12 dezembro 2016

A destruição da Amazônia prossegue

No último ano, o Brasil destruiu quase 8 mil quilômetros quadrados da floresta amazônica

Por Reinaldo Canto


Marcelo Camargo / Agência Brasil
Madeira ilegal
Madeira ilegal apreendida em Colniza (MT): desmatamento cresce


O Brasil segue firme em sua capacidade de produzir más notícias aos borbotões. Economia em queda, política em descrédito e credibilidade institucional abaixo do nível da mediocridade. 
A mais nova estrela dessa constelação de barbaridades vem dos índices de desmatamento. Entre agosto de 2015 e julho de 2016, o Brasil destruiu quase 8 mil quilômetros quadrados da floresta amazônica, um aumento de 29% em relação ao levantamento anterior. Os estados que concentraram a maior devastação foram o Pará, que sozinho concentrou 40% do total, e o Mato Grosso. Juntos PA e MT foram responsáveis pela derrubada de 4,5 mil quilômetros quadrados de florestas.
O levantamento foi divulgado pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), órgão ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Esse resultado, normalmente, seria divulgado no meio do ano, mas provavelmente para evitar constrangimentos durante a participação do País na COP 22, a Conferência do Clima em, Marraquexe, no Marrocos, no início de novembro, decidiu-se pela postergação desses números catastróficos. A área desmatada representam cinco vezes o tamanho da cidade de São Paulo. 
Quem se lembra da risível participação do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, durante a COP e suas afirmações que meio ambiente e agronegócio caminham lado a lado e de que temos a produção agrícola mais sustentável do mundo?
Se esses números já tivessem sido divulgados no Marrocos, talvez não fossemos contemplados com essas pérolas fantasiosas proferidas pelo ex-governador do Mato Grosso. 
O certo é que a devastação de nossas florestas parece estar em uma ascensão brutal, uma vez que no período anterior o aumento havia sido de mais de 20%. 
O desmatamento acelerado afeta diretamente a meta estabelecida pelo Brasil de reduzir as suas emissões de gases de efeito estufa e, assim, colocar o atual governo em saias justas, comprometendo ainda mais a imagem do País.
Para Tasso Azevedo, do Observatório do Clima, apenas com esse desmatamento o Brasil aumenta as suas emissões em 130 milhões de toneladas de gás carbônico. “É o mesmo que o Estado de São Paulo, o mais populoso do país, emitiu em todo o ano de 2015, ou duas vezes a emissão anual de Portugal”, afirma o coordenador do OC. 
A ausência de fiscalização efetiva é apontada por ambientalistas como uma das razões para o crescimento dos índices da destruição florestal.
Por mais chocantes e tristes que sejam esses dados, não deveria existir surpresa. O que podemos esperar de uma gestão pública frágil, omissa e incompetente? Virar as costas para as verdadeiras riquezas do país e privilegiar interesses menores é o mais óbvio resultado dessa pobre equação.

01 dezembro 2016

CONSUMO CONSCIENTE, REFLORESTAMENTO E UM FUTURO SUSTENTÁVEL

Envolverde Convida – O Futuro das Cidades

As cidades tornaram-se o habitat preferencial das pessoas. Até o final deste século quase 90% da população da Terra estará vivendo em centros urbanos.  O Brasil também passa por uma fase de grande concentração em cidades. Atualmente o País tem quase 20 cidades com mais de 1 milhão de pessoas. São Paulo com uma região metropolitana de 20 milhões e Rio de Janeiro com cerca de 11 milhões.
Como será a vida nessas cidades? Para buscar respostas, o Instituto Envolverde está realizando o Projeto Envolverde Convida – O Futuro das Cidades, uma oportunidade de diálogo entre jornalistas, especialistas para elaborar pensamentos e debater tendências em temas como habitação, transporte, educação, saúde e outros temas relevantes e que fazem parte do cotidiano da gestão pública local.
Foto: Shutterstock
Foto: Shutterstock

Para esta primeira edição teremos a participação da arquiteta e urbanista Ermínia Maricato e do diretor do ICLEI Rodrigo Perpétuo, além de um representante do Programa ONU Habitat, com mediação do jornalista Dal Marcondes, da Agência Envolverde.
A série “O Futuro das Cidades” terá 7 eventos
Com o apoio da Unibes Cultural, o primeiro encontro vai acontecer em 14 de dezembro de 2016, e os seis seguintes serão realizados durante o ano de 2017.
  • 14 de dezembro de 2016 – O Futuro das Cidades – Como você vai viver neste século
  • Março de 2017 – O Futuro das Cidades –Água: poluição, desperdício e escassez
  • Maio de 2017 – O Futuro das Cidades – Juventude e Trabalho: Como você vai trabalhar no século 21
  • Junho de 2017 – O Futuro das Cidades: Desafios do Antropoceno: Impactos das cidades sobre a biodiversidade
  • Agosto de 2017 – O Futuro das Cidades – Inovação: A economia do amanhã
  • Setembro de 2017 – O Futuro das Cidades – O sonho da mobilidade rápida
  • Novembro de 2017 – O Futuro das Cidades –A garantia de saúde para todos
As inscrições para todos os eventos são gratuitas.
Envolverde Convida – O Futuro das Cidades” conta com o apoio da Unibes Cultural, Brasil Kirin e ICLEI-Governos Locais pela Sustentabilidade, e com os parceiros Revista ECO21, Revista Plurale, Revista do Meio Ambiente, Instituto Mais e Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental (RBJA).
Serviço
Data: 14 de dezembro de 2016
Hora: das 10h às 12h00
Local: Auditório Unibes Cultural – Rua Oscar Freire, 2.500 (ao lado do Metrô Sumaré)
Sobre o Instituto Envolverde
O Instituto Envolverde é uma organização social que mantém a Agência Envolverde, o principal site jornalístico sobre sustentabilidade, meio ambiente e desenvolvimento humano no Brasil. Com foco na cobertura de políticas públicas, a Envolverde promove eventos que ajudem a aprofundar o conhecimento sobre temas relevantes para a sociedade brasileira. Em 2018 o Projeto Envolverde completará 20 anos.
Sobre a Unibes Cultural
Não é de hoje que a Unibes trabalha para transformar a vida de milhares de famílias em situação de vulnerabilidade social com programas voltados à educação, capacitação, saúde e inclusão. Uma história que não acaba por aí, porque a Unibes sempre acredita que existem novas formas de contribuir para a sociedade.
Por isso criou, em 2015, na cidade de São Paulo, um novo centro cultural que nasceu com a vocação de apresentar os grandes temas globais e refletir sobre como são incorporados na cultura da cidade. Um lugar para a expressão de jovens talentos e nomes consagrados nas diferentes áreas de conhecimento. Espaço democrático e aberto a diversos públicos, com uma programação extensa e 90% gratuita para todos os gostos e idades.
A Unibes Cultural representa um novo marco no trabalho centenário da Unibes e comemora o seu primeiro ano com a casa cheia. Desde a sua inauguração, foram mais de mil eventos realizados e três mil e quatrocentos projetos acolhidos de empreendedores culturais. 
Mais informações
Instituto Envolverde – www.envolverde.org.br
Ana Maria Vasconcellos
(13) 3323-1191
(11) 3034-4887
Unibes Cultural
Rua Oscar Feire, 2500 – ao lado do Metrô Sumaré
Informações: (11) 3065-4333 e atendimento@unibescultural.org.br
Funcionamento: De segunda a sábado, das 10h às 19h
Acesso para deficientes
Ar condicionado
WI FI livre
Tem local para comer
Não tem estacionamento – sugerimos o uso de transporte público
(#Envolverde)

Blairo Maggi, constrangimento na COP 22

por Reinaldo Canto — publicado 21/11/2016 09h43
Em encontro mundial sobre mudanças climáticas, ministro da Agricultura de Temer ironizou mortes em conflitos agrários

Marcelo Camargo / Agência Brasil
Blairo Maggi
Maggi: na COP 22 ele reconheceu o aquecimento global, mas chocou ativistas com algumas de suas declarações
De Marraquexe, no Marrocos
Blairo Maggi ajudou, na COP 22, realizada em Marraquexe, no Marrocos, a moldar a nova imagem internacional do Brasil sob o governo de Michel Temer. Durante o chamado Segmento de Alto Nível do encontro, que debate as mudanças climáticas no mundo, a chefia da delegação brasileira esteve a cargo do ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, mas quem se “destacou” foi o ministro da Agricultura.
Na quinta-feira 17, Maggi causou mal-estar ao contestar as mortes ocorridas em conflitos no campo. O Brasil lidera o ranking de assassinatos, segundo a ONG Global Witness, com 50 mortes em conflitos agrários em 2015.
“Só 50”
Para o ministro, esses números não refletem a realidade, pois muitas dessas mortes foram causadas por motivos que nada teriam a ver com ativismo ou disputa por terras, “quando se vai fundo nas investigações, descobre-se que as razões das mortes foram outras”, disse, citando “problemas de relacionamento” como um dos motivos.
Mais grave, Maggi ironizou as mortes. Em uma aparente confusão com o número mundial de assassinatos em conflitos agrários (185 segundo a Global Witness), Maggi disse ter visto uma “redução” de um dia para o outro.
“Fico feliz em saber que de ontem para hoje morreram menos 150 ambientalistas, porque ontem ouvi que eram 200 por ano e agora diz aqui que foram só 50.”
Aquecimento global
Em suas intervenções, sejam elas para o público brasileiro ou em painéis com representantes estrangeiros, Maggi foi bastante veemente em defender o agronegócio brasileiro e discordar de posicionamentos caros aos ambientalistas.
Apesar de reconhecer as mudanças climáticas como algo “comprovado cientificamente e um grande risco para a produção de alimentos no país” e sentir na pele, como proprietário rural, “estão quebrando safras como eu nunca vi antes” e refletir sobre o futuro “como meus filhos e netos vão fazer agricultura nesse clima?”, Maggi não deixa de contestar as reservas legais definidas no Código Florestal. O ministério comandado por ele é um dos principais guardiões dessa legislação.
“Imagine um hotel que tenha 100 quartos, mas que só possa comercializar 20 unidades. As outras 80 ele tem que manter fechadas”, fazendo menção às propriedades rurais existentes no bioma amazônico que precisam manter 80% de suas áreas preservadas. O ministro só não explicou porque uma lei como essa seria válida para um hotel. Quais razões haveria para uma interdição absolutamente sem nexo? Já a definição das regras para as reservas legais foi exaustivamente debatida no Congresso Nacional e faz todo o sentido no contexto ambiental.   
O ministro tem reclamado do posicionamento dos países ricos quanto à falta de reconhecimento dos esforços brasileiros para conservar áreas florestais e, portanto, contribuindo para evitar a emissão de gases de efeito estufa.
Segundo ele, “outros grandes produtores de alimentos como Estados Unidos, Argentina e Canadá não possuem reservas legais como nós, mas isso não nos traz vantagens”. Nesse caso, Maggi considera um problema assumirmos esse “ônus”, enquanto outros países não o fazem e desconsidera os serviços ambientais prestados pelas florestas, inclusive, para a produção de alimentos.
Mesmo representando o governo que recentemente ratificou o Acordo de Paris (assinado por Temer) Blairo Maggi se mostra preocupado com o que o Brasil se comprometeu. “De onde virão os 40 bilhões de dólares que deverão custar a restauração de 12 milhões de hectares e a recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens?”.
Neste caso, Maggi é acompanhado pelos ambientalistas, que também têm dúvidas quanto à origem dos recursos para uma demanda dessa proporção.
Para não parecer um estranho no ninho ao fazer questionamentos às ações previstas para o combate às mudanças climáticas no Brasil e no mundo em plena conferência do clima, o ministro tentou estender as mãos aos ambientalistas, cuja ação ele faz questão de elogiar, “produtores e ambientalistas agora andam juntos”.
Então, estamos todos no mesmo barco. Entendido?

COP22: ONU lança alerta

Por Reinaldo Canto, de Marrakech, especial para a Envolverde e para o Projeto Cásper Líbero na COP 22 – 
Empregos, crescimento e geração de renda serão beneficiados diretamente pelos esforços em conter as mudanças climáticas.
O PNUD – O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento acaba de lançar aqui no Marrocos um relatório* que estuda as oportunidades em cumprir o Acordo de Paris, ou seja, limitando o aumento médio da temperatura do planeta em 1,5° C.
O relatório conclui que o crescimento econômico medido pelo PIB seria até 10% maior, se esse limite for mantido, o que representa cerca de US$ 12 trilhões a mais, se for comparado a manter os atuais índices de emissão dos gases de efeito estufa que podem contribuir para um aumento de 3 ° C ou mais.
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Para o PNUD, o a meta prevista no acordo global de 1,5 ° C é viável e necessária, para tanto será importante aumentar os esforços para zerar as emissões e chegar até o final do século a 100% no uso de energias renováveis.
Dados inéditos apontados pelo estudo afirmam que poderiam ser criados 68% mais empregos mantendo o limite do aquecimento global do que caso o 1,5º seja ultrapassado.
Segundo o Dr. Michiel Schaeffer, co-diretor da Climate Analytics e co-editor do relatório, os impactos e riscos geofísicos e biológicos aumentam significativamente de 1,5 ° C para 2 ° C. “Tanto para os países desenvolvidos como em desenvolvimento, os danos muito menores causados pela mudança climática em um caminho de 1,5 ° C significam que as oportunidades de crescimento econômico podem ser preservadas em grande parte. Na ausência de ação climática, essas oportunidades seriam substancialmente reduzidas até a década de 2040 “.
Já Matthew McKinnon, Gerente de Projeto do PNUD, afirma que as conclusões do relatório deixam claro que o corte de emissões prejudicariam o crescimento. “É exatamente o oposto: a mudança climática é tão ameaçadora para o crescimento que enfrentá-la tornou-se uma das maiores responsabilidades de desenvolvimento que enfrentamos”, acrescentando que “o desafio agora é garantir o acesso generalizado a toda a gama de benefícios de uma ação climática agressiva.” (#Envolverde)
*O relatório está disponível neste link.

COP 22: a insustentável leveza de Blairo Maggi em Marrakech

Por Reinaldo Canto, direto de Marrakech, especial para a Envolverde e Projeto Cásper Líbero na COP 22
Ministro da Agricultura é protagonista de reclamações, elogios, contestações e comparações no mínimo polêmicas.
Nesta segunda e última semana da COP 22 teve início o chamado Segmento de Alto Nível. Nesta fase, a chefia da delegação brasileira está a cargo do Ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, mas quem tem agitado a participação do Brasil é o nosso Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi.
Em suas intervenções, sejam elas para o público brasileiro ou em painéis com representantes estrangeiros, Maggi, tem sido bastante veemente em defender o agronegócio brasileiro e discordar de posicionamentos caros aos ambientalistas.

Apesar de reconhecer as mudanças climáticas como algo “comprovado cientificamente e um grande risco para a produção de alimentos no país” e sentir na pele, como proprietário rural, “estão quebrando safras como eu nunca vi antes” e refletir sobre o futuro “como meus filhos e netos vão fazer agricultura nesse clima?” Maggi não deixa de contestar as reservas legais definidas no Código Florestal e cujo seu Ministério é um dos principais guardiões, “imagine um hotel que tenha 100 quartos, mas que só possa comercializar 20 unidades. As outras 80 ele tem que manter fechadas”, fazendo menção às propriedades rurais existentes no bioma amazônico que precisam manter 80% de suas áreas preservadas. O ministro só não explicou porque uma lei como essa seria válida para um hotel. Quais razões haveria para uma interdição absolutamente sem nexo? Já a definição das regras para as reservas legais foi exaustivamente debatida no Congresso Nacional e faz todo o sentido no contexto ambiental.
O ministro tem reclamado do posicionamento dos países ricos quanto à falta de reconhecimento dos esforços brasileiros para conservar áreas florestais e, portanto, contribuindo para evitar a emissão de gases de efeito estufa. Segundo ele, “outros grandes produtores de alimentos como Estados Unidos, Argentina e Canadá não possuem reservas legais como nós, mas isso não nos trás vantagens”. Nesse caso, Maggi considera um problema assumirmos esse “ônus”, enquanto outros países não o fazem e desconsidera os serviços ambientais prestados pelas florestas, inclusive, para a produção de alimentos.
Outra polêmica de Maggi foi causada quando ele contestou o número de ativistas ambientais assassinados. O país lidera o ranking, segundo a ONG Global Witness, com 50 assassinatos. Para o ministro, esses números não refletem a realidade, pois muitas dessas mortes foram causadas por conflitos que nada tem a ver com ativismo ou disputa por terras, “quando se vai fundo nas investigações, descobre-se que as razões das mortes foram outras”.
Mesmo representando o governo que recentemente ratificou o Acordo de Paris (assinado pelo Presidente Michel Temer) Blairo Maggi se mostra preocupado com o que o Brasil se comprometeu, “de onde virão os 40 bilhões de dólares que deverão custar a restauração de 12 milhões de hectares e a recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens?”. Aliás, nesse caso, ele é acompanhado pelos ambientalistas que também tem dúvidas quanto à origem dos recursos para uma demanda dessa proporção.
Para não parecer um estranho no ninho ao fazer questionamentos às ações previstas para o combate às mudanças climáticas no Brasil e no mundo em plena conferência do clima, nosso ministro estende as mãos aos ambientalistas, cuja ação ele faz questão de elogiar, “produtores e ambientalistas agora andam juntos”.
Então, estamos todos no mesmo barco. Entendido? (#Envolverde)