Caro Joel, convidados e ouvintes do observatório desde o ano
passado temos assistido uma interessante mudança comportamental que tem se
tornado a cada dia mais clara para todos: a até que tardia reação a triste e dolorosa
segregação social.
Claro que isso vem de muito tempo e esteve representada em
políticas públicas pouco includentes ou mesmo excludentes, acompanhadas de
movimentos do chamado mercado que tentou até agora dar respostas aos anseios
das classes mais privilegiadas.
Que movimentos e políticas públicas? Então
vamos lá: os investimentos em condomínios fechados, shopping centers, obras
viárias que privilegiam o automóvel acompanhados de não investimentos em
calçadas minimamente transitáveis, a ausência de investimentos em áreas de
lazer, parques e praças para todos, notadamente na periferia. Tudo isso
significando no fim das contas, um processo de separação entre as pessoas por
classes sociais.
Uma comparação com o que tem ocorrido com os chamados
rolezinhos é a situação de nossos rios que ao longo do século passado foram
sendo aterrados, cobertos e canalizados como se não merecessem ser cuidados e
fazer parte da nossa paisagem. Sempre em épocas de chuvas fortes as vezes vemos
a reação desses rios, que teimam em dizer que ali estão, que não adianta
enterra-los vivos, pois em algum momento, suas águas irão transbordar mostrando
a sua dor por tantos maus-tratos. Será que os rolezinhos não representam um
transbordamento social daqueles que permaneceram escondidos e distantes de
maneira nada natural, mas que ao jogar suas águas fora de margens estabelecidas
pelo sistema passam a incomodar?
Mais que ser a favor ou contra os rolezinhos, esse é um
fenômeno que deve levar a uma profunda reflexão de todas as barreiras
artificiais que tentam nos impor.
Por residir bem próximo à Avenida Paulista e acompanhar
diariamente todo o seu dinamismo, convido nossos ouvintes a fazer uma reflexão:
se caso tivéssemos mais locais
democráticos onde são possíveis ver e conviver com tantas e tão diversificadas
tribos e classes sociais, será que não viveríamos em uma cidade mais saudável,
solidária e feliz?
Nesse caso acredito que as águas das diferenças poderiam
majestosamente correr de um jeito livre sem os obstáculos do preconceito e da
segregação entre as pessoas.
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