Um animal elegante, admirado pelo seu porte e beleza e ao mesmo tempo temido e odiado ao longo de muitas gerações de humanos que habitaram o continente americano. Povos originários e depois os colonizadores europeus conviveram com este que é o maior felino das Américas de maneira, no mínimo, pouco amistosa.
Essa difícil relação, de amor e ódio, trouxe consequências bastante danosas para a sobrevivência da onça-pintada que, em sua fase adulta, pode atingir 140 quilos de peso. Símbolo da riqueza de nossa biodiversidade, ela estampa a nota de 50 reais, nem por isso está livre de incontáveis perseguições.
Acusada de atacar o gado e outros animais de criação, fazendeiros não pensam duas vezes para abatê-la. É também cobiçada por caçadores ávidos em provar sua virilidade mesmo mantendo uma segura distância, portando uma conveniente arma de fogo. Esses, além da destruição de nossas floresta,s estão entre os principais obstáculos que tornaram a onça-pintada, de grande predador no topo da cadeia alimentar em animal acuado e indefeso diante do progresso e da ganância humana.
Agora duas notícias em direções opostas colocam novamente a onça-pintada em evidência. A primeira refere-se a um estudo recentemente publicada na revista PLoS ONE pela Universidade inglesa East Anglia. O artigo constatou que, ao lado de outros 4 mamíferos, a onça está praticamente extinta da Mata Atlântica. Segundo as conclusões, a Onça como outros médios e grandes mamíferos possuem reduzida possibilidade de sobrevivência em pequenos fragmentos de floresta tropical, justamente o que ocorre com nossa Mata Atlântica, retalhada que está por aglomerados urbanos, propriedades particulares de terra e grandes estradas que cortam suas áreas.
Se a tudo isso somarmos os caçadores, madereiros e fazendeiros, podemos afirmar que nossas Onças tem muito pouco a esperar do futuro. Mas na verdade, qual o problema que uma extinção total iria acarretar?
Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, o biólogo Carlos Peres, da Universidade East Anglia, afirmou: “Não teremos florestas saudáveis em perpetuidade se não pudermos contar com os serviços de predação e dispersão de sementes”. Para os desavisados, portanto, a onça desempenha papel fundamental para o equilíbrio ambiental de nossas florestas e, consequentemente, de todos os serviços ambientais usufruídos por nós seres humanos.
Projeto Onçasafari, uma nova realidade no Pantanal
A outra notícia, mais alvissareira, vem de outro habitat da onça-pintada, o Pantanal. E se houver esperança para o animal e sua preservação ainda representar algo lucrativo para o ser humano? Ao invés de elimina-lo para diminuir os prejuízos, preservar a onça para obter ganhos.
Para os criadores do Projeto Onçafari, isso é totalmente possível. De que maneira? Colocando o Pantanal brasileiro na rota dos grandes safáris de observação do planeta.
Assim define otimista em poucas palavras, o idealizador dessa empreitada, o ex-piloto de Fórmula Renault, Fórmula 3 Inglesa e Indy, Mario Haberfeld. Como? Piloto de corrida? Pois é, Haberfeld mesmo antes de correr era um aventureiro e amante da natureza. Chegou mesmo a pensar em montar um hotel na África. Mas depois de encerrar a carreira e avaliar possibilidades, pensou melhor: por que não no Brasil?
Sua amizade com Roberto Klabin, presidente das SOS Mata Atlântica e SOS Pantanal, além de proprietário do Refúgio Ecológico Cayman, no Pantanal, possibilitou a montagem do plano. A escolha da Cayman para o início do projeto foi simples. Nessa área de 53 mil hectares, a caça é proibida e em grandes espaços totalmente preservados. Até mesmo a presença de cachorros foi vetada para não prejudicar a fauna local. E, claro, ali já haviam onças-pintadas. “Rodei o mundo conhecendo projetos de conservação e vi que era possível trazer essa ideia para o Pantanal e encontrei na Cayman o local certo para implantá-lo”.
De ameaça a lucros
Para concluir pela viabilidade do projeto, Haberfeld visitou diversos parques em que a preservação de leões e leopardos, animais historicamente muito mais temidos que a nossa onça, que hoje são uma realidade no continente africano e fonte de renda para muitas famílias. “Afinal, ao fazer um safári na África, qual o animal que mais se deseja ver, uma girafa ou um leão?”, pergunta o idealizador do Onçafari. Ele mesmo responde: “Claro que é o Leão e aqui não seria diferente. A onça-pintada estaria no topo desses desejos”.
Se foi possível na África, nada impede que a experiência seja replicada no Brasil. Obviamente todo um trabalho que está apenas começando terá de vencer uma série de paradigmas, entre eles, a resistência dos pecuaristas. Sendo a principal atividade econômica do Pantanal, a pecuária há muitos anos faz fazendeiros e onças viverem um conflito permanente. Será mesmo a onça uma grande ameaça ao gado pantaneiro?
Segundo pesquisa realizada pela ONG Instituto Onça-Pintada, a resposta é não! Os dados levantados pelo estudo apontam que, eventualmente, as onças atacam rebanhos para se alimentar, mas são poucos e muitas vezes mortes de animais são injustamente contabilizados como sendo responsabilidade do felino.
O Projeto Onçafari é ambicioso, pois ele se inicia no Refúgio Cayman e nas fazendas próximas para a avaliação dos hábitos e quantidade de onças existentes na área, mas também tem a pretensão de servir como modelo de preservação sustentável a ser replicado por todo o Pantanal, e quem sabe, ser replicado para outros ecossistemas brasileiros. Assim como em outros projetos semelhantes ao Onçafari, a preservação do felin0 tem o mérito de servir como um mecanismo de preservação geral de toda a fauna pela via do ecoturismo.
Como explica Mario Haberfeld, assim como acontece na África, o turismo ecológico por meio da manutenção de uma Indústria de Observação de Animais gera empregos e desenvolvimento, preserva espécies e causa um impacto pequeno se comparados a outras atividades tradicionais.
O trabalho certamente é e continuará sendo bastante árduo. Convencer a população pantaneira e pecuaristas de que a onça é um bom negócio já não é tarefa fácil, mas o projeto quer também convencer as onças-pintadas de que o homem não é tão ameaçador assim. Os integrantes do Onçafari têm buscado se aproximar dos animais por meio de um monitoramento permanente. No futuro, assim como acontece em parques naturais ao redor do mundo, os grandes mamíferos, inclusive os mais ferozes e arredios, começam a enxergar o homem como uma presença natural.
O sucesso desse projeto está intrinsecamente ligado a importantes mudanças de visão e percepção, para quem sabe em algum dia não muito distante, sermos capazes de ao vislumbrar uma onça-pintada majestosa em seu habitat natural, enxergar muito mais que um animal, mas toda a verdadeira riqueza e patrimônio da biodiversidade brasileira.
Toda a força ao Onçafari!
02 setembro 2012
23 agosto 2012
Os jornalistas e a política nacional de resíduos sólidos - uma revolução a caminho
8h/aulas
Sábado, 15 de setembro de 2012, das 9h00 às 18h00
A nova política irá transformar e modificar radicalmente os atuais modelos de produção e descarte em todo o país. Todos os setores da sociedade brasileira estão sendo convocados a fazer parte desse novo cenário. Os jornalistas precisam estar aptos a dar a sua efetiva contribuição para a melhor cobertura e aprofundamento do tema, fundamental para o futuro da gestão de resíduos no Brasil.
Local: Auditório Vladimir Herzog, Rua Rego Freitas, 530 – Sobreloja (sede do Sindicato)
Horário: 9h00 às 18h00 (com intervalo de 1 hora para almoço)
Obs.: despesas com alimentação, acomodação e estacionamento são por conta do participante
No. de vagas: 30
Os interessados deverão encaminhar e-mail para cursos@sjsp.org.br
solicitando a pré-inscrição. No e-mail deverá constar nome completo, formação (curso, faculdade e ano que se formou), MTb (se possuir) e telefones para contato. Os estudantes deverão informar a faculdade e o período/semestre que estão cursando
A pré-inscrição garante a vaga até 11/09/2012, último dia para pagamento.
Valores:
Para jornalistas sindicalizados e estudantes de Jornalismo pré-sindicalizados
R$ 120,00 à vista ou 2 de R$ 60,00
Para jornalistas, estudantes de Jornalismo não sindicalizados e demais profissionais
R$ 180,00 à vista ou 2 de R$ 90,00
ATENÇÃO
Os que já participaram dos cursos (EXCETO das atividades gratuitas: seminários, cursos e palestras) têm direito a desconto, consulte a tabela com o Departamento de Formação
METODOLOGIA: Apresentação conceitual sobre a lei de resíduos sólidos, cases de sucesso, as necessidades de adaptação e ao surgimento de uma nova realidade e novos negócios promissores em áreas diversas. Participação em discussões, dinâmicas, trabalhos em sala, análise de casos etc.
Docente: Reinaldo Canto é jornalista há 31 anos com passagens pelas principais empresas de televisão e rádio do Brasil. Foi diretor de Comunicação do Greenpeace Brasil, coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e colaborador do Instituto Ethos de Responsabilidade Social. Colaborador da Envolverde e colunista da Carta Capital
PROGRAMA:
1 – Panorama do consumo de matérias-primas:
- Esgotamento dos recursos naturais;
- Análise da situação das reservas de matérias-primas;
- Consumo exagerado de insumos básicos;
2 – Desperdícios e armazenamento de lixo:
- Sociedade do consumo e do descartável;
- Materiais reutilizáveis e/ou recicláveis;
- O colapso do armazenamento de lixo nas grandes cidades;
3 – Conhecendo as origens de um produto:
- Ciclo de vida e cadeia produtiva;
- Consequências atuais dos descartes irresponsáveis;
- Logística Reversa e seus benefícios;
- Os principais termos referentes ao tema (manufatura reversa; obsolescência programada; etc)
- Panorama geral da coleta seletiva;
4 – A Lei dos Resíduos Sólidos:
- Histórico da aprovação da PNRS;
- Principais pontos e desafios (setores Público, Privado e Terceiro Setor);
- O que e quando deverá ser implementado;
- Responsabilidade Compartilhada;
5 – Novos Negócios/Novas oportunidades:
- Empreendedorismo em alta;
- Catadores de resíduos e sua capacitação;
- Projetos em parceria com o Poder Público;
- A industrialização dos resíduos;
- O Futuro conectado aos projetos de desenvolvimento limpo.
Para pagamento:
No Sindicato: Rua Rego Freitas, 530 - Sobreloja, de segunda à sexta, das 9h15 às 11h45 ou das 13h15 às 17h45
ou depósito bancário: Santander - Agência 0083 - Conta Corrente 13.001.669/9
Favorecido: Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo,
CNPJ 62.584.230/0001-00
Importante: Enviar o comprovante para cursos@sjsp.org.br ou para o fax (11) 3217 6299 ramal 6240
Atenção: Optando pelo pagamento parcelado, entregar os cheques pré-datados no 1o. dia de aula.
Outras formas e datas para pagamento, consulte o Departamento de Formação.
ACEITAMOS CARTÃO DE CRÉDITO. Consulte o Departamento de Formação
CERTIFICADOS: Todos os participantes receberão cerficados
Atenção:
- antes do início do curso: ressarcimento de 85% do valor pago;
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21 agosto 2012
NOVO CURSO: DIREITO AMBIENTAL
Direito Ambiental
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A realidade jurídica socioambiental e os principais processos para a sua
aplicação
Local: São Paulo
Data:21 de setembro de 2012 - 6ª feira - das 10h às 19h Facilitador: Ivan Mello , Reinaldo Canto Carga Horária: 8 horas |
Todos os dias surgem novas oportunidades e novos nichos de mercado, pois
estamos carentes de profissionais qualificados para o atendimento destas
demandas. Dessa forma, neste treinamento serão apresentados os princípios do
Direito Ambiental aplicado e a análise dos principais processos para a sua
efetiva aplicação.
Conteúdo
Programático:
- Princípios de Direito Ambiental
- Histórico do Direito no Mundo
- Princípios jurídicos
- Direitos Humanos – 1ª 2ª e 3ª geração
- Conceitos Gerais sobre Meio-Ambiente
- Histórico do Direito Ambiental no Brasil
- A Tutela Constitucional do Meio-Ambiente
- Responsabilidade socioambiental
- Princípios Ambientais
- Metas ambientais
- Responsabilidade Civil Ambiental
- Cidadania e Meio Ambiente
- Administração Pública e Meio Ambiente
- Características e aspectos jurídicos da poluição
- Responsabilidade Administrativa, civil e penal no âmbito socioambiental
- Prevenção ou Precaução
- In dubio pro natura
- Equivalência ou equilíbrio
- Publicidade e participação popular
- Cooperação
- Progressividade
- Seletividade e Essencialidade
- Poluidor-pagador
- Função socioambiental da propriedade
- A questão da Biodiversidade e sua relevância sócio-econômica e cultural
- Lei da Política Nacional do Meio Ambiente
- Constituição Federal
- Lei dos Crimes Ambientais
- Lei da Politica Nacional de Recursos Hídricos
- Lei da Politica Nacional de Educação Ambiental
- Lei da Politica Nacional de Saneamento básico
- Lei da Politica Nacional de Mudanças Climáticas
- Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos
- Normas de proteção ambiental
- Licenciamento ambiental nas três esferas
- APA’s a APP’s
- Certificações ambientais
- Selos Verdes
IMPÉRIO DO AUTOMÓVEL TOMA DE ASSALTO AS CIDADES DO INTERIOR
Por Reinaldo Canto*
Viver no interior, longe da agitação das grandes metrópoles,
já não pode ser automaticamente classificado como um sinônimo de qualidade de
vida. Aquela ideia de que seus habitantes
convivem com uma rotina menos estressante sem congestionamentos e a
volta para casa durante o dia de trabalho para o desfrute de um tranquilo
almoço em família, começa a fazer parte do passado.
O tráfego pesado e a perda de tempo em trânsitos cada vez
mais demorados e complicados atingem cada vez mais as grandes, médias e até
mesmo as pequenas cidades do interior.
Segundo dados divulgados pelo Departamento Estadual de
Trânsito, o Detran de São Paulo, a frota de veículos do interior e da Grande
São Paulo crescem com o dobro da velocidade
em comparação com a capital paulista. Em um ano a cidade de São Paulo teve um
acréscimo de 213.291 veículos, o que corresponde a um crescimento de 3% no
total da frota, enquanto nas outras regiões do estado houve um aumento, no
mesmo período, de 1.159.526, ou seja, 7,6% mais automóveis.
As informações referentes ao mês de maio constataram que o
número total dos chamados veículos motorizados no estado atingiu a marca de
23.520.527, sendo que desse número, 7.274.917 correspondem aos veículos da
capital.
O fenômeno já podia ser sentido por quem reside ou trafega
com frequência em cidades grandes e médias de São Paulo. Trajetos que até pouco
tempo eram vencidos com bastante facilidade, hoje são percorridos com um grau bem maior de dificuldade.
Cidades como São José do Rio Preto (1,31 habitante/por
automóvel), Araçatuba (1,34), Ribeirão Preto (1,39) e Jundiaí (1,41),
localizadas em diferentes regiões de São Paulo, são algumas das que lideram o
ranking e ganham da capital (1,54 habitante/automóvel) na proporção de veículos
por pessoa.
Mais do que trazer orgulho aos seus habitantes pela
conquista do veículo próprio e dos sinais aparentes de “progresso”, a aposta e
o incentivo ao transporte individual requer do poder público o estabelecimento
de ações que busquem equacionar a nova realidade do tráfego urbano.
Como já ocorre nas grandes cidades uma porcentagem maior do
orçamento terá de ser destinado a obras viárias, entre elas, alargamento ou
construção de vias; novos viadutos; túneis e etc. Em geral, a consequência mais
nítida é a transformação radical do espaço público privilegiando os carros em
detrimento do espaço destinado às pessoas e aos meios alternativos de
transporte como bicicletas. Aliás, o uso de bicicletas tão comum em cidades
menores, corre o risco, com o aumento no número de carros, de se transformar numa
atividade cada vez mais perigosa, caso não receba atenção especial das
autoridades municipais de trânsito.
Enquanto continuarmos apostando todas as fichas do
desenvolvimento no incentivo ao consumo e no apoio a compra de veículos sem
qualquer contrapartida, o cenário só poderá ser esse: carros para todos os
lados, trânsitos enlouquecedores, muitas buzinas e mais acidentes.
Agora para sonhar uma vida mais tranquila será preciso
colocar a imaginação para voar ainda mais longe. Talvez seja preciso sonhar com outra
dimensão, pois por estas bandas está cada vez mais difícil.
*Reinaldo Canto é jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de
Comunicação do Greenpeace e coordenador de Comunicação do Instituto Akatu. É
colunista da revista Carta Capital, colaborador da Envolverde e professor de
Gestão Ambiental na FAPPES.
Artigo publicado originalmente na coluna do autor no site da revista Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/economia/imperio-do-automovel-toma-de-assalto-o-interior/?autor=599
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Twitter: @ReinaldoCanto
31 julho 2012
O SAGRADO DIREITO DE CONSUMIR O PLANETA II
Por Reinaldo Canto*
É realmente incrível como muitas pessoas se mostram
indignadas quando se discute a cobrança pelo uso da sacolinha plástica ou mesmo
o fim da sua comercialização.
Como afirmei em artigo anterior sobre o tema, sacola
plástica é apenas um símbolo, caráter meramente ilustrativo de uma era na qual
o consumismo exacerbado entorpece os corações e mentes das pessoas. Muitos
confundem o uso desse artigo de uso banal com direitos fundamentais e
inalienáveis a ser defendido em trincheiras e a força de baionetas.
Por mais que tenha ressaltado a pouca relevância que o
banimento ou não das sacolinhas teria sobre os verdadeiros embates, aliás
inadiáveis, relacionados à proteção ao meio ambiente, alguns comentários
fizeram questão de afirmar o contrário. Disseram ser uma “falácia”, entre
outras adjetivações diante de tantos produtos embalados com matéria plástica.
Para essas pessoas parece que vivemos num mundo em que o
cidadão/consumidor age da maneira mais correta possível, sendo responsável,
consciente e cumpridor de seus deveres. Diante de tantas virtudes, nada mais
lhe caberia fazer. E, se problemas existem, todos eles residem nos governos
corruptos e nas corporações gananciosas.
Não seremos nós, pessoas de bem, que deveríamos abrir mão do
mínimo que seja para forrar ainda mais os bolsos já cheios dos grandes
exploradores.
São também os mesmos que defendem, até mesmo com
lágrimas nos olhos, os direitos dos mais pobres, como afirmou esse leitor: “vá até a periferia de São Paulo e veja
nos supermercados como ficou a vida daqueles que fazem suas compras e não
dispõem de automóveis para o transporte dos produtos”. Quer dizer que além de não lhes darem carros
ainda tiram dos mais pobres as sacolinhas? Essa é realmente uma maldade acima
do aceitável!
A confusão
entre direitos sociais e consumo se amplia exponencialmente quando acreditamos
que todas as pessoas, além do divino direito as sacolas plásticas, faz jus também
a um carro. As cidades brasileiras, grandes e médias, já não suportam tantos
veículos de transporte individual. Estamos desfigurando a paisagem urbana,
gastando milhões, bilhões para fazer frente a uma realidade impossível de se
perpetuar. O real direito de ir e vir
com segurança, comodidade e rapidez é substituído pelo transporte próprio que,
na maioria dos casos, não garante os direitos descritos anteriormente e além do
mais custa muito caro.
Nada mais desonesto do que afirmar a pureza de uma sociedade
longe que está de adotar as melhores práticas de convivência civilizada,
harmoniosa e solidária. Tratamos os espaços públicos como terra arrasada,
jogamos lixo nas ruas, rios e lagos, inclusive as sacolinhas que
angelicalmente, todos afirmam armazenar seu lixo.
Vivemos durante longo período uma triste e cruel ditadura responsável
pela supressão de direitos, aí sim fundamentais. Tudo era imposto de cima para
baixo e a sociedade estava à mercê de grupos encastelados no poder e
determinando o que se podia ou não fazer.
Hoje não temos mais
essa ditadura, mas interesses de alguns continuam a prevalecer sobre os da
maioria. Agora, é preciso entender que se queremos usufruir de direitos é
necessário também sermos responsáveis.
São Paulo
Insustentável
A nova realidade de uso indiscriminado dos recursos naturais
coloca em cheque um estilo de vida perdulário e injusto. Sacolas plásticas,
carros, lixo, poluição, contaminação, estresse, consumismo, obesidade e tantas outras questões
relativamente novas são alguns nomes e símbolos dos enormes desafios da
sobrevivência que estão colocados, gostemos ou não deles.
Recente estudo da
organização não governamental WWF (World Wildlife Fund) com a consultoria
Ecossistemas concluiu que o paulistano tem um estilo de vida
insustentável. Isso significa que se
todos os habitantes do planeta tivessem o mesmo que os habitantes da capital
paulista seriam necessários 2,5 planetas.
Para essa conclusão são levadas em conta as emissões de carbono, hábitos
alimentares, como o de comer carne, moradia, lazer e consumos diversos.
Uma situação típica em que direitos e deveres são colocados
lado a lado. Não podemos abrir mão de
sermos protagonistas nessa discussão. Qual o meu direito de comprometer o
futuro dos meus filhos, da minha cidade e do meu planeta? Com a palavra o leitor/eleitor/cidadão/consumidor.
*Reinaldo Canto é jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de
Comunicação do Greenpeace e coordenador de Comunicação do Instituto Akatu. É
colunista da revista Carta Capital, colaborador da Envolverde e professor de
Gestão Ambiental na FAPPES.
Artigo publicado originalmente na coluna do autor no site da revista Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-sagrado-direito-de-consumir-o-planeta-2/?autor=599
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03 julho 2012
O SAGRADO DIREITO DE CONSUMIR O PLANETA
Por Reinaldo Canto*
A farra das sacolas
plásticas está de volta por decisão da Justiça
Para alegria
de muitos, a obrigatoriedade da entrega gratuita e indiscriminada das
famigeradas sacolinhas plásticas nas redes varejistas de São Paulo retorna por
determinação legal.
Nesse novo round, a Justiça invalidou o acordo
firmado entre o Governo Estadual e a Associação Paulista de Supermercados
(APAS), que previa a cobrança pelas sacolas no ato da compra. A Associação
prometeu recorrer, mas afirmou que irá cumprir a determinação.
A Justiça
levou em conta argumentos como o de direito adquirido anteriormente pelos
consumidores e os lucros financeiros com a venda das sacolas que já eram
embutidos nos preços dos produtos.
Quanto ao
segundo argumento nada a contestar, acredito realmente que seria justo debater essa questão e achar uma alternativa
não lesiva aos consumidores. As sacolas “gratuitas” eram realmente uma ilusão,
o consumidor sempre pagou por elas, mesmo sem saber disso.
Agora,
quanto a um direito adquirido, isso é no mínimo, algo difícil de aceitar! O
Código de Defesa do Consumidor brasileiro é um dos mais avançados do mundo e possui
em seus artigos um arcabouço legal de proteção aos direitos das pessoas, dos
consumidores contra a ganância, a irresponsabilidade e o poder econômico de
empresas e governos, na venda de produtos e na prestação de serviços. Por outro
lado, é preciso também entender que os consumidores, antes de tudo cidadãos,
possuem também responsabilidades.
As sacolas
plásticas são simbólicas nesse sentido. Se ao mesmo tempo os consumidores podiam
e novamente podem adquirir quantas delas achar necessário, eles também se sentem
no direito de descarta-las como e onde considerarem convenientes. Afinal, esse
consumidor não paga impostos?
A falsa
sensação da “sacolinha grátis” sempre fez com que esse artigo banal de consumo
não tivesse valor nenhum. Por essa razão, são inúmeros os exemplos de sacolas
“jogadas” em qualquer lugar. Muitas delas podem ser vistas cotidianamente e sem
nenhum esforço, basta olhar a sua volta, nos rios, mares, ruas e praças. Foram, por acaso, os marcianos que as
deixaram nesses locais? Não, foram os consumidores que possuem direitos
inalienáveis de fazer o que bem entenderem com elas.
Aos sempre
indignados com quaisquer mudanças que firam o ciclo insano do consumismo,
poderão afirmar não desprovidos de alguma razão, que tal proibição não resolve
nossos problemas de geração de lixo, de poluição e que existe uma infinidade de
produtos embalados em plástico pelos próprios fabricantes, etc, etc...
Tudo isso é
verdade! O que não altera a urgente necessidade de mudanças na maneira como
consumimos. A restrição no uso indiscriminado de sacolinhas plásticas tem um
caráter eminentemente simbólico e, bem ou mal, o consumidor já tentava se
adaptar a uma nova realidade com o uso de sacolas retornáveis. A Justiça freiou
esse processo, no meu entender de modo pouco inteligente.
Muitas
outras ações precisarão ser tomadas e implementadas com urgência, pois nossos
problemas ambientais só tendem a crescer de maneira exponencial nos próximos
anos. Se formos contar com a boa vontade das pessoas e a conscientização
voluntária, estamos condenados a acelerar cada vez mais a destruição dos nossos
recursos. É preciso dar passos rápidos no caminho para um mundo menos
insustentável.
A questão é não
ser possível acreditar que está tudo bem se a cada dia surgem novas informações
colocando mais e mais pressão sobre o planeta. O Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (PNUMA) calculou que a humanidade consumia em 2005, 60
bilhões de toneladas de recursos anualmente. Isso dá um consumo de 9 toneladas
para cada habitante do planeta. De lá
pra cá, não é preciso ser especialista, esses números só podem ter crescido.
Novamente
espero a manifestação daqueles revoltados que ficam aboletados em suas
poltronas prontos a criticar sem propor absolutamente nada: - Quer dizer que
você acredita que acabar com as sacolas plásticas vão resolver todos os nossos
problemas!
Se tivermos
sempre a atitude de contestar qualquer medida de limitação aos nossos
insustentáveis hábitos de consumo e tudo for visto como algo que: irá ferir
direitos e confortos pétreos e imutáveis, isso irá significar que num futuro
pouco distante, vamos conviver com restrições ainda mais severas. Elas,
invariavelmente, deverão ser tomadas de cima para baixo, impostas arbitrariamente
e penalizando, como sempre, primeiro os mais pobres.
Pense nisso
e enxergue um pouco além das sacolas plásticas. O problema é muito maior que o
plástico, mas também passa por ele!
*Reinaldo Canto é jornalista, consultor e
palestrante. Foi diretor de Comunicação do Greenpeace e coordenador de
Comunicação do Instituto Akatu. É colunista da revista Carta Capital,
colaborador da Envolverde e professor de Gestão Ambiental na FAPPES.
Artigo publicado originalmente na coluna do autor no site da revista Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-sagrado-direito-de-consumir-o-planeta/?autor=599
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