distintas, o jornal e a revista que mais deram espaço às matérias sobre seguros, desde que não tenham editoria ou seção destinadas exclusivamente a esse tema.

A terceira edição do Prêmio Allianz Seguros de Jornalismo contou com 847 trabalhos jornalísticos publicados entre 30 de setembro de 2008 e 4 de setembro de 2009.

Ao realizar o Prêmio, a seguradora tem por objetivos reconhecer, incentivar e valorizar os profissionais de imprensa que por meio de seus trabalhos promovem a disseminação do setor de Seguros no Brasil e esclarecem seu funcionamento à população. Assim como no ano passado, o concurso conta com o tema especial de Sustentabilidade. Nesta edição, ao invés de abarcar apenas as mudanças climáticas, a abrangência é maior. Puderam concorrer matérias que tiveram como foco os mais diferentes aspectos das Mudanças Ambientais Globais. Neste tema, a principal finalidade é premiar jornalistas que produzam reportagens que estimulem o debate e auxiliem no esclarecimento da sociedade sobre os impactos econômicos, políticos e sociais que estão acontecendo no meio ambiente, provocados pelo homem.

Conheça o júri de Seleção e Julgamento:

Tema Seguros
(por ordem alfabética)

Lázaro de Souza

Jornalista há 25 anos, Lázaro de Souza já atuou em veículos como Exame, Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Agência Dinheiro Vivo, entre outros. Formado em Comunicação Social pela Unaerp - Universidade de Ribeirão Preto, Souza trabalha hoje na elaboração de análise editorial diária de avaliação do impacto da cobertura jornalística dos principais jornais do país, na Companhia de Notícias CDN.

Leandro Brixius

Editor assistente de Economia do Jornal do Comércio, de Porto Alegre, Brixius é mestre em Ciência da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio Sinos, UNISINOS, São Leopoldo/RS, tendo se graduado em Comunicação Social – Jornalismo, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS. Além de experiência em mídia impressa, também teve passagens em rádio e telejornalismo.

Marlene Jaggi

Especializada em economia e negócios, trabalhou nos últimos 20 anos em publicações como O Estado de São Paulo, Gazeta Mercantil e Pequenas Empresas & Grandes Negócios. Também colaborou em veículos como Veja, Exame, Valor Econômico, entre outros. Marlene faz parte do grupo de editores que lançou o Caderno de Economia do Estadão, época em que criou a coluna “Seus Direitos”, de Defesa do Consumidor, mantida até hoje.

Vânia Absalão

Jornalista especializada em Seguros, entre outras atividades, Vânia exerceu funções como editora, assessora e diretora de órgãos como a Federação das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização (Fenaseg), atual CNSeg; na Fundação Escola Nacional de Seguros (Funenseg); Bolsa Brasileira de Futuros, da Bolsa de Valores do Rio. Recebeu prêmio conferido pelo CVG-RJ aos jornalistas de seguros, como Destaque 2004/2005, nesta categoria.

Wagner Donizeti Roque

Atuou por 13 anos como jornalista da revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, da editora Globo. Wagner é formado pela PUC – Campinas, pós-graduado em Gestão de Negócios pelo Senac e possui MBA em Economia e Finanças pela FAAP. Ganhou o Prêmio ABF Destaque Franchising 2009, com a reportagem “Aposta na Eficiência” (2008). Foi um dos vencedores do Prêmio AGF Seguros de Jornalismo, com a matéria “Escolha o melhor plano de saúde para você e seus funcionários”, em 2007.

Tema especial de Sustentabilidade – Mudanças Ambientais
(ordem alfabética)

Annete Moreira (categoria linguagem audiovisual – Rádio)

Apresentadora da rádio USP, onde atua desde 2001, Annete é formada em Jornalismo e em Letras pela Unesp – Assis. A jornalista desenvolveu grande parte de sua carreira no meio radiofônico, tendo já passado pelas rádios Cultura, Ômega FM, Alpha FM e Nova FM - de São Paulo, além do programa Grandes Mulheres, na TV Câmara-SP. Atualmente, também apresenta o Programa Vida e Saúde, do canal 48 UHF-GNT e TVA Canal de São Paulo.

Carmen Nascimento (categoria linguagem escrita)

Jornalista, desde 2004 atua em sustentabilidade, com colaborações para Instituto Ethos, Organização Nós do Centro, Instituto Arapyaú, Unicef, entre outros. É autora do livro Seu Emprego no Futuro e do blog Sustentável Mundo Novo. Foi diretora de redação do Guia do Estudante e do Almanaque Abril, da Editora Abril. Colaborou para revistas como Veja, Superinteressante, Exame, Exame PME e Valor Econômico, entre outros.

Denise Oliveira (categoria linguagem escrita)

Coordenadora de Comunicação do WWF-Brasil. É graduada em Jornalismo, com pós-graduação em Comunicação, Mobilização e Marketing Social, ambos os cursos pela Universidade de Brasília. Sua experiência profissional está relacionada às áreas de cultura, educação, desenvolvimento rural sustentável, bem como meio ambiente em instituições públicas, privadas e organizações não-governamentais.

Fernando Ramos Martins (categorias linguagem escrita e audiovisual)

Formado em Física, mestre em Tecnologia Nuclear – Reatores de Potência –, e doutor em Geofísica Espacial – Ciências Atmosféricas, Martins participa de projetos ligados ao levantamento de recursos de energias renováveis como o SWERA e o SONDA. Faz parte do Programa Antártico Brasileiro, é pesquisador do Centro Experimental ARAMAR, revisor de periódicos internacionais e nacionais e especialista em medidas de campo aplicadas ao setor energético, manipulação e tratamento de imagens de Satélites Geoestacionários e em levantamento de energia solar e eólica.

Hilton Silveira Pinto (categorias linguagem escrita e audiovisual)

Desde 1975 é professor associado do Instituto de Biologia da Unicamp - Universidade Estadual de Campinas. Formado em Agronomia pela ESALQ - USP, com MSA pela USP e doutorado em Agronomia pela UNESP, tem pós-doutorado na Universidade de Guelph, no Canadá, onde atuou também como professor convidado em Agrometeorologia. É pesquisador nível 1A do CNPq e hoje também coordena projetos de pesquisas com financiamentos nas áreas de agroclimatologia com destaque em zoneamento de riscos e de mudanças climáticas na agricultura.

Maria Manso (categoria linguagem audiovisual – TV)

Há 20 anos na televisão brasileira, Maria Manso já atuou repórter e apresentadora, ancorando transmissões ao vivo e matérias especiais para programas como Globo Repórter e Fantástico, ambos da TV Globo, onde também participou como repórter de outros telejornais. A jornalista tem passagens pelo jornalismo de emissoras como TV Cultura, SBT, Rede Manchete e TV Aratu.

Oscar Motta Mello (categoria linguagem audiovisual – Rádio e TV)

Formado pela ECA – USP, atua nas áreas de meio ambiente e sustentabilidade. Já produziu e dirigiu cerca de 50 documentários educativos e institucionais relacionados às questões ambientais. Em 1998, realizou o primeiro Festival Internacional de Filmes e Vídeos Ambientais do Brasil. Recebeu prêmios e foi jurado da Mostra Internacional de Documentários sobre Parques, realizada em Sondrio, Itália.

Reinaldo Canto (categoria linguagem escrita)

Trabalha há 29 anos em comunicação social e atua desde 2003 no Terceiro Setor. Esteve à frente da comunicação do Greenpeace no Brasil e atuou como coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente. Atualmente é diretor executivo do Instituto dos Mananciais, sendo o responsável pela revista “Parelheiros – Os Mananciais de São Paulo dentro da metrópole”. É autor do blog Canto da Sustentabilidade.

Tatiana Ferraz (categoria linguagem audiovisual – Rádio e TV)

É professora de Telejornalismo e Radiojornalismo da Faculdade Cásper Líbero e editora e apresentadora do jornal Atenção Brasil, que vai ao ar pelas rádios Cultura AM e FM. Trabalhou como repórter e apresentadora no SBT, Rádio Jovem Pan, TV Record, TV Gazeta e Rádio Eldorado. Em 2006, venceu o 6º Prêmio Ethos de Jornalismo – Responsabilidade Social (categoria mídia eletrônica – rádio).

Vanessa Kalil (categoria linguagem audiovisual –TV)

Editora-Chefe do Jornal da Noite com Boris Casoy, da TV Bandeirantes, a jornalista possui 32 anos de experiência em jornalismo. Já trabalhou nas principais emissoras nacionais, como SBT, onde foi diretora do Jornal do SBT, TV Cultura, TV Globo, como editora-chefe dos telejornais Bom Dia São Paulo, SPTV primeira edição e SPTV segunda edição, além de passagens por produtoras e rádio.

FÓRUM DA REVISTA EXAME APONTA IMPASSES E DESAFIOS DA COP-15

Por Reinaldo Canto, especial para a Envolverde




Na manhã desta quarta-feira (11/11), em São Paulo, ainda sob o forte impacto do grande blecaute que deixou a escuras a capital paulista e diversos estados brasileiros, num dos hotéis mais chiques e bonitos da cidade, foi realizado o Exame Fórum Sustentabilidade - Copenhague: Desafios e Oportunidades.

Duas rodadas distintas de debate separadas por um intervalo para café, suco e pão de queijo revelaram enormes desafios que estão no caminho de um mundo mais sustentável. A primeira parte mais pública do que privada, reuniu um representante do Governo de São Paulo, Francisco Graziano, Secretário de Meio Ambiente do Estado; uma ONG, o Instituto Ethos com seu presidente Ricardo Young, além de Eduardo Viola, professor da UNB em Brasília. Coube ao diretor de novos negócios do Grupo Votorantim, Fernando Reinach, a presença mais privada do que pública.

Talvez tenha sido por ser o representante do setor privado que Reinach fez algumas afirmações polêmicas, tais como, considerar o aço e o alumínio brasileiros como “produtos verdes”, graças ao uso de energias limpas na sua fabricação e, sem levar em conta a extração intensiva dessas matérias-primas e o enorme gasto com água, energia e outros insumos em suas fabricações, não tão “verdes”.

Ricardo Young se mostrou um realista sem pessimismo ao, de certa maneira, livrar Copenhague de ser taxada como um fracasso anunciado. Para o presidente do Ethos, Copenhague mais que resultados têm e terá um valor simbólico nas discussões que ali serão travadas, “vive-se um momento extraordinário de fatos bons e ruins”. Sem dúvida, até para não desanimar tantos atores envolvidos nesse trabalho, o melhor é pensar a COP-15 como um ponto de partida das novas discussões e não como chegada que tende a decepcionar. Ricardo também aproveitou para espetar o governo Lula classificando-o como o presidente que mais sorte teve na história e mais oportunidades desperdiçou ao não aproveitar a chance de assumir a liderança da agenda ambiental no mundo.

Quem mais aprofundou a discussão do ponto de vista das oportunidades foi o professor Eduardo Viola, com seu tom enfático, destacou que, a maior parte das empresas e dos governos, não consegue fazer a transição para um novo mundo. Segundo ele, é necessário passar de um mercado tradicional para outro baseado na tecnologia e no conhecimento, ou seja, temos de passar de uma sociedade industrial para uma sociedade do conhecimento que, segundo ele, será responsável por uma redução significativa nos impactos ambientais atuais. Viola destacou o atraso brasileiro na questão do transporte de cargas, majoritariamente rodoviário e precário, quando os maiores países do mundo utilizam ferrovias e hidrovias.

Sobre o tema transporte, o secretário de meio ambiente do governo Serra, Chico Graziano, destacou que pesquisas constataram que 46% dos caminhões que trafegam na Região Metropolitana de São Paulo circulam vazios, emitindo grande quantidade de gás carbônico sem cumprir a sua função de transportar carga.

Chamou a atenção o destaque que os debatedores deram aos grandes projetos de sustentabilidade que estão sendo colocados em prática pela China. Mesmo ressaltando que são conduzidos de maneira unilateral por um governo autoritário foram lembrados como entre os mais audaciosos que estão sendo colocados em prática no mundo. O professor Viola ainda lembrou que no mundo democrático, o Reino Unido e a Coréia do Sul são referências em medidas de redução das emissões dos gases de efeito estufa.

Os desafios da iniciativa privada

A segunda parte do debate intitulado: “Oportunidades de Negócio para o Brasil Sustentável” reuniu pesos pesados da iniciativa privada que procuraram ressaltar os esforços de suas empresas e setores na busca pela sustentabilidade. Marcos Bicudo, presidente da Phillips, lembrou bem que a água deverá, em pouco tempo, ser a nova preocupação das discussões globais ao lado das mudanças climáticas. O executivo da Phillips ainda reforçou que não é possível falar de desenvolvimento sustentável sem levar em conta que ao lado das questões econômicas e ambientais também deve caminhar o social, o conhecido tripple bottom line. Ele aproveitou para citar um número da Organização Mundial de Saúde 18 milhões de pessoas no Brasil não tem banheiro.

Um tema delicado colocado na mesa de empresários foi o da criação de empregos verdes. Silêncio inicial seguido de uma brincadeira de Marcos Vaz, diretor de sustentabilidade da Natura, “eu tenho um emprego verde”. Quando o presidente da Suzano, Antonio Maciel Neto e Marcos Jank, presidente da ÚNICA – a União da Indústria da Cana-de-Açucar ensaiavam afirmar que plantar árvores de reflorestamento para produção de papel e o plantio de cana para biocombustível criam empregos verdes, Bicudo da Phillips disse que o mais importante é que as empresas tenham o verde no seu DNA.

As discussões giraram, principalmente, em torno da redução dos impactos ambientais e da melhoria da produtividade dos setores empresariais. Marcos Jank citou que por problemas de gestão estão no campo só de bagaço de cana não aproveitadas duas Itaipus que poderiam gerar energia para o país. Como estava incomodado por não se falar em redução de consumo, mandei exatamente essa pergunta para a mediação e a resposta veio naquele que pode ser visto como um dos grandes desafios enfrentados pelos setores produtivos: “pensamos nisso três vezes ao dia, ainda é uma pergunta sem resposta”, disse Marcos Vaz da Natura e emendou, “crescer não é pecado, crescemos mantendo o impacto e investindo em coisas importantes”.

Como se vê antes, durante ou depois de Copenhague, os desafios ainda serão maiores que as oportunidades .

Reinaldo Canto e jornalista, palestrante e consultor, foi diretor de comunicação do Greenpeace Brasil e coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente.

06 novembro 2009

BOLSO: ANTÍDOTO CONTRA O DESPERDÍCIO

Por Reinaldo Canto* Especial para a Envolverde

Na ausência do valor monetário residem alguns dos nossos problemas

São Paulo é a cidade que não desperta porque simplesmente nunca dorme! A maior cidade do país também é conhecida por ser uma síntese de muitas das características encontradas em pontos diversos do Brasil. Muitos eventos culturais, inúmeros congressos nacionais e internacionais e uma gastronomia variada e de alta qualidade. A metrópole também possui números superlativos dignos de nota e celebrações.

No princípio de outubro pudemos comemorar a aposentadoria do último Aterro Sanitário público da capital, o São João, cuja capacidade foi esgotada após chegar a expressiva marca de 28 milhões de toneladas de lixo. Nos seus bons tempos de juventude, nos não tão antigos anos 90, o aterro São João recebia cerca de 6 mil toneladas diárias de lixo, mas já próximo de seu merecido descanso, passou a receber “apenas” mil toneladas por dia. Bem, descanso não é bem o termo já que em sua área ocupada de aproximadamente 435 mil m² ou cerca de 60 campos de futebol, suas 28 milhões de toneladas alcançam 160 metros de altura, praticamente o mesmo que o Terraço Itália (168 metros), faz-se necessário um monitoramento constante para que essa verdadeira montanha não venha abaixo. Agora todo o lixo paulistano é “exportado” para municípios vizinhos, pois diferentemente do que muita gente pensa, o “jogar fora”, na verdade, significa “jogar dentro”, pois se não está na sua casa, esse lixo está mais perto do que se imagina, contaminando e sujando nossas águas, nosso ar e nossa vida.

Para não perder o pique nas comemorações de São Paulo e aproveitando que acabei de falar em água e do lixo que “não se joga fora”, temos outro número fantástico que vem de um dos locais mais conhecidos dos paulistanos, o Parque do Ibirapuera. Notícia publicada pelo jornal O Estado de São Paulo registra que são retiradas por semana, repito, por semana, 500 quilos de lixo apenas do lago do Ibirapuera. Segundo o jornal, já foram encontrados de sacos de seringa, bicicleta velha, sacos plásticos, garrafas pet e por aí vai.

A relação direta entre valor das coisas e o descarte do lixo

Vou revelar agora porque essas ironias foram expressas dessa maneira, por assim dizer, com certo grau de agressividade. Dia desses fui à lavanderia do meu bairro buscar minhas roupas. Como, gentilmente, as camisas e calças passadas são entregues envoltas num plástico e com um cabide para não amassá-las, fiz a seguinte colocação, seguida pela sugestão:

- Obrigado, eu dispenso os cabides e os plásticos, pois já os tenho em número suficiente. Que tal vocês me darem um desconto pelo não uso dos cabides e dos plásticos? Aliás, isso poderia ser feito com todos os seus clientes.
Resposta do atendente:

- Não vai adiantar a gente paga cerca de três centavos por cabide e não vale à pena fazer isso.
Esse diálogo me deixou estarrecido e mesmo com a resposta continuo a fazer propostas para reverter esse posicionamento tão danoso ao planeta (tal como a devolução de um certo número de cabides em troca de uma roupa lavada ou passada).

O que esse diálogo revela é que há uma relação direta entre o valor dos cabides e dos plásticos com a aposentadoria do Aterro São João e os 500 quilos de lixo do lago do Ibirapuera, em resumo: o valor de certos materiais.

Um dado interessante publicado pela revista Época São Paulo (edição de março de 2009) dá conta que São Paulo produziu em 2008, 3.437.607 toneladas de lixo domiciliar, 3% a mais do que em 2007. A informação curiosa é que a população da cidade de um ano para o outro cresceu apenas 0,6%. A simples conclusão é que estamos gerando mais lixo por pessoa a cada ano que passa.

Em uma sociedade de consumo que vem se caracterizando pelo culto ao descartável, a quantidade de lixo é proporcional a falta de consciência e ações que passam por todos os setores, sejam eles públicos, privados e até chegar ao próprio cidadão.

Se podemos registrar que no Brasil temos o mais alto nível de reciclagem de latinhas de alumínio do mundo (algo em torno de 95% ou 96%), também é fácil afirmar que existem materiais tão diversos como papel, papelão, vidro, isopor, garrafas PET, sacolas plásticas e tantos outros que são perfeitamente recicláveis. Pelo menos 30% dos lixos domiciliares são compostos de materiais recicláveis, mas apenas 1% acaba sendo recuperado pela coleta seletiva.

É muito triste imaginar que toneladas de material reciclável entopem os lixões e aterros sanitários quando poderiam voltar a ser utilizados por empresas em produção de novos produtos. Um caso exemplar é o do vidro. Um quilo de vidro é totalmente aproveitado na reciclagem num círculo virtuoso que contribui para que não sejam necessárias as extrações de matérias-primas existentes na natureza. Isso vale para todos os outros materiais que são descartados. Papéis reutilizados e reciclados evitam o corte de árvores; sacolas plásticas reutilizadas e recicladas deixam de entupir bueiros, poluir rios e mares, etc, etc ...

As razões para esse estado de coisas são inúmeras: ausência de políticas públicas efetivas de incentivo a coleta e reciclagem e de educação ambiental para a população; uma parte da iniciativa privada que não se empenha em tratar resíduos e criar ações para reaproveitamento de materiais na sua linha de produção e o cidadão que desperdiça, não reutiliza, não recicla e ainda joga lixo nas praças, ruas, rios e lagos.

Os argumentos acima são bastante defensáveis e, sem dúvida, devem ser trabalhados para que se encontrem soluções para os lixos e seus descartes, mas quero voltar aos meus cabides e a uma recente palestra que dei numa indústria química em São Paulo. Ao falar do sucesso da reciclagem das latas de alumínio e do fracasso em geral dos outros materiais, um funcionário da empresa concluiu:

- Não adianta, só quando dói no bolso o pessoal se mexe!!

Nada mais óbvio do que isso, o valor dos materiais é o fator determinante para garantir a reciclagem e até mesmo contribuir para a redução do seu uso e descarte.

Cobrar o que é de graça, aumentar o preço do que for muito barato

Se o poder público garantisse preços convidativos para os materiais hoje menos atrativos, tenho certeza que teríamos mais plásticos, papéis, vidros, isopores, entre outros, sendo recolhidos com eficiência, e, consequentemente voltariam para a cadeia produtiva sem entulhar os nossos aterros e lixões.

O incentivo à reciclagem que também possui benefícios sociais importantes, já faz parte da discussão. Foi por essa razão que na semana passada o governo federal anunciou uma série de projetos de capacitação que irão beneficiar 10.600 catadores em 18 estados do País. O convênio foi assinado durante a Reviravolta Expocatadores, evento que tem como objetivo desenvolver políticas públicas de inclusão para catadores de materiais recicláveis.
Outra medida menos discutida, mas creio que muito eficiente e de fácil aplicação, é dar valor ao que não tem.
Pensem a respeito:

Se a sacola plástica do supermercado, da drogaria ou da padaria custasse 0,30 ou 0,20 centavos, as pessoas usariam da mesma maneira que agora? Levariam em grande quantidade? Jogariam nas ruas, rios e praças, mesmo que sem uso? (Alguns estabelecimentos varejistas já começaram a adotar essa medida no Brasil enquanto em países como a Alemanha a sacola plástica é cobrada em todas as compras).

E quanto aos cabides e plásticos da lavanderia que citei acima? E outros tipos de embalagens? E as bandejas de isopor nos supermercados? Se fosse possível devolvê-las e com isso obter algum desconto?

Aliás antes da proliferação das garrafas PET, cervejas e refrigerantes eram majoritariamente vendidas em garrafas de vidro e, o “casco” como eram conhecidas, tinham valor. Quando a garrafa era devolvida vazia, o estabelecimento retornava ao consumidor um pequeno valor ou da mesma maneira quando a bebida era comprada sem a entrega de garrafas vazias, no preço da bebida estava lá embutido o valor do “casco”. Nesses casos, só quem rasgava dinheiro ou estava muito bêbado para pensar no assunto, jogava sua garrafa na rua ou no rio. Por que não voltarmos a usar as garrafas de vidro ou usar as garrafas PET da mesma maneira que se fazia antigamente?

Vivemos situações críticas em várias áreas vitais para a sobrevivência humana, a questão da geração do lixo, da contaminação das águas, o desmatamento e o aquecimento global estão entre as principais. Infelizmente, medidas isoladas sejam do poder público, sejam da iniciativa privada e até de cidadãos mais conscientes são louváveis, mas de resultado limitado.

Cobrar por todos esses materiais e embalagens dando valor ao que as pessoas hoje descartam seria uma maneira rápida de mudar a realidade tenebrosa do desperdício, do descarte inconseqüente e da falta de educação.
O melhor, é claro, seria conquistar consciências, mas é óbvio também que os resultados tem sido modestos até mesmo nos países ditos desenvolvidos e educados.

Conclusão, para que São Paulo e outras capitais e cidades brasileiras não apresentem números tão tristes, pelo menos em relação a sujeira e geração de lixo, fico com a filosófica afirmação do rapaz da empresa química:
- Só quando dói no bolso o pessoal se mexe!

Então, que assim seja!

*Jornalista, consultor e palestrante, foi diretor de comunicação do Greenpeace e coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente



(Envolverde/O autor)