29 abril 2010

É possível uma metrópole verde?

Por Reinaldo Canto*




Instituto Mananciais encara o desafio de trabalhar pelo desenvolvimento sustentável no extremo sul de São Paulo.

Se o Brasil por si só é um país de fortes contrastes e desigualdades conhecidas em todo o mundo, a cidade de São Paulo tem na sua região sul, a potencialização desse cenário. O bairro de Parelheiros ocupa 25% de toda área do município, a maior parte dela (mais de 60%) composta de áreas verdes fundamentais para o equilíbrio ambiental de São Paulo. Destaque para os Parques Estaduais da Serra do Mar e da Cratera; para as Áreas de Preservação Ambiental (APAs) Capivari-Monos e Bororé-Colônia e três bacias hidrográficas Capivari, Guarapiranga e Billings responsáveis pelo o fornecimento de água para 30% da população da Grande São Paulo. Ao lado da riqueza e exuberância de sua biodiversidade, convive outra realidade: os mais baixos índices de desenvolvimento humano (IDH) da metrópole, contando entre outros dados, com altos índices de desemprego, gravidez precoce e ocupações irregulares que afetam seus mais de 200 mil habitantes.

O Instituto para o Desenvolvimento Sustentável dos Mananciais, desde a sua formação há 4 anos quando apoiou a realização da I Conferência Científica da Cratera de Colônia, acredita que é possível conciliar desenvolvimento social com preservação ambiental contanto que, para isso, leve-se em consideração os interesses e necessidades da população local.

É preciso que o cidadão se sinta inserido nos projetos voltados para a sustentabilidade e enxergue neles a real possibilidade de inclusão social e progresso pessoal para os membros da comunidade. O verde e a água presentes em seu território, que tantos benefícios trás para a cidade, tem de ser visto pela população como um aliado e não como um inimigo. Ao se alcançar essa meta, o morador local passa a ser o principal guardião das riquezas naturais da região, pronto para preservar e fiscalizar qualquer agressão ao seu patrimônio.

Educação Ambiental e alternativa sustentável

Para cumprir sua missão de trabalhar pelo desenvolvimento sustentável da região de Parelheiros e Capela do Socorro, o Instituto Mananciais teve recentemente aprovado o “Projeto-Piloto Viveiro – Escola Bambu, A Madeira do Futuro”, junto ao Fundo Especial de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (FEMA) para cultivo, manuseio, manutenção de mudas de bambu em viveiro escola que será montado na região. Um dos objetivos do projeto é demonstrar que existem maneiras sustentáveis e viáveis de substituição ao uso da madeira de desmatamento que vem sendo usada principalmente na construção civil. O projeto também prevê ações de educação ambiental em parceria com pequenos agricultores da região, palestras e oficinas práticas de sustentabilidade.

Presença Institucional em defesa da região

O Instituto também obteve uma importante conquista ao obter assento no Conselho Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CADES) da Secretaria do Verde e Meio Ambiente da capital eleito para o biênio 2010/2012 representando a região de Parelheiros. Além do CADES, o Instituto também tem desempenhado importante papel no Conselho Gestor da APA Capivari-Monos, no Conselho Gestor do Parque Linear de Parelheiros no segmento pertencente a entidades ambientalistas, além de participar do Conselho Regional para o Desenvolvimento Sustentável e Cultura de Paz de Parelheiros no segmento reservado à sociedade.

Esperamos que o trabalho do Instituto Mananciais continue a conquistar um espaço importante no apoio as causas da população e contribua decisivamente para o desenvolvimento sustentável de Parelheiros e região.

* Reinaldo Canto é Diretor-Executivo do Instituto para o Desenvolvimento Sustentável dos Mananciais, é jornalista, palestrante, consultor e articulista das mídias ambientais


Email: reicanto@uol.com.br

09 abril 2010

Os caminhos do ceticismo e o futuro da humanidade

Por Reinaldo Canto* especial para a Envolverde

A Organização Meteorológica Mundial anunciou dias atrás que a década passada foi a mais quente desde que os primeiros registros sobre o tema começaram a ser analisados, ou seja, desde 1850. O ano de 2009 foi o quinto mais quente desses 160 anos de registros e ainda contou com graves alterações climáticas sentidas em todas as partes do planeta. A elevação da temperatura na década chegou a 0,22 graus Celsius e a previsão dos especialistas é de que continuará a subir.

A entidade ainda apontou que os eventos climáticos extremos, como enchentes, tornados e secas bíblicas, observados em todo o mundo, são reflexo direto do aquecimento global.

Um desses reflexos resultou, recentemente, no desaparecimento de uma ilha no Oceano Índico que era disputada por Índia e Bangladesh. Cientistas da Escola de Estudos Oceanográficos da Universidade Jadavpur, em Calcutá, na Índia, divulgaram que a causa da submersão da ilha foi o aumento do nível do oceano, um dos terríveis efeitos do aquecimento global.

Diante desses fatos comprovados cientificamente e divulgados exaustivamente nos relatórios do IPCC (sigla em inglês do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas da ONU), composto por alguns milhares de cientistas ao redor do mundo dando conta dessas alterações climáticas, era de se esperar que um consenso se tornasse o norteador das ações em prol das medidas necessárias para se evitar tragédias ainda maiores. Mas após, ou melhor, durante mesmo a realização da COP-15, no final do ano em Copenhague, o coro dos chamados “céticos” voltou a inflamar as discussões em torno do questionamento quanto a realidade do aquecimento global.

O vazamento dos famosos emails do IPCC dando conta de possíveis exageros nas previsões futuras das conseqüências das mudanças climáticas, com destaque para a velocidade do degelo no Himalaia, também contribuiu para reforçar a corrente contrária a ações para reduzir e compensar as emissões dos gases de efeito estufa (GEEs).

Em recente debate em São Paulo, um representante dos céticos comentou que não devemos ser contra o gás carbônico, CO², pois ele é um dos principais responsáveis pela vida no planeta. Como se os gases que saem dos escapamentos e das chaminés, ao invés de simples queima de petróleo e carvão mineral, entre outros, fossem transmissores da vida e, não compostos de gases altamente poluentes e extremamente danosos à saúde humana.

Mesmo as correntes dos céticos possuem duas divisões bem claras. A primeira refere-se aos que acreditam que a Terra está aquecendo, mas como conseqüência de um ciclo natural do planeta e não por responsabilidade humana. A outra vertente já afirma que o aquecimento global é uma lenda urbana e, muito ao contrário, estamos todos passando pelo processo de resfriamento global.

Ambos apenas concordam que a divulgação do agravamento do efeito estufa faz parte de um complô engendrado por “grupos” que querem impedir o desenvolvimento humano, principalmente, impedindo que os países pobres alcancem um patamar que garanta um padrão de vida e de consumo superior para os seus habitantes tão sofridos.

Lembrando nosso polêmico e genial dramaturgo, Nelson Rodrigues, toda unanimidade deve ser considerada burra. A dúvida, a discordância são parte integrante da natureza humana e muito já contribuiram para o desenvolvimento intelectual de nossa espécie. Mas nem por isso devemos deixar de questionar a visão dos céticos do aquecimento global, por não conseguirem enxergar além dessa fumaça provocada pelos gases de efeito estufa.

A questão é o modelo de desenvolvimento insustentável

Os esforços e preocupações globais para reduzir os efeitos do aquecimento do planeta vêm ocupando um espaço cada vez maior na agenda dos chefes de estado, organismos multilaterais e empresas ao redor do mundo na busca de alternativas economicamente viáveis. A adoção de energias limpas e renováveis no lugar dos combustíveis fósseis; o cuidado com o uso e o tratamento da água nas empresas e cidades; a reciclagem e o reaproveitamento de materiais e matérias-primas nos processos industriais; a gestão adequada dos resíduos sólidos e o investimento no transporte público nas grandes cidades são algumas das muitas ações que são divulgadas todos os dias pelos veículos de comunicação. Somadas as campanhas de consumo consciente transmitidas aos cidadãos está montado um cenário virtuoso que, apesar de ainda limitado, instiga todos esses atores presentes a esse cenário planetário, a tomarem atitudes mais sustentáveis.

Aí entra a crítica mais severa aos céticos. O que se pretende com essa negação? Desestimular as ações em curso? Questionar a sua validade?

Muitos deles, claro que existem exceções, mas muitos deles contestam os números e fatos do aquecimento global, mas sem propor mudanças no nosso atual modelo de desenvolvimento. É como se o fato de considerarem o aquecimento global uma mentira, também considerassem que uma sociedade altamente consumista, predadora e insaciável, fosse totalmente defensável.

Já que não temos aquecimento global, tudo está na mais perfeita ordem!

Isso significa que não estamos consumindo além da capacidade de reposição do planeta?

Não estamos contaminando a água, um bem vital para a nossa sobrevivência, de um modo alarmante?

Não estamos destruindo nossas florestas e nossa biodiversidade de maneira praticamente irreversível?

Vejo as tentativas de desqualificar os estudos que comprovam os efeitos do aquecimento global e das mudanças climáticas pela ação humana, como uma triste reação daqueles que temem a quebra de paradigma do desenvolvimento atual.

Eles esquecem que a contestação a um modelo que vem se mostrando insustentável é infinitamente mais importante do que entrar em discussões intermináveis tentando prever em quantos anos as geleiras do Himalaia irão derreter. Mais importante é intensificar e acelerar as ações que visem garantir um futuro mais ameno, seja em relação ao clima, seja em termos de conforto e qualidade de vida para as próximas gerações.

* Jornalista, consultor e palestrante, foi diretor de comunicação do Greenpeace e coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente.

02 abril 2010