02 agosto 2011

A ATMOSFERA DA COPA E O AR DA CIDADE

Artigo publicado no Jornal da Tarde, em 01/08/2011

JT
OPINIÃO
01/08/2011
2A
SÃO PAULO

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A OPINIÃO DE

Reinaldo Canto

JORNALISTA, CONSULTOR E PALESTRANTE ESPECIALIZADO

EM SUSTENTABILIDADE



A atmosfera da Copa e o ar da cidade

São várias décadas de obras privilegiando a ocupação dos espaços vistos apenas como boas oportunidades de negócios


A realização da Copa do Mundo e a qualidade do ar de São Paulo seriam temas distintos, caso não tivessem um encontro traçado pelo destino. E, neste momento, não me refiro à densa névoa que cobre os preparativos para a Copa do Mundo, cercados de mistério e de negociações nebulosas que deixam o ar irrespirável. Na verdade, ambos os assuntos deverão ser discutidos por nativos e turistas daqui a três anos em 2014, afinal nesta mesma época, os problemas que afetam as condições atmosféricas deverão estar ainda piores do que as registradas nos últimos dias.

A triste combinação entre frio, ar seco e poluição já é responsável por um aumento de 62% das internações na capital paulista, conforme noticiado pelo JT (18/07). Fatos não raros que se repetem ano após ano, inclusive com registros de mortes diretamente ligadas aos crescentes e inaceitáveis índices de poluição do ar. E, infelizmente, a população não pode contar com ações realmente sérias do poder público para ao menos reduzir as suas principais causas.

Tais problemas, é claro, não surgiram recentemente. São várias décadas de obras privilegiando a ocupação dos espaços vistos apenas como boas oportunidades de negócios. Faltaram e continuam faltando planejamento e bom senso. Resultado: mais poluição e menos qualidade de vida.

Se hoje já contamos com mais de 7 milhões de veículos circulando por nossas entupidas ruas, a entrada de mais de mil novos carros emplacados diariamente na cidade só faz imaginar que durante a Copa os problemas serão multiplicados. Mesmo com automóveis menos poluentes, não é possível imaginar que teremos em 2014 um ar mais puro para respirar.

O ritmo frenético dos lançamentos imobiliários é outro fator que colabora para piorar as condições climáticas ao eliminar áreas verdes para a subida indiscriminada de espigões. Uma troca nefasta de árvores que absorvem gás carbônico deixando em seu lugar uma cidade mais impermeabilizada e cinza. Uma equação bastante simples e óbvia que agrava os casos de enchentes e aumenta a sensação de calor no verão. Já nestes dias de inverno, entre outros problemas, contribui para dificultar a dispersão de poluentes.

Tempo existe para mudar esse estado de coisas e alterar o caminho de São Paulo rumo a um desenvolvimento mais sustentável. Mas é preciso que, restando três anos para a abertura da Copa do Mundo, nossas autoridades pensem e respirem profundamente, com cuidado para não se intoxicarem, e comecem já a agir em prol da cidade para as pessoas. Mais transporte coletivo e mais áreas verdes serão muito bem-vindas. Afinal, com Copa ou sem Copa, os milhões de habitantes de São Paulo vão permanecer por aqui, vivendo e respirando, quem sabe, ares melhores num futuro próximo.




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