Por Reinaldo Canto, especial de Paris para a Envolverde –
Coletiva da Presidenta Dilma após a sua participação na COP 21 é tomada por questões da política local.
Hoje deveria ser o dia em que as mudanças climáticas deveriam receber todas as atenções. Ao menos isso é o que se esperaria dos participantes da Conferência do Clima em Paris.
Pelo menos, a presença das maiores e mais importantes lideranças planetárias que estiveram durante esta segunda-feira na abertura do evento no Le Bourget deveria servir de estímulo.
A presidenta Dilma Rousseff fez uso da palavra e citou a tragédia de Mariana como sendo de responsabilidade da Samarco e o episódio como sendo o maior desastre ambiental da história em nosso país. Ela também falou dos muitos fenômenos climáticos extremos como o das chuvas torrenciais no Sul e as secas severas no Nordeste e no Sudeste.
Ficou devendo uma fala sobre o aumento do desmatamento, mas por outro lado, foi incisiva ao pedir um acordo legalmente vinculante que comprometa os países que o assinarem a cumpri-los verdadeiramente e não como mera intenção.
Bem ou mal, pelo que temos acompanhado nesses anos de presidência, não deveríamos esperar algo muito diferente do que pudemos acompanhar aqui em Paris. Parece que Dilma sente um desconforto imenso em falar de meio ambiente.
Coletiva no final da tarde
Um pouco mais a lamentar foi a coletiva de imprensa que se iniciou com uma monótona exposição geral de Dilma sobre os diversos encontros que teve durante a conferência, seguida de perguntas dos jornalistas. O que chamou a atenção foi que quase todo o tempo dos questionamentos foi direcionado a temas políticos (Delcídio, André Esteves, votações no Congresso) e quase nada a razão principal da coletiva, ou seja, a tal COP 21, que por mero acaso, ocupa um centro de eventos gigantesco em que milhares de pessoas vão passar as duas próximas semanas e que por outra incrível coincidência, todos nós estávamos a ocupar esse espaço.
Sem tirar a importância desses temas para o futuro do país e para o conhecimento de leitores/telespectadores/ouvintes/internautas desses veículos, sem dúvida que são relevantes, é claro, assustou o fato de a realização da COP ser vista pelos grandes veículos quase como um assunto totalmente secundário, como se fosse um evento esportivo em que o resultado ou a discussão, não suscitassem maiores delongas, ao menos para os presentes à coletiva.
Diante dessa constatação, fica claro que temos um longo caminho pela frente capaz de colocar o tema das mudanças climáticas no alto das atenções dos jornalistas. Serão necessárias mais tragédias para que isso ocorra? Infelizmente, o futuro parece nos reservar novos lances ainda mais dramáticos no qual o seu potencial jornalístico irá aflorar da pior maneira possível. (#Envolverde)
* Reinaldo Canto é jornalista especializado em Sustentabilidade e Consumo Consciente e pós-graduado em Inteligência Empresarial e Gestão do Conhecimento. Passou pelas principais emissoras de televisão e rádio do País. Foi diretor de comunicação do Greenpeace Brasil, coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e colaborador do Instituto Ethos. Atualmente é colaborador e parceiro da Envolverde, colunista de Carta Capital e assessor de imprensa e consultor da ONG Iniciativa Verde.
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