05 dezembro 2015

SAI O PRIMEIRO DESENHO DO FUTURO ACORDO CLIMÁTICO EM PARIS

Tópicos cruciais continuam presentes no documento, mas até a semana que vem ainda vai rolar muita negociação

Por Reinaldo Canto, especial de Paris

Assim como foi prometido, os negociadores presentes à COP 21 em Paris, divulgaram na manhã deste sábado, 05/12, o primeiro esboço do novo acordo climático que deverá ser assinado pelos mais de 190 países até o final da próxima semana.

O documento lançado hoje, contêm 48 páginas e várias anotações. Denominado Grupo de Trabalho Ad Hoc da Plataforma de Durban para uma Ação Reforçada (ADP) representa um importante esboço e mantêm todas as possibilidades em aberto.

“Todos os elementos que consideramos cruciais estão mantidos nessa primeira versão do acordo”, analisa positivamente Pedro Telles, coordenador do projeto Mudanças Climáticas do Greenpeace Brasil, mas deixa no ar um alerta, “como tudo ainda está na mesa, não será fácil que continuem até o final”.

O certo é que os ministros e autoridades dos países negociadores deverão ainda ter muito trabalho até a semana que vem. Mas importante que apesar de não ser um posicionamento unânime, o tom das discussões plenárias segue otimista.

Permanecem sendo os pontos-chave, que ainda requerem muita negociação, o financiamento necessário para colocar em prática as ações climáticas que descarbonizem a economia do planeta  e o momento de execução das INDCs de cada país (Intended Nationally Determined Contribution – sigla em inglês para a contribuição nacionalmente determinada) que são as contribuições assumidas por cada país.

Basicamente, quem vai pagar mais a conta da transição para um mundo livre de emissões de carbono e de quanto em quanto tempo serão feitas as revisões das INDCs. Na questão do financiamento, os países mais pobres continuam a pressionar os ricos para que assumam custos maiores. Em relação ao tempo, permanece incerta a revisão de metas a cada cinco anos.

Por enquanto, continuam valendo as palavras de Christiana Figueres, secretária-executiva da Convenção sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU), nos primeiros dias dos trabalhos aqui no Le Bourget, em Paris, afirmando que não temos com o que nos preocupar, pois o acordo vai sair e será legalmente vinculante, ou seja, com força para ser cumprido. Ela também aproveitou para colocar uma espada na cabeça de todas as lideranças políticas mundiais, “nunca tanta responsabilidade esteve nas mãos de tão poucos”.
Apesar de tudo, apesar de todos, vamos seguir otimistas e na cobrança por um acordo climático satisfatório que contemple os interesses da humanidade.

Leia o documento oficial em:


http://unfccc.int/files/bodies/awg/application/pdf/draft_paris_agreement_5dec15.pdf

02 dezembro 2015

Até mesmo durante a sua própria festa o Meio Ambiente é colocado de lado

Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Por Reinaldo Canto, especial de Paris para a Envolverde – 
Coletiva da Presidenta Dilma após a sua participação na COP 21 é tomada por questões da política local.
Hoje deveria ser o dia em que as mudanças climáticas deveriam receber todas as atenções. Ao menos isso é o que se esperaria dos participantes da Conferência do Clima em Paris.
Pelo menos, a presença das maiores e mais importantes lideranças planetárias que estiveram durante esta segunda-feira na abertura do evento no Le Bourget deveria servir de estímulo.
A presidenta Dilma Rousseff fez uso da palavra e citou a tragédia de Mariana como sendo de responsabilidade da Samarco e o episódio como sendo o maior desastre ambiental da história em nosso país. Ela também falou dos muitos fenômenos climáticos extremos como o das chuvas torrenciais no Sul e as secas severas no Nordeste e no Sudeste.
Ficou devendo uma fala sobre o aumento do desmatamento, mas por outro lado, foi incisiva ao pedir um acordo legalmente vinculante que comprometa os países que o assinarem a cumpri-los verdadeiramente e não como mera intenção.
Bem ou mal, pelo que temos acompanhado nesses anos de presidência, não deveríamos esperar algo muito diferente do que pudemos acompanhar aqui em Paris. Parece que Dilma sente um desconforto imenso em falar de meio ambiente.
Coletiva no final da tarde
Um pouco mais a lamentar foi a coletiva de imprensa que se iniciou com uma monótona exposição geral de Dilma sobre os diversos encontros que teve durante a conferência, seguida de perguntas dos jornalistas. O que chamou a atenção foi que quase todo o tempo dos questionamentos foi direcionado a temas políticos (Delcídio, André Esteves, votações no Congresso) e quase nada a razão principal da coletiva, ou seja, a tal COP 21, que por mero acaso, ocupa um centro de eventos gigantesco em que milhares de pessoas vão passar as duas próximas semanas e que por outra incrível coincidência, todos nós estávamos a ocupar esse espaço.
Sem tirar a importância desses temas para o futuro do país e para o conhecimento de leitores/telespectadores/ouvintes/internautas desses veículos, sem dúvida que são relevantes, é claro, assustou o fato de a realização da COP ser vista pelos grandes veículos quase como um assunto totalmente secundário, como se fosse um evento esportivo em que o resultado ou a discussão, não suscitassem maiores delongas, ao menos para os presentes à coletiva.
Diante dessa constatação, fica claro que temos um longo caminho pela frente capaz de colocar o tema das mudanças climáticas no alto das atenções dos jornalistas.  Serão necessárias mais tragédias para que isso ocorra? Infelizmente, o futuro parece nos reservar novos lances ainda mais dramáticos no qual o seu potencial jornalístico irá aflorar da pior maneira possível. (#Envolverde)
Reinaldo Canto é jornalista especializado em Sustentabilidade e Consumo Consciente e pós-graduado em Inteligência Empresarial e Gestão do Conhecimento. Passou pelas principais emissoras de televisão e rádio do País. Foi diretor de comunicação do Greenpeace Brasil, coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e colaborador do Instituto Ethos. Atualmente é colaborador e parceiro da Envolverde, colunista de Carta Capital e assessor de imprensa e consultor da ONG Iniciativa Verde.

Blog do Planeta - Época Clima

Países mais vulneráveis pedem ações mais urgentes e eficazes na COP-21


Líderes de territórios ameaçados pelo avanço do oceano se reuniram na Conferência 


REINALDO CANTO* | DE PARIS

Chefes de Estado das nações mais ameaçadas pelo aumento do nível dos oceanos posam para foto com Barack Obama (Foto: (AP Photo/Evan Vucci))
Para os participantes da 21ª edição da Conferência do Clima, em Paris, é unânime o desejo de colocar em prática ações efetivas contra o aquecimento global. Não foi por outra razão que para cá se dirigiram os mais importantes líderes mundiais.
Deter o aumento da temperatura do planeta em 2°C já constitui um imenso desafio. Mas se é o sonho da maioria, para outro países mesmo isso é um pesadelo.
Acompanhamos o encontro dos chamados países mais vulneráveis às mudanças climáticas. Entre eles, muitos dos países-ilhas ou que possuem faixas litorâneas que já sofrem as consequências do aquecimento global: Barbados, Costa Rica, Madagascar, Fiji e Filipinas, entre outros (esse último possuidor de 2.400 ilhas que serão dramaticamente afetadas pelo aumento no nível dos oceanos).
Quem abriu a reunião foi justamente o presidente filipino Benigno S. Aquino III, que alertou para a necessidade de união na busca por ações mais severas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Também estavam presentes Christiana Figueres, Secretária-Executiva das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas, e Mary Robinson, ex-presidente da Irlanda e Alta Comissária de Direitos Humanos da ONU, deixando clara a relação entre a questão climática e os direitos humanos, principalmente porque a maioria das ilhas presentes no encontro possuem grande população litorânea. As representantes das Nações Unidas lembraram a fala do secretário-geral Ban Ki Moon, ressaltando que atualmente 3 em cada 4 desastres humanitários estão diretamente ligados às mudanças climáticas.
O ministro de meio ambiente e energia da Costa Rica, Edgar Gutierrez, destacou que muitos países e, especialmente suas mulheres e crianças, vão sofrer com o constante aumento da temperatura. Ele afirmou ainda que a maioria desses países têm pouco a contribuir isoladamente, porque suas emissões de gases estufa são marginais.
Caso os maiores emissores não ajam de maneira mais contundente, muitos desses países irão desaparecer e as populações litorâneas afetadas pelo aumento no nível dos oceanos devem se somar às atuais crises migratórias (Síria, Afeganistão, países africanos).
Esperemos que o apelo dessas nações não necessite de ações extremas como a ocorrida na COP-15, em 2009, quando a ilha de Tuvalu interrompeu as negociações climáticas porque estava sendo fechado um acordo que poderia levar ao desaparecimento de seu território.
Os países mais vulneráveis, portanto, pedem que os demais participantes da conferência apoiem a Declaração dos CVF (Countries Vulnerable Forum) com ações mais ambiciosas, eficazes e contribuam para que suas populações (principalmente pequenos produtores rurais, comunidades de pescadores e populações indígenas) sofram menos com as mudanças climáticas.  Entre as ações possíveis estão os financiamentos para adaptação de comunidades, transferência tecnológica e capacitação para enfrentar essa nova realidade.
A COP-21 possui uma responsabilidade vital para o futuro da humanidade. Parafraseando nosso dito popular: será preciso desenhar pra que se entenda melhor?
*Reinaldo Canto é jornalista e consultor da Iniciativa Verde.

Tumultos em Paris não devem ser vinculados a COP21

Manifestações deste domingo na Place de La République é mais uma questão que diz respeito aos franceses.
Por Reinaldo Canto – especial de Paris para a Envolverde
Nada de julgamentos! Digo isso antes de iniciar esse texto em que relato a minha presença e participação no início da tarde deste domingo, 29/11 véspera do início da COP 21 em Paris.
Oficialmente a 21ª Conferência do Clima terá início hoje, segunda-feira. Mesmo que declarações já estejam sendo divulgadas e algumas reuniões iniciais tenham sido realizadas.
Antes de me dirigir à Place de la République, na região central de Paris fui visitar o Le Bourget, o centro de exposições, local oficial da conferência e caminho para o aeroporto Charles de Gaulle. Lá aproveitei para fazer o meu credenciamento. Ali estavam sendo dados os retoques finais para receber nesta segunda e durante as próximas duas semanas, os milhares de participantes que estão chegando de todas as partes do mundo. No Le Bourget o clima era de total paz e tranquilidade. Poucos jornalistas estavam na enorme sala de imprensa. Até mesmo a conexão de internet por cabo ainda não funcionava, apenas o wifi era suficiente para nos manter conectados já que os acessos não eram em número elevado.
O clima tranquilo inicialmente também pôde ser observado quando cheguei à République. O monumento central da praça estava repleto de flores, lembranças e mensagens às vítimas dos atentados do último dia 13 deste mês. As pessoas que passavam por ali respeitosamente prestavam suas homenagens. Os espaços no local também eram preenchidos por ativistas e manifestantes pelos mais diversos movimentos que iam de apelos à paz e contra os países ricos acusados de pouco fazerem em relação às mudanças climáticas. Havia espaço a até mesmo para uma séria questão que diz respeito a nós brasileiros, um grupo apelava em inglês contra a PEC 215, aquela que coloca em risco o futuro das terras indígenas ao tirar do governo federal a prerrogativa das demarcações em prol dos estados, historicamente pouco sensíveis às causas dos índios.
Antes dos tumultos se iniciarem conversei com franceses e outros estrangeiros sobre a COP e os atentados terroristas. Todos eram unânimes em afirmar que era preciso uma ação efetiva para o combate às mudanças climáticas e lamentavam os ataques lançados contra a França. As críticas aos países ricos para ambos os casos era uma constante. Como a marcha havia sido proibida, mesmo a concentração de alguns milhares me pareceu bastante estranho, mas a polícia até então, mantinha-se distante.
Os nervos foram ficando mais exaltados, não sei se pela concentração maior da polícia nas ruas adjacentes da praça ou se pelos refrões que mudaram das mensagens puramente climáticas para afirmações de que ali não estavam terroristas (“polícia não somos terroristas”, em tradução livre do francês para o português era uma delas). O certo é que os manifestantes passaram a exigir o direito de marchar e a polícia empenhada em não deixar. Bem, ali estava estabelecido o caldo que faltava para o tumulto que veio em seguida.
Mobilização na Praça Republique, antes do confronto com a Polícia. Foto: Reinaldo Canto
Mobilização na Praça Republique, antes do confronto com a Polícia. Foto: Reinaldo Canto
Este repórter que vos escreve ali estava para registrar as diversas visões sobre a COP que virá e não para cobrir uma guerra campal. Ao sentir os olhos arderem pelas primeiras bombas de gás lacrimogêneo dei por encerrada a minha participação e me atirei em direção ao metrô, pouco antes de ser fechado. O que veio depois foi devidamente veiculado pela imprensa chamada de hard news(notícias do momento, também em tradução livre).
Exatamente ao ver e ler os desdobramentos desses tristes episódios ocorridos na Place de la République é que decide escrever essas linhas e afirmar que, mesmo que estrangeiros e até mesmo participantes da COP, estivessem envolvidos nos tumultos, acredito fortemente que ali aconteceu um episódio local com a COP como pano de fundo, mas não como razão principal.
A tensão do momento pelo qual vive Paris e a França foi, em minha opinião, o maior responsável. A COP começa segunda e lá estaremos lá para acompanhar seus reais movimentos. (#Envolverde) 
Reinaldo Canto é jornalista especializado em Sustentabilidade e Consumo Consciente e pós-graduado em Inteligência Empresarial e Gestão do Conhecimento. Passou pelas principais emissoras de televisão e rádio do País. Foi diretor de comunicação do Greenpeace Brasil, coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e colaborador do Instituto Ethos. Atualmente é colaborador e parceiro da Envolverde, colunista de Carta Capital e assessor de imprensa e consultor da ONG Iniciativa Verde.

26 novembro 2015

Terrorismo no caminho da COP21

Por Reinaldo Canto* 
Enquanto tiro as roupas de frio do armário e me entrego à tarefa de arrumar as malas para a cobertura da COP 21 em Paris, num determinado momento, a preocupação com as baixas temperaturas da capital francesa dão lugar as terríveis e absurdas notícias sobre os ataques terroristas que vitimaram centenas de inocentes.
Pessoas fazem homenagens às vítimas dos atentados no centro de Paris. Foto: Foto: Vincent Gilardi/ Fotos Públicas
Pessoas fazem homenagens às vítimas dos atentados no centro de Paris. Foto: Foto: Vincent Gilardi/ Fotos Públicas
Entre as muitas incertezas e receios trazidos com esses atentados infames, podemos acrescentar à cesta de maldades dos fanáticos, o desvio no foco tão aguardado de esperanças da implementação de ações concretas no combate às mudanças climáticas.
A conferência está confirmada, mas os chamados sideevents, aqueles paralelos ao evento principal e que ocorreriam em bom número fora do Le Bourget em várias partes da cidade, transformando Paris inteira numa grande celebração climática, já não mais irão acontecer. Se esses crimes não tivessem ocorrido, sem dúvida poderíamos registrar uma grande festa, assim como já havia ocorrido na COP 15/2009 em Copenhague, capital da Dinamarca, quando a cidade toda viveu um clima de celebração e de apoio as boas ações de respeito ao planeta.
Aliás, na ocasião, como agora, existiam muitas expectativas de um bom e efetivo acordo para reduzir o aquecimento global. Mas infelizmente, nós jornalistas presentes ao encontro não pudemos levar ao mundo as boas notícias da assinatura desses compromissos. Naquela época, como agora, para lá se dirigiram todos os líderes mundiais. Havia o consenso dos perigos quanto aos efeitos danosos do aumento na temperatura da Terra. Faltou quem assumisse as contas e responsabilidades. No fim, todos nós voltamos de lá, praticamente de mãos vazias.
De 2009 pra cá, as coisas só pioraram e se antes até existiamalguns céticos quanto àrelevância da ação humana para as mudanças climáticas, a potencialização de suas consequências, só aumentou as certezas quanto aos perigos crescentes se mantivermos essa passividade.
Diferentemente de Copenhague eis que para esta COP parisiense os fatos são outros, a China e os EUA se comprometeram com a redução de suas emissões de gases de efeito estufa; o Papa Francisco deu um pito em toda a humanidade lançando a encíclica papal Laudato Sie afirmando que precisamos cuidar melhor da nossa casa e dos seres que nela habitam; lideranças muçulmanas também se manifestarampor ações efetivas na luta contra o aquecimento global e quase todos os países apresentaram as suasINDCs (IntendedNationallyDeterminedContributions), sigla em inglês para os compromissos que estabelecem metas a serem cumpridas até 2030.
O Brasil também apresentou uma elogiada INDC se comprometendo a reduzir suas emissões em 37% até 2025 e 43% até 2030, tendo como base os níveis de emissão de 2005.
Mesmo com os atentados, as mais importantes lideranças mundiais já confirmaram presença e as expectativas são de que teremos um acordo global melhor e mais abrangente para o já superado e desmoralizado Protocolo de Kyoto.
Nesse momento, devemos renovar nossas esperanças e,ao mesmo tempo que nos solidarizamos com os franceses, não podemos ceder ao medo e a tristeza, é preciso colocar o foco nessa fundamental conferência que poderá contribuir para iniciarmos um processo de verdadeiro desenvolvimento sustentável, com respeito ao meio ambiente e de erradicação da pobreza. (#Envolverde)
Reinaldo Canto é jornalista especializado em Sustentabilidade e Consumo Consciente e pós-graduado em Inteligência Empresarial e Gestão do Conhecimento. Passou pelas principais emissoras de televisão e rádio do País. Foi diretor de comunicação do Greenpeace Brasil, coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e colaborador do Instituto Ethos. Atualmente é colaborador e parceiro da Envolverde, colunista de Carta Capital e assessor de imprensa e consultor da ONG Iniciativa Verde.

19 novembro 2015

Mariana: Essa não é uma tragédia ambiental

O que aconteceu em Mariana é uma catástrofe para as vítimas, para a região, para o país e para o mundo. É uma tragédia e ponto
Por Reinaldo Canto*
Antonio Cruz/ Agência Brasil
Mariana (MG)
O distrito de Bento Rodrigues, na zona rural de Mariana (MG), foi completamente encoberto por lama após o rompimento da barragem



rompimento das barragens de rejeitos de mineração da Samarco, em Mariana (MG), é mais um entre muitos exemplos do desleixo e da falta de responsabilidade que congrega e une todos os setores direta e indiretamente envolvidos com a fiscalização e o licenciamento ambiental no Brasil.
A destruição ainda está longe de conseguir ser devidamente contabilizada, pois o movimento da onda de rejeitos continua a se espalhar, sepultando em seu caminho rios, plantas, animais, cidades e pessoas. As próprias autoridades já decretaram a morte de Bento Rodrigues, pois o distrito de Mariana não deverá ser uma localidade habitável tão cedo. Faltam ainda também descobrir os danos que serão causados na passagem dessa lama pelo estado do Espírito Santo.
A multa de 250 milhões de reais aplicada recentemente pelo governo federal à Samarco representa apenas um pequeno paliativo quando o que deveria ter sido feito é trabalhar a prevenção, evitando o caos. Atividades suspensas, novas multas e até mesmo o encerramento dos trabalhos realizados nessa planta mineradora são esperados, mas nem de longe vão compensar o absurdo desse acontecimento.
Para piorar, o Congresso, que deveria estar atuando para impedir casos semelhantes, está a discutir o afrouxamento das leis que tratam exatamente dos riscos ambientais de grandes obras.
Em recente artigo, Mauricio Guetta, advogado e assessor do Programa de Política e Direito Socioambiental do Instituto Socioambiental (ISA), apontou que entre outros, tramita um projeto de Lei, o de número 654/2015, do senador Romero Jucá (PMDB-RR), criando um “diminuto rito de licenciamento ambiental” para os empreendimentos de infraestrutura “estratégicos para o interesse nacional”, tais como, rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos e de energia ou quaisquer outros destinados à exploração de recursos naturais.
Para o advogado do ISA, isso significa que “as obras com maior potencial de causar significativos danos socioambientais seriam justamente às que seriam contempladas com menores controles e prevenção”.
Poderia e deveria ser uma brincadeira de mau gosto, mas não é. Até porque historicamente, quaisquer medidas compensatórias ou preventivas sempre foram consideradas empecilhos ao desenvolvimento. Mesmo que a realidade se imponha, a ganância ainda consegue prevalecer em detrimento do futuro.
O circo de horrores provocado pela lama da Samarco está longe de cumprir seu roteiro destruidor. Mas, pelo que podemos vislumbrar ao cessar esse espetáculo nefasto, nossas autoridades certamente irão nos contemplar com novos capítulos. Empenho não deverá faltar.
O que poderíamos tentar, ao menos, é usar as expressões mais próximas da realidade, como por exemplo, substituindo licenciamento ambiental, simplesmente por “licenciamento responsável e sustentável para o futuro de todos” e nomear corretamente uma tragédia como tal e não como ambiental.
Para muitos, a tragédia ambiental ainda soa como algo distante da vida das pessoas, o que demonstra cabalmente a sua inverdade no caso da Samarco. Tragédias que matam pessoas, destroem casas, sepultam rios e consomem florestas são tragédias, simples e tragicamente assim.
*Publicado originalmente na Envolverde e na Carta Capital

Tecnologia e sustentabilidade: Interaxa agora é Carbon Free



O setor de tecnologia tem um importante papel na busca pelo desenvolvimento sustentável. Empresas como a Interaxa, especializadas em obter as melhores e mais eficientes tecnologias para seus clientes, enxergou na compensação de suas próprias emissões de gases de Efeito Estufa (GEEs) uma oportunidade para agir de maneira a reduzir o impacto ambiental de suas atividades.
O inventário das emissões da Interaxa realizado pela Iniciativa Verde resultou na necessidade do plantio de 477 árvores para compensar 75,49 tCO2e (toneladas de carbono equivalente). O que corresponde a uma área de quase três mil metros quadrados.

Segundo a Gerente de Governança da Interaxa, Josimery Pires, a empresa tem feito vários esforços para reduzir seus impactos. “Inicialmente, começamos a nos preocupar com os equipamentos como aparelhos de celular, notebooks e baterias que se tornaram obsoletos. Com isso, questionou-se: o que fazer com esses equipamentos? Então, procuramos empresas que fizessem o descarte adequado desses materiais. Depois, pensamos em adotar práticas simples como, por exemplo, a redução de controle de gastos de energia, papel, água e copos descartáveis”.
Depois dessas ações, a empresa decidiu avançar ainda mais. “A partir daí, a organização se sensibilizou no aspecto de melhores práticas sustentáveis em sua organização. Na medida em que almejamos ser a melhor empresa de soluções end-to-end para ContactCenter na América Latina e como temos uma grande preocupação com o respeito e valorização das pessoas, decidimos ser ainda mais engajados em melhores práticas em termos sustentáveis e em responsabilidade social”, afirmou Josimery.

Mas como nem tudo pode ser compensado pela própria empresa, a Interaxa optou pelo trabalho da Iniciativa Verde. “Nossa sede está hoje alocada num edifício que não dispõe de coleta seletiva de materiais, então, pensamos de que forma compensar isso? Pesquisando descobrimos o projeto da Iniciativa Verde que se propõe a realizar um trabalho adequado para compensação de carbono“, concluiu a gerente de Governança, Josimery Pires.
Para Lucas Pereira, diretor da Iniciativa Verde responsável pela emissão do selo Carbon Free, a participação de empresas de tecnologia no mercado voluntário de compensações é fundamental: “Este setor é fundamental, pois mostra que não só indústrias de transformação – historicamente grandes emissoras – têm responsabilidade sobre a mudança climática. A Interaxa tem conhecimento de seus impactos e procurou uma forma efetiva de contribuir para recuperação da Mata Atlântica e de todos os serviços ambientais prestados por esse bioma. Só vamos recuperá-lo com a participação do setor privado”.
Mais informações sobre a Interaxa: www.interaxa.com.br
Sobre a Iniciativa Verde
A Iniciativa Verde é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) que tem como missão contribuir para a construção de um novo tempo baseado em uma economia de baixo carbono e na redução dos impactos ambientais causados pelas atividades humanas.
A instituição acredita na busca por novas alternativas de desenvolvimento e oferece uma gama de projetos relacionados ao combate às mudanças climáticas, recuperação ambiental, conservação da biodiversidade e recomposição florestal.