Manifestações deste domingo na Place de La République é mais uma questão que diz respeito aos franceses.
Por Reinaldo Canto – especial de Paris para a Envolverde
Nada de julgamentos! Digo isso antes de iniciar esse texto em que relato a minha presença e participação no início da tarde deste domingo, 29/11 véspera do início da COP 21 em Paris.
Oficialmente a 21ª Conferência do Clima terá início hoje, segunda-feira. Mesmo que declarações já estejam sendo divulgadas e algumas reuniões iniciais tenham sido realizadas.
Antes de me dirigir à Place de la République, na região central de Paris fui visitar o Le Bourget, o centro de exposições, local oficial da conferência e caminho para o aeroporto Charles de Gaulle. Lá aproveitei para fazer o meu credenciamento. Ali estavam sendo dados os retoques finais para receber nesta segunda e durante as próximas duas semanas, os milhares de participantes que estão chegando de todas as partes do mundo. No Le Bourget o clima era de total paz e tranquilidade. Poucos jornalistas estavam na enorme sala de imprensa. Até mesmo a conexão de internet por cabo ainda não funcionava, apenas o wifi era suficiente para nos manter conectados já que os acessos não eram em número elevado.
O clima tranquilo inicialmente também pôde ser observado quando cheguei à République. O monumento central da praça estava repleto de flores, lembranças e mensagens às vítimas dos atentados do último dia 13 deste mês. As pessoas que passavam por ali respeitosamente prestavam suas homenagens. Os espaços no local também eram preenchidos por ativistas e manifestantes pelos mais diversos movimentos que iam de apelos à paz e contra os países ricos acusados de pouco fazerem em relação às mudanças climáticas. Havia espaço a até mesmo para uma séria questão que diz respeito a nós brasileiros, um grupo apelava em inglês contra a PEC 215, aquela que coloca em risco o futuro das terras indígenas ao tirar do governo federal a prerrogativa das demarcações em prol dos estados, historicamente pouco sensíveis às causas dos índios.
Antes dos tumultos se iniciarem conversei com franceses e outros estrangeiros sobre a COP e os atentados terroristas. Todos eram unânimes em afirmar que era preciso uma ação efetiva para o combate às mudanças climáticas e lamentavam os ataques lançados contra a França. As críticas aos países ricos para ambos os casos era uma constante. Como a marcha havia sido proibida, mesmo a concentração de alguns milhares me pareceu bastante estranho, mas a polícia até então, mantinha-se distante.
Os nervos foram ficando mais exaltados, não sei se pela concentração maior da polícia nas ruas adjacentes da praça ou se pelos refrões que mudaram das mensagens puramente climáticas para afirmações de que ali não estavam terroristas (“polícia não somos terroristas”, em tradução livre do francês para o português era uma delas). O certo é que os manifestantes passaram a exigir o direito de marchar e a polícia empenhada em não deixar. Bem, ali estava estabelecido o caldo que faltava para o tumulto que veio em seguida.
Este repórter que vos escreve ali estava para registrar as diversas visões sobre a COP que virá e não para cobrir uma guerra campal. Ao sentir os olhos arderem pelas primeiras bombas de gás lacrimogêneo dei por encerrada a minha participação e me atirei em direção ao metrô, pouco antes de ser fechado. O que veio depois foi devidamente veiculado pela imprensa chamada de hard news(notícias do momento, também em tradução livre).
Exatamente ao ver e ler os desdobramentos desses tristes episódios ocorridos na Place de la République é que decide escrever essas linhas e afirmar que, mesmo que estrangeiros e até mesmo participantes da COP, estivessem envolvidos nos tumultos, acredito fortemente que ali aconteceu um episódio local com a COP como pano de fundo, mas não como razão principal.
A tensão do momento pelo qual vive Paris e a França foi, em minha opinião, o maior responsável. A COP começa segunda e lá estaremos lá para acompanhar seus reais movimentos. (#Envolverde)
* Reinaldo Canto é jornalista especializado em Sustentabilidade e Consumo Consciente e pós-graduado em Inteligência Empresarial e Gestão do Conhecimento. Passou pelas principais emissoras de televisão e rádio do País. Foi diretor de comunicação do Greenpeace Brasil, coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e colaborador do Instituto Ethos. Atualmente é colaborador e parceiro da Envolverde, colunista de Carta Capital e assessor de imprensa e consultor da ONG Iniciativa Verde.
Nenhum comentário:
Postar um comentário