Seja no caso do acordo firmado entre EUA e China, seja na crise hídrica brasileira, autoridades preferem ações paliativas a entender que existem problemas insolúveis a curto prazo
Nos últimos dias, a temática ambiental recebeu importantes notícias, mas em sentidos opostos. Em primeiro lugar o estabelecimento do acordo climático, estabelecido pelas duas maiores potências econômicas mundiais. Estados Unidos e China, os maiores países poluidores e responsáveis por 45% das emissões de gases de efeito estufa do planeta, finalmente decidiram fixar metas para a redução de suas “pegadas ecológicas”. Certamente isso irá representar uma mudança ao menos simbólica na forma como a questão do aquecimento global e das mudanças climáticas foi tratada até o momento.
Já em terras pátrias e na contramão do proposto pelos líderes da economia mundial está o gerenciamento da crise da água que afeta dramaticamente São Paulo, mas que também assusta outras regiões e estados brasileiros.
Recentes declarações do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e da presidenta da República, Dilma Rousseff, vaticinaram o fim do problema da crise da água com a redentora chegada das chuvas.
Na sequência uma rápida análise sobre esses dois movimentos recentes.
EUA e China
Reunidos em Pequim para uma série de acordos comerciais, o presidente norte-americano, Barack Obama e o presidente chinês Xi Jinping, anunciaram novas metas para a redução de suas emissões, um ano antes da COP de Paris (Conferência do Clima), no qual será discutido um novo acordo climático global.
A China, responsável sozinha por 29% das emissões globais dos gases de efeito estufa, principalmente em razão do uso do carvão como fonte energética propulsora de seu crescimento, fixou a meta de atingir um teto dessas emissões em meados de 2030, com um viés de que esse limite chegue antes dessa data. Depois disso deverá reduzi-lo progressivamente nos anos subsequentes.
Apesar de ainda ser pouco ambicioso e representar uma carta de intenções, mais do que ações efetivas, esta é a primeira vez que a China aceita se comprometer com uma redução de emissões.
Já os Estados Unidos anunciaram que pretendem reduzir entre 26 e 28% as suas emissões até 2025, em relação aos níveis registrados em 2005. Também um avanço em relação a metas anteriores.
Em ambos os casos, as potências enviaram a todos os países do planeta um importante recado sobre a importância de se enfrentar os desafios climáticos. A ambição da reunião do próximo ano é obter um acordo mundial suficientemente ambicioso para limitar o aquecimento global a 2.°C.
O aumento na temperatura poderá trazer consequências extremas de alcance global, o que significaria, entre vários impactos, uma dramática redução dos recursos, um número maior de conflitos principalmente entre as nações mais carentes, a elevação do nível dos oceanos e a extinção de espécies responsáveis pelo equilíbrio da biodiversidade terrestre.
As medidas anunciadas pelos Estados Unidos e a China não tem a capacidade de mudar as análises de cientistas do IPCC (Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas, em sua sigla em inglês). Segundo esses mesmos cientistas, o tempo é muito curto para evitar o aumento da temperatura global. Mesmo assim, causou uma boa impressão o fato de potências que sempre estiveram em posições contrárias acordarem que é sim necessário trabalhar pela redução das emissões.
Claro que a China continua a defender a tese de que os países mais desenvolvidos devem reduzir de maneira mais expressiva suas emissões em relação aos demais países, sejam eles os que estão em franco desenvolvimento ou aqueles mais pobres.
Bem, as mudanças nem sempre ocorrem na velocidade desejada!
Falta de água
De volta ao Brasil varonil, recentemente o governador paulista esteve no Palácio do Planalto para solicitar uma ajuda emergencial no valor total de R$ 3,5 bilhões para enfrentar a crise hídrica enfrentada pelo estado de São Paulo. Nada mais natural que Geraldo Alckmin tenha feito esse movimento diante da terrível situação que tanto tem assustado a população. Mas espantoso é observar que o pedido da verba refere-se basicamente a obras de infraestrutura, com interligações de reservatórios, construção de estações de reuso de água e abertura de poços artesianos.
A recuperação dos mananciais, o reflorestamento de áreas críticas e a despoluição de rios e córregos não foram mencionados como ações necessárias para solucionar a escassez que atinge a capital paulista e uma grande quantidade de cidades do estado. Talvez sejam lembradas em outro momento... Quem sabe para quando o problema voltar?
Como assim, voltar? O leitor/internauta poderá, espantado, perguntar. Então repito: quando o problema voltar! Pois, segundo nossas autoridades, tanto o governador paulista quanto a presidenta, a chegada da temporada de chuvas irá solucionar a crise da falta de água.
Acreditem se quiserem, eles afirmaram, apesar de todas as informações em contrário, que estamos caminhando para uma solução no abastecimento de água!
Basicamente, o que difere os dois fatos relatados não são as ações propostas pelas potências mundiais ou o enfrentamento local para a questão da falta d'água. Ambas demonstram serem paliativas ou apenas uma sequência de boas intenções com poucos resultados concretos.
No caso internacional, ao menos, há o reconhecimento para a gravidade do problema vinculado ao aquecimento global. Pouco, sem dúvida, mas ao menos um diagnóstico correto.
Já em relação ao posicionamento de dois dos principais líderes nacionais, o que assusta é que, apesar de tudo, ainda existe uma incrível resistência em entender e aceitar que existem problemas insolúveis no curto prazo.
Assim como a água não nasce de obras de concreto, mas sim de um meio ambiente saudável e protegido, muitas das respostas que procuramos estão em decisões inteligentes e sustentáveis que vão impactar na vida de todos, no presente e no futuro. A questão é que devemos esperar mais de nossas lideranças. Nós, seres humanos, dependemos disso, não importa onde estejamos, em São Paulo, em Pequim ou Nova York, tanto faz. Afinal, o Planeta Terra é um só.
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