25 março 2011

Uma reflexão sobre a guerra urbana no cotidiano das cidades brasileiras

Viver em sociedade pressupõe, um certo grau de tolerância e respeito ao próximo e, muitas vezes, a subordinação de vontades.

Por Reinaldo Canto*

Viver em sociedade pressupõe, um certo grau de tolerância e respeito ao próximo e, muitas vezes, a subordinação de vontades, desejos e interesses particulares, em nome de uma convivência pacífica.

Infelizmente, não é o que vemos com freqüência em nossas cidades, notadamente, as maiores aqui em nosso país. A busca por uma relativa harmonia fica ainda mais prejudicada quando estão nítidos os gravíssimos problemas de infraestrutura, ou melhor, da falta dela, que potencializam dissabores e momentos de irritação de seus habitantes. Se a isso juntarmos a prepotência e arrogância de alguns que acreditam ter mais direitos que outros, o cenário está aí, montado sobre bases de um cotidiano cercado de batalhas e tensões permanentes.

Basta caminhar alguns metros em uma metrópole como São Paulo para flagrar inúmeros e repetitivos casos de desrespeito ao direito coletivo. São calçadas intransitáveis; lixos espalhados e jogados no chão ao lado de lixeiras; praças com bancos quebrados e monumentos depredados; além de ruas e avenidas mal sinalizadas e iluminadas, entre tantos outros problemas facilmente detectáveis.

Mesmo as pessoas menos propensas a atitudes condenáveis, acabam sendo “contaminadas” pela desordem geral, digo isso, porque não posso imaginar que sejamos todos ou a maioria composta de seres com instintos selvagens dispostos a fazer valer as máximas do “vale-tudo” e do “salve-se quem puder”.

Motoristas ensandecidos

Bem, tenho cá minhas dúvidas quanto a bipolaridade entre médico e monstro que acomete cidadãos ao adentrarem as suas máquinas maravilhosas. O pai carinhoso, o amigo fiel, o vizinho gentil e por aí vai, quando se vê solitário dentro de seu veículo, transforma-se como numa maldição, num maligno Mr. Hyde pronto a exibir uma ferocidade a qualquer um que ouse manifestar os mesmos direitos.

Os iguais são rechaçados e fustigados o tempo que durar a viagem e apenas mal tolerados, pois a verdade absoluta está sentada naquele banco de motorista e todos os outros sempre estarão errados. Já aos desiguais, a esses não resta absolutamente nenhuma clemência. Pedestres que façam menção de atravessar na faixa reivindicando esse direito serão agredidos e ameaçados verbalmente, quando não atropelados, para que não restem dúvidas de sua insignificância e inferioridade. Bicicletas, também não poderão ter outro destino, vide o caso de Porto Alegre, cuja ousadia foi punida por, blasfêmia maior, reivindicar melhores condições de mobilidade.

Os motoristas histéricos que buzinam escandalosamente nas situações mais triviais, os que agem em flagrante desrespeito as leis e ainda os que colocam a sua vida e dos outros em risco devem estar, sob domínio de algum surto psicótico e têm usado seus veículos com freqüência cada vez mais assustadora, como arma letal. As autoridades do trânsito, bem como os responsáveis pelos testes para aquisição ou renovação da carteira de habilitação deveriam ter condições de punir e prevenir, alguns desses comportamentos inaceitáveis com a perda da licença para dirigir.

Triste resultado

Infelizmente ainda teremos muitas razões para crer que esse quadro deverá se agravar. Uma pesquisa divulgada no mês passado demonstra o quão longe estamos de uma mudança.

Segundo o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), um em cada quatro brasileiros afirma que, pasmem, mesmo que o transporte coletivo fosse eficiente, não deixaria de usar o carro como principal meio de deslocamento diário. Entre as diversas argumentações estão o fato dos entrevistados considerarem o transporte coletivo ruim e ineficiente. Quanto a isso não há o que discutir, até porque 44,3% dos ouvidos pela pesquisa são usuários desse tipo de transporte.

Em geral, o que a pesquisa revela, é a falsa ilusão de que todos os problemas serão resolvidos quando o cidadão adquirir seu carro. Apesar de todos os problemas do trânsito caótico das cidades brasileiras, as pessoas ainda sonham com o transporte individual como se com ele, fosse possível alcançar o nirvana, o paraíso, a felicidade suprema. Ledo engano!


A barbárie do eu sozinho

Uma sociedade se constrói com a busca por soluções sustentáveis em que prevaleçam os interesses coletivos sobre os individuais. Obviamente numa democracia baseada nos pilares da livre iniciativa nos quais estamos inseridos, direitos individuais e de minorias devem ser respeitadas. Mas o que preocupa no atual cenário é a motivação, de uma parte significativa da população, pelo desejo de encontrar caminhos pessoais e particulares.

Por seu lado, as nossas autoridades públicas de olho nos votos e no atendimento a essas solicitações, gastam fortunas com obras viárias sem futuro estimulando o uso do transporte individual. Assim, as cidades vão sendo ocupadas, rasgadas e desfiguradas, para, ao invés de servir como espaço de convivência agradável para seus habitantes, transformar-se em vias congestionadas e cada vez mais estressantes e violentas.

Para que tenhamos qualidade de vida no futuro é preciso urgentemente frear esse processo insano e contraproducente. Construir as bases para uma cidade que priorize a implementação de políticas e investimentos de planejamento urbano garantindo a todos direitos iguais de acesso, mobilidade e de uso dos equipamentos e espaços públicos. Ações do poder público que não visem reduzir as enormes desigualdades e que não trilhem o caminho do desenvolvimento sustentável devem ser colocadas em segundo plano ou mesmo descartadas.

*Reinaldo Canto é jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de comunicação do Greenpeace e coordenador de comunicação do Instituto Akatu. É colunista de Carta Capital e colaborador da Envolverde.

Artigo publicado originalmente na coluna Cidadania & Sustentabilidade: http://www.cartacapital.com.br/destaques_carta_capital/uma-reflexao-sobre-a-guerra-urbana-no-cotidiano-das-cidades-brasileiras-3

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(Envolverde/Carta Capital)

20 março 2011

VI FÓRUM ÁGUA EM PAUTA

DIAS 21 E 22 DE MARÇO

Venha discutir a importância do jornalismo na conscientização sobre o uso racional da água e o investimento em saneamento básico.

Descubra o valor que a água tem. E beba um copo dela conosco.


21 de Março
10h00 - Coffee Receptivo e entrega do material de apoio

10h30 - Abertura Solene

11h00 - Conferência de Abertura
“Água e Saúde”
Em artigo publicado na Proceedings of The Royal Society, o cientista Dr. Christopher Eppig aborda os resultados de um estudo que mostra a relação de doenças infecciosas com o QI de populações de baixa renda, localizadas em países pobres. Além de comentar as principais conclusões deste estudo, ele irá traçar um panorama da relação entre saúde, saneamento básico e água, especialmente no Brasil.

13h00 - Intervalo Almoço

14h30 - Painel I - Saneamento Básico
“Saneamento básico: dados, fatos e sensibilização pública”
Esse painel tem como objetivo fornecer elementos objetivos para a compreensão da importância do saneamento como política pública e discutir estratégias de sensibilização social e jornalística para o tema. A partir de dados de investimento, os painelistas serão estimulados a pensar em uma agenda jornalística positiva que contemple, de maneira sistemática, a cobertura ligada a saneamento básico no país em seus mais diversos aspectos.

16h00 - Intervalo coffee

16h15 - Painel II - Indústria e Água
“Água e produção industrial: estamos preparados para crescer com sustentabilidade?”
As expectativas de crescimento do PIB brasileiro dependem significativamente do crescimento da produção industrial. Ambientalistas e jornalistas perguntam-se qual o preço a ser pago pelo desenvolvimento, enquanto os setores industriais identificam maneiras de crescer de maneira sustentável e regulada. A indústria é uma das maiores consumidoras de água e procura novos meios de produção com redução dos impactos. Discutir esse panorama é o objetivo do Painel II.

22 de Março
11h30 - Painel III - Conservação dos Mananciais e Políticas Públicas
A fonte: como monitorar a qualidade dos mananciais e discutir, nos meios de comunicação e jornalismo, as políticas públicas de preservação ambiental dos mananciais, procurando novas formas de financiamento, divulgação e conscientização sobre a finitude dos recursos hídricos e a importância de resguardar os rios, os aqüíferos, lagoas, riachos e córregos.

13h30 - Intervalo Almoço

15h00 - Speech: Água e suas Fontes

15h30 - Conferência de Encerramento: Planeta China: Terra, Água e Alimentação
Como a China busca resolver o problema da alimentação de 1 bilhão e meio de habitantes em 2025?

PAINELISTAS


Carolina Mota
Procuradora da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP


Christopher Eppig
Cientista, biólogo e concluinte de pós-doutorado, pela Universidade do Novo México, Albuquerque (EUA)


Dan Robson Pereira Dias
Diretor da By Dan. Responsável pela expedição do projeto Flutuador do Rio Tietê


Jaderson Spina
Secretário de Planejamento e Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Jundiaí.


Jayme Martins
Overchina e ex-China Radio International e correspondente do Estadão na China


Prof. José Luiz Proença
AUN - Agência Universitária de Notícias (ECA/USP)


Junior Ruiz Garcia
Pesquisador do Instituto de Economia / Universidade Estadual de Campinas


Marussia Whately
Arquiteta e urbanista


Milena Venancio Serro
Coordenadora de Comunicação do Instituto Trata Brasil


Reinaldo Canto
Colaborador da Envolverde e colunista de Carta Capital, além de atuar como consultor, palestrante e articulista


Mini currículo

Reinaldo Canto é jornalista formado pela Cásper Líbero e pós-graduado em Inteligência Empresarial e Gestão do Conhecimento pela UFRJ. Com 31 anos de profissão, passou pelas principais emissoras de televisão e rádio do país, entre elas, Record, Globo, SBT, Bandeirantes e Jovem Pan, trabalhou como assessor de imprensa de grandes empresas como Banespa e Cosesp, além de ter sido colaborador de revistas da Editora Abril como Arquitetura e Construção e Casa Claudia. Nos últimos anos especializou-se em sustentabilidade e consumo consciente. Nesse período foi Diretor de Comunicação do Greenpeace, coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, passagens pela comunicação do Instituto Ethos e correspondente da Carta Capital, da Envolverde e de outras mídias ambientais na COP-15 em Copenhague. Hoje Reinal do Canto é consultor, palestrante, articulista e colaborador da Envolverde e mídias ambientais, além de editor e redator de relatórios de sustentabilidade e colunista de Carta Capital (coluna: Cidadania & Sustentabilidade, em www.cartacapital.com.br).



Sidney Mazzoni
Editor-chefe do Jornal de Jundiaí

COLUNA EM NOVO ENDEREÇO

A coluna Cidadania & Sustentabilidade também está sendo veiculada pelo site Ciranda no Bairro - Guia de Informações e Entretenimento para os bairros Cursino, Ipiranga, Saúde e Sacomã, da capital paulista.

Confiram:

http://www.cirandanobairro.com.br/?area=colunistas&coluna=8&secao=postagem&id=30

11 março 2011

Parabéns São Paulo chegamos aos 7 milhões de carros!

Por Reinaldo Canto*


Segundo o Detran, a cidade vai atingir essa impressionante marca até o fim de março. Mas afinal, tal fato é digno de júbilo ou de pesar?

A resposta para o questionamento acima mencionado irá depender, obviamente, do ponto de vista e dos valores do observador.

Para os adeptos da velha economia e amantes do transporte individual a notícia poderá ser motivo de comemorações. Esses hão de considerar que o expressivo número significa que São Paulo transformou-se numa metrópole digna do primeiro mundo, com uma economia pujante e próspera, na qual cada vez mais pessoas podem satisfazer seus desejos de consumo.

Já para aqueles que compartilham os valores do desenvolvimento sustentável e da melhoria da qualidade de vida, a informação causa, no mínimo, um certo desânimo. Simboliza uma vitória do retrocesso e do passado em detrimento da construção de uma cidade mais equilibrada e amigável para se viver.

Números não mentem

Algumas informações adicionais são importantes para que os indecisos possam fazer suas escolhas. Segundo matéria publicada pelo caderno Metrópole do jornal O Estado de São Paulo baseada em dados fornecidos pelo Detran, em 1970, a capital paulista tinha registrados 965 mil veículos para 14 mil quilômetros de vias. Já para os 7 milhões de veículos existem hoje na cidade, 17 mil quilômetros de ruas e avenidas pavimentadas. Não é por outra razão que os congestionamentos por estas bandas são cada vez mais freqüentes.

Espanta também o fato da frota de veículos crescer seis vezes mais rápido que a população de São Paulo. Já temos mais veículos por habitante (630 para cada mil paulistanos) do que Japão (395), Estados Unidos (478) e Itália (539 veículos para cada mil italianos).

Direito fundamental

Contribui de maneira decisiva para esse crescimento descomunal um fator cultural bastante disseminado em nosso país: o sonho de possuir um carro próprio.

Ouço com insistência que o estabelecimento de medidas de cerceamento a venda de veículos, seria uma indesculpável discriminação com as classes C e D que, graças às facilidades do crédito, finalmente podem adquirir carros com prestações que caibam nos seus bolsos.

Segundo essa lógica ser proprietário de um veículo de passeio seria um direito inalienável tanto quanto os direitos a saúde, alimentação, moradia e educação. Mas é preciso, antes de mais nada, levar em conta as necessidades da sociedade como um todo. Aí sim, um dos principais direitos fundamentais fica enormemente prejudicado com o entupimento das nossas vias por esses veículos de passeio, ou seja, o direito de ir e vir. E pelo que podemos assistir, antes de melhorar, essa situação deve piorar ainda mais.

Ignorância e insanidade

A marca de 7 milhões de veículos em breve será superada, pois as vendas continuam a crescer de maneira acelerada e constante. Portanto, devemos esperar congestionamentos cada vez maiores, pessoas estressadas e também o aumento dos casos de doenças provocadas pela poluição que já matam cerca de 20 pessoas todos os dias na região metropolitana, segundo o Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Além de entupir as ruas de nossas cidades e ampliar os níveis de poluição do ar, a cadeia de produção da indústria automobilística é intensiva em uso de energia, água e matérias-primas extraídas sem pudor nem dó da natureza. Isso significa que, do ponto de vista do planeta, essa atividade é totalmente insustentável e, portanto, sem futuro, seja pelo bem ou pelo mal.

Mudanças necessárias em todos os setores

Essa espiral de insanidade que a todos prejudica indistintamente, pode e deve ser interrompida. Talvez possa começar pela questão psicológica rompendo com o ego, como Dal Marcondes outro colunista de Carta Capital lembrou bem em artigo recente (http://www.cartacapital.com.br/carta-verde/carro-extensao-das-pernas-ou-do-ego).

Possuir um carro, não faz uma pessoa melhor que fique isso bem claro! Conclusões no sentido oposto também devem ser evitadas, a ausência de um carro na garagem não é um inequívoco sinal de fracasso.

Outro ponto a se levar em conta é a busca pela convivência harmônica entre os habitantes da capital. A prevalência do individual sobre o coletivo é um dos fatores que faz de São Paulo uma cidade difícil de viver. Uma cidade deve ser de todas as pessoas que nela residem ou transitam. Ruas, avenidas, calçadas, pontes e viadutos deveriam ser locais mais agradáveis para o deslocamento cotidiano e não de disputa insana pela ocupação de pequenos espaços a qualquer custo.

Caminhos para mudar essa realidade existem e são até mais simples do que parecem. No campo individual, por exemplo, mesmo que você ame seu carro, evite o seu uso em toda e qualquer circunstância sempre que possível. Você verá que andar a pé, de bicicleta ou de transporte coletivo pode ser bem interessante e agradável.

Por outro lado, é preciso também exigir que as nossas autoridades públicas façam pesados investimentos em transportes coletivos e deixem de gastar dinheiro do orçamento com obras viárias. Quase sempre são obras muito caras que privilegiam e incentivam o uso de carros de passeio. Campanhas e fiscalização maciças para questões como respeito a faixa de pedestres, reforma de calçadas e garantia de acessibilidade vão contribuir para uma gradual e benéfica transformação em prol de uma metrópole mais sustentável e feliz.

*Reinaldo Canto é jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de comunicação do Greenpeace e coordenador de comunicação do Instituto Akatu. É colunista de Carta Capital e colaborador da Envolverde.

**Artigo publicado originalmente na coluna Cidadania & Sustentabilidade: http://www.cartacapital.com.br/destaques_carta_capital/parabens-sao-paulo-7-milhoes-de-carros

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(Envolverde/Carta Capital)