Boletim Ethos de Responsabilidade Social na CBN (no ar dia 21/01), comentário de Jorge Abrahão, presidente do Instituto:
Uma importante ação para transitarmos para uma sociedade sustentável é desenvolvermos ferramentas para medir e controlar os reais avanços alcançados. Há muito o produto interno bruto (PIB) e depois o índice de desenvolvimento humano (IDH) deixaram de cumprir totalmente com o objetivo de detectar os avanços e progressos. Claro que eles ainda cumprem um papel importante, mas não são capazes de integrar outras dimensões que reflitam os verdadeiros anseios de uma sociedade.
São Paulo já tem os indicadores da cidade que mostram a realidade de todas as subprefeituras, o que permite identificar a situação de cada área e se promessas políticas foram efetivamente cumpridas.
Outra importante ferramenta são os Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município (Irbem), experiência inédita no mundo, que nos permite conhecer a percepção dos paulistanos para a qualidade de vida da cidade. A pesquisa trabalha com indicadores que refletem de maneira bastante ampla a percepção das pessoas para o que é qualidade de vida. O processo de construção dos indicadores com a participação efetiva da população elegendo os pontos que consideram mais importantes é sem dúvida, uma de suas grandes virtudes.
Essas informações valiosas servem de orientação para ações de governos, empresas e organizações da sociedade civil. Mas o problema é se apropriar dessas informações e colocá-las em prática. É preciso que esses dados sensibilizem os principais atores capazes de implementar movimentos transformadores, mas que nem sempre estão abertos a mudanças. A cultura usual de tomada de decisões é pessoal ou de pequenos grupos, o que, em geral, não atende as necessidades da sociedade como um todo.
Houve melhora, mas com índices abaixo da média
São Paulo ainda é uma cidade que oferece uma baixa qualidade de vida, mas ao mesmo tempo dá sinais de melhorar lentamente, segundo a percepção de seus habitantes. Isso é o que mostrou a pesquisa do Irbem 2010, divulgada nesta quinta-feira (20/1) pela Rede Nossa São Paulo. Foram analisadas 25 áreas e avaliados 169 itens que indicam o nível de satisfação da população com os temas e aspectos citados como os mais importantes para a qualidade de vida e o bem-estar na cidade.
Embora tenha havido uma pequena melhora em relação à pesquisa de 2009, é importante destacar que a maior parte dos itens avaliados (73%) está abaixo da média de 5,5 pontos, numa escala que vai de 1 a 10. Ou seja, para a população de São Paulo, sua qualidade de vida ainda está longe de ser satisfatória.
Segundo a enquete, que tem uma margem de erro de três pontos percentuais para cima e para baixo, a qualidade de vida em 2010 melhorou levemente para 34% dos entrevistados e de forma significativa para 13%. Para 6%, ela piorou ligeiramente, 3% afirmam que piorou muito e 44% consideram que as condições de vida na cidade permanecem estáveis.
A pesquisa apontou que 51% dos habitantes de São Paulo deixariam a cidade se tivessem oportunidade. Já 48% não querem sair da capital, enquanto 1% não responderam. Os dados registraram uma ligeira melhora em comparação à pesquisa de 2009, quando 57% dos entrevistados gostariam de deixar a cidade.
Dos diversos itens abordados na pesquisa, que vão das relações afetivas até as questões de segurança, transporte, saúde, habitação, consumo, meio ambiente e trabalho, passando pela utilização dos serviços públicos, os que mereceram as melhores notas de satisfação foram aqueles que podemos chamar de pessoais, por envolver a relação com a família e amigos, a espiritualidade e a carreira profissional.
Por exemplo, nos itens referentes a trabalho, estão acima da média a “perspectiva de futuro, crescimento e carreira” (que passou de 6,5 em 2009 para 6,7 em 2010), as “condições de trabalho” (que manteve o índice de 6,3) e as “oportunidades de formação profissional” (que foram de 5,7 para 5,8). Um bom sinal para as nossas empresas na relação com seus profissionais. Ainda na área do trabalho, uma pequena oscilação para baixo pode ser observada no item “equilíbrio entre trabalho e vida pessoal”, que caiu de 6,4 para 6,3, em relação à pesquisa de 2009.
Em relação aos itens ligados ao consumo, a pesquisa constatou que está havendo uma progressiva conscientização das pessoas, comparando-se aos resultados da pesquisa realizada em 2009. No item “incentivo ao consumo moderado e sustentável”, a satisfação média passou de 5,1 para 5,5; na “durabilidade cultural e material dos produtos”, de 5,1 para 5,4; no “respeito ao direito do consumidor”, de 5,0 para 5,3; e na “informação disponível sobre o impacto ambiental dos produtos e empresas”, de 4,9 para 5,3. Embora ainda estejam abaixo da média de 5,5 pontos estabelecida pela pesquisa, esses itens em crescimento devem ser observados com bastante atenção. A contribuição das empresas para que essas médias de satisfação possam crescer com maior rapidez nos próximos anos será decisiva. As empresas só têm a ganhar aumentando a transparência e a qualidade das informações e fabricando produtos com maior durabilidade e eficiência e menor impacto ambiental. Os consumidores, como demonstra a pesquisa, tenderão a dar respostas positivas a essas ações.
O paulistano também está mais consciente em relação a “sua responsabilidade ambiental” (a média passou de 6,2 para 6,5) e sua percepção é de que a cidade está melhor no quesito ambiental, como na “coleta seletiva” (de 5,3 para 5,9) e na “revitalização e conservação de parques, praças e várzeas existentes (de 4,8 para 5,1). Houve melhora, mas insuficiente para atingir um grau satisfatório na “qualidade do ar” (de 3,7 para 4,0), na “despoluição e preservação de rios, lagos e represas” (de 3,7 para 3,9) e num item que registrou evolução, mas com certeza teria um resultado diferente se a pesquisa tivesse sido realizada nos últimos dias: a “manutenção de bueiros e galerias e controle de enchentes”, que passou de 4,0 para 4,4. Como o levantamento ocorreu no final do ano passado, antes das enchentes deste ano, o resultado tem explicação.
Os níveis mais baixos de satisfação, como já havia sido observado na pesquisa anterior, estão nos itens relativos à transparência e honestidade dos governantes e das instituições. Apesar de uma ligeira melhora em relação à pesquisa anterior, Ministério Público, Subprefeituras, Prefeitura de São Paulo, Tribunal de Contas e Câmara Municipal seguem avaliados como não confiáveis por metade ou mais dos paulistanos.
Por fim, o tema “Transparência e Participação Política” traz outros resultados preocupantes, pois revela desconhecimento ou até mesmo desinteresse das pessoas em participar dos assuntos ligados à vida pública e à democracia participativa: a satisfação média com a “forma de participação na escolha dos subprefeitos” foi de 3,4 para 3,6; com a “participação popular em conselhos das subprefeituras”, de 3,3 para 3,5; e com o “acompanhamento das ações dos políticos eleitos”, de 2,8 para 3,1. Alguns desses aspectos podem estar ligados a um grande ceticismo em relação ao comportamento das nossas autoridades públicas, que recebeu baixíssimas avaliações: a “transparência dos gastos e investimentos públicos” foi de 2,7 para 3,0; a “punição à corrupção”, de 2,6 para 3,0; e a “honestidade dos governantes”, de 2,3 para 2,7.
Em lugar de susto ou perplexidade, os resultados dessa pesquisa devem nos levar a mirar o futuro, debruçando-nos sobre os números e nos espelhando nos objetivos do próprio Irbem, que são os de promover o conhecimento sobre os fatores mais importantes para o bem-estar das pessoas e dar oportunidade para que os gestores públicos, as empresas e a sociedade civil orientem suas ações para melhorar a qualidade de vida da população.
31 janeiro 2011
27 janeiro 2011
Fim de ponto de coleta é retrocesso injustificável
Artigo de estréia publicado na coluna Cidadania e Sustentabilidade na Carta Capital (www.cartacapital.com.br)
Reinaldo Canto
Parte do problema das chuvas que matam pessoas e destroem vidas se deve ao péssimo gerenciamento do lixo o que torna ainda mais grave o sucateamento da coleta seletiva em São Paulo. Por Reinaldo Canto. Foto: Agência Brasil
Parte do problema das chuvas que matam pessoas e destroem vidas se deve ao péssimo gerenciamento do lixo, o que torna ainda mais grave o sucateamento da coleta seletiva em São Paulo
No mínimo, a notícia sobre o fechamento de um ponto de coleta da Associação Reciclázaro no bairro da Lapa, em São Paulo, deve no mínimo, ser definida como triste, muito triste. O local funcionava na Igreja São João Maria Vianney e segundo a imprensa, a decisão para o fechamento partiu da Arquidiocese de São Paulo. A decisão revoltou os moradores acostumados a fazer uso do ponto de coleta entregando ali seus materiais recicláveis.
Na disputa entre a sociedade civil e os representantes da igreja, por enquanto, prevaleceu a vontade do clero. Os moradores organizaram um abaixo-assinado e prometem manter a briga. Mas sem entrar nos méritos e argumentos, gostaria de registrar o absurdo de vivermos tal situação, na maior metrópole do país que gera entre 14 e 15 mil toneladas de lixo por dia e recicla cerca de míseros 1% desse total, ainda se dar ao luxo, ao despautério de perder um ponto de coleta. Vejo isso como uma completa insensatez!
Se ainda fizermos menção ao fato de que 30 famílias obtinham sua renda do recolhimento e reciclagem de 50 toneladas de lixo mensais e de que tal local de coleta existia há 13 anos, tendo sido exatamente ali que nasceu a ONG Associação Reciclázaro, será difícil conter, pelo menos, uma ponta de revolta e indignação.
Desrespeito aos catadores - Aliás, essa é outra questão a se destacar: a situação dos catadores. A coleta de materiais como latinhas, garrafas pet, papelão, papel, isopor, entre outros, nem sempre é vista com o respeito devido. Claro que existem exceções, mas muita gente reclama das carroças “atrapalhando o trânsito” e mesmo quando param para descansar ou recolher material, eles são vistos com desconfiança ou desdém. Mais difícil é fazer certas pessoas enxergarem nessa atividade um trabalho árduo e extremamente útil. São homens e mulheres anônimos que operam o milagre de transformar lixo que entope bueiros, suja as ruas e vão parar nos nossos pobres rios, em matéria útil que volta para a cadeia produtiva em forma de insumo para novos produtos.
Não é por outra razão, que mesmo com o trabalho desses abnegados que travam uma luta diária pela sobrevivência, repousam no fundo dos Rios Pinheiros e Tietê uma quantidade de lixo colossal composta de todo o tipo de materiais, inclusive, sofás, geladeiras e sujeiras de todo tipo despejados pelas pessoas. Os especialistas consideram que uma das principais razões das enchentes em São Paulo é, exatamente a ausência de vazão dos nossos principais rios prejudicados por uma enorme quantidade de sedimentos depositados em seus leitos.
O excesso de lixo e entulhos deixado nas ruas de São Paulo é outro motivo que contribui para as enchentes no começo de todos os anos. A Prefeitura no ano passado tentou coibir a prática por meio do aumento da multa para quem joga lixo na rua, cujo valor saltou de R$ 500 para R$ 12 mil. Mas só multar não soluciona o problema como é facilmente constatado pela quantidade de lixo boiando que pudemos ver neste janeiro de chuvas.
Diante desses fatos provocados pela ausência de uma política efetiva de reciclagem, ao invés de se abrirem dezenas, quem sabe centenas de pontos de coleta, é muito difícil conformar-se e aceitar serenamente, o fechamento de um ponto tradicional da cidade.
O lixo, ou melhor, “materiais fora de lugar”, como já afirmou com propriedade o economista Paulo Sandroni da Fundação Getúlio Vargas, deveria ser visto como algo a ser aproveitado e transformado em riqueza, não em algo a ser descartado de qualquer maneira.
Quem sabe se as tragédias persistentes não serão capazes de despertar em nossas autoridades, empresas e cidadãos, a consciência para a realização de esforços em busca de uma cidade e um mundo mais equilibrado e sustentável.
Reinaldo Canto
Parte do problema das chuvas que matam pessoas e destroem vidas se deve ao péssimo gerenciamento do lixo o que torna ainda mais grave o sucateamento da coleta seletiva em São Paulo. Por Reinaldo Canto. Foto: Agência Brasil
Parte do problema das chuvas que matam pessoas e destroem vidas se deve ao péssimo gerenciamento do lixo, o que torna ainda mais grave o sucateamento da coleta seletiva em São Paulo
No mínimo, a notícia sobre o fechamento de um ponto de coleta da Associação Reciclázaro no bairro da Lapa, em São Paulo, deve no mínimo, ser definida como triste, muito triste. O local funcionava na Igreja São João Maria Vianney e segundo a imprensa, a decisão para o fechamento partiu da Arquidiocese de São Paulo. A decisão revoltou os moradores acostumados a fazer uso do ponto de coleta entregando ali seus materiais recicláveis.
Na disputa entre a sociedade civil e os representantes da igreja, por enquanto, prevaleceu a vontade do clero. Os moradores organizaram um abaixo-assinado e prometem manter a briga. Mas sem entrar nos méritos e argumentos, gostaria de registrar o absurdo de vivermos tal situação, na maior metrópole do país que gera entre 14 e 15 mil toneladas de lixo por dia e recicla cerca de míseros 1% desse total, ainda se dar ao luxo, ao despautério de perder um ponto de coleta. Vejo isso como uma completa insensatez!
Se ainda fizermos menção ao fato de que 30 famílias obtinham sua renda do recolhimento e reciclagem de 50 toneladas de lixo mensais e de que tal local de coleta existia há 13 anos, tendo sido exatamente ali que nasceu a ONG Associação Reciclázaro, será difícil conter, pelo menos, uma ponta de revolta e indignação.
Desrespeito aos catadores - Aliás, essa é outra questão a se destacar: a situação dos catadores. A coleta de materiais como latinhas, garrafas pet, papelão, papel, isopor, entre outros, nem sempre é vista com o respeito devido. Claro que existem exceções, mas muita gente reclama das carroças “atrapalhando o trânsito” e mesmo quando param para descansar ou recolher material, eles são vistos com desconfiança ou desdém. Mais difícil é fazer certas pessoas enxergarem nessa atividade um trabalho árduo e extremamente útil. São homens e mulheres anônimos que operam o milagre de transformar lixo que entope bueiros, suja as ruas e vão parar nos nossos pobres rios, em matéria útil que volta para a cadeia produtiva em forma de insumo para novos produtos.
Não é por outra razão, que mesmo com o trabalho desses abnegados que travam uma luta diária pela sobrevivência, repousam no fundo dos Rios Pinheiros e Tietê uma quantidade de lixo colossal composta de todo o tipo de materiais, inclusive, sofás, geladeiras e sujeiras de todo tipo despejados pelas pessoas. Os especialistas consideram que uma das principais razões das enchentes em São Paulo é, exatamente a ausência de vazão dos nossos principais rios prejudicados por uma enorme quantidade de sedimentos depositados em seus leitos.
O excesso de lixo e entulhos deixado nas ruas de São Paulo é outro motivo que contribui para as enchentes no começo de todos os anos. A Prefeitura no ano passado tentou coibir a prática por meio do aumento da multa para quem joga lixo na rua, cujo valor saltou de R$ 500 para R$ 12 mil. Mas só multar não soluciona o problema como é facilmente constatado pela quantidade de lixo boiando que pudemos ver neste janeiro de chuvas.
Diante desses fatos provocados pela ausência de uma política efetiva de reciclagem, ao invés de se abrirem dezenas, quem sabe centenas de pontos de coleta, é muito difícil conformar-se e aceitar serenamente, o fechamento de um ponto tradicional da cidade.
O lixo, ou melhor, “materiais fora de lugar”, como já afirmou com propriedade o economista Paulo Sandroni da Fundação Getúlio Vargas, deveria ser visto como algo a ser aproveitado e transformado em riqueza, não em algo a ser descartado de qualquer maneira.
Quem sabe se as tragédias persistentes não serão capazes de despertar em nossas autoridades, empresas e cidadãos, a consciência para a realização de esforços em busca de uma cidade e um mundo mais equilibrado e sustentável.
Um presente para o futuro da cidade de São Paulo
Boletim Ethos de Responsabilidade Social na CBN (no ar dia 24/01), comentário de Jorge Abrahão, presidente do Instituto:
Na véspera de completar 457 anos, um bom presente para a cidade de São Paulo, e para nós que aqui moramos, é a perspectiva de transformar nossa capital numa cidade sustentável. Isto significa pensar e implantar melhorias em vários aspectos da vida da metrópole, incluindo-se aí, mudanças de comportamento.
Claro que tais mudanças teriam de contar, necessariamente, com o empenho dos governos, das empresas e da sociedade civil organizada. Um bom começo seria observar com atenção o portal Plataforma Cidades Sustentáveis, que apresenta um compilado de múltiplas práticas de sustentabilidade urbana existentes em diversas cidades do mundo.
Vários desses exemplos podem muito bem ser replicados em São Paulo. Basta para isso vontade política. Vejamos algumas das ações que tornariam possível transformar essa visão em realidade.
Transporte
O sistema de transportes em São Paulo é considerado caótico por dez entre dez paulistanos, que perdem, em média, 2 horas e 40 minutos por dia em deslocamentos pela cidade. Quando se pensa na mobilidade no trânsito de São Paulo, é preciso, antes de tudo, reconhecer a interdependência existente entre transportes, saúde e meio ambiente para então promover opções de mobilidade com caráter sustentável, que iriam contribuir para a redução do impacto das emissões e para a melhoria do ambiente e da saúde pública.
Estão entre essas ações:
• Incentivar e aumentar o uso do transporte coletivo e de bicicleta, bem como os deslocamentos a pé;
• Reduzir a necessidade de utilização do transporte individual motorizado e promover modos de transporte alternativos, viáveis e acessíveis a todos; e
• Encorajar a transição para veículos menos poluentes.
Em Copenhague, capital da Dinamarca, 55% dos seus moradores vão para o trabalho de bicicleta todos os dias. A cidade tem cerca de 340 quilômetros de ciclovias à disposição da população. Isso representa, entre muitas vantagens, menos poluição e melhor qualidade de vida. São Paulo está muito longe disso. segundo a Rede Nossa São Paulo, a cidade possui apenas 47,5 quilômetros de ciclovias e aqui as bicicletas ainda são vistas como meio de lazer, e não de transporte.
Educação
Quando se observa a educação em São Paulo, deve-se levar em conta que a cidade detém um enorme conhecimento em várias áreas. No entanto, esse conhecimento se restringe a poucos, seja pelo nível de instrução, seja pela disponibilização de acesso a ela.
São Paulo tem potencial para tornar-se uma cidade do conhecimento, mas para isso, terá de trilhar, em primeiro lugar, o caminho da redução das desigualdades. Hoje, a maioria esmagadora dos distritos da capital não possui sequer um cinema, um teatro ou uma biblioteca.
Inicialmente, será preciso prover a todos, especialmente crianças e jovens, de oportunidades educativas que lhes permitam desempenhar papel protagonista no desenvolvimento sustentável. Além disso, é preciso integrar na educação formal valores para uma condição de vida sustentável, baseados na ética, na relação saudável e de respeito com o meio ambiente, como descrito no documento Carta da Terra.
Um bom exemplo é a iniciativa australiana por escolas sustentáveis, que tem como objetivo o desenvolvimento de uma cultura escolar comprometida com os princípios da sustentabilidade e sua integração com os currículos escolares como prática cotidiana. De acordo com esse projeto, deve fazer parte do planejamento escolar o uso sustentável de recursos naturais, tanto no estabelecimento de ensino quanto na comunidade. A iniciativa também destaca a importância do envolvimento dos jovens na busca por resultados sociais, ambientais e educacionais efetivos.
Energia e água
Outra preocupação crescente em São Paulo, e em todo o mundo, é o constante crescimento no consumo de energia. Realizar campanhas que promovam a redução do consumo, aumentar a eficiência energética e incentivar a adoção do uso de energias limpas e renováveis traz muitas contribuições, que também impactam na qualidade de vida e na saúde das pessoas.
Um exemplo a ser seguido é o da implantação de energia solar em residências e edifícios, como a existente em larga escala em diversas cidades do mundo. Em Barcelona, na Espanha, uma lei tornou obrigatória a utilização de energia solar para a obtenção de 60% da água quente em todas as novas construções e edifícios reformados. Entre 2000 e 2005, Barcelona aumentou em quase 20 vezes a superfície de painéis solares para aquecimento de água na cidade.
Reduzir e fazer uso racional e consciente da água é outro princípio que devemos perseguir. Para abastecer a população da região metropolitana de São Paulo, é necessário buscar água de localidades cada vez mais distantes. A água é essencial para a vida de todos. Portanto, é urgente a adoção de medidas e campanhas que busquem valorizá-la. Como na questão da energia solar em edifícios, as residências, prédios e casas, poderiam construir reservatórios para armazenar a água da chuva, por exemplo.
Enfim, integrar essas e outras sugestões da Plataforma Cidades Sustentáveis com a criação de programas que promovam a inclusão social, aumentem a eficiência dos serviços públicos e melhorem as condições de vida para todos, será essencial para que São Paulo seja uma cidade com melhor qualidade de vida para seus habitantes.
Gestão pública
Entre muitos desses e outros exemplos, está embutida a necessidade de uma gestão eficiente que conte com a participação de todos os setores. É preciso integrar propostas, construir uma discussão ampla, transparente e democrática, determinar metas e prazos para cumprimento e colocar o interesse público acima dos interesses partidários e de pequenos grupos.
Fórum Empresarial
Para que as empresas se integrem efetivamente nesse processo, o Instituto Ethos e a Rede Nossa São Paulo lançaram, no ano passado, o Fórum Empresarial de Apoio à Cidade de São Paulo. O objetivo do fórum é o de sensibilizar, mobilizar e assessorar as empresas para que atuem visando ao desenvolvimento justo e sustentável da cidade.
O fórum se propõe a criar um banco de projetos e demandas da cidade para orientar e estudar os investimentos das empresas. A ideia central é disponibilizar às empresas um mapa de demandas da cidade para que elas possam investir nas suas reais prioridades.
De forma organizada, sistêmica e eficiente, o fórum contribui para que as empresas empreendam ações e parcerias com outras empresas, organizações sociais, instituições de ensino e pesquisa e o poder público, para, a partir dessas parcerias, elaborar um roteiro de ações e investimentos empresariais que seriam exemplares e prioritários para o desenvolvimento justo e sustentável da cidade de São Paulo.
Também estará a cargo das empresas participantes do fórum promover avaliações periódicas sobre os impactos de suas ações em favor de São Paulo, acompanhando a evolução dos principais indicadores da cidade e de suas regiões, bem como incentivar a criação de fóruns semelhantes em outras cidades brasileiras e promover o intercâmbio entre eles.
Uma São Paulo mais sustentável terá ainda mais razões para comemorar os próximos aniversários. Parabéns São Paulo!
Na véspera de completar 457 anos, um bom presente para a cidade de São Paulo, e para nós que aqui moramos, é a perspectiva de transformar nossa capital numa cidade sustentável. Isto significa pensar e implantar melhorias em vários aspectos da vida da metrópole, incluindo-se aí, mudanças de comportamento.
Claro que tais mudanças teriam de contar, necessariamente, com o empenho dos governos, das empresas e da sociedade civil organizada. Um bom começo seria observar com atenção o portal Plataforma Cidades Sustentáveis, que apresenta um compilado de múltiplas práticas de sustentabilidade urbana existentes em diversas cidades do mundo.
Vários desses exemplos podem muito bem ser replicados em São Paulo. Basta para isso vontade política. Vejamos algumas das ações que tornariam possível transformar essa visão em realidade.
Transporte
O sistema de transportes em São Paulo é considerado caótico por dez entre dez paulistanos, que perdem, em média, 2 horas e 40 minutos por dia em deslocamentos pela cidade. Quando se pensa na mobilidade no trânsito de São Paulo, é preciso, antes de tudo, reconhecer a interdependência existente entre transportes, saúde e meio ambiente para então promover opções de mobilidade com caráter sustentável, que iriam contribuir para a redução do impacto das emissões e para a melhoria do ambiente e da saúde pública.
Estão entre essas ações:
• Incentivar e aumentar o uso do transporte coletivo e de bicicleta, bem como os deslocamentos a pé;
• Reduzir a necessidade de utilização do transporte individual motorizado e promover modos de transporte alternativos, viáveis e acessíveis a todos; e
• Encorajar a transição para veículos menos poluentes.
Em Copenhague, capital da Dinamarca, 55% dos seus moradores vão para o trabalho de bicicleta todos os dias. A cidade tem cerca de 340 quilômetros de ciclovias à disposição da população. Isso representa, entre muitas vantagens, menos poluição e melhor qualidade de vida. São Paulo está muito longe disso. segundo a Rede Nossa São Paulo, a cidade possui apenas 47,5 quilômetros de ciclovias e aqui as bicicletas ainda são vistas como meio de lazer, e não de transporte.
Educação
Quando se observa a educação em São Paulo, deve-se levar em conta que a cidade detém um enorme conhecimento em várias áreas. No entanto, esse conhecimento se restringe a poucos, seja pelo nível de instrução, seja pela disponibilização de acesso a ela.
São Paulo tem potencial para tornar-se uma cidade do conhecimento, mas para isso, terá de trilhar, em primeiro lugar, o caminho da redução das desigualdades. Hoje, a maioria esmagadora dos distritos da capital não possui sequer um cinema, um teatro ou uma biblioteca.
Inicialmente, será preciso prover a todos, especialmente crianças e jovens, de oportunidades educativas que lhes permitam desempenhar papel protagonista no desenvolvimento sustentável. Além disso, é preciso integrar na educação formal valores para uma condição de vida sustentável, baseados na ética, na relação saudável e de respeito com o meio ambiente, como descrito no documento Carta da Terra.
Um bom exemplo é a iniciativa australiana por escolas sustentáveis, que tem como objetivo o desenvolvimento de uma cultura escolar comprometida com os princípios da sustentabilidade e sua integração com os currículos escolares como prática cotidiana. De acordo com esse projeto, deve fazer parte do planejamento escolar o uso sustentável de recursos naturais, tanto no estabelecimento de ensino quanto na comunidade. A iniciativa também destaca a importância do envolvimento dos jovens na busca por resultados sociais, ambientais e educacionais efetivos.
Energia e água
Outra preocupação crescente em São Paulo, e em todo o mundo, é o constante crescimento no consumo de energia. Realizar campanhas que promovam a redução do consumo, aumentar a eficiência energética e incentivar a adoção do uso de energias limpas e renováveis traz muitas contribuições, que também impactam na qualidade de vida e na saúde das pessoas.
Um exemplo a ser seguido é o da implantação de energia solar em residências e edifícios, como a existente em larga escala em diversas cidades do mundo. Em Barcelona, na Espanha, uma lei tornou obrigatória a utilização de energia solar para a obtenção de 60% da água quente em todas as novas construções e edifícios reformados. Entre 2000 e 2005, Barcelona aumentou em quase 20 vezes a superfície de painéis solares para aquecimento de água na cidade.
Reduzir e fazer uso racional e consciente da água é outro princípio que devemos perseguir. Para abastecer a população da região metropolitana de São Paulo, é necessário buscar água de localidades cada vez mais distantes. A água é essencial para a vida de todos. Portanto, é urgente a adoção de medidas e campanhas que busquem valorizá-la. Como na questão da energia solar em edifícios, as residências, prédios e casas, poderiam construir reservatórios para armazenar a água da chuva, por exemplo.
Enfim, integrar essas e outras sugestões da Plataforma Cidades Sustentáveis com a criação de programas que promovam a inclusão social, aumentem a eficiência dos serviços públicos e melhorem as condições de vida para todos, será essencial para que São Paulo seja uma cidade com melhor qualidade de vida para seus habitantes.
Gestão pública
Entre muitos desses e outros exemplos, está embutida a necessidade de uma gestão eficiente que conte com a participação de todos os setores. É preciso integrar propostas, construir uma discussão ampla, transparente e democrática, determinar metas e prazos para cumprimento e colocar o interesse público acima dos interesses partidários e de pequenos grupos.
Fórum Empresarial
Para que as empresas se integrem efetivamente nesse processo, o Instituto Ethos e a Rede Nossa São Paulo lançaram, no ano passado, o Fórum Empresarial de Apoio à Cidade de São Paulo. O objetivo do fórum é o de sensibilizar, mobilizar e assessorar as empresas para que atuem visando ao desenvolvimento justo e sustentável da cidade.
O fórum se propõe a criar um banco de projetos e demandas da cidade para orientar e estudar os investimentos das empresas. A ideia central é disponibilizar às empresas um mapa de demandas da cidade para que elas possam investir nas suas reais prioridades.
De forma organizada, sistêmica e eficiente, o fórum contribui para que as empresas empreendam ações e parcerias com outras empresas, organizações sociais, instituições de ensino e pesquisa e o poder público, para, a partir dessas parcerias, elaborar um roteiro de ações e investimentos empresariais que seriam exemplares e prioritários para o desenvolvimento justo e sustentável da cidade de São Paulo.
Também estará a cargo das empresas participantes do fórum promover avaliações periódicas sobre os impactos de suas ações em favor de São Paulo, acompanhando a evolução dos principais indicadores da cidade e de suas regiões, bem como incentivar a criação de fóruns semelhantes em outras cidades brasileiras e promover o intercâmbio entre eles.
Uma São Paulo mais sustentável terá ainda mais razões para comemorar os próximos aniversários. Parabéns São Paulo!
21 janeiro 2011
Desafios das empresas em uma economia inclusiva
Boletim Ethos de Responsabilidade Social na CBN (no ar dia 17/01), comentário de Paulo Itacarambi, vice-presidente do Instituto:
A mobilidade social vivida pelo país nos últimos anos foi responsável, segundo pesquisa divulgada pela Fundação Getúlio Vargas em setembro do ano passado, pelo deslocamento de 29 milhões de brasileiros das classes D e E para a classe C, no período de 2003 a 2009, o que trouxe grandes desafios para incorporar essas pessoas no mercado de consumo e, ao mesmo tempo, alterar o comportamento dos consumidores para reduzir o impacto ambiental.
E, é bom ressaltar, esse é um ótimo desafio, já que a classe C, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atingiu a marca de 50% da população brasileira, com 95 milhões de pessoas, no final de 2009, e ainda está em processo de crescimento. Nas projeções apresentadas na semana passada pelo Ministério da Fazenda à presidenta Dilma Roussef, até 2014 a classe C deverá atingir 56% dos brasileiros, chegando à expressiva marca de 113 milhões de pessoas.
Portanto, essa expressiva alteração no tecido social brasileiro leva-nos a importantes reflexões sobre a resposta que as empresas têm dado à nova realidade.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Data Popular e publicada pela Folha de S. Paulo na primeira semana de janeiro constatou que existe nas empresas uma grande dificuldade, e até mesmo preconceito, em atender os consumidores de baixa renda. Isso declarado por sete em cada dez executivos consultados.
Segundo a pesquisa, esse preconceito deriva, como era de se esperar, da falta de conhecimento. Para 69% dos entrevistados, as áreas de marketing e propaganda, em geral, não demonstram estar preparadas para comunicar-se com esse público. Para os entrevistados, essas áreas, responsáveis pela divulgação das empresas e de seus produtos, pouco ou nada conhecem desse público de baixa renda.
Na verdade, os desafios das empresas podem ser desdobrados em cinco dimensões: a primeira faz referência ao constatado pela pesquisa, ou seja, o fato de as empresas nem sempre saberem se comunicar com esse público. Em alguns casos considera, de maneira equivocada, que são pessoas mais preocupadas com preços mais baixos do que com a qualidade dos produtos.
Em segundo lugar, as empresas, acostumadas com margens de lucro mais altas, têm dificuldade de se adaptar a uma redução dessas margens, pois ainda não percebem que seus resultados poderão vir de investimentos no aumento dos volumes comercializados.
O terceiro ponto refere-se à dificuldade em atender públicos com características diversas. Como atender públicos distintos no mesmo espaço? Como conciliar o atendimento das necessidades das classes A e B, por um lado, e da classe C, por outro?
Ações nesse sentido já existem, é bom ressaltar: Na matéria “Grifes ampliam mercado com segunda marca”, publicada pela Folha de S. Paulo na última quinta-feira (13/01), estilistas e marcas mais famosas estão buscando atender o público de classe C com produtos de qualidade, mas com preços menores. Enfim, uma tentativa válida de atingir positivamente os integrantes dessa nova classe média.
Em relação ao quarto desafio, as empresas possuem também um papel importante no tocante à orientação dessas famílias que ingressam no mercado de consumo. Elas podem contribuir de maneira efetiva para conscientizar as pessoas para os seus atos de consumo adequados às suas reais necessidades. Ao fazer isso, a empresa contribuirá para colocar a economia nos trilhos da maior eficiência ambiental e social e irá estabelecer uma relação de confiança e respeito entre empresa e consumidor.
Por falar em confiança, esse é o quinto ponto que destacamos e que se insere nos desafios que as empresas precisam encarar com bastante seriedade. Os consumidores duvidam, muitas vezes, da credibilidade das empresas.
Foi essa a conclusão de outra pesquisa, intitulada Responsabilidade Social das Empresas: Percepção do Consumidor Brasileiro, produzida pelo Instituto Akatu e pelo Instituto Ethos e divulgada no ano passado. O relatório revelou que quase metade dos entrevistados não acredita nas informações prestadas pelas empresas. O consumidor sente falta de indicadores confiáveis que realmente comprovem o comportamento socialmente responsável das corporações.
As pesquisas acabam por concluir que a diversidade da gente brasileira, uma das maiores vantagens competitivas do país, ainda não é considerada fator estratégico pelas nossas empresas.
Esse cenário, em que aparecem claramente desconhecimento de um lado e desconfiança de outro pode e deve ser mudado com a máxima urgência. O empresariado brasileiro precisa estabelecer uma nova relação baseada na transparência. Precisa adotar compromissos claros, com metas, objetivos e prazos bem definidos, além da prestação de contas periódicas. É necessário também que as empresas estejam atentas e sensíveis aos novos tempos e, acima de tudo, que aprendam a ouvir e entender essa grande massa de consumidores/cidadãos.
Isso vai exigir da gestão um pensamento de longo prazo e de vanguarda, com investimento em práticas que produzam resultados que sejam percebidos e avaliados positivamente pela sociedade. A transparência nos negócios e uma comunicação de mão dupla que saiba o que dizer, mas também seja capaz de ouvir os consumidores de todas as faixas de renda, é um bom desafio em que todos ganham.
Essa adequação das empresas é urgente, pois, esperamos que a ascensão das faixas mais pobres da população seja uma tendência irreversível que garanta o sonhado fim da pobreza e o alcance de qualidade de vida para todos. Nos últimos anos assistimos a esse movimento de pessoas que antes mal consumiam para a sua própria sobrevivência e hoje já integram uma nova classe média, com poder de consumo e também ávida pela conquista de respeito e de seus direitos como cidadãos.
Quebrar paradigmas, vencer preconceitos e buscar os caminhos de um desenvolvimento mais sustentável são bandeiras defensáveis do ponto de vista moral, mas também condições sine qua non para o futuro dos negócios. São mudanças que beneficiam a todos: empresários, consumidores e, enfim, todos os cidadãos brasileiros.
A mobilidade social vivida pelo país nos últimos anos foi responsável, segundo pesquisa divulgada pela Fundação Getúlio Vargas em setembro do ano passado, pelo deslocamento de 29 milhões de brasileiros das classes D e E para a classe C, no período de 2003 a 2009, o que trouxe grandes desafios para incorporar essas pessoas no mercado de consumo e, ao mesmo tempo, alterar o comportamento dos consumidores para reduzir o impacto ambiental.
E, é bom ressaltar, esse é um ótimo desafio, já que a classe C, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atingiu a marca de 50% da população brasileira, com 95 milhões de pessoas, no final de 2009, e ainda está em processo de crescimento. Nas projeções apresentadas na semana passada pelo Ministério da Fazenda à presidenta Dilma Roussef, até 2014 a classe C deverá atingir 56% dos brasileiros, chegando à expressiva marca de 113 milhões de pessoas.
Portanto, essa expressiva alteração no tecido social brasileiro leva-nos a importantes reflexões sobre a resposta que as empresas têm dado à nova realidade.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Data Popular e publicada pela Folha de S. Paulo na primeira semana de janeiro constatou que existe nas empresas uma grande dificuldade, e até mesmo preconceito, em atender os consumidores de baixa renda. Isso declarado por sete em cada dez executivos consultados.
Segundo a pesquisa, esse preconceito deriva, como era de se esperar, da falta de conhecimento. Para 69% dos entrevistados, as áreas de marketing e propaganda, em geral, não demonstram estar preparadas para comunicar-se com esse público. Para os entrevistados, essas áreas, responsáveis pela divulgação das empresas e de seus produtos, pouco ou nada conhecem desse público de baixa renda.
Na verdade, os desafios das empresas podem ser desdobrados em cinco dimensões: a primeira faz referência ao constatado pela pesquisa, ou seja, o fato de as empresas nem sempre saberem se comunicar com esse público. Em alguns casos considera, de maneira equivocada, que são pessoas mais preocupadas com preços mais baixos do que com a qualidade dos produtos.
Em segundo lugar, as empresas, acostumadas com margens de lucro mais altas, têm dificuldade de se adaptar a uma redução dessas margens, pois ainda não percebem que seus resultados poderão vir de investimentos no aumento dos volumes comercializados.
O terceiro ponto refere-se à dificuldade em atender públicos com características diversas. Como atender públicos distintos no mesmo espaço? Como conciliar o atendimento das necessidades das classes A e B, por um lado, e da classe C, por outro?
Ações nesse sentido já existem, é bom ressaltar: Na matéria “Grifes ampliam mercado com segunda marca”, publicada pela Folha de S. Paulo na última quinta-feira (13/01), estilistas e marcas mais famosas estão buscando atender o público de classe C com produtos de qualidade, mas com preços menores. Enfim, uma tentativa válida de atingir positivamente os integrantes dessa nova classe média.
Em relação ao quarto desafio, as empresas possuem também um papel importante no tocante à orientação dessas famílias que ingressam no mercado de consumo. Elas podem contribuir de maneira efetiva para conscientizar as pessoas para os seus atos de consumo adequados às suas reais necessidades. Ao fazer isso, a empresa contribuirá para colocar a economia nos trilhos da maior eficiência ambiental e social e irá estabelecer uma relação de confiança e respeito entre empresa e consumidor.
Por falar em confiança, esse é o quinto ponto que destacamos e que se insere nos desafios que as empresas precisam encarar com bastante seriedade. Os consumidores duvidam, muitas vezes, da credibilidade das empresas.
Foi essa a conclusão de outra pesquisa, intitulada Responsabilidade Social das Empresas: Percepção do Consumidor Brasileiro, produzida pelo Instituto Akatu e pelo Instituto Ethos e divulgada no ano passado. O relatório revelou que quase metade dos entrevistados não acredita nas informações prestadas pelas empresas. O consumidor sente falta de indicadores confiáveis que realmente comprovem o comportamento socialmente responsável das corporações.
As pesquisas acabam por concluir que a diversidade da gente brasileira, uma das maiores vantagens competitivas do país, ainda não é considerada fator estratégico pelas nossas empresas.
Esse cenário, em que aparecem claramente desconhecimento de um lado e desconfiança de outro pode e deve ser mudado com a máxima urgência. O empresariado brasileiro precisa estabelecer uma nova relação baseada na transparência. Precisa adotar compromissos claros, com metas, objetivos e prazos bem definidos, além da prestação de contas periódicas. É necessário também que as empresas estejam atentas e sensíveis aos novos tempos e, acima de tudo, que aprendam a ouvir e entender essa grande massa de consumidores/cidadãos.
Isso vai exigir da gestão um pensamento de longo prazo e de vanguarda, com investimento em práticas que produzam resultados que sejam percebidos e avaliados positivamente pela sociedade. A transparência nos negócios e uma comunicação de mão dupla que saiba o que dizer, mas também seja capaz de ouvir os consumidores de todas as faixas de renda, é um bom desafio em que todos ganham.
Essa adequação das empresas é urgente, pois, esperamos que a ascensão das faixas mais pobres da população seja uma tendência irreversível que garanta o sonhado fim da pobreza e o alcance de qualidade de vida para todos. Nos últimos anos assistimos a esse movimento de pessoas que antes mal consumiam para a sua própria sobrevivência e hoje já integram uma nova classe média, com poder de consumo e também ávida pela conquista de respeito e de seus direitos como cidadãos.
Quebrar paradigmas, vencer preconceitos e buscar os caminhos de um desenvolvimento mais sustentável são bandeiras defensáveis do ponto de vista moral, mas também condições sine qua non para o futuro dos negócios. São mudanças que beneficiam a todos: empresários, consumidores e, enfim, todos os cidadãos brasileiros.
13 janeiro 2011
12 janeiro 2011
ENERGIAS RENOVÁVEIS GANHAM NOVO IMPULSO EM 2.011
Boletim Ethos de Responsabilidade Social na CBN (no ar dia 10/01), comentário de Paulo Itacarambi, vice-presidente do Instituto:
O novo ano começa com boas perspectivas e desafios para a chamada economia verde e a geração de energias limpas e renováveis.
Na semana passada o BNDES aprovou um financiamento de quase 600 milhões de reais para a construção de nove usinas eólicas no interior da Bahia, com potência instalada de 195,2 megawatts. Esse nada mais é do que o reconhecimento, por parte do principal banco de investimento do governo brasileiro, ao trabalho que vem sendo realizado pelas empresas, no sentido de viabilizar o incremento das alternativas de produção de energia de baixo carbono.
Atualmente, as usinas eólicas somam 930 MW espalhados por 50 parques no país. Em termos de comparação ainda representa pouco, cerca de 0,6% do total da nossa matriz energética. Mas a previsão é de um crescimento de 320% nesta década, segundo divulgou a Empresa de Pesquisa Energética, a EPE, ligada ao Ministério de Minas e Energia, o que vai elevar a participação da energia eólica para mais de 3%. Até 2019 as novas unidades e parques eólicos terão potência total de 6.041 MW, quase equivalente ao das usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, que estão sendo construídas atualmente no rio Madeira, em Rondônia.
Por outro lado, segundo a EPE, os cálculos mais otimistas falam em um potencial para se instalar até 300 mil megawatts de usinas eólicas no Brasil. Para termos de comparação hoje a capacidade hidrelétrica brasileira, geradora da maior parte da nossa energia elétrica, está estimada em 110 mil megawatts de potência. Portanto, podemos afirmar que atingir 3% de energia eólica em nossa matriz energética, está muito aquém do verdadeiro potencial a ser explorado. Já que a iniciativa privada tem feito sua parte investindo e demandando ao governo que reaja a essas ações, talvez seja preciso ampliar a atuação governamental e garantir assim o aumento substancial das fontes eólicas bem acima dos previstos 3%.
Bons exemplos não faltam: segundo matéria publicada no final do ano passado pelo jornal Estado de Minas, com dados fornecidos pela Universidade Federal mineira e pela Cemig, no Sul da Bahia e na Região Central de Minas Gerais, mais precisamente em Sete Lagoas, a 80 quilômetros de Belo Horizonte, os ventos que cortam serras localizadas nesses pontos abrigam um potencial para geração de energia 3,5 vezes maior do que o da usina hidrelétrica de Belo Monte, a ser construída no Rio Xingu, na Amazônia. A previsão é que Belo Monte, tenha potência instalada de 11.233 megawatts.
No mesmo sentido, vale refletir sobre as propostas apresentadas pelo Greenpeace aos então candidatos à presidência Serra e Dilma no segundo turno. A organização ambientalista propôs uma série de implementações arrojadas e inovadoras para a inserção definitiva do país na economia de baixo carbono do século XXI. Do desmatamento zero até 2.015, da redução no uso de energias fósseis, ou seja carvão e petróleo, e o conseqüente aumento no uso das energias renováveis, entre algumas das principais demandas. Se a trajetória de investimentos for mantida, em 2050, 72% da energia brasileira virão de fontes renováveis e 21,8% ainda virão dos combustíveis fósseis. No cenário proposto pelo Greenpeace, o percentual de fontes renováveis chegará a 92,6% da matriz, não haverá geração nuclear e o único fóssil utilizado na geração de energia será o gás natural - considerado um combustível de transição - com 7,3% de participação.
A opção pelas fontes renováveis pode resultar em uma redução drástica das emissões de dióxido de carbono (CO2) equivalente (medida que considera todos os gases de efeito estufa) do setor energético previstas para 2050, de 147 milhões de toneladas para 23 milhões de toneladas.
Além do benefício ambiental, uma matriz mais limpa poderia reduzir custos de produção de energia no Brasil. Até 2050, a economia pode chegar a R$ 1 trilhão, com o aumento da eficiência energética e a instalação de projetos em áreas distantes do sistema interligado de distribuição.
O novo ano começa com boas perspectivas e desafios para a chamada economia verde e a geração de energias limpas e renováveis.
Na semana passada o BNDES aprovou um financiamento de quase 600 milhões de reais para a construção de nove usinas eólicas no interior da Bahia, com potência instalada de 195,2 megawatts. Esse nada mais é do que o reconhecimento, por parte do principal banco de investimento do governo brasileiro, ao trabalho que vem sendo realizado pelas empresas, no sentido de viabilizar o incremento das alternativas de produção de energia de baixo carbono.
Atualmente, as usinas eólicas somam 930 MW espalhados por 50 parques no país. Em termos de comparação ainda representa pouco, cerca de 0,6% do total da nossa matriz energética. Mas a previsão é de um crescimento de 320% nesta década, segundo divulgou a Empresa de Pesquisa Energética, a EPE, ligada ao Ministério de Minas e Energia, o que vai elevar a participação da energia eólica para mais de 3%. Até 2019 as novas unidades e parques eólicos terão potência total de 6.041 MW, quase equivalente ao das usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, que estão sendo construídas atualmente no rio Madeira, em Rondônia.
Por outro lado, segundo a EPE, os cálculos mais otimistas falam em um potencial para se instalar até 300 mil megawatts de usinas eólicas no Brasil. Para termos de comparação hoje a capacidade hidrelétrica brasileira, geradora da maior parte da nossa energia elétrica, está estimada em 110 mil megawatts de potência. Portanto, podemos afirmar que atingir 3% de energia eólica em nossa matriz energética, está muito aquém do verdadeiro potencial a ser explorado. Já que a iniciativa privada tem feito sua parte investindo e demandando ao governo que reaja a essas ações, talvez seja preciso ampliar a atuação governamental e garantir assim o aumento substancial das fontes eólicas bem acima dos previstos 3%.
Bons exemplos não faltam: segundo matéria publicada no final do ano passado pelo jornal Estado de Minas, com dados fornecidos pela Universidade Federal mineira e pela Cemig, no Sul da Bahia e na Região Central de Minas Gerais, mais precisamente em Sete Lagoas, a 80 quilômetros de Belo Horizonte, os ventos que cortam serras localizadas nesses pontos abrigam um potencial para geração de energia 3,5 vezes maior do que o da usina hidrelétrica de Belo Monte, a ser construída no Rio Xingu, na Amazônia. A previsão é que Belo Monte, tenha potência instalada de 11.233 megawatts.
No mesmo sentido, vale refletir sobre as propostas apresentadas pelo Greenpeace aos então candidatos à presidência Serra e Dilma no segundo turno. A organização ambientalista propôs uma série de implementações arrojadas e inovadoras para a inserção definitiva do país na economia de baixo carbono do século XXI. Do desmatamento zero até 2.015, da redução no uso de energias fósseis, ou seja carvão e petróleo, e o conseqüente aumento no uso das energias renováveis, entre algumas das principais demandas. Se a trajetória de investimentos for mantida, em 2050, 72% da energia brasileira virão de fontes renováveis e 21,8% ainda virão dos combustíveis fósseis. No cenário proposto pelo Greenpeace, o percentual de fontes renováveis chegará a 92,6% da matriz, não haverá geração nuclear e o único fóssil utilizado na geração de energia será o gás natural - considerado um combustível de transição - com 7,3% de participação.
A opção pelas fontes renováveis pode resultar em uma redução drástica das emissões de dióxido de carbono (CO2) equivalente (medida que considera todos os gases de efeito estufa) do setor energético previstas para 2050, de 147 milhões de toneladas para 23 milhões de toneladas.
Além do benefício ambiental, uma matriz mais limpa poderia reduzir custos de produção de energia no Brasil. Até 2050, a economia pode chegar a R$ 1 trilhão, com o aumento da eficiência energética e a instalação de projetos em áreas distantes do sistema interligado de distribuição.
11 janeiro 2011
DESAFIOS DA TRANSIÇÃO PARA UMA SOCIEDADE SOCIAL E AMBIENTALMENTE RESPONSÁVEL
Boletim Ethos de Responsabilidade Social na CBN (no ar dia 07/01), comentário de Jorge Abrahão, presidente do Instituto:
Um novo ano se inicia com a posse da primeira mulher presidente de nosso país e as expectativas são positivas para que possamos avançar no rumo de uma sociedade mais justa e sustentável. E para que isso se torne possível precisaremos enfrentar alguns desafios para continuar o processo de amadurecimento das empresas, dos governos e da sociedade como um todo para a consolidação das questões ligadas a responsabilidade social e ambiental.
Para efetivamente chegarmos a uma sociedade sustentável será preciso atuar em diversas dimensões.
A dimensão política com o aprimoramento da democracia representativa, pois é por meio dela que são tomadas decisões importantes que impactam a vida de todos, portanto, será fundamental não mais se postergar a reforma política. Precisaremos também aprimorar os mecanismos de democracia participativa com o fortalecimento dos conselhos comunitários em seus diversos campos de atuação, tais como, os de segurança, educação e ambiental. Também destaco a importância da participação direta do cidadão utilizando mais e melhor as leis de iniciativa popular e os referendos.
Já na dimensão econômica, existem grandes desafios para as empresas, podemos citar a melhoria de processos, como a substituição de matriz energética com investimento em energias limpas, a ampliação no tratamento de resíduos ou mudanças na logística como a substituição do transporte rodoviário pelo ferroviário, entre outros exemplos. Além é claro, das práticas da inovação e da visão de longo prazo com critérios de desenvolvimento sustentável, fundamentais para a consolidação das atividades empresariais.
Na dimensão cultural cabe refletir sobre a necessária mudança de comportamento de todos nós cidadãos, nos espaços públicos, no trabalho, em casa e que sejam reavaliados para se tornarem mais sustentáveis em nosso cotidiano. Como eu uso a água, como trato o lixo ou como eu utilizo as fontes de energia que estão a minha disposição. Aspectos como o da educação cidadã e do consumo consciente devem fazer parte de nossa vida de maneira definitiva. Ao tomarmos as decisões de consumo devemos considerar os impactos sociais e ambientais dessas ações.
A união de todas essas dimensões tem como objetivo maior garantir a erradicação da pobreza, a redução das desigualdades sociais e a melhor distribuição de renda no país. Em resumo, a urgente e inadiável busca pela melhor qualidade de vida para toda a sociedade.
Por todas essas razões, o Instituto Ethos está criando uma agenda, para os próximos 10 anos, ou seja, pensando 10 anos à frente, com o estabelecimento de ações concretas sobre o papel dos governos, das empresas, das organizações e dos cidadãos para que se faça uma perene e definitiva transição para uma sociedade mais sustentável.
Um novo ano se inicia com a posse da primeira mulher presidente de nosso país e as expectativas são positivas para que possamos avançar no rumo de uma sociedade mais justa e sustentável. E para que isso se torne possível precisaremos enfrentar alguns desafios para continuar o processo de amadurecimento das empresas, dos governos e da sociedade como um todo para a consolidação das questões ligadas a responsabilidade social e ambiental.
Para efetivamente chegarmos a uma sociedade sustentável será preciso atuar em diversas dimensões.
A dimensão política com o aprimoramento da democracia representativa, pois é por meio dela que são tomadas decisões importantes que impactam a vida de todos, portanto, será fundamental não mais se postergar a reforma política. Precisaremos também aprimorar os mecanismos de democracia participativa com o fortalecimento dos conselhos comunitários em seus diversos campos de atuação, tais como, os de segurança, educação e ambiental. Também destaco a importância da participação direta do cidadão utilizando mais e melhor as leis de iniciativa popular e os referendos.
Já na dimensão econômica, existem grandes desafios para as empresas, podemos citar a melhoria de processos, como a substituição de matriz energética com investimento em energias limpas, a ampliação no tratamento de resíduos ou mudanças na logística como a substituição do transporte rodoviário pelo ferroviário, entre outros exemplos. Além é claro, das práticas da inovação e da visão de longo prazo com critérios de desenvolvimento sustentável, fundamentais para a consolidação das atividades empresariais.
Na dimensão cultural cabe refletir sobre a necessária mudança de comportamento de todos nós cidadãos, nos espaços públicos, no trabalho, em casa e que sejam reavaliados para se tornarem mais sustentáveis em nosso cotidiano. Como eu uso a água, como trato o lixo ou como eu utilizo as fontes de energia que estão a minha disposição. Aspectos como o da educação cidadã e do consumo consciente devem fazer parte de nossa vida de maneira definitiva. Ao tomarmos as decisões de consumo devemos considerar os impactos sociais e ambientais dessas ações.
A união de todas essas dimensões tem como objetivo maior garantir a erradicação da pobreza, a redução das desigualdades sociais e a melhor distribuição de renda no país. Em resumo, a urgente e inadiável busca pela melhor qualidade de vida para toda a sociedade.
Por todas essas razões, o Instituto Ethos está criando uma agenda, para os próximos 10 anos, ou seja, pensando 10 anos à frente, com o estabelecimento de ações concretas sobre o papel dos governos, das empresas, das organizações e dos cidadãos para que se faça uma perene e definitiva transição para uma sociedade mais sustentável.
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