01 dezembro 2016

Blairo Maggi, constrangimento na COP 22

por Reinaldo Canto — publicado 21/11/2016 09h43
Em encontro mundial sobre mudanças climáticas, ministro da Agricultura de Temer ironizou mortes em conflitos agrários

Marcelo Camargo / Agência Brasil
Blairo Maggi
Maggi: na COP 22 ele reconheceu o aquecimento global, mas chocou ativistas com algumas de suas declarações
De Marraquexe, no Marrocos
Blairo Maggi ajudou, na COP 22, realizada em Marraquexe, no Marrocos, a moldar a nova imagem internacional do Brasil sob o governo de Michel Temer. Durante o chamado Segmento de Alto Nível do encontro, que debate as mudanças climáticas no mundo, a chefia da delegação brasileira esteve a cargo do ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, mas quem se “destacou” foi o ministro da Agricultura.
Na quinta-feira 17, Maggi causou mal-estar ao contestar as mortes ocorridas em conflitos no campo. O Brasil lidera o ranking de assassinatos, segundo a ONG Global Witness, com 50 mortes em conflitos agrários em 2015.
“Só 50”
Para o ministro, esses números não refletem a realidade, pois muitas dessas mortes foram causadas por motivos que nada teriam a ver com ativismo ou disputa por terras, “quando se vai fundo nas investigações, descobre-se que as razões das mortes foram outras”, disse, citando “problemas de relacionamento” como um dos motivos.
Mais grave, Maggi ironizou as mortes. Em uma aparente confusão com o número mundial de assassinatos em conflitos agrários (185 segundo a Global Witness), Maggi disse ter visto uma “redução” de um dia para o outro.
“Fico feliz em saber que de ontem para hoje morreram menos 150 ambientalistas, porque ontem ouvi que eram 200 por ano e agora diz aqui que foram só 50.”
Aquecimento global
Em suas intervenções, sejam elas para o público brasileiro ou em painéis com representantes estrangeiros, Maggi foi bastante veemente em defender o agronegócio brasileiro e discordar de posicionamentos caros aos ambientalistas.
Apesar de reconhecer as mudanças climáticas como algo “comprovado cientificamente e um grande risco para a produção de alimentos no país” e sentir na pele, como proprietário rural, “estão quebrando safras como eu nunca vi antes” e refletir sobre o futuro “como meus filhos e netos vão fazer agricultura nesse clima?”, Maggi não deixa de contestar as reservas legais definidas no Código Florestal. O ministério comandado por ele é um dos principais guardiões dessa legislação.
“Imagine um hotel que tenha 100 quartos, mas que só possa comercializar 20 unidades. As outras 80 ele tem que manter fechadas”, fazendo menção às propriedades rurais existentes no bioma amazônico que precisam manter 80% de suas áreas preservadas. O ministro só não explicou porque uma lei como essa seria válida para um hotel. Quais razões haveria para uma interdição absolutamente sem nexo? Já a definição das regras para as reservas legais foi exaustivamente debatida no Congresso Nacional e faz todo o sentido no contexto ambiental.   
O ministro tem reclamado do posicionamento dos países ricos quanto à falta de reconhecimento dos esforços brasileiros para conservar áreas florestais e, portanto, contribuindo para evitar a emissão de gases de efeito estufa.
Segundo ele, “outros grandes produtores de alimentos como Estados Unidos, Argentina e Canadá não possuem reservas legais como nós, mas isso não nos traz vantagens”. Nesse caso, Maggi considera um problema assumirmos esse “ônus”, enquanto outros países não o fazem e desconsidera os serviços ambientais prestados pelas florestas, inclusive, para a produção de alimentos.
Mesmo representando o governo que recentemente ratificou o Acordo de Paris (assinado por Temer) Blairo Maggi se mostra preocupado com o que o Brasil se comprometeu. “De onde virão os 40 bilhões de dólares que deverão custar a restauração de 12 milhões de hectares e a recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens?”.
Neste caso, Maggi é acompanhado pelos ambientalistas, que também têm dúvidas quanto à origem dos recursos para uma demanda dessa proporção.
Para não parecer um estranho no ninho ao fazer questionamentos às ações previstas para o combate às mudanças climáticas no Brasil e no mundo em plena conferência do clima, o ministro tentou estender as mãos aos ambientalistas, cuja ação ele faz questão de elogiar, “produtores e ambientalistas agora andam juntos”.
Então, estamos todos no mesmo barco. Entendido?

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