27 janeiro 2011

Um presente para o futuro da cidade de São Paulo

Boletim Ethos de Responsabilidade Social na CBN (no ar dia 24/01), comentário de Jorge Abrahão, presidente do Instituto:

Na véspera de completar 457 anos, um bom presente para a cidade de São Paulo, e para nós que aqui moramos, é a perspectiva de transformar nossa capital numa cidade sustentável. Isto significa pensar e implantar melhorias em vários aspectos da vida da metrópole, incluindo-se aí, mudanças de comportamento.

Claro que tais mudanças teriam de contar, necessariamente, com o empenho dos governos, das empresas e da sociedade civil organizada. Um bom começo seria observar com atenção o portal Plataforma Cidades Sustentáveis, que apresenta um compilado de múltiplas práticas de sustentabilidade urbana existentes em diversas cidades do mundo.

Vários desses exemplos podem muito bem ser replicados em São Paulo. Basta para isso vontade política. Vejamos algumas das ações que tornariam possível transformar essa visão em realidade.

Transporte
O sistema de transportes em São Paulo é considerado caótico por dez entre dez paulistanos, que perdem, em média, 2 horas e 40 minutos por dia em deslocamentos pela cidade. Quando se pensa na mobilidade no trânsito de São Paulo, é preciso, antes de tudo, reconhecer a interdependência existente entre transportes, saúde e meio ambiente para então promover opções de mobilidade com caráter sustentável, que iriam contribuir para a redução do impacto das emissões e para a melhoria do ambiente e da saúde pública.

Estão entre essas ações:
• Incentivar e aumentar o uso do transporte coletivo e de bicicleta, bem como os deslocamentos a pé;
• Reduzir a necessidade de utilização do transporte individual motorizado e promover modos de transporte alternativos, viáveis e acessíveis a todos; e
• Encorajar a transição para veículos menos poluentes.

Em Copenhague, capital da Dinamarca, 55% dos seus moradores vão para o trabalho de bicicleta todos os dias. A cidade tem cerca de 340 quilômetros de ciclovias à disposição da população. Isso representa, entre muitas vantagens, menos poluição e melhor qualidade de vida. São Paulo está muito longe disso. segundo a Rede Nossa São Paulo, a cidade possui apenas 47,5 quilômetros de ciclovias e aqui as bicicletas ainda são vistas como meio de lazer, e não de transporte.

Educação
Quando se observa a educação em São Paulo, deve-se levar em conta que a cidade detém um enorme conhecimento em várias áreas. No entanto, esse conhecimento se restringe a poucos, seja pelo nível de instrução, seja pela disponibilização de acesso a ela.

São Paulo tem potencial para tornar-se uma cidade do conhecimento, mas para isso, terá de trilhar, em primeiro lugar, o caminho da redução das desigualdades. Hoje, a maioria esmagadora dos distritos da capital não possui sequer um cinema, um teatro ou uma biblioteca.

Inicialmente, será preciso prover a todos, especialmente crianças e jovens, de oportunidades educativas que lhes permitam desempenhar papel protagonista no desenvolvimento sustentável. Além disso, é preciso integrar na educação formal valores para uma condição de vida sustentável, baseados na ética, na relação saudável e de respeito com o meio ambiente, como descrito no documento Carta da Terra.

Um bom exemplo é a iniciativa australiana por escolas sustentáveis, que tem como objetivo o desenvolvimento de uma cultura escolar comprometida com os princípios da sustentabilidade e sua integração com os currículos escolares como prática cotidiana. De acordo com esse projeto, deve fazer parte do planejamento escolar o uso sustentável de recursos naturais, tanto no estabelecimento de ensino quanto na comunidade. A iniciativa também destaca a importância do envolvimento dos jovens na busca por resultados sociais, ambientais e educacionais efetivos.

Energia e água
Outra preocupação crescente em São Paulo, e em todo o mundo, é o constante crescimento no consumo de energia. Realizar campanhas que promovam a redução do consumo, aumentar a eficiência energética e incentivar a adoção do uso de energias limpas e renováveis traz muitas contribuições, que também impactam na qualidade de vida e na saúde das pessoas.

Um exemplo a ser seguido é o da implantação de energia solar em residências e edifícios, como a existente em larga escala em diversas cidades do mundo. Em Barcelona, na Espanha, uma lei tornou obrigatória a utilização de energia solar para a obtenção de 60% da água quente em todas as novas construções e edifícios reformados. Entre 2000 e 2005, Barcelona aumentou em quase 20 vezes a superfície de painéis solares para aquecimento de água na cidade.

Reduzir e fazer uso racional e consciente da água é outro princípio que devemos perseguir. Para abastecer a população da região metropolitana de São Paulo, é necessário buscar água de localidades cada vez mais distantes. A água é essencial para a vida de todos. Portanto, é urgente a adoção de medidas e campanhas que busquem valorizá-la. Como na questão da energia solar em edifícios, as residências, prédios e casas, poderiam construir reservatórios para armazenar a água da chuva, por exemplo.

Enfim, integrar essas e outras sugestões da Plataforma Cidades Sustentáveis com a criação de programas que promovam a inclusão social, aumentem a eficiência dos serviços públicos e melhorem as condições de vida para todos, será essencial para que São Paulo seja uma cidade com melhor qualidade de vida para seus habitantes.

Gestão pública
Entre muitos desses e outros exemplos, está embutida a necessidade de uma gestão eficiente que conte com a participação de todos os setores. É preciso integrar propostas, construir uma discussão ampla, transparente e democrática, determinar metas e prazos para cumprimento e colocar o interesse público acima dos interesses partidários e de pequenos grupos.

Fórum Empresarial
Para que as empresas se integrem efetivamente nesse processo, o Instituto Ethos e a Rede Nossa São Paulo lançaram, no ano passado, o Fórum Empresarial de Apoio à Cidade de São Paulo. O objetivo do fórum é o de sensibilizar, mobilizar e assessorar as empresas para que atuem visando ao desenvolvimento justo e sustentável da cidade.

O fórum se propõe a criar um banco de projetos e demandas da cidade para orientar e estudar os investimentos das empresas. A ideia central é disponibilizar às empresas um mapa de demandas da cidade para que elas possam investir nas suas reais prioridades.

De forma organizada, sistêmica e eficiente, o fórum contribui para que as empresas empreendam ações e parcerias com outras empresas, organizações sociais, instituições de ensino e pesquisa e o poder público, para, a partir dessas parcerias, elaborar um roteiro de ações e investimentos empresariais que seriam exemplares e prioritários para o desenvolvimento justo e sustentável da cidade de São Paulo.

Também estará a cargo das empresas participantes do fórum promover avaliações periódicas sobre os impactos de suas ações em favor de São Paulo, acompanhando a evolução dos principais indicadores da cidade e de suas regiões, bem como incentivar a criação de fóruns semelhantes em outras cidades brasileiras e promover o intercâmbio entre eles.

Uma São Paulo mais sustentável terá ainda mais razões para comemorar os próximos aniversários. Parabéns São Paulo!

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