
28 fevereiro 2014
24 fevereiro 2014
PODER PÚBLICO E AQUECIMENTO GLOBAL
O decisivo apoio à
redução das emissões passa pelo entendimento sobre as suas consequências e a adoção
de medidas que tragam bons resultados
Desde 2007 uma portaria da Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal do Verde e
Meio Ambiente da capital paulista, definiu a obrigatoriedade de se
compensar a emissão de gases de efeito estufa (GEEs) de todos os eventos
realizados em parques municipais da
cidade. Essa portaria define o plantio de árvores como a forma correta de se
cumprir a determinação legal.
A Iniciativa Verde
é uma das organizações que tem participado deste processo, sendo contratada por
algumas das empresas para compensar a emissão de seus eventos. Graças a portaria, a Iniciativa Verde compensou mais de 100 eventos e plantou cerca de
40 mil árvores correspondentes a 24 hectares, o equivalente a dois Parque da
Aclimação que possui 112 mil m².
Além da aprovação da Secretaria do Verde, as empresas
organizadoras desses eventos receberam também o selo Carbon Free atestando a
compensação dos impactos gerados pela emissão de gases de efeito estufa. Todas
as árvores plantadas pela Iniciativa Verde são nativas da Mata Atlântica e
contribuem para recuperar áreas degradadas e ajudam a proteger mananciais e fontes
de água. Entre os eventos mais conhecidos do público compensados pela
organização podemos destacar o São Paulo Fashion Week e o Festival de Cultura
Japonesa.
Para Lucas Pereira, diretor da organização e responsável
pelo Carbon
Free, a portaria é muito positiva, pois: “contribui para a mitigação do
carbono equivalente emitido, mas também serve de ação educativa e
conscientização e que pode tranquilamente ser adotada por outras cidades e
mesmo áreas privadas de eventos”.
Maiores responsabilidades
do setor privado
Entre os principais argumentos utilizados para a adoção da
portaria, estava a necessidade de reduzir os impactos ambientais, o que no caso
dos parques, em exposições artísticas, culturais e atividades esportivas e de
lazer, causados, entre outros, no deslocamento de pessoas para participar desses
encontros, além dos consumos de água e energia e na geração de resíduos. Tudo sendo
contabilizado e transformado em carbono equivalente.
O fato de um crescente movimento de empresas buscarem
compensar voluntariamente suas emissões também é destacado na portaria como uma
tendência global e que, portanto, a Prefeitura não estaria “inventando a roda”
ou trazendo dificuldades para os organizadores de eventos, mas sim cumprindo
seu papel em legislar a favor da sociedade.
O sucesso da medida
merece ser preservado
A Iniciativa Verde também considera fundamental manter intacto o
princípio básico da portaria que destaca: “A
empresa, associação ou indivíduo responsável pelo evento deverá apresentar, no
ato da assinatura do termo de responsabilidade, a estimativa técnica das
emissões de GEE que serão geradas pela atividade e a compensação dessas
emissões EM PLANTIO DE ÁRVORES”. Para o presidente da organização, Roberto
Resende, a possibilidade de se utilizar de outras formas de compensação sem o
plantio de árvores, pode ser mais barato para os organizadores, mas mesmo que
também tenha o seu valor, acaba por enfraquecer os objetivos propostos pela
portaria. Segundo ele, “o plantio de árvores é uma alternativa de
compensação superior a outras, como os créditos de Carbono, pois reúne vários
benefícios. Além do efeito global também contribui localmente, ao melhorar a
paisagem, proteger os recursos hídricos e a biodiversidade. Este tipo de
projeto também gera emprego e renda mais perto das atividades que provocaram as
compensações. É muito melhor quando um projeto pode, além de contribuir para
mitigar as mudanças climáticas, proteger os mananciais da cidade”.
Desta forma a Iniciativa
Verde tem discutido com outras ONGs e agentes públicos não só a manutenção
desta norma, mas a sua ampliação, tanto em formato legal quanto em efeitos. A
proposta é apresentar um Projeto de Lei para tornar obrigatória a realização de
inventários e de compensações, pelo plantio de árvores, por todos os eventos de
grande porte realizados na cidade de São Paulo.
Além do caráter educativo, a nova lei pode ampliar, sem
onerar significativamente o setor, a possibilidade de financiamentos de
projetos de recuperação florestal de interesse da população paulistana.
Se quiser saber mais sobre o trabalho da Iniciativa Verde,
acesse: www.iniciativaverde.org.br
Reinaldo Canto
Assessoria de Imprensa
Iniciativa Verde
Fone: 11 3647-9293 e 11 9 9976-1610
21 fevereiro 2014
ÁGUA: A CRÔNICA DA FALTA DE BOM SENSO
Os problemas de abastecimento são reflexos do mau uso e desperdícios generalizados.
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Por Reinaldo Canto*
É claro que esse estado de coisas deve ser considerado atípico, mas diante da crise anunciada e um iminente “apagão” no fornecimento desse líquido precioso, lá vamos nós caçar os culpados da hora!! A mídia responsabiliza governos pela ausência de investimentos no setor. Os partidos pró e contra defendem ou atacam conforme a conveniência e a população reclama de todos afirmando que pagam suas contas em dia e, portanto, não aceitam abrir mão do direito de ter água nas torneiras e chuveiros sempre que quiserem fazer uso dela. Afinal, foi o fenômeno climático, como consequência do aquecimento global, o maior responsável pelas altas temperaturas e pela ausência de chuvas? Em parte podemos até afirmar que sim. Mas depender totalmente dos ciclos de chuva do bom comportamento climático, apenas revela um despreparo muito grande e que deve realmente assustar a todos nós. Então, a quem cabe a maior responsabilidade? Acredito que seja da visão limítrofe generalizada que ainda é capaz de dar pouca importância a esse insumo fundamental para a vida de todos. Façamos um exercício bastante simples. Imagine a falta de muitos serviços que temos à disposição dentro das nossas casas. Pense que durante um período você ficará totalmente sem energia elétrica, sem telefone ou mesmo sem dispor da internet e da televisão a cabo. Muito ruim sem dúvida e que podem trazer prejuízos diversos. Agora reflita sobre a total ausência de água. Sem entrar na individualização dos problemas acarretados por cada um desses serviços, o que naturalmente o obrigaria a sair de casa para buscar uma solução é exatamente a água. Ela não é apenas vital para o nosso dia a dia, pessoal ou profissionalmente como tantos outros, é basicamente uma questão de sobrevivência. Agora, com raras exceções, o mais essencial é, invariavelmente, o mais barato de todos. É ao final das contas uma impressionante inversão de valores, o que é mais importante custa menos que o supérfluo... e vice-versa. Nessa hora prevalece a lógica do famigerado mercado tão pouco afeito a enxergar além do curto prazo. Esse olhar distorcido é o primeiro responsável pela nossa crise de abastecimento de água. Depois dele tudo vai se complicando numa espiral de problemas sobrepostos.
Cidadania também em falta
Senão, vejamos. Recentemente o escritor Ignácio de Loyola Brandão publicou em sua coluna no jornal O Estado de São Paulo diversos diálogos mantidos por ele com pessoas que faziam uso da água da pior maneira possível. Estavam elas a varrer calçadas com a mangueira ou a lavar carros pouco preocupadas com o desperdício de litros e litros de água tratada. Ao questionar esses indivíduos, as respostas dadas ao conhecido escritor foram, invariavelmente, semelhantes, indo de um simples: “cuide de sua vida” a um “pago a água e gasto quanto quiser”.Atitudes típicas de um individualismo contemporâneo e nefasto. Essas pessoas agem como se não houvesse interesses coletivos que estão acima dos seus de gastar água como bem entendessem. Temos direito a água, certamente. Mas também temos o dever de fazer uso racional dela. Acima de tudo, a água deve ser percebida como bem comum. Então as famílias são as grandes responsáveis pelos nossos problemas de abastecimento? Calma aí, não foi isso que eu disse. Existem ainda outros atores nessa equação.
As enormes perdas do sistema
Segundo a ABES (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental) as companhias de abastecimento de água no Brasil são responsáveis por uma perda média que chega a absurdos 40%. Mas existem empresas de saneamento que perdem até 60%. Um volume de água impressionante que é desperdiçado e que contribui fortemente para a atual situação.E esse desperdício reverte em um círculo vicioso e pernicioso. Quanto mais se perde água, menos a empresa responsável pelo abastecimento será capaz de investir recursos para melhorar o sistema e trabalhar para a redução dessas mesmas perdas. Ainda, de acordo com a ABES, são diversas as razões para a manutenção desse cenário, entre elas, podemos destacar a falta de quadro de profissionais capacitados; escassez de equipamentos, a baixa capacidade de financiamento como já citado e por fim, a ausência de uma coordenação geral redundando em uma gestão ineficiente do sistema. Então, leitor você poderá raciocinar, aí estão as grandes responsáveis, ou seja, as companhias estaduais de abastecimento de água. Aí serei obrigado a pedir um pouco mais de paciência para suas conclusões definitivas.
Governos e suas campanhas oficiais
A crise tomou tal proporção que, em São Paulo, o Sistema Cantareira, um dos principais responsáveis pelo abastecimento dos cerca de 20 milhões de habitantes da região metropolitana atingiu a marca histórica de 18,8% no nível de sua represa. Diante desse fato, o governo do estado, por meio da Sabesp, a companhia de abastecimento paulista decidiu por uma medida a altura do momento (estou sendo irônico). Uma campanha em forma de súplica pedindo às pessoas que economizem água em troca de uma redução de 30% na conta mensal.O tom dado por essa campanha seria, mal comparando, o mesmo que premiar a honestidade ao invés de punir severamente os desonestos. Essa comunicação perde a oportunidade de ir além, chamar à responsabilidade o conjunto da sociedade, conscientizar sobre ações efetivas de bom uso da água e ao mesmo tempo aqueles que mantiverem hábitos contrários aos da maioria da população, deveriam receber severas multas. Também não precisaríamos chegar ao momento atual para a realização de campanhas visando à economia de água. Elas deveriam ser permanentes e cotidianas, até que um novo comportamento, simplesmente, as tornasse desnecessárias. O governo de São Paulo erra ao criar uma campanha mais preocupada em não desagradar, de olho que está no ano eleitoral. O medo da crítica é maior do que a busca por uma solução. Se é assim que o cidadão/eleitor enxerga, portanto, a responsabilidade até pela campanha pouco incisiva também pode ser dividida com ele pois é, exatamente essa postura de não aceitar restrições impostas pelo setor público ao “sagrado direito de fazer o que bem entender”, que contribui para a omissão do governo diante de ações urgentes a serem tomadas que precisam, sim ser compartilhadas com a sociedade. A iniciativa privada, indústrias, o agronegócio, enfim, o setor produtivo, tem na água um dos insumos imprescindíveis para a existência de seus negócios. Algumas empresas têm feito esforços na reutilização da água, na redução do consumo e no tratamento, mas também existem muitas delas que pouco fazem nesse sentido e precisam com urgência rever suas estratégias, pois tudo faz crer que serão muito cobradas no futuro por sua falta de ação no presente. Em resumo, caro leitor, o que quero dizer é que somos, com medidas e pesos diferentes, corresponsáveis pelos avanços, retrocessos e pela atual falta de água. Como disse lá no começo desse artigo, um novo olhar, uma nova reflexão sobre a verdadeira relevância das coisas e um compromisso compartilhado precisará ser assumido por todos os setores da sociedade. Hoje o problema é a água, amanhã será a energia, assim como a questão dos resíduos, poluição, mobilidade urbana, etc, etc, etc. estão todos colocados e já batem à nossa porta. Para vivermos de maneira mais sustentável, justa e equilibrada, não se deve esperar milagres, mas a participação de todos. Cuide da água, assim como de tudo que você considera importante. | |
NINGUÉM SEGURA RICKY RIBEIRO
O respeitado especialista em mobillidade urbana luta contra a paralisia do seu corpo.
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Por Reinaldo Canto*
Com o apoio da família, o paulistano não cedeu à depressão. Decidiu aproveitar o tempo que lhe resta em vez de se render à doença. “Em primeiro lugar, busquei formas de combater a ELA e aproveitei bastante cada momento em que não estava em tratamento. Fiz curso de fotografia, estudei política, visitei parques e encontrei meus amigos.” Todas as suas respostas neste texto foram enviadas por e-mail, a partir de um computador adaptado às suas atuais necessidades, pois ele não consegue mais falar. É uma batalha contra a imobilidade. No início, Ribeiro valia-se de um andador. Mais tarde, precisou ser transferido para uma cadeira de rodas. Sua força continuou a diminuir, até perder por completo os movimentos. As dificuldades em se deslocar em uma cidade como São Paulo, cheia de obstáculos para quem não consegue se locomover com facilidade, levou o administrador formado pela Fundação Getulio Vargas a canalizar seu drama para uma atividade social e política. Em 2011, Ribeiro criou o portal Mobilize Brasil (www.mobilize.org.br), dedicado ao debate sobre a mobilidade urbana. Em pouco tempo, o site tornou-se uma referência, por reunir dados a respeito do tema no País e no mundo, publicar estudos inovadores, facilitar o diálogo de especialistas e interessados no assunto e promover campanhas pelo direito dos cidadãos. Mesmo antes de descobrir a doença, Ribeiro deixava transparecer um espírito público incomum na sua geração. Depois de um mestrado em Sustentabilidade na Espanha, ele retornou ao Brasil e fundou com colegas a Abaporu, associação especializada em projetos de educação, cidadania e cultura. A experiência na Europa foi fundamental para amalgamar sua visão de mundo. “Pude constatar que a qualidade de vida das pessoas pode ser infinitamente maior em uma cidade com uma disposição urbana inclusiva, que valoriza os espaços públicos, estimula a convivência social entre diferentes grupos e classes e prioriza os meios de transportes públicos e não motorizados. Depois de usufruir, durante dois anos e meio, desse estilo de vida, comecei a estudar o assunto e a vislumbrar maneiras para melhorar a vida das pessoas nas cidades brasileiras.” Aos 33 anos, mesmo limitado pelo desenvolvimento da doença, Ribeiro permanece na ativa. Trabalha de oito a dez horas por dia. “O Mobilize tem ocupado praticamente todo o meu tempo disponível, a não ser durante as duas seções diárias de fisioterapia e uma de fonoterapia. Só tenho conseguido me dedicar a outras atividades eventualmente um pouco antes de dormir, quando leio coisas de meu interesse ou vejo um filme, e em boa parte dos fins de semana, quando recebo visitas.” Além do fundador, o portal tem sete funcionários, entre eles sua mãe, Cristina Ribeiro. Ex-diretora de uma empresa em São Paulo, ela mudou sua vida por causa da fatalidade e hoje divide-se entre o tratamento do filho e o Mobilize. Ela evita descrever suas angústias. “Ele não reclama de nada. Não serei eu que farei isso.” Segundo a mãe, Ribeiro é obcecado por números e essa característica tem contribuído para o site se tornar uma importante fonte de pesquisa, até para o setor público. Recentemente, o prefeito de Manaus apresentou um plano de recuperação das calçadas após a cidade receber as piores notas em uma campanha criada pelo Mobilize, o “Calçadas do Brasil”. Ribeiro não perde a esperança. Baseia-se no fato de até agora ter vencido os prognósticos fatídicos que lhe davam um tempo menor de vida. Espera recuperar os movimentos e usufruir das conquistas defendidas pelo Mobilize, da possibilidade de viver em uma cidade onde seja pleno o direito de ir e vir. “O portal trouxe um novo sentido para mim, mais um grande motivo para seguir lutando pela vida.” Se depender de fibra, seu futuro será longo.
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05 fevereiro 2014
“TEMPO NÃO É DINHEIRO”
Blog PoupeCompre vai
ajuda-lo a fazer bom uso do seu tempo e do seu dinheiro
Você já deve ter ouvido essa frase inúmeras vezes. Mas se
tem algo que não corresponde à verdade é exatamente esse tipo de afirmação!
Tempo, antes de mais nada, é vida. Algo tão precioso que não
pode ser transformado simplesmente em... dinheiro. Por essa razão ao pensar em
seus gastos e compras do dia a dia leve em conta o quanto do seu tempo dedicado
ao trabalho é transformado em dinheiro e depois em produtos e serviços.
Nós dissemos tudo isso para anunciar a chegada do blog
PoupeCompre, uma nova ferramenta a seu dispor e que vai ajuda-lo na difícil
tarefa de fazer as melhores escolhas. Boas para o seu bolso, para a sua
qualidade de vida e, claro, boa também para o seu prazer em comprar algo que
lhe proporcione o máximo de satisfação.
Aqui no Blog PoupeCompre publicaremos artigos, dicas e
notícias que vão contribuir para que você atinja os seus objetivos de comprar
da maneira mais inteligente, organizar melhor suas despesas e reduzir suas
dívidas.
Consumir é bom e com consciência, você verá, é melhor ainda.
Agora que você já utilizou um pouco do seu precioso tempo
para ler essas linhas, nós do blog Poupe Compre o convidamos para registrar seu
nome e email e receber gratuitamente nossas informações. www.blogpoupecompre.com.br
Seja muito bem-vindo!!
Reinaldo Canto/Editor
A LEGÍTIMA OCUPAÇÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS
Coluna de Reinaldo Canto sobre Sustentabilidade que foi ao ar no Programa Observatório do Terceiro Setor, na Rádio Trianon - terça-feira 04/02/2014
Caro Joel, convidados e ouvintes do observatório desde o ano
passado temos assistido uma interessante mudança comportamental que tem se
tornado a cada dia mais clara para todos: a até que tardia reação a triste e dolorosa
segregação social.
Claro que isso vem de muito tempo e esteve representada em
políticas públicas pouco includentes ou mesmo excludentes, acompanhadas de
movimentos do chamado mercado que tentou até agora dar respostas aos anseios
das classes mais privilegiadas.
Que movimentos e políticas públicas? Então
vamos lá: os investimentos em condomínios fechados, shopping centers, obras
viárias que privilegiam o automóvel acompanhados de não investimentos em
calçadas minimamente transitáveis, a ausência de investimentos em áreas de
lazer, parques e praças para todos, notadamente na periferia. Tudo isso
significando no fim das contas, um processo de separação entre as pessoas por
classes sociais.
Uma comparação com o que tem ocorrido com os chamados
rolezinhos é a situação de nossos rios que ao longo do século passado foram
sendo aterrados, cobertos e canalizados como se não merecessem ser cuidados e
fazer parte da nossa paisagem. Sempre em épocas de chuvas fortes as vezes vemos
a reação desses rios, que teimam em dizer que ali estão, que não adianta
enterra-los vivos, pois em algum momento, suas águas irão transbordar mostrando
a sua dor por tantos maus-tratos. Será que os rolezinhos não representam um
transbordamento social daqueles que permaneceram escondidos e distantes de
maneira nada natural, mas que ao jogar suas águas fora de margens estabelecidas
pelo sistema passam a incomodar?
Mais que ser a favor ou contra os rolezinhos, esse é um
fenômeno que deve levar a uma profunda reflexão de todas as barreiras
artificiais que tentam nos impor.
Por residir bem próximo à Avenida Paulista e acompanhar
diariamente todo o seu dinamismo, convido nossos ouvintes a fazer uma reflexão:
se caso tivéssemos mais locais
democráticos onde são possíveis ver e conviver com tantas e tão diversificadas
tribos e classes sociais, será que não viveríamos em uma cidade mais saudável,
solidária e feliz?
Nesse caso acredito que as águas das diferenças poderiam
majestosamente correr de um jeito livre sem os obstáculos do preconceito e da
segregação entre as pessoas.
16 janeiro 2014
Carro: o cigarro do século 21?
Até pouco tempo incontestável, o automóvel já não ocupa mais o mesmo lugar no imaginário das pessoas.
Por Reinaldo Canto*
Por Reinaldo Canto*
Muita gente talvez não concorde. Pode ser também que exista uma dose de exagero na afirmação. Ou será que não? O certo é que temos observado um inédito questionamento ao império do automóvel.
Soberano ao longo de muitos anos e cercado de toda admiração. Assim foi a trajetória do carro. Agora muitas vozes se levantam contra ele como um grande problema, a perturbar a vida de todos. Aliás, não parece estar ocorrendo um fenômeno semelhante ao ocorrido com o cigarro no século passado? Portanto, guardadas as devidas proporções, será realmente loucura pensar que não assistiremos no século 21 com os veículos de transporte individual o mesmo que ocorreu no passado com o cigarro?
No passado, fumar representava um símbolo de status, charme e elegância. Durante um bom período o consumo de cigarros foi objeto do desejo de inúmeras gerações. Os muitos jovens até arriscavam levar surras paternas se fossem pegos no ato. Celebrizado, entre outros, por Clark Gable, Cary Grant, Rita Hayworth, James Dean e Clint Eastwood, os ícones do cinema entre os anos 40 e 60. Todo mundo que se prezava, naquela época, fumava. E o que aconteceu com o passar do tempo e os mais do que comprovados problemas causados pelo cigarro? Quase a demonização do ato de fumar!
Para as novas gerações fica até difícil explicar que, na maior parte do século 20, fumar em qualquer lugar era a coisa mais comum do mundo. Em bares, restaurantes e até mesmo dentro de claustrofóbicos aviões, os fumantes viviam o auge de seu vício com toda a liberdade. Hoje todos nós sabemos sobre os males causados pelo fumo, inclusive para aqueles expostos a fumaça de cigarros alheios, o chamado fumante involuntário. Cigarro mata e ponto final!
A publicidade ainda tinha o desplante de vincular o fumo à virilidade e à prática de atividades esportivas. Uma barbaridade digna de criminosos!! Não foi por outra razão que, posteriormente, a propaganda de cigarros foi banida dos meios de comunicação.
Bem, não dá para afirmar o mesmo em relação aos carros, ou será que é possível fazer essa relação? Dados divulgados pela ONG Saúde e Sustentabilidade em parceria com vários estudiosos, entre eles, o médico e pesquisador da USP Paulo Saldiva, mostram que a poluição no estado de São Paulo, foi responsável pela morte de quase 100 mil pessoas em seis anos. Só em 2011, a pesquisa revelou que o ar contaminado, boa parte dele vindo de escapamentos de veículos, contribuiu para a morte de mais de 17 mil e 400 pessoas. Esse trabalho é o primeiro de abrangência estadual que fez uma relação direta entre índices de poluição e número de mortes. Portanto, temos aí uma relação carro e saúde semelhante como no passado foi feito entre cigarro e saúde.
Outro interessante ponto de convergência das trajetórias do cigarro e do automóvel está localizado no exercício de sua prática. Como disse antes, fumar era algo exercido com total liberdade até começarem a surgir diversas leis obrigando a exercer o hábito a lugares pré-determinados e o veto total a outros. Hoje em dia, o pobre fumante se vê quase num ato clandestino e de banimento social para poder dar algumas boas tragadas. Isso em prol da saúde coletiva.
Em relação aos carros algo parecido está em processo acelerado de implantação. Recentemente a prefeitura de São Paulo definiu que a velocidade máxima na cidade passou de 60 para 40 quilômetros por hora. A ação visa reduzir as mortes de pedestres e ciclistas vitimados entre outras razões pelo excesso de velocidade. Se somarmos essa a outras medidas em vigor como o rodízio de veículos, a proibição de circular em faixas de ônibus e as restrições para locais de estacionamento, teremos aí mais exemplos de coerção ao livre uso do carro, até pouco tempo praticamente “dono” das ruas e avenidas das cidades contra qualquer planejamento minimamente civilizado de mobilidade urbana que buscasse uma convivência pacífica com outros usuários de transporte público, pedestres e ciclistas.
Sonho da juventude. Quem, como eu, já entrou na casa dos 50 anos de idade sabe bem o que um garoto ou garota de minha época sonhava em ter os 18 anos. Até outras gerações posteriores enxergavam e ainda enxergam no fato de ter um carro o alcance definitivo do mundo adulto e da independência. Isso, claro, ainda não mudou, mas parece ir por um caminho bem diferente.
Uma tendência observada em pesquisas realizadas na Inglaterra e nos Estados Unidos é que os jovens desses países já não possuem o mesmo desejo por veículos particulares. Eles acham mais interessante utilizar transporte público como ônibus e metrô e até mesmo andar de bicicleta. As pesquisas mostram que eles não estão dispostos a gastar boa parte de seus recursos na manutenção de um automóvel. E, além de mais barato, também consideram mais saudável o uso cotidiano de outras modalidades de transporte. Isso significa que a posse do carro próprio está perdendo o encanto? Com o cigarro não se passou algo bastante parecido?
*Artigo publicado originalmente na coluna do autor no site da revista Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/
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