12 novembro 2009

FÓRUM DA REVISTA EXAME APONTA IMPASSES E DESAFIOS DA COP-15

Por Reinaldo Canto, especial para a Envolverde




Na manhã desta quarta-feira (11/11), em São Paulo, ainda sob o forte impacto do grande blecaute que deixou a escuras a capital paulista e diversos estados brasileiros, num dos hotéis mais chiques e bonitos da cidade, foi realizado o Exame Fórum Sustentabilidade - Copenhague: Desafios e Oportunidades.

Duas rodadas distintas de debate separadas por um intervalo para café, suco e pão de queijo revelaram enormes desafios que estão no caminho de um mundo mais sustentável. A primeira parte mais pública do que privada, reuniu um representante do Governo de São Paulo, Francisco Graziano, Secretário de Meio Ambiente do Estado; uma ONG, o Instituto Ethos com seu presidente Ricardo Young, além de Eduardo Viola, professor da UNB em Brasília. Coube ao diretor de novos negócios do Grupo Votorantim, Fernando Reinach, a presença mais privada do que pública.

Talvez tenha sido por ser o representante do setor privado que Reinach fez algumas afirmações polêmicas, tais como, considerar o aço e o alumínio brasileiros como “produtos verdes”, graças ao uso de energias limpas na sua fabricação e, sem levar em conta a extração intensiva dessas matérias-primas e o enorme gasto com água, energia e outros insumos em suas fabricações, não tão “verdes”.

Ricardo Young se mostrou um realista sem pessimismo ao, de certa maneira, livrar Copenhague de ser taxada como um fracasso anunciado. Para o presidente do Ethos, Copenhague mais que resultados têm e terá um valor simbólico nas discussões que ali serão travadas, “vive-se um momento extraordinário de fatos bons e ruins”. Sem dúvida, até para não desanimar tantos atores envolvidos nesse trabalho, o melhor é pensar a COP-15 como um ponto de partida das novas discussões e não como chegada que tende a decepcionar. Ricardo também aproveitou para espetar o governo Lula classificando-o como o presidente que mais sorte teve na história e mais oportunidades desperdiçou ao não aproveitar a chance de assumir a liderança da agenda ambiental no mundo.

Quem mais aprofundou a discussão do ponto de vista das oportunidades foi o professor Eduardo Viola, com seu tom enfático, destacou que, a maior parte das empresas e dos governos, não consegue fazer a transição para um novo mundo. Segundo ele, é necessário passar de um mercado tradicional para outro baseado na tecnologia e no conhecimento, ou seja, temos de passar de uma sociedade industrial para uma sociedade do conhecimento que, segundo ele, será responsável por uma redução significativa nos impactos ambientais atuais. Viola destacou o atraso brasileiro na questão do transporte de cargas, majoritariamente rodoviário e precário, quando os maiores países do mundo utilizam ferrovias e hidrovias.

Sobre o tema transporte, o secretário de meio ambiente do governo Serra, Chico Graziano, destacou que pesquisas constataram que 46% dos caminhões que trafegam na Região Metropolitana de São Paulo circulam vazios, emitindo grande quantidade de gás carbônico sem cumprir a sua função de transportar carga.

Chamou a atenção o destaque que os debatedores deram aos grandes projetos de sustentabilidade que estão sendo colocados em prática pela China. Mesmo ressaltando que são conduzidos de maneira unilateral por um governo autoritário foram lembrados como entre os mais audaciosos que estão sendo colocados em prática no mundo. O professor Viola ainda lembrou que no mundo democrático, o Reino Unido e a Coréia do Sul são referências em medidas de redução das emissões dos gases de efeito estufa.

Os desafios da iniciativa privada

A segunda parte do debate intitulado: “Oportunidades de Negócio para o Brasil Sustentável” reuniu pesos pesados da iniciativa privada que procuraram ressaltar os esforços de suas empresas e setores na busca pela sustentabilidade. Marcos Bicudo, presidente da Phillips, lembrou bem que a água deverá, em pouco tempo, ser a nova preocupação das discussões globais ao lado das mudanças climáticas. O executivo da Phillips ainda reforçou que não é possível falar de desenvolvimento sustentável sem levar em conta que ao lado das questões econômicas e ambientais também deve caminhar o social, o conhecido tripple bottom line. Ele aproveitou para citar um número da Organização Mundial de Saúde 18 milhões de pessoas no Brasil não tem banheiro.

Um tema delicado colocado na mesa de empresários foi o da criação de empregos verdes. Silêncio inicial seguido de uma brincadeira de Marcos Vaz, diretor de sustentabilidade da Natura, “eu tenho um emprego verde”. Quando o presidente da Suzano, Antonio Maciel Neto e Marcos Jank, presidente da ÚNICA – a União da Indústria da Cana-de-Açucar ensaiavam afirmar que plantar árvores de reflorestamento para produção de papel e o plantio de cana para biocombustível criam empregos verdes, Bicudo da Phillips disse que o mais importante é que as empresas tenham o verde no seu DNA.

As discussões giraram, principalmente, em torno da redução dos impactos ambientais e da melhoria da produtividade dos setores empresariais. Marcos Jank citou que por problemas de gestão estão no campo só de bagaço de cana não aproveitadas duas Itaipus que poderiam gerar energia para o país. Como estava incomodado por não se falar em redução de consumo, mandei exatamente essa pergunta para a mediação e a resposta veio naquele que pode ser visto como um dos grandes desafios enfrentados pelos setores produtivos: “pensamos nisso três vezes ao dia, ainda é uma pergunta sem resposta”, disse Marcos Vaz da Natura e emendou, “crescer não é pecado, crescemos mantendo o impacto e investindo em coisas importantes”.

Como se vê antes, durante ou depois de Copenhague, os desafios ainda serão maiores que as oportunidades .

Reinaldo Canto e jornalista, palestrante e consultor, foi diretor de comunicação do Greenpeace Brasil e coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente.

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