ÉPOCA CLIMA
Os combustíveis fósseis estão com os dias contados?
Anúncio de desenvestimento é feito em Paris e deve impactar mais de 3 trilhões de dólares
REINALDO CANTO* | DE PARIS
02/12/2015 - 15h26 - Atualizado 02/12/2015 15h26
Os esforços para o combate às mudanças climáticas não podem e não devem estar restritos aos governos nacionais. O tamanho do desafio, sem dúvida, exige uma participação efetiva de todos os setores, incluindo aí as empresas, cidades, fundações e organizações da sociedade civil.
Um bom exemplo disso foi dado hoje aqui na COP-21, quando mais de 500 instituições de diferentes setores comprometeram-se com odesenvestimento em combustíveis fósseis e a sua transição para fontes de energia limpas e renováveis. O movimento é coordenado, entre outros, pelas organizações 350.org e Divest-Invest.
O valor do impacto é a expressiva marca de quase 3,5 trilhões de dólares, que representa o capital das instituições e não a soma do dinheiro que deixará de ser investido em fósseis. Esse valor possui, antes de mais nada, um peso que serve de exemplo para que os governos, ainda reticentes em buscar fontes alternativas de energia, sejam compelidos a sair da letargia e contribuir efetivamente para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa.
O movimento composto por essas organizações tem também o objetivo de pressionar governos e entidades públicas para que retirem subsídios e eliminem o uso próprio dos combustíveis fósseis.
O que mais chama a atenção é o crescimento e a adesão a esse movimento. Em setembro de 2014, faziam parte 181 instituições com ativos somados de US$ 50 bilhões que decidiram pelo desinvestimento em fósseis. Em pouco mais de um ano o número saltou para 500, sendo que nas 10 semanas que antecederam a COP-21 100 novas instituições aderiram ao movimento.
Entre elas estão fundo de pensões, seguradoras, fundações, universidades e cidades, como no caso de 19 municípios franceses que aprovaram seus projetos de desinvestimento antes do início da COP21. Entre eles: Bordeaux, Dijon, Lilles e Saint-Denis.
Até mesmo parlamentos, como o francês, aprovaram o desinvestimento recentemente. Um outro caso interessante é o de Münster, que se tornou a primeira cidade da Alemanha a decidir pelo abandono total dos combustíveis fósseis. Melbourne, na Austrália, e Oslo, capital da Noruega, também fizeram anúncios poderosos de desinvestimento em nesses recursos.
Se não dá ainda para afirmar que a era dos combustíveis fósseis chegou ao fim, essas ações vão apontando novos caminhos. Que sirvam de exemplo e motivação aos governos menos sensíveis para uma mudança efetiva e ambiciosa na Conferência do Clima, aqui em Paris.
*Reinaldo Canto é jornalista e consultor da Iniciativa Verde. Matéria publicada originalmente no Blog do Planeta/Época
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