Reinaldo Canto* Especial para a Envolverde
São inúmeros os casos em que aqueles contemplados por homenagens com dias especiais, tais como, Dia do Índio, Dia do Meio Ambiente, Dia da Árvore ou, como nesta semana, o 5 de outubro, Dia das Aves, são concedidos tal qual uma mea culpa diante de tantos exemplos de agressões e desrespeito.
Pois ao falarmos do Dia da Árvore, “comemorado”, assim mesmo entre aspas, no último dia 21 de setembro é preciso uma reflexão sobre a sua importância e relevância para todos. Pois, infelizmente, ainda há quem duvide dos benefícios que esses seres com formas, cores e personalidades tão diversas exerce sobre os habitantes desse nosso querido planetinha.
Se pensarmos nos últimos dias em que muitas cidades do Sul e Sudeste enfrentaram chuvas torrenciais e, a conseqüente queda de árvores danificando patrimônios materiais de muitas famílias, alguns podem ter concluído: “para que não se corra o risco delas caírem, basta simplesmente, remove-las e o problema está resolvido”.
Também podemos lembrar da “pérola” proferida pelo ex-presidente norte-americano George “já foi muito tarde” Bush ao expressar sua brilhante solução para combater os incêndios florestais na Califórnia: “é só cortar as árvores”, afirmou ele maravilhado com a própria genialidade.
Eu, sinceramente, espero que esses pensamentos não povoem as mentes da maioria das pessoas, pois as árvores possuem tantos e variados atributos que pareceria até desnecessário defende-las. Mas longe disso, diante do cotidiano de descaso e desrespeito, as árvores exigem defesas eloqüentes e barulhentas.
Das funções primordiais das árvores que poderíamos chamar de macro aptidões, estão a absorção do carbono que minimiza os efeitos das mudanças climáticas, a proteção dos rios e nascentes que nos abastecem de água limpa e como um componente essencial das florestas que contribuem para a preservação da biodiversidade do planeta. Isso para não falar da madeira largamente usada na construção civil e na fabricação de móveis, nem sempre de maneira correta e sustentável.
Carinho que falta no meio urbano
Nas cidades, as árvores também desempenham um papel de protagonista e vão muito além da estética. E, alguns desses benefícios são facilmente constatados.
Um deles foi observado tempos atrás pelo jornalista André Trigueiro da Globo News, ele contou que apenas numa rua do bairro do Botafogo, na cidade do Rio de Janeiro, era possível encontrar várias sensações térmicas diferentes ao longo do seu trajeto. Essas temperaturas iam do calor insuportável num dia de verão carioca, a um clima que se tornava mais ameno, justamente nos trechos em que lá estavam as árvores. É só você entrar num parque ou passar por uma rua arborizada num dia de muito calor para sentir a diferença. Onde prevalece o asfalto e o concreto, a sensação é sufocante. Na presença do verde tanto o clima quanto a paisagem se tornam mais agradáveis e amenas.
Se além do mais levarmos em conta o estudo do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, divulgado pelo Estadão (21/09), as árvores são também grandes aliados à saúde dos habitantes das cidades. Segundo o laboratório, as árvores absorvem, além de gás carbônico, os metais pesados suspensos no ar. Cinco parques de São Paulo foram analisados durante 4 anos para que os pesquisadores chegassem a essa conclusão.
Diante de constatações tão determinantes, falar da urgente necessidade de plantarmos mais exemplares, preferencialmente, espécies nativas seria até redundância. Mas creio que essas informações ainda precisem ser passadas para as nossas autoridades e para a população em geral.
Fatos recentes na cidade de São Paulo reforçam o que disse anteriormente. A ampliação das pistas da Marginal Tietê resultou no corte de um grande número de árvores e a reforma da Avenida Paulista, concluída no final do ano, deixou a via com menos 100 árvores.
Esses exemplos podem ser multiplicados, quase sem exceção, por todas as cidades brasileiras. Árvores muitas vezes são consideradas obstáculos ao progresso e precisam ser exterminadas para felicidade geral da nação. Será mesmo? Até quando teremos a ilusão de que para construir, crescer, será necessário também destruir?
Sem ferir suscetibilidades aos fãs incondicionais dos animais domésticos, mas proponho que a árvore receba o status de melhor amiga do homem ao lado dos caninos. Afinal, se pudessem se manifestar, os cães não teriam dúvidas em eleger a árvore como sua melhor amiga ao lado, é claro, do seu dono e mantenedor.
Então se a árvore é amiga de todos, porque não cuidarmos dela como ela cuida de nós??
Plante, regue, olhe com carinho e sorria para as árvores que estiverem ao seu alcance garanto a você que elas saberão retribuir essa atenção!
*Jornalista, consultor e palestrante, foi Diretor de Comunicação do Greenpeace e Coordenador de Comunicação do Instituto Akatu
06 outubro 2009
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Um comentário:
Gostei do post. Uma boa reflexão que só encontramos nesses nossos "meios" e não nos tradicionais. Parabéns.
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