08 janeiro 2018

Um ano realmente novo ou seguiremos na mesma batida da irracionalidade?

Por Reinaldo Canto

Questões como mudanças climáticas, destruição de florestas e piora na qualidade de vida das cidades só realçam necessidade de fazermos novas escolhas
Wikimedia Commons
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Consequência do consumo nem sempre racional coloca em xeque a capacidade de regeneração do planeta
Começo de ano é propício para reflexões, avaliações e promessas de todos os gêneros. As chamadas resoluções de ano novo servem para estabelecer compromissos diversos de mudanças de atitudes em relação aos outros e a si mesmo. Se depender da nossa vontade, seremos mais tolerantes, generosos, cultos, saudáveis e responsáveis, neste ano que se inicia, do que fomos em todos os anos anteriores de nossas vidas.
Certamente muitos dos nossos sinceros desejos não serão capazes de resistir ao primeiro mês, tragados pela dinâmica de nosso cotidiano. De qualquer modo, a passagem de ano possui esse efeito positivo. Não custa nada parar um momento para, quem sabe, redirecionar algumas de nossas escolhas?

Bom seria se fizéssemos também uma boa análise, mais abrangente mesmo, em dimensões globais sobre a irracional e destrutiva maneira pela qual estamos consumindo o planeta.  E, isso não é maneira de dizer, literalmente estamos sugando os recursos planetários e o pior, não necessariamente para dar melhores condições de vida para todos os seres humanos.
Até podemos afirmar: muito pelo contrário! O que temos feito é consumir mais rápido e descartar também em ritmo cada vez mais vertiginoso.

E a cada ano que passa essas questões se tornam ainda mais sérias exigindo de todos mudanças urgentes na maneira de agir e consumir.
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Um bom exemplo são os celulares. Segundo dados fornecidos pela Anatel  (Agência Nacional de Telecomunicações) em outubro de 2017 o Brasil estava com 240,9 milhões de celulares ativos, o que representa uma densidade absurda de 115,76 celulares para cada 100 habitantes, incluindo-se aí crianças de colo, idosos e muitas pessoas que ainda não possuem aparelhos móveis.
Algo que podemos chamar de insano se a isso acrescentarmos que a troca de aparelhos se dá ao ritmo de um novo aparelho num período médio de apenas um ano e um mês. Esse é um caso entre muitos de produtos antes chamados de duráveis que tem se transformado ao longo dos anos em verdadeiras commodities, tais como carros, geladeiras, computadores, etc., etc., etc.

A crise no país até que segurou um pouco o consumo, mas o aumento nas vendas de Natal em relação a 2016 demonstram que comprar, independentemente das óbvias necessidades, ainda possui um forte apelo, inclusive emocional para as famílias brasileiras.

As consequências desse consumo nem sempre racional coloca em xeque a capacidade de regeneração do planeta e um esgotamento dos recursos naturais em proporções bíblicas. O nosso déficit ecológico, por assim dizer, já corresponde ao consumo de 1,5 planeta, ou seja, 50% acima do que a Terra consegue repor. Isso para manter o padrão de vida de apenas uma parcela da população mundial.

Conforme divulgado pelo Banco Mundial, se a população global chegar a 9,6 bilhões em 2050, conforme se prevê, serão necessários três planetas Terra para dar conta do consumo atual. Entre as principais consequências da excessiva exploração de recursos naturais estão a perda da biodiversidade com diminuição e extinção de espécies da flora e fauna.

O relatório Estado do Mundo já havia calculado que entre 1950 e 2005 a produção de petróleo havia crescido oito vezes, a de metais seis, o consumo de gás natural 14, a de carvão seis vezes e a de cobre, 25 vezes. Números assustadores, certo? Pois veja que podem ser ainda mais alarmantes: a produção de plástico cresceu nesse período nada mais nada menos do que 41 vezes!

Se ao menos toda essa voracidade tivesse o nobre objetivo de melhorar a vida de todos os habitantes do planeta... vá lá! Mas isso está longe de ser realidade! A desigualdade segue sendo pornográfica com poucos detendo a maior parte dos recursos.
No mundo todo, a fome em 2017 aumentou e atingiu a impressionante marca de 815 milhões de pessoas, conforme divulgado pelo relatório The State of Food Security and Nutrition in the World 2017 (O Estado de Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo em 2017). Destruir o planeta e ainda assim deixar quase um bilhão de pessoas na miséria me parece um péssimo caminho a ser trilhado.

O que cabe a nós mortais diante desses desafios colossais e planetários?

Entre as diversas e difíceis promessas de ano novo poderia constar uma que, no meu entender, teria boas chances de sucesso, bastando apenas uma pequena reflexão do consumidor, mais ou menos como: estou consumindo o que realmente preciso? Tenho exagerado nas minhas compras e desperdiçado demais?

Quem sabe se ao pensar nisso a gente não conclua que alguns exageros poderão ser evitados daqui para frente. Uma sociedade mais consciente e informada poderá contribuir muito para frear o consumo irracional.