Reinaldo Canto* Direto de Copenhague para a Envolverde
Na véspera da abertura da COP-15 em Copenhague, o que mais se via no Bella Center, palco da maior conferência internacional do novo milênio, eram sorrisos um pouco tensos dos muitos participantes que já corriam atrás do seu credenciamento, que efetivamente, só vai valer a partir de amanhã.
A boa organização comandada desde o aeroporto pelos anfitriões dinamarqueses, perdeu um pouco do seu brilho, durante o processo de confirmação dos registros de delegados governamentais, membros de ONGs, jornalistas e de observadores vindos de todos os cantos do mundo. As filas, ou melhor, a ausência delas tumultuava o ambiente, mas não chegavam a perturbar o bom humor das pessoas, a maioria delas esperançosas por resultados satisfatórios até o encerramento do encontro no próximo dia 18.
Afinal, o que mais se comentava era a alteração de data na agenda do presidente norte-americano Barack Obama que mudou do início do evento para o final da conferência a sua chegada e participação na capital dinamarqueza. Fato que possui um significado de maior comprometimento com os resultados e gerando expectativas em muita gente. Foi o que me disse o jornalista indiano Amitabh Sinha, correspondente especial do jornal The Indian Express, confiante agora que, até o seu país, um dos mais refratários a apresentar alguma proposta efetiva, possa se sentir motivada. “Nosso primeiro-ministro também estará presente no final da conferência e não vai querer fazer feio se todos os grandes países emissores de gases de efeito estufa assinarem compromissos efetivos para o futuro do planeta”, afirmou Amitabh.
O cenário do belo espaço montado para receber mais de 60 mil pessoas de 192 países, entre elas 5 mil jornalistas, não será desculpa para o não aprofundamento das metas a serem definidas pelos nossos líderes o auditório principal do evento e a sala de conferência de imprensa, por exemplo, recebiam apenas alguns retoques e dava gosto ver o capricho e o empenho dos organizadores em deixar tudo pronto, no tempo certo e na hora certa.
O que deve demorar um pouco é para que as pessoas consigam se encontrar, não por qualquer confusão causada pela organização, mas pela profusão de eventos, exibições e reuniões que deverão ocorrer por todos os lados. Afinal, todo mundo tem o que falar, mostrar e contribuir.
A repórter especial da Exame, Ana Luiza Herzog, não disfarçava a sua preocupação com o tamanho desse evento. Ela procurava ler e anotar todos os possíveis itens dessa enorme agenda trocando horas de sono a caminho de Copenhague para mapear algumas das prováveis pautas de interesse da publicação de economia da Editora Abril.
Mas não somos apenas nós os jornalistas que ficamos zonzos com tantos acontecimentos simultâneos, o prefeito de Porto Velho, Roberto Sobrinho, por exemplo, buscava informações a todo momento conversando com outros brasileiros que iam de Lisboa para Copenhague para identificar os espaços de relevância para a sua cidade. Afinal, Porto Velho faz parte do bioma amazônico que vai buscar uma posição de destaque durante a conferência sobre o comando da maior cidade amazônica, Manaus. No dia 7, primeiro dia da conferência, começa a receber a delegação de Manaus que irá liderar as cidades da América Latina e Caribe nas discussões sobre a importância de se dar voz e voto aos governos locais nas principais decisões que serão tomadas no âmbito da COP-15. “Até hoje os povos amazônicos não foram ouvidos sobre o destino de sua própria região, isso agora vai começar”, afirmou o Secretário de Meio Ambiente de Manaus, Marcelo Dutra.
“Nas próximas duas semanas a partir desta segunda, os governos deverão dar respostas adequadas para a urgência e desafios das mudanças climáticas,” disse o Secretário-Executivo da COP-15 Yvo de Boer. “Os negociadores agora terão de dar sinais claros de que os principais líderes do mundo vão apresentar propostas claras e ações de implementação imediata” acrescentou Boer.
Se as expectativas do responsável pela COP vão se concretizar, os próximos dias servirão para apresentar um desenho a ser definido no documento final e que deverá ser assinado somente nos instantes derradeiros da conferência. A única coisa certa é que o interesse despertado por tanta gente ao redor do mundo coloca uma lente de aumento em cada um dos responsáveis pelos destinos do planeta. Agora, o quanto esse olhar atento vai influenciar as decisões e medidas corajosas e efetivas rumo a um futuro, só saberemos mesmo daqui a duas semanas.
*Jornalista, consultor e palestrante, foi Diretor de Comunicação do Greenpeace e Coordenador de Comunicação do Instituto Akatu
07 dezembro 2009
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