O respeitado especialista em mobillidade urbana luta contra a paralisia do seu corpo.
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Por Reinaldo Canto*
Com o apoio da família, o paulistano não cedeu à depressão. Decidiu aproveitar o tempo que lhe resta em vez de se render à doença. “Em primeiro lugar, busquei formas de combater a ELA e aproveitei bastante cada momento em que não estava em tratamento. Fiz curso de fotografia, estudei política, visitei parques e encontrei meus amigos.” Todas as suas respostas neste texto foram enviadas por e-mail, a partir de um computador adaptado às suas atuais necessidades, pois ele não consegue mais falar. É uma batalha contra a imobilidade. No início, Ribeiro valia-se de um andador. Mais tarde, precisou ser transferido para uma cadeira de rodas. Sua força continuou a diminuir, até perder por completo os movimentos. As dificuldades em se deslocar em uma cidade como São Paulo, cheia de obstáculos para quem não consegue se locomover com facilidade, levou o administrador formado pela Fundação Getulio Vargas a canalizar seu drama para uma atividade social e política. Em 2011, Ribeiro criou o portal Mobilize Brasil (www.mobilize.org.br), dedicado ao debate sobre a mobilidade urbana. Em pouco tempo, o site tornou-se uma referência, por reunir dados a respeito do tema no País e no mundo, publicar estudos inovadores, facilitar o diálogo de especialistas e interessados no assunto e promover campanhas pelo direito dos cidadãos. Mesmo antes de descobrir a doença, Ribeiro deixava transparecer um espírito público incomum na sua geração. Depois de um mestrado em Sustentabilidade na Espanha, ele retornou ao Brasil e fundou com colegas a Abaporu, associação especializada em projetos de educação, cidadania e cultura. A experiência na Europa foi fundamental para amalgamar sua visão de mundo. “Pude constatar que a qualidade de vida das pessoas pode ser infinitamente maior em uma cidade com uma disposição urbana inclusiva, que valoriza os espaços públicos, estimula a convivência social entre diferentes grupos e classes e prioriza os meios de transportes públicos e não motorizados. Depois de usufruir, durante dois anos e meio, desse estilo de vida, comecei a estudar o assunto e a vislumbrar maneiras para melhorar a vida das pessoas nas cidades brasileiras.” Aos 33 anos, mesmo limitado pelo desenvolvimento da doença, Ribeiro permanece na ativa. Trabalha de oito a dez horas por dia. “O Mobilize tem ocupado praticamente todo o meu tempo disponível, a não ser durante as duas seções diárias de fisioterapia e uma de fonoterapia. Só tenho conseguido me dedicar a outras atividades eventualmente um pouco antes de dormir, quando leio coisas de meu interesse ou vejo um filme, e em boa parte dos fins de semana, quando recebo visitas.” Além do fundador, o portal tem sete funcionários, entre eles sua mãe, Cristina Ribeiro. Ex-diretora de uma empresa em São Paulo, ela mudou sua vida por causa da fatalidade e hoje divide-se entre o tratamento do filho e o Mobilize. Ela evita descrever suas angústias. “Ele não reclama de nada. Não serei eu que farei isso.” Segundo a mãe, Ribeiro é obcecado por números e essa característica tem contribuído para o site se tornar uma importante fonte de pesquisa, até para o setor público. Recentemente, o prefeito de Manaus apresentou um plano de recuperação das calçadas após a cidade receber as piores notas em uma campanha criada pelo Mobilize, o “Calçadas do Brasil”. Ribeiro não perde a esperança. Baseia-se no fato de até agora ter vencido os prognósticos fatídicos que lhe davam um tempo menor de vida. Espera recuperar os movimentos e usufruir das conquistas defendidas pelo Mobilize, da possibilidade de viver em uma cidade onde seja pleno o direito de ir e vir. “O portal trouxe um novo sentido para mim, mais um grande motivo para seguir lutando pela vida.” Se depender de fibra, seu futuro será longo. |
21 fevereiro 2014
NINGUÉM SEGURA RICKY RIBEIRO
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