28 dezembro 2009

MUITO ALÉM DA COP-15

Reinaldo Canto*, especial para a Envolverde

Foram duas semanas de trabalho intenso, muitas expectativas e um final decepcionante? Não, não é assim que quero deixar registrada a minha participação na COP-15 em Copenhague. É preciso fazer uma análise se não de Poliana, mas que mantenha uma boa distância da opinião daqueles que acreditam ver nos resultados da conferência o fim da linha na luta contra as mudanças climáticas.

Baixar a guarda e jogar tudo para o alto, talvez seja o caminho mais fácil e natural, se considerarmos todos os prognósticos até chegarmos a fatídica e última semana do encontro. Pois foi um grande banho de água fria. Ainda mais ao lembrar que durante o período que estivemos em contato direto com os participantes das mais variadas matizes, muitos com larga experiência nesse tipo de conferência, eram possíveis de serem encontradas opiniões diversas, mas em praticamente todos os casos havia algum otimismo. Fiz várias entrevistas e elas demonstravam com quase unanimidade que Copenhague teria um acordo, não o acordo dos sonhos, mas algo acima do razoável.

Os experientes negociadores brasileiros, por exemplo, acreditavam nesse bom acordo e, claro, com muitas lacunas em aberto que seriam solucionadas ao longo do próximo ano. Ninguém apostava num acordo “corajoso, ambicioso e com força de lei”, como pregavam os países em desenvolvimento e os manifestantes das ONGs que diariamente pressionavam as lideranças mundiais a assumir compromissos efetivos. Mesmo assim, não havia quem apostasse num acordo tão tímido.

Ao final, o interesse particular prevaleceu de maneira pouco inteligente, pois a ausência de um acordo global de redução das emissões de gases de efeito estufa vai custar mais caro em recursos, em vidas e em riquezas da biodiversidade do planeta.

Mas, como diziam os velhos militantes da esquerda brasileira: - a luta continua, companheiro! Copenhague não era a última trincheira dessa batalha, outras virão. O que precisa ficar bem claro é que a COP-15, mostrou de maneira muito clara, a importância e a urgência que o tema das mudanças climáticas passou a ter na agenda das discussões mundiais.

A participação de 5 mil jornalistas do mundo todo, mais de uma centena de chefes de estado e milhares de integrantes de delegações nacionais e organizações da sociedade civil comprovaram o sucesso desse encontro. Os semblantes carregados dos líderes mundiais ao falar do aquecimento global não deixam dúvidas: a busca pelo desenvolvimento sustentável, ou melhor, menos insustentável está na ordem do dia e assim irá permanecer ao longo dos próximos anos.

*Jornalista, consultor e palestrante, foi correspondente da Envolverde na COP-15 em Copenhague

GALERIA DE FOTOS COP-15 (2)







16 dezembro 2009

ENTREVISTA: PREFEITO AMAZONINO MENDES




Reinaldo Canto, direto de Copenhague

Dois dias depois de chegar a Copenhague, o Prefeito Amazonino Mendes concedeu essa entrevista exclusiva falando de suas primeiras impressões e de seu papel como representante das cidades da América Latina e Caribe na Conferência do Clima.
Reinaldo Canto – Como o senhor vê o panorama atual de discussão das questões ambientais?

Amazonino Mendes – A gente sente que existe uma total convergência para a identificação do problema ambiental. A tal ponto que a presidente da COP-15 (Connie Hedegaard), dizer que “vamos sair daqui com fama ou com vergonha”, isso me marcou. O mundo cobra, existe uma cobrança geral e precisaremos procurar os caminhos para superar os problemas antagônicos.

RC – Como fazer isso?

Amazonino – Existem sérios entraves, eles não são simples dependem de situações que vão além do poder do governante. Esses entraves requerem competência, persuasão, vontade política e muita consciência dos sacrifícios que terão de ser feitos para a conquista desses objetivos.

RC – E esses problemas podem ser superados?

Amazonino – Já existem sinais. O Bush, por exemplo, passou ao largo dessa questão e a eleição do Obama já refletiu a consciência americana para o tema ambiental.

RC – Qual o seu papel aqui em Copenhague?

Amazonino – É o da presença de quem está num grupo. De quem faz o esforço de ser ouvido pela primeira vez e está na luta para criar as oportunidades e alcançar objetivos. Tenho aqui um papel duplo. O de ser prefeito de cidade e também da
Amazônia. Darei minha colaboração tanto quanto for possível.

RC – Como foi esse trabalho até chegar aqui?

Amazonino – Começou com uma articulação positiva dos governos locais em Manaus. Envolvemos a FLACMA (Federação Latino-americana de Cidades, Municípios e Associações de Governos Locais), a CGLU (Cidades e Governos Locais Unidos) e agora também a ONU (Organização das Nações Unidas). Agora nosso objetivo é o empenho, a abertura para reivindicar os financiamentos na aplicação do REDD (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação).

RC – Mas Manaus seria muito beneficiada com a adoção do REDD?
Amazonino - De forma indireta sim. Manaus é a cidade que mais oferece empregos na região e até mesmo empregos para estados vizinhos e isso gera diversos problemas na cidade. Em muitos casos, são pessoas pobres que precisam de meios para sobreviver e elas abandonam as áreas em que vivem, para viver mal na cidade em busca de trabalho. O REDD não serve apenas para manter a floresta em pé. O mecanismo servirá também para as populações da floresta ficarem em suas comunidades e terem saúde, educação, o direito de se deslocar...Não vai haver êxodo, se os projetos forem bem feitos o caboclo vai preferir viver na região dele, isso ajuda muito. Outra coisa, Manaus é um empório. As pessoas vêm do interior para comprar todo o tipo de produto, se elas receberem investimentos do REDD, isso vai beneficiar Manaus dessa maneira indireta da qual falei antes.

RC – Existem outras maneiras de se obter financiamento ambiental além das florestas?

Amazonino – Temos um projeto de manejo de resíduos. Vamos implantar uma usina que utiliza lixo para transformar biomassa em energia. Como nosso lixo é pobre, na verdade o lixo brasileiro é pobre, já temos um estudo em estágio adiantado de enriquecer a queima utilizando capim elefante para o ganho de escala utilizando esses dois insumos, lixo e capim para gerar energia. Esse projeto já está bem avançado e poderá obter financiamento, pois faz o seqüestro do carbono que deixa de ser emitido.

RC – Ainda existe muito desconhecimento sobre a Amazônia?

Amazonino – Com certeza. Muita gente pensa que a Amazônia é homogênea. Existem diferenças entre os biomas, contrastes enormes. Temos na região o maior pico do país, várias savanas. De um lado temos terras ruins para plantar e, de outro, ali na região dos estados do Amazonas, Rondônia, Pará e Mato Grosso tem as melhores terras para plantio do Brasil e acredito que do mundo. E o Brasil legisla de maneira homogênea sem considerar essas diferenças. É bom lembrar que o Amazonas ainda possui 98% de sua área de floresta intacta e ela ainda é muito desconhecida.

RC – O senhor se refere a própria floresta?

Amazonino – Há um desconhecimento absoluto. É imperiosa a necessidade de se criar a Universidade do Trópico Úmido e que ela seja financiada pelos países ricos e administrada pelos países amazônicos. Quando o REDD for adotado vai se preservar algo que não se conhece. Que se estude esse patrimônio. Quem sabe ali não podem ser descobertas drogas, princípios ativos que podem beneficiar o mundo todo.
Sem falar numa preocupação que tenho há anos: a fauna ictiológica (estudo dos peixes). O equilíbrio dos rios, de tudo. Nada foi feito. A pesca predatória, pouco se fala, mas as perdas são maiores até do que a da floresta amazônica.

RC – O senhor tem uma preocupação especial com o caboclo amazonense, por que?

Amazonino - Porque até hoje ele padeceu muito nas questões ambientais. Ele nunca foi levado em conta. Ele não é branco e não é índio, é uma mistura dos dois e uma benção da Amazônia. Ele povoa a região e tem espírito de conservação. Mesmo assim ele sofre por imposição de leis abruptas, que de repente, o proíbe de pescar, sem estudo prévio. A legislação sempre foi muito rigorosa com o caboclo, sem ouvi-lo. Isso precisa mudar.

COP-15: TUMULTOS E DESORGANIZAÇÃO MOSTRAM O LADO FEIO DA CONFERÊNCIA DO CLIMA

Reinaldo Canto, direto de Copenhague para a Envolverde

No mesmo dia que a presidente da Conferência das Partes das Nações Unidas para mudanças climáticas em Copenhague, Connie Hedegaard, renunciou ao cargo, a segurança do evento mostrou-se bastante confusa, agressiva e no mínimo pouco eficiente.

As verdadeiras razões são desconhecidas para a renúncia da presidente. Difícil aceitar a sua alegação de que o fato de como muitos chefes de estado estarem chegando para as negociações, o melhor seria deixar a direção da COP-15 a cargo do primeiro-ministro da Dinamarca, Lars Lokke Rasmussen que já começou a trabalhar. Isso significaria que ela não deveria ter aceitado a presidência definida em votação na primeira semana do encontro.

Mais estranhas ainda devem ser as razões da segurança da conferência para, após protestos no interior do Bella Center, impedir a entrada de credenciados por mais de duas horas. O Prefeito de Manaus, Amazonino Mendes, também impedido de entrar, perdeu a coletiva de imprensa quando falaria sobre a sua presença na COP e sobre a importância da participação dos governos locais aqui em Copenhague.

O jornalista Washington Novaes, da Tv Cultura e do Estadão, passou por maus bocados e pensou que seria agredido pelos seguranças, pois tentava sair do tumulto e não conseguia. Agora ninguém precisa se preocupar, o Washington está bem e são e salvo dentro do pavilhão.

Um dos principais negociadores brasileiros, o embaixador Luis Figueiredo, por incrível que pareça, passou pelos mesmos inconvenientes e prometeu demonstrar seu descontentamento com o tumulto que se formou debaixo de frio, chuva e neve, sem que fossem prestadas quaisquer informações. Inclusive, muita gente indignada foi embora.

Logo depois de cruzar a severa segurança, havia um grupo de ativistas sentados no chão e isolados por seguranças. Todos que passavam por ali eram orientados a não tirar fotos. Fui um dos que não seguiu a determinação que, no meu entender, é totalmente descabida.

Claramente, a segurança da COP demonstra seu temor quanto a algo que saia do controle. O excesso de zelo e a tensão dos agentes só contribui para acirrar os ânimos dos ativistas que, aí sim, poderiam deslanchar por atos de violência.

E o ambiente interno da conferência não demonstrou ser muito mais harmônico. Os problemas das negociações continuam do mesmo tamanho: indefinição de metas, de aportes financeiros... resumindo, a questão continua sendo a mesma desde muito antes dessa conferência começar, ou seja, ninguém quer pagar a conta.

Como afirmou Rubens Born, do Vitae Civilis, temos que ter paciência até o último minuto da conferência ou além. Ele lembrou que o Protoco de Kyoto foi assinado na manhã seguinte ao encerramento da convenção.

A esperança deve ser mantida apesar dos fatos em contrário. Mas o que com certeza devemos aguardar é o aumento progressivo dos protestos organizados por aqueles que não pretendem ficar apenas na torcida e exigem um real posicionamento das lideranças mundiais, além de reuniões a portas fechadas.

13 dezembro 2009

CAPA DO SITE CARTA CAPITAL: Os ricos têm grana, os pobres, pressa

Economia
Reinaldo Canto, de Copenhague

Os mais de 5 mil jornalistas reunidos em Copenhague fazem o jogo previsível de amplificar vazamentos de informação em busca de manchetes. É muito difícil, neste momento, saber o que os países realmente querem e o que estão levando apenas como moeda de troca nas negociações. Em reuniões fechadas, pequenos grupos de diplomatas trabalham para construir propostas que agradem às nações desenvolvidas, que terão de pagar a conta, e os pobres, que já estão lidando com os impactos mais extremos das mudanças climáticas.

Além dos números financeiros, há outro que circula pelos corredores: 360 milhões de seres humanos vão morrer nas áreas de maior risco, caso a temperatura do planeta aumente apenas 2 graus, em média. São áreas localizadas em sua quase totalidade na Índia, Bangladesh, África e algumas regiões das Américas Central e do Sul. Não há maiores problemas para a América do Norte e Europa, que em alguns casos poderão até mesmo beneficiar-se com um pouco mais de calor.

Um sentimento também comum é de que o encontro possa terminar sem um acordo definitivo assinado pelos mais de cem chefes de Estado que prometem participar da reunião. É muito poder junto, principalmente se lembrarmos que na COP-13, na Indonésia, o único chefe de Estado presente era o anfitrião. Segundo o embaixador Luís Alberto Figueiredo, um dos principais negociadores da delegação brasileira, “o processo é longo e mesmo pontos consensuais ainda passarão por negociações detalhadas para a sua implementação”.

Um desses casos é o mecanismo de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (Redd), não previsto pelo Protocolo de Kyoto, de 1997. O Redd é antes de tudo um projeto que vai apoiar financeiramente a preservação de florestas e áreas degradadas. Para o Brasil, esta é uma aposta importante, e que entrou na agenda oficial apenas nos últimos meses. De acordo com o embaixador brasileiro, não se discute mais se o mecanismo de compensação entra ou não no acordo final. “Sem o Redd não existe acordo.”

A afirmação de Luís Alberto Figueiredo agradou aos brasileiros da Amazônia. O secretário de Meio Ambiente de Manaus, Marcelo Dutra, defensor firme da implantação do mecanismo, afirma que o apoio ao Reed é essencial para os povos do bioma. “A floresta passa a ser vista como aliada do desenvolvimento e não como um entrave”, diz. Outra voz a favor é a de Virgílio Viana, da Fundação Amazonas Sustentável, que aposta no mecanismo não apenas para manter a floresta em pé, mas “para melhorar a qualidade de vida e erradicar a pobreza na região”. Da perspectiva do Brasil, que já assumiu o compromisso de redução do desmatamento na Amazônia em 80% até 2020, o Reed é muito importante, pois o Estado não tem capacidade de cumprir essas metas sem o apoio de projetos de governos locais, empresas e ONGs.

Diante da pressão dos países mais frágeis às mudanças climáticas, há um certo pessimismo em relação ao sucesso de Copenhague. Não existe por parte das economias que vão doar recursos o senso de urgência necessário e apontado pelos mais pobres. Bangladesh, por exemplo, estima que 20% de sua população terá de ser deslocada nos próximos anos para áreas mais altas e seguras, em consequência do avanço do mar. Por conta disso, a delegação do país quer receber 15% da ajuda internacional, seja ela qual for. Terá de disputar com outras centenas de vítimas. Os protestos da comitiva de Tuvalu, estado da Polinésia ameaçado de desaparecer tragado pelo mar, foram tão intensos que chegaram a paralisar o evento em Copenhague.

O presidente do Instituto Ethos, Ricardo Young, acredita que não chegaremos ao “acordo dos sonhos”, mas olha o horizonte com algum otimismo. “Não teremos retrocessos, haverá avanços, pois empatar ou perder, definitivamente, não é mais uma opção.” Mesmo com tantas dúvidas, a primeira semana da conferência é a mais amena. Em vez de discussões sérias, assistem-se a festas e eventos de congraçamento de culturas, línguas e nacionalidades. Muitas das atenções estão voltadas para os estandes das ONGs que expõem seus trabalhos e explicam como será possível salvar o ser humano da extinção com ações diversas, do reflorestamento de extensas áreas ao redor do mundo à redução no consumo de carne, da utilização de energias limpas às mudanças nos padrões de produção e do consumo em direção a uma economia de baixo carbono.

A segunda semana da conferência promete ser bem mais contundente, com a chegada dos chefes de Estado e a conclusão das centenas de negociações paralelas. Entre afirmações e desmentidos, compromissos descartados e depois reassumidos, o clima não deverá ser tão ameno. O auge do aquecimento local será quando os principais protagonistas, Estados Unidos, Europa, China, Índia e Brasil, ocuparem seus assentos. Só então o jogo começa para valer.

COP-15: CASA DE FERREIRO, ESPETO DE PAU



Reinaldo Canto, direto de Copenhague para a Envolverde

Milhares de folhetos, manuais, livros e papéis diversos sendo impressos vertiginosamente revelam uma face da COP

O velho ditado do título representa uma das muitas dificuldades enfrentadas por todos nós que trabalhamos com sustentabilidade, mas habitamos um mundo real cheio de contradições e difíceis quebras de paradigma e comportamentos arraigados.

Pois como explicar a quantidade enorme de papéis que circula em todas as áreas do Bella Center, o enorme pavilhão que abriga a COP-15 aqui em Copenhague, quando justamente se discute a adoção de uma considerável redução nas emissões de gases de efeito estufa?

Muitos poderão alegar que todos esses materiais têm o mérito de fornecer informações e caminhos para o combate aos efeitos do aquecimento global. Mas será que realmente são necessários? Todos eles?

A responsabilidade, sem dúvida, deve ser dividida por todos. Segundo as Nações Unidas, organizadora do evento, as centenas de impressoras espalhadas pelo complexo que trabalham sem parar, precisam estar ali, pois as delegações tem o direito de fazer cópias de todos os materiais que assim desejarem, sem interferência ou ações restritivas da ONU. Ok, é uma questão diplomática. Mas será que todos precisam imprimir tanto e o tempo todo? Aqui no Bella Center a resposta não pode ser a falta de computadores para a leitura desses documentos e a fácil disponibilidade para se fazer cópias em pen-drives ou CDs. Há disponibilidade para todos e a qualquer hora do dia.

E o que dizer das Organizações Não Governamentais? Quase sem exceção os stands da área de exposições estão repletos de materiais, muitos belíssimos e bem feitos vale destacar. Eles não poderiam ter sido, em sua maioria, disponibilizados digitalmente?
Creio que dois exemplos possam demonstrar porque esse tema me chamou ainda mais a atenção nesta primeira semana de COP-15. Um deles diz respeito ao anúncio da divulgação dos primeiros textos oficiais que buscam o sonhado acordo global. Os jornalistas ávidos por conhecer o seu conteúdo foram, obviamente, atrás de quem tinha acesso a esse texto. Cópias impressas, então, começaram a surgir e a ser copiadas em ritmo industrial. Se eram textos oficiais, em primeiro lugar, para que causar esse estresse a quem queria obter o material precisando literalmente como eu fiz, “correr atrás”? E se, novamente, eram oficiais, por que não foram diretamente para o site da COP-15? Alguns poderiam até obter uma cópia impressa, mas muitos como eu, teríamos uma vida até mais fácil para trabalhar, simplesmente tendo à disposição, uma cópia digital.

Agora, o segundo exemplo demonstra como os caminhos podem ser tortos na luta por fazer, como muitos dizem, o “bem”. Do lado de fora do Bella Center, dezenas de seguidores da vietnamita “Mestre Suprema Ching Hai” distribui enorme quantidade e sem limites, livros que fazem campanha pelo vegetarianismo, acompanhados de folhetos e guias com explicações sobre a proposta e sobre a trajetória da “Mestra Suprema” quase na mesma proporção. Tentei obter os números dessa distribuição, mas não obtive sucesso. O que não resta dúvidas é que todos os cerca de 20 mil participantes que já circularam pela COP-15 tiveram acesso aos materiais de Ching Hai. Os dois livros até agora distribuídos são: um sobre cães e outro sobre pássaros. Capa dura e papel couche luxuoso, os livros são bem ilustrados e o gosto...bem, cada um tem o seu!

Nos primeiros dias os livros forem entregues na saída da conferência aí incluído um kit composto de uma sacola com folhetos. Ao tomarem contato com o conteúdo muitos dos participantes foram se desfazendo desse material, nos lixos das estações de metrô e trem, no interior dos vagões e sabe se lá onde mais.

Já nos dias posteriores era possível encontrar os livros e os folhetos de Ching Hai em todos os cantos do Bella Center. Não quero aqui colocar em cheque a causa defendida por ela e o seu trabalho realizado em defesa do vegetarianismo e dos animais. Até porque como diz o seu site “Ching Hai é uma mestra viva que conseguiu completa iluminação no Himalaia, usando uma técnica de meditação baseada na contemplação de luz e som internos”. Também informa o site oficial que ela é reconhecida internacionalmente por presidentes e estadistas pelas atividades humanitárias e socorro prestado em catástrofes nos cinco continentes e, além do mais, “possui contato direto com Deus”. Longe de mim, portanto, questionar suas intenções. Faço apenas a pergunta que pontua esse artigo: será preciso tanto papel para divulgar essa causa? Afinal, as árvores que se transformaram em papéis, em geral, também são grandes aliadas dos animais? Não recebi a resposta quando perguntado, mas vou continuar tentando.

Procurei usar esses fatos, para demonstrar que o caminho ainda é muito longo na busca pela sustentabilidade. Esses papéis, com certeza representam uma pequena parcela das emissões causadas pela COP-15 (como os materiais vêm de fontes muito diferentes, a ONU não chegou a esse cálculo. E informações já divulgadas dão conta de que 90% dos impactos causados pela conferência têm origem nas viagens aéreas dos participantes). Também acredito, aliás, espero, que esses materiais impressos sejam originários de madeira certificada e de reflorestamento.

Independentemente dos pequenos impactos e das enormes contribuições que todos estão se esforçando por dar a esse encontro histórico, é preciso refletir sobre esses atos. Antes de mais nada, essas pessoas aqui presentes, devem representar os grandes exemplos para as mudanças que esperamos que ocorram no mais breve tempo possível.

GALERIA DE FOTOS DA COP 15




11 dezembro 2009

COP-15 – Dinamarca apresenta sua Vila Sustentável para o mundo

Por Reinaldo Canto, direto de Copenhague para a Envolverde


Realidade européia aponta que investimentos em residências é um excelente caminho para uma economia de baixo carbono.

Em evento paralelo da COP-15, a Dinamarca apresentou uma vila repleta de casas algumas ainda em construção e outras já habitadas que possuem o grande mérito de buscar a máxima redução nos gastos com energia.

Afinal, reduzir os custos de energia e ao mesmo tempo reduzir as emissões de CO2 são desafios de todo o mundo, mas tem significativa importância aqui na Europa, onde a energia é cada vez mais cara e obtida por meio de fontes energéticas com alto grau de emissão de gases de efeitos estufa.

Para se ter um panorama da importância dessas construções, vale lembrar que, entre os principais setores responsáveis pelas emissões de carbono no âmbito da União Européia, 33% vem da área de transporte, 26% da indústria e 41% do setor de edificações. Desses 41%, dois terços dessa energia são usadas no consumo, principalmente, para três atendimentos básicos: aquecimento, refrigeração e ventilação. Segundo cálculos das autoridades européias do setor de energia, 80% dessa energia é simplesmente desperdiçada.

Esse projeto está localizado cerca de 70 quilômetros da capital Copenhague, são 300 casas que estão sendo construídas na pequena cidade de Egedal e prometem atingir uma alta eficiência energética. Algumas delas já estão prontas e possuem diversas soluções conhecidas dos brasileiros, painéis solares, reuso da água de chuva e projeto arquitetônico que procura garantir aproveitamento máximo da circulação de ar para ventilação, além de janelas e tetos de vidro transparente que privilegiam a iluminação natural.

Em matéria de novidades tecnológicas, a que mais chamou a atenção foram os vidros especiais colocados nas janelas das casas. Eles foram desenvolvidos a partir da moderníssima nanotecnologia. Micropartículas misturadas ao vidro, garantem os idealizadores, permite que a janela nunca precise ser limpa, ela é, nada mais, nada menos do que auto-limpante.

Outra novidade envolve o uso de materiais isolantes entre as paredes de madeira, (exatamente a casa é de madeira de reflorestamento) que retêm o calor e permite que se gaste muito menos com a calefação, cujo problema no Brasil não existe, mas apresenta um consumo altíssimo na Europa por causa do frio intenso.

Mas muito mais do que tecnologias inéditas o primordial no projeto é o esforço que uniu os setores público e privado, na superação dos obstáculos e no apoio aos interessados em adquirir os imóveis com financiamento de 30 anos e valores ao alcance dos bolsos. Já que, segundo os representantes da empresa responsável pela construção das casas, elas custam em torno de 20 mil euros ou 52 mil reais a mais que residências do mesmo porte (uma casa de dois quartos com cerca de 80 m²). E esse investimento inicial será totalmente compensado para os moradores num prazo de 10 anos, já que o consumo médio de uma casa desse porte na Europa é de 3 mil euros por ano e o consumo menor de energia da “casa eficiente” ou se preferir, “casa inteligente”, é de apenas mil euros anuais, ou seja, a economia atingirá a bagatela de 2 mil euros por ano.

E consumir menos não significa viver pior. As famílias que já vivem ali afirmam que o conforto é o mesmo de qualquer casa que gasta muito mais energia do modo tradicional e perdulário.

Para o consultor especial da cidade, Jan Poulsen, a eficiência energética é a chave para se atingir uma economia de baixo carbono. “Nós podemos usar 90% menos energia para aquecimento e refrigeração das casas”. E, segundo ele, isso não vale apenas para casos como o dessa vila sustentável. “As construções já existentes podem passar por um processo de renovação e modernização que diminuiria em muito os custos energéticos das moradias européias e seriam capazes de colaborar com a criação de 500 mil empregos”.

Somente o continente europeu consome 270 bilhões de euros em energia por ano (cerca de 500 euros por habitante da comunidade) ou 460 milhões de toneladas de CO² por ano (que corresponde ao total das emissões anuais da Itália).

Vamos aguardar que exemplos como esse “contaminem” nossos líderes na busca por um grande acordo aqui na COP-15.



Material produzido e editado pela Envolverde/Mercado Ético/Carbono Brasil/Rebia/Campanha Tic-Tac/EcoAgência, e distribuído para reprodução livre com o apoio da Fundação Amazonas Sustentável.



(Agência Envolverde)

COP-15 - Cresce tensão antes da semana decisiva

Por Reinaldo Canto*, direto de Copenhague para a Envolverde



A interrupção das negociações na última quarta-feira, dia 9, no plenário da COP-15 em Copenhague revelou que os ânimos começam a mudar aqui no Pavilhão Bella Center. A iniciativa do pequeno Tuvalu de parar os trabalhos uniu-se a indignação das Organizações Não Governamentais como WWF e Greenpeace entre outras, que temem pelos resultados da conferência.

É possível observar os semblantes carregados dos milhares de participantes nas conversas do café ou diante dos muitos computadores espalhados por todos os ambientes da COP. Deve-se levar em conta que a maioria dos atores presentes a convenção são, fora o direito de fazer manifestações ou de cobrir os fatos, espectadores impotentes diante de “forças maiores” que estão em algum lugar decidindo pelo destino de todos.

Já no Media Centre, onde os jornalistas tem seu espaço de trabalho, profissionais trocam informações de forma vertiginosa e acompanham por meio de fones de ouvido as discussões em plenário. As notícias que chegam de maneira oficial ou por ouvir falar são seguidas de ligações nervosas para as devidas confirmações ou desmentidos. Isso quando não são as próprias redações na centena de países presentes que tentam confirmar algum dado que acabaram de ouvir, ler ou assistir, muitas vezes do concorrente. Nesse momento, o enviado especial a Copenhague é pressionado a tomar providências urgentes com relação aos novos fatos que acabam de surgir. Basta imaginar a sensação de um futuro enforcado quando lhe colocam a corda no pescoço, muitas vezes é o caso desses correspondentes quando chega algo inesperado. Felizmente não é o meu caso!

O formato da conferência também não contribui muito para deixar os ânimos menos exaltados. São duas semanas de reunião, muitas conversas de bastidores, sendo que é na segunda que realmente vão ser tomadas as decisões que valem alguma coisa, como já explicou em coletiva, o embaixador Luis Figueiredo, um dos principais negociadores da delegação brasileira.

Se assim é, o espaço maior da primeira semana, além de encontros e confraternizações, é exatamente, o espaço para boatos, fofocas, além de textos, vários textos como o dinamarquês no começo da semana, que são divulgados antes da hora, ou mesmo que nem deveriam vir a público.

Antes que as definitivas decisões venham à tona deveremos ainda assistir a diversas especulações e mais manifestações que cobram coragem e atitude dos negociadores. Daqui até a semana que vem, a temperatura de Copenhague promete cair do lado de fora e esquentar muito aqui do lado de dentro da COP-15.

Aí nos restará esperar que as legítimas pressões da sociedade sejam suficientemente entendidas pelos líderes como a vontade expressa da humanidade por um compromisso vigoroso contra as mudanças climáticas.



Material produzido e editado pela Envolverde/Mercado Ético/Carbono Brasil/Rebia/Campanha Tic-Tac/EcoAgência, e distribuído para reprodução livre com o apoio da Fundação Amazonas Sustentável.



(Agência Envolverde)

09 dezembro 2009

Embaixador Serra confirma que país conhecia documento vazado

Reinaldo Canto* Direto de Copenhague para a Envolverde

O embaixador Sergio Serra, negociador da delegação brasileira na COP-15, afirmou à imprensa em Copenhague que o governo do Brasil conhecia o texto vazado pelo jornal britânico The Guardian. Segundo ele, o texto havia sido apresentado pela delegação dinamarquesa na semana passada para alguns poucos países com “papel relevante” nas discussões climáticas. E, diante das reações negativas foi recolhido, inclusive, sem deixar cópias em mãos dos negociadores presentes a essa reunião.

Serra disse que quem estava representando o Brasil era o embaixador Luis Figueiredo e que ele mesmo não conhecia em detalhes o documento. Sergio Serra minimizou o assunto afirmando que o mais importante é o esforço que está se fazendo para se chegar a um texto de consenso. “Essa divulgação causou algum desconforto, mas não irá levar as atuais discussões ao caos”, mas por outro lado não deixou de ressaltar: “não acredito que tenha sido útil para as negociações”.

O negociador brasileiro demonstrou tranqüilidade ao dizer que quem deve se sentir incomodado com o furo do jornal inglês é a delegação dinamarquesa.
A proposta divulgada pelo The Guardian confere mais poderes aos países desenvolvidos e coloca em segundo plano o papel da ONU nas negociações das mudanças climáticas.

O texto que além da Dinamarca teria contado com a participação dos EUA e do Reino Unido também estabeleceria limites diferentes e desiguais de emissão entre os países em desenvolvimento, contra-partidas dos países que queiram receber recursos para o combate às mudanças climáticas e ainda daria o direito das nações mais desenvolvidas emitir quase o dobro em relação aos demais países.

*Jornalista, consultor e palestrante, foi Diretor de Comunicação do Greenpeace e Coordenador de Comunicação do Instituto Akatu

REDD PODERÁ SER A GRANDE CONQUISTA DE COPENHAGUE

Reinaldo Canto* Direto de Copenhague para a Envolverde

Em entrevista exclusiva para a Envolverde direto da COP-15, Virgilio Viana, diretor-geral da Fundação Amazonas Sustentável afirmou que a adoção da REDD em Copenhague será a oportunidade histórica de se salvar a floresta amazônica. Além disso, afirma Virgilio, é uma maneira de, “melhorar a qualidade de vida e erradicar a pobreza dos povos amazônicos”.

Virgilio explicou que um dos principais nós da conferência é buscar uma fórmula de inclusão de todos os países. Os Estados Unidos que eram o principal ausente, agora colocaram em sua legislação a questão das florestas que, por sua vez, não fez parte da convenção anterior em Kyoto. “E o que nós temos trabalhado nos últimos anos é para a inclusão do carbono florestal que nada mais é do que o desmatamento evitado e conhecido pela sigla REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação) e hoje nós estamos colhendo aqui os resultados desse trabalho de uma forma muito significativa” disse o diretor da FAS.

Segundo ele, a partir da Carta dos Governadores ao Presidente da República que estabeleceu uma força-tarefa envolvendo presidência, ministérios e 8 governos estaduais chegou-se a um relatório que recomendou a mudança da posição histórica do Brasil no sentido de incluir três mecanismos de financiamento do REDD. São eles: financiamento público, financiamento de mercado compensatório e o financiamento de mercado não compensatório. Para Virgilio, esse foi o principal avanço do país nas negociações dos últimos tempos, aliada a meta anunciada recentemente pelo governo federal de redução das emissões entre 36% e 39%.

A partir de agora em que a REDD passou a ser uma questão praticamente consensual dentro das negociações em Copenhague, o desafio agora é estabelecer como se dará a sua regulamentação. O objetivo da FAS é conseguir que 10% de todos os investimentos voltados para a redução das emissões de carbono sejam destinados ao REDD. Portanto, uma conquista acompanhada de novos desafios.

*Jornalista, consultor e palestrante, foi Diretor de Comunicação do Greenpeace e Coordenador de Comunicação do Instituto Akatu

COLETIVA BRASILEIRA NA COP-15 RESSALTA IMPORTÂNCIA DA REDD

Reinaldo Canto* Direto de Copenhague para a Envolverde

No primeiro encontro oficial do governo brasileiro com a imprensa, o embaixador Luis Figueiredo fez apenas um relato inicial dos difíceis caminhos que serão trilhados nas próximas duas semanas. A conferência entra amanhã na fase de reunião dos grupos de trabalho que depois irão culminar com a chegada, como ele mesmo definiu “do segmento de alto nível”, ou seja, dos chefes de estado nos últimos dias da próxima semana. Os textos concebidos por esses grupos servirão de apoio para que as lideranças nacionais possam chegar as conclusões finais da COP-15. É bom lembrar que as resoluções devem ser aprovadas por consenso para serem aprovadas.

O momento importante a ser destacado foi quando o embaixador respondeu enfaticamente sobre a presença ou não da REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação) no documento de encerramento da conferência. Segundo ele, não há dúvida quanto a entrada da REDD, “sem REDD simplesmente não haverá acordo”. Quanto a sua regulamentação, Figueiredo disse que as discussões farão parte de um longo processo que deverá terminar apenas no próximo ano.

O negociador brasileiro explicou que a RED, assim mesmo com um D a menos de Degradação, havia sido proposto pelo Brasil em 2005 e rechaçado por outros países, pois consideraram a proposta, a “cara do Brasil” por ser um país com grandes florestas e, portanto, candidato a receber grandes benefícios. Depois disso o outro D de Degradação foi incluído para agradar a outros países com grandes áreas já desmatadas.

Se as previsões do embaixador forem confirmadas, o Brasil, principalmente o bioma Amazônia, irá receber atenção, recursos e instrumentos para deixar de ser destruída e, finalmente, passará a ser reconhecida como um patrimônio de valor inestimável.

*Jornalista, consultor e palestrante, foi Diretor de Comunicação do Greenpeace e Coordenador de Comunicação do Instituto Akatu

08 dezembro 2009

CAMPANHA TIC TAC PROMETE AÇÕES PARA “ACORDAR LÍDERES”




Reinaldo Canto* Direto de Copenhague para a Envolverde

A campanha ou melhor o movimento mundial TicTacTicTac, chamou a atenção de milhões de pessoas em milhares de cidades nos últimos meses, para o perigo representado pelas mudanças climáticas e a urgência de ações efetivas no combate ao aquecimento global.

Na abertura da COP-15, uma lista com 10 milhões de assinaturas foi entregue reivindicando um acordo que contribua para “frear” as mudanças climáticas.
E mesmo que o relógio do TicTac estabelecesse a data de 7 de dezembro, início da COP-15, como o ápice de sua atuação, o trabalho desenvolvido por seus membros manterá os ponteiros em movimento durante toda a conferência.

Segundo Adriana Charoux, brasileira que faz parte do conselho consultivo da campanha, a entrega das assinaturas, foi a primeira ação de várias que visam “acordar os líderes”, para que não se omitam na busca de um acordo “justo, ambicioso e com força de lei”.

“Queremos fazer ações rápidas e surpreendentes”, explicou Adriana e, “que sejam carregadas de significados” como os da abertura da COP-15. Pois junto com a lista foram entregues uma peça de lego para representar o início da construção do processo de ações de combate ao aquecimento global; uma caneta para a assinatura do acordo e uma chave que sirva para “destravar” os obstáculos que impeçam o avanço das negociações.

É melhor, portanto, que os negociadores na COP-15 mantenham os olhos, a mente e o coração atentos, não por se preocuparem com as surpreendentes ações da campanha TicTac, mas muito mais por atender aos anseios dos 10 milhões que assinaram o documento e dos bilhões de seres humanos da atual e das futuras gerações que vão depender de um acordo satisfatório que seja uma garantia a sua própria sobrevivência.

*Jornalista, consultor e palestrante, foi Diretor de Comunicação do Greenpeace e Coordenador de Comunicação do Instituto Akatu

COP-15: AQUECIMENTO ATINGIU NÍVEIS RECORDES, NESTA DÉCADA

Por Reinaldo Canto, direto de Copenhague para a Envolverde



Copenhague, 08/12/2009 - A organização Met Office Hardley Center sediada no Reino Unido, divulgou hoje aqui em Copenhague, durante a COP-15, que esta década atingiu níveis históricos de calor. Apesar de 1998 ainda representar, individualmente, o recorde de temperatura, nos últimos dez anos atingimos os mais altos níveis de calor dos últimos 160 anos no Planeta.

Resultados similares foram revelados pelo Centro Nacional do Clima dos Estados Unidos (NCDC) e pelo Instituto Goddard de Estudos Espaciais ligado a NASA.

Os estudos também demonstraram que o planeta mantêm um aumento crescente de sua temperatura graças, principalmente, ao aumento da emissão de gases de efeito estufa lançados na atmosfera.

Em outro comunicado, a Organização Mundial de Meteorologia informou que, o ano de 2009 entrará para a lista dos dez anos mais quentes. O resultado preliminar já aponta para um aumento de 0,44°C acima da média de 14 graus. Este ano será mais quente que 2008 em virtude, principalmente, da ação do fenômeno El Niño no Oceano Pacífico e pode ainda se tornar o quinto ano mais quente desde quando começaram as medições em 1850.

Material produzido e editado pela Envolverde/Mercado Ético/Carbono Brasil/Rebia/Campanha Tic-Tac/EcoAgência, e distribuído para reprodução livre com o apoio da Fundação Amazonas Sustentável.

07 dezembro 2009

Cidades buscam reconhecimento durante a Conferência do Clima em Copenhague

*Reinaldo Canto direto de Copenhague para a Envolverde

Cidades e governos locais ao redor do mundo devem ser reconhecidos com parceiros dos governos nacionais se a luta contra as mudanças climáticas tem o objetivo de ser efetivamente vencida. O ICLEI – Governos locais pela Sustentabilidade, fez essa afirmação antes do início da Conferência de Mudanças Climáticas das Nações Unidas, a COP-15.

"Fracassar não é uma opção: os cidadãos do mundo, por meio de suas cidades e governos locais , representão mais da metade da população mundial e clamam urgentemente por um novo e forte regime de discussão sobre o clima global”, afirmou o presidente do ICLEI, David Cadman, antes de deixar Vancouver no Canadá e se juntar aos 1.200 cidades representantes na conferência de Copenhague. "Nós precisamos de uma colaboração internacional que reúna o conhecimento das regras e responsabilidades em todos os níveis de governo, todos os cidadãos e que tenha por objetivo essencial, contribuir com ações de redução das emissões de carbono e que comprometem o nosso futuro”.

A mensagem de Cadman faz parte da essência de um único processo de dois anos em que as cidades e governos locais em todo o mundo tem se organizado por meio do projeto Mapa do Caminho dos Governos Locais pelo Clima.

"Acordos podem e devem ser atingidos em Copenhague baseados na justiça social e nas relações internacionais de respeito. Copenhague deve representar um momento de coragem
para implementar mudanças nas relações entre as nações que visem maior solidariedade e apoio aos menos favorecidos”, disse Bertrand Delanöe, Prefeito de Paris e Presidente da UCLG.

*Jornalista, consultor e palestrante, foi Diretor de Comunicação do Greenpeace e Coordenador de Comunicação do Instituto Akatu

Abertura da COP-15 revela incertezas e esperanças

*Reinaldo Canto direto de Copenhague para a Envolverde



Diante do plenário lotado por representantes dos 192 países presentes e alguns poucos privilegiados, o primeiro-ministro da Dinamarca, Lars Loekke Rasmussen, fez a abertura oficial da 15ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre mudanças climáticas em Copenhague. Segundo o anfitrião do evento, a reunião é uma "grande oportunidade que o mundo não pode se dar ao luxo de perder". Rasmussen também aproveitou para criticar as últimas especulações sobre as reais intensidades das alterações do clima no planeta e reforçando a importância de se tomarem medidas urgentes, eficazes e imediatas.

Talvez preocupado com os possíveis resultados do encontro em sua casa, o primeiro-ministro dinamarquês enfatizou a necessidade de se alcançar um acordo "forte e ambicioso" que vai suceder o Protocolo de Kyoto.

O Dr. Rajendra Pachauri, presidente do IPCC (Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas), afirmou na abertura da conferência que o tempo é cada vez mais curto para ações urgentes. “Os custos das respostas para as mudanças do clima vão se tornar progressivamente mais altas e não podemos mais protelar essas ações, a hora de agir é agora”.

A ministra dinamarquesa Connie Hedegaard foi eleita presidente da COP-15.
Para a agora responsável por liderar os principais movimentos da conferência, “Copenhague será a cidade dos três “Cs”: ‘Cooperação’, Compromisso’ e ‘Consenso’. É hora de capturarmos este momento e concluir um ambicioso acordo global.” Connie ainda completou, “Essa é a nossa chance. Se nós perdermos essa oportunidade, nós não teremos um outro momento melhor”.

A maior parte dos presentes a Conferência acompanhou a abertura por televisões e telões espalhados pelo pavilhão de eventos Bella Center. Mesmo de olho na tela, as pessoas demonstravam ter a atenção dividida entre os discursos e o reconhecimento do terreno nessa mega conferência que está dando seus primeiros passos e ainda muito longe de se saber onde realmente irá chegar.

*Jornalista, consultor e palestrante, foi Diretor de Comunicação do Greenpeace e Coordenador de Comunicação do Instituto Akatu

O ESPETÁCULO JÁ VAI COMEÇAR

Reinaldo Canto* Direto de Copenhague para a Envolverde

Na véspera da abertura da COP-15 em Copenhague, o que mais se via no Bella Center, palco da maior conferência internacional do novo milênio, eram sorrisos um pouco tensos dos muitos participantes que já corriam atrás do seu credenciamento, que efetivamente, só vai valer a partir de amanhã.
A boa organização comandada desde o aeroporto pelos anfitriões dinamarqueses, perdeu um pouco do seu brilho, durante o processo de confirmação dos registros de delegados governamentais, membros de ONGs, jornalistas e de observadores vindos de todos os cantos do mundo. As filas, ou melhor, a ausência delas tumultuava o ambiente, mas não chegavam a perturbar o bom humor das pessoas, a maioria delas esperançosas por resultados satisfatórios até o encerramento do encontro no próximo dia 18.
Afinal, o que mais se comentava era a alteração de data na agenda do presidente norte-americano Barack Obama que mudou do início do evento para o final da conferência a sua chegada e participação na capital dinamarqueza. Fato que possui um significado de maior comprometimento com os resultados e gerando expectativas em muita gente. Foi o que me disse o jornalista indiano Amitabh Sinha, correspondente especial do jornal The Indian Express, confiante agora que, até o seu país, um dos mais refratários a apresentar alguma proposta efetiva, possa se sentir motivada. “Nosso primeiro-ministro também estará presente no final da conferência e não vai querer fazer feio se todos os grandes países emissores de gases de efeito estufa assinarem compromissos efetivos para o futuro do planeta”, afirmou Amitabh.
O cenário do belo espaço montado para receber mais de 60 mil pessoas de 192 países, entre elas 5 mil jornalistas, não será desculpa para o não aprofundamento das metas a serem definidas pelos nossos líderes o auditório principal do evento e a sala de conferência de imprensa, por exemplo, recebiam apenas alguns retoques e dava gosto ver o capricho e o empenho dos organizadores em deixar tudo pronto, no tempo certo e na hora certa.
O que deve demorar um pouco é para que as pessoas consigam se encontrar, não por qualquer confusão causada pela organização, mas pela profusão de eventos, exibições e reuniões que deverão ocorrer por todos os lados. Afinal, todo mundo tem o que falar, mostrar e contribuir.
A repórter especial da Exame, Ana Luiza Herzog, não disfarçava a sua preocupação com o tamanho desse evento. Ela procurava ler e anotar todos os possíveis itens dessa enorme agenda trocando horas de sono a caminho de Copenhague para mapear algumas das prováveis pautas de interesse da publicação de economia da Editora Abril.
Mas não somos apenas nós os jornalistas que ficamos zonzos com tantos acontecimentos simultâneos, o prefeito de Porto Velho, Roberto Sobrinho, por exemplo, buscava informações a todo momento conversando com outros brasileiros que iam de Lisboa para Copenhague para identificar os espaços de relevância para a sua cidade. Afinal, Porto Velho faz parte do bioma amazônico que vai buscar uma posição de destaque durante a conferência sobre o comando da maior cidade amazônica, Manaus. No dia 7, primeiro dia da conferência, começa a receber a delegação de Manaus que irá liderar as cidades da América Latina e Caribe nas discussões sobre a importância de se dar voz e voto aos governos locais nas principais decisões que serão tomadas no âmbito da COP-15. “Até hoje os povos amazônicos não foram ouvidos sobre o destino de sua própria região, isso agora vai começar”, afirmou o Secretário de Meio Ambiente de Manaus, Marcelo Dutra.
“Nas próximas duas semanas a partir desta segunda, os governos deverão dar respostas adequadas para a urgência e desafios das mudanças climáticas,” disse o Secretário-Executivo da COP-15 Yvo de Boer. “Os negociadores agora terão de dar sinais claros de que os principais líderes do mundo vão apresentar propostas claras e ações de implementação imediata” acrescentou Boer.
Se as expectativas do responsável pela COP vão se concretizar, os próximos dias servirão para apresentar um desenho a ser definido no documento final e que deverá ser assinado somente nos instantes derradeiros da conferência. A única coisa certa é que o interesse despertado por tanta gente ao redor do mundo coloca uma lente de aumento em cada um dos responsáveis pelos destinos do planeta. Agora, o quanto esse olhar atento vai influenciar as decisões e medidas corajosas e efetivas rumo a um futuro, só saberemos mesmo daqui a duas semanas.
*Jornalista, consultor e palestrante, foi Diretor de Comunicação do Greenpeace e Coordenador de Comunicação do Instituto Akatu

06 dezembro 2009

A CHEGADA EM COPENHAGUE


Do calor de São Paulo para os 6 graus celsius de Copenhague serviu para dar um choque, afastar o sono e me fazer correr até o Bella Center local que vai abrigar a COP-15 que começa amanhã.

Fora o tumulto para se obter o credenciamento, a organização está fantástica desde o aeroporto com pessoas prestando informações até ônibus para levar ao local do evento.

O lugar é muito bom com um centro de imprensa enorme que tentará dar conta dos 5 mil jornalistas aguardados por lá.

Tive encontros e conversas interessantes com alguns brasileiros, entre os quais posso citar o Prefeito Roberto Sobrinho de Porto Velho com o qual comentei que dirigi a campanha de um seu adversário (Davi Chiquilito) e que rendeu boas risadas, até a repórter especial da Exame, Ana Luiza Herzog, que foi a responsável por mediar o debate sobre sustentabilidade no evento Exame Fórum que rendeu, inclusive, um artigo aqui no blog e publicado também pela Envolverde e pelo Mercado Ético.

Aliás, a Ana Luiza e eu, trocamos preocupações quanto as dificuldades de se cobrir um evento gigante como esse.

Agora da Dinamarca para meu hotel em Malmo na Suécia, (calma, é outro país, mas tudo aqui é pertinho), vou descansar um pouco, pois amanhã começa pra valer a COP-15.

05 dezembro 2009

A CAMINHO DE COPENHAGUE

Depois de muito estresse me encontro agora na sala de embarque de Guarulhos rumo a Copenhague passando primeiro por Lisboa. Estresse porque só hoje pela manhã o meu embarque foi confirmado. Malas prontas e sem saber se iria viajar foi muito desgastante!!

Muito frio e trabalho me esperam vou cobrir a COP-15 pela Envolverde (www.envolverde.com.br) farei uma matéria para a revista Carta Capital e também vou divulgar as ações da Prefeitura de Manaus como representante dos governos locais na conferência. Manaus é a cidade que irá representar e liderar as cidades da América Latina e Caribe, além do bioma amazônico.

Pretendo atualizar o blog diariamente com as principais observações sobre o andamento da conferência.

Próximo boletim vai ser em terras européias.