No dia 07/12 em Paris,
foi realizado um evento paralelo à COP 21, o “Acre Day: Consolidando uma
Economia Verde e Inclusão Social na Amazônia”. Na ocasião, o governador do estado Tião Viana falou
de desmatamento, da agenda ambiental das mudanças climáticas e sobre
desenvolvimento. Viana reforçou que será necessária uma mudança de paradigma
que contemple uma nova visão de
desenvolvimento, de cooperação e de lucro.
Confira abaixo a
entrevista do Governador concedida a Envolverde;
Reinaldo Canto - Quais são os principais
objetivos deste encontro aqui em Paris?
Tião Viana - Desde a COP15 nós consolidamos um papel de presença marcante,
que reúne não só Estados do Brasil, mas também o Governo Federal, organismos de
financiamento e comunidades de outros povos, como os estados da Amazônia
Peruana, estados da região amazônica boliviana e de outros países. E o Acre
conseguiu assumir junto com o GCF – representado pelo governo da Califórnia –
que tem em sua liderança um grupo de força tarefa de governadores contra o
desmatamento e a favor do desenvolvimento sustentável, já articulado a um grupo
de 29 estados subnacionais, em quatro continentes que atuam mostrando que se
queremos assegurar vitória no desafio de luta contra o aquecimento global,
temos que consolidar uma cooperação e exemplos articulados. Não será uma
solução de governos federais apenas, será uma solução de governos estaduais, de
governos municipais, de micros, médias e grandes regiões da região amazônica,
das regiões de florestas, e das regiões que estão vinculadas e que possam se
vincular ao desenvolvimento sustentável.
RC - Recentemente nós tivemos um anúncio
dos resultados do desmatamento no país e houve um aumento desse desmatamento, e
o Acre veio na contramão. Como foi possível essa redução?
Viana - O Acre conseguiu reduzir 10%. Estamos no
acumulado de 62% e já anunciamos aqui que vamos assegurar 100% do fim do
desmatamento ilegal na Amazônia até 2018, enquanto os estados estão apontando
uma redução de 80% até 2020. Em 2020 não queremos ter desmatamento nenhum, a
não ser desmatamento residual em nosso território, porque temos uma luta como
se fosse a afirmação de uma cultura, de um valor civilizatório, um valor de
comunidade, de vida pessoal. Precisamos diversificar bases econômicas,
assegurar crescimento econômico, assegurar conservação e as boas práticas de
desenvolvimento, entendendo que uma união entre comunidade, setor empresarial
pequeno, médio, mercado e governo, podem fazer uma diferença quando você tem a
criatividade pra ver que fontes alternativas de desenvolvimento e economia
podem ser compartilhadas.
RC – Apesar disso, o senhor falou aqui
na abertura que o Estado também já está vendo as consequências das mudanças
climáticas. Que tipo de mudanças ou alterações o Acre vem sofrendo?
Temos várias mudanças,
como a alteração do regime de chuvas e a mudança de temperatura. Mas o efeito
mais observado são as cheias. Nós tínhamos uma cheia, em média, a cada 7 anos.
Em toda a história do Acre era quase sempre esse comportamento. Na última
década tivemos cheias durante 7 anos, nos 10 últimos anos. Isso demonstra uma
mudança de ambiente, com cheias registrando índices recordes. Por exemplo, a
última nós tivemos acima do nível normal do rio, 18 metros e 66 centímetros,
inundando 28% do território da capital Rio Branco, uma tragédia, um verdadeiro
tsunami, em muitas micro regiões do estado.
Ao mesmo tempo por conta
dessas consequências, justamente os mais pobres, os pequenos produtores, são os
mais afetados. Eu queria que o senhor comentasse da importância desses
contratos de inclusão social que se tornam cada vez mais necessários, nos
estados da Amazônia, por causa dessas alterações climáticas.
RC - Ao mesmo tempo por conta dessas
consequências, justamente os mais pobres, os pequenos produtores, são os mais
afetados. Eu queria que o senhor comentasse da importância desses contratos de
inclusão social que se tornam cada vez mais necessários, nos estados da
Amazônia, por causa dessas alterações climáticas.
Viana - Quando nós conseguimos cooperação com organismos internacionais, com governos como o da Alemanha, com o KFW – banco de desenvolvimento alemão -, com o Fundo Amazônia, com membros do governo da Noruega e com representantes do governo da Califórnia, esses recursos vão exatamente pra essa ponta, porque nós trabalhamos com metas. Eles veem o resultado da redução das emissões, entendem que é um ponto de comunicação com o REDD – sigla para “Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal”, com o REDD Plus, que nos une para mensurar qual seria a contribuição que a região estaria dando à redução das emissões, e eles ajudam a financiar como metas. Isso é inovador pra que outros estados participem e pra que o governo federal esteja cada vez mais junto alcançando os melhores resultados. Hoje, substitui a visão policial, por criatividade, por cooperação, para alcançar o melhor resultado.
Reinaldo Canto – O que o senhor espera
agora dos resultados da COP21? O que seria de grande interesse para o Estado do
Acre?
Viana - Desde o Protocolo de Kyoto que nós temos as melhores
expectativas, mas sempre ficamos desapontados com o resultado final. O que se
pode dizer hoje em um mundo de coalizões e não mais de lideranças isoladas, é
que parece que houve um despertar de maior preocupação, de maior tensão, e de
uma resposta de maior curto prazo. Eu espero que os líderes mundiais entendam
que podem fazer mais e que isso não envolve sacrifício de ninguém, envolve
apenas uma exigente mudança de paradigma, de visão de desenvolvimento, de visão
de cooperação e de visão de lucro. Não será apenas a agenda da preocupação com
as migrações que vai nos afetar, e não será apenas a agenda do terrorismo, mas
a agenda do meio ambiente. Ou ela é o carro chefe global, ou as consequências
serão imprevisíveis.
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