10 setembro 2013

Sustentabilidade a serviço do negócio


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Andressa de Mello (JBS Ambiental). Foto: Thiago Lopes
JBS alcança autossuficiência econômica na gestão de resíduos e reduz os impactos ao meio ambiente.
Um grande desafio e sinal de inteligência nos negócios para qualquer organização é transformar um problema em solução. Ou ao menos chegar perto disso. A cada dia as empresas se deparam com situações mais delicadas quando o assunto é a geração de resíduos de suas atividades.
Para a JBS, maior empresa na produção de proteína animal do mundo, esse desafio tem ainda peculiaridades que dificultam fazer a gestão da enorme quantidade de resíduos resultantes de seus processos de produção em mais de 70 plantas industriais, sendo 44 frigoríficos. A maior parte desse material está exatamente nos frigoríficos que, em razão dos abates e desossa resultante da industrialização da carne, geram resíduos com sangue que possuem baixo valor e de difícil venda ou descarte. Além desses, o grupo JBS possui outras atividades como a fabricação de sabonetes, biodiesel, latas de aço e couro.
Diante desse cenário, a multinacional decidiu no início de 2012 pela criação da empresa JBS Ambiental Recicladora, que tem como principal missão, dar soluções para o gerenciamento dos resíduos do grupo por meio da reciclagem e da revenda. Para Andressa de Mello, diretora da JBS Ambiental, o objetivo está sendo plenamente alcançado, apesar de ainda existirem inúmeras questões a serem trabalhadas.
O que antes representava um custo grande para a empresa dar destino adequado dos resíduos, a nova área de negócios já obteve alguns bons resultados, como redução nas despesas com descarte e destinação; minimização do passivo e riscos ambientais; e implementação em todo o grupo de uma visão sobre a importância da sustentabilidade para o futuro dos negócios.
Alguns números emblemáticos desse trabalho realizado durante todo o ano passado revelam o sucesso da empreitada para a empresa, colaboradores e meio ambiente. O volume total de resíduos coletados foi de 2.000 toneladas por mês. Desse total, foram tratadas e, posteriormente, vendidas, 2.300 toneladas de resinas plásticas e mais de 100 outros tipos de resíduos. O faturamento em 2012 com essas atividades chegou à marca de R$ 33 milhões. Mas os ganhos obtidos pela empresa vão muito além dos financeiros.
Andressa conta que esse trabalho contribui para a conquista de novos clientes e a garantia de manutenção dos atuais, principalmente os do exterior, pois os frigoríficos são constantemente auditados e certificados. O quesito resíduos tem sido aprovado em todas essas auditorias nas sete centrais de gerenciamento de resíduos mantidos pela empresa em frigoríficos.
Rastreabilidade, trabalho social e parcerias – Pouco comum no setor, a JBS também adotou o sistema de rastreabilidade de todos os resíduos resultantes de seus processos. Dessa maneira, a empresa garante o controle detalhado da destinação dos materiais e minimiza os riscos ambientais.
Paralelamente, é realizado um trabalho de educação ambiental destinado aos funcionários e extensivo às suas famílias sobre reciclagem, economia de recursos, gestão e processos, entre os principais temas.
Outro aspecto importante do trabalho da JBS Ambiental Recicladora está no fomento ao empreendedorismo e criação de novos negócios. Em cada central de gerenciamento de resíduos são identificados os possíveis clientes e/ou parceiros locais para trabalhar em conjunto. Também são estimuladas parcerias que sejam capazes de gerar valor agregado para tipos diferentes de resíduos e possíveis novos negócios.
Nesse último destaque feito por Andressa está contemplado o que prevê a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que fala exatamente em responsabilidade compartilhada nas soluções que envolvem toda a geração de resíduos no país. “Não daríamos conta de montar uma logística reversa de pós-consumo”, afirma. Ela ainda faz um alerta para concorrentes, mas que vale para todo o setor empresarial: “se cada empresa se preocupar em criar o seu próprio modelo de gestão de resíduos, acabará por comprometer o todo”.
Por Reinaldo Canto, especial para o Ethos
(Envolverde)

Case do Walmart é exemplo de indutor de mudanças no setor varejista


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Camila Valverde, diretora de Sustentabilidade, explica aos participantes da mesa e plateia a nova fase do programa Ponta a Ponta do Walmart. Foto: Fernando Manoel
Hipermercado apresenta nova rodada de resultados do programa Sustentabilidade de Ponta a Ponta.
Desde 2010, o programa Sustentabilidade de Ponta a Ponta do Walmart tem sido um importante instrumento de valorização, transformação e estímulo para que os fornecedores da cadeia varejista fabriquem produtos mais sustentáveis e, consequentemente, impactem menos o meio ambiente.
Camila Valverde, diretora de Sustentabilidade da empresa, ocupou o espaço Negócios Sustentáveis, patrocinado pelo Itaú Unibanco, para apresentar os números e os bons resultados alcançados pelo projeto apesar de seu curto período de existência.
Até agora foram realizadas duas edições e uma terceira está em andamento. Participaram já do projeto 23 fornecedores, entre as maiores empresas (Colgate-Palmolive, Coca-Cola e Nestlé, só para citar alguns exemplos), com a obtenção de resultados significativos como a economia de 232.430 litros de óleo diesel; redução na geração de resíduos (industrial e agrícola) na ordem de 250.400 kg; diminuição no uso de massas de embalagem de 79.450 kg e menor consumo de água (cerca de 2 milhões e 400 mil litros).
Camila explicou que isso foi possível a partir da constatação, em 2008, de que qualquer ação para reduzir os impactos causados pela rede só poderia ser feita com a participação direta das empresas vinculadas à sua cadeia produtiva. Os impactos ambientais diretos do Walmart estão na casa dos 8%, enquanto os indiretos, ou seja, os gerados por seus fornecedores representavam naquele momento 92%.
Os consultores do Centro de Tecnologia de Embalagens (Cetea), ligado ao Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), analisaram as melhorias nos produtos e os ganhos ambientais, econômicos e sociais alcançados. Foram consumidos um ano e meio até que os primeiros produtos e processos industriais fossem avaliados e aprovados pelo Cetea. O objetivo principal era o de obter melhorias nos processos da indústria de bens de consumo para o desenvolvimento de produtos mais sustentáveis durante todo o ciclo de vida do produto. “Também foram avaliados itens como transporte, logística e relação equilibrada com serviços ecossistêmicos”, completou Camila.
O poder de negociação do Walmart, nesse caso, foi usado inicialmente como ferramenta de convencimento para engajar as empresas, mas agora já se tornou uma prática de parceria e incentivo a que outros fornecedores da rede de supermercados adotem ações semelhantes aos seus concorrentes.
Após o sucesso inicial do Sustentabilidade de Ponta a Ponta junto a quem lhe fornece os produtos a serem vendidos, o Walmart está colocando foco no consumidor. “Temos exibido vídeos nas lojas, trabalhado com materiais impressos e cursos gratuitos na Fundação Getúlio Vargas (FGV) para trabalhar a conscientização do consumidor sobre a importância da sustentabilidade”, informou Camila. “De qualquer maneira, ainda há muito por fazer, completou”.
O caminho ainda é longo, mas diante dos bons resultados com os produtos feitos já com a meta de redução do uso de embalagens e otimização dos processos de produção, as perspectivas de crescimento são bastante animadoras. Como resultado do esforço e investimento, os itens desta grupo lideram em vendas em seus segmentos, mostrando que o consumidor está cada vez aderindo à causa da sustentabilidade.
Reinaldo Canto, especial para o Ethos
(Envolverde)

Natura apresenta case de linha ainda mais sustentável


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Fabiana Tomas Pelliciari apresenta nova linha da Natura. Foto: Fernando Manoel
Empresa reforça capacidade de reduzir impacto ambiental.
A Natura já é bastante reconhecida por seu trabalho na busca da adoção de critérios de sustentabilidade na fabricação de seus produtos e, neste segundo dia da Conferência Ethos, a empresa avança no seu compromisso ao apresentar a linha Sou, de sabonetes e hidratantes, que tem entre seus principais atributos a redução dos impactos ambientais e da emissão de gases de efeito estufa de suas embalagens.
No espaço destinado às discussões sobre Negócios Sustentáveis, a diretora da Natura, Fabiana Tomas Pelliciari, afirmou que com o lançamento desse novo produto, a empresa reforça o compromisso com o desenvolvimento sustentável e com o consumo consciente, “radicalizando a redução do impacto ambiental”, enfatizou Fabiana.
Nas embalagens desse produto são usados 70% menor quantidade de plástico. Além disso, sua produção reduziu em 60% as emissões dos gases de efeito estufa gerados em outros produtos similares. Além desses benefícios foram também apontados como fatores importantes na redução dos impactos ambientais, o menor tempo para a fabricação do produto, consumo menor de energia e até mesmo a redução no número de ingredientes e ausência de corantes.
Sustentabilidade e carestia – Outro ponto destacado foi o objetivo da Natura em democratizar a sustentabilidade, tornando a faixa de preços de seus produtos mais em conta e assim ser capaz de atingir novos consumidores. “Pesquisas do Akatu já revelaram que a maioria dos consumidores tem a disposição de comprar produtos mais sustentáveis, mas também não querem pagar mais por isso”, esclareceu Fabiana. Por isso, a linha de produtos Sou está sendo comercializada com valores mais acessíveis do que os normalmente praticados pela empresa. “Estamos buscando formas de aproximação maior com o consumidor. E o preço é um dos componentes, bem como passar uma visão de que consumir de maneira mais inteligente também deve ser sem excessos e desperdícios”.
A embalagem do Sou cabe bem nessa ideia de evitar desperdícios. Como ela é flexível, o consumidor poderá utilizá-la até o final sem optar por “virar a embalagem de cabeça para baixo ou colocar água em seu interior”, explicou a diretora da Natura.
Produto mais acessível e sustentável parece ser um bom caminho adotado pela empresa de higiene e beleza. Basta conferir os números de vendas das seis semanas em que o Sou foi comercializado, período em que já bateu os recordes da empresa em volume e faturamento, além de ter conquistado mais de 6 mil fãs nas redes sociais.
O case exemplifica para outras empresas que produtos sustentáveis devem estar ao alcance de todos e não apenas aos que podem pagar mais caro por eles.
Reinaldo Canto, especial para o Ethos
(Envolverde)

Objetivos do Desenvolvimento Sustentável ainda é tema de discussões complexas


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Foto: Clovis Fabiano
ODS ainda precisam ser melhor compreendidos pelas empresas para que cumpram seu papel.
Decorrido mais de um ano da realização da Rio+20 (Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável) no Rio de Janeiro, uma de suas discussões mais relevantes segue ainda na pauta da sociedade: o engajamento e o posicionamento da iniciativa privada na busca pelo desenvolvimento sustentável.
No lotado Teatro Geo, no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, os participantes da Conferência Ethos 2013 ouviram diferentes visões de representantes de entidades empresariais, da área governamental e estudiosos do tema, todas elas carregadas de preocupação e um discreto otimismo. Afinal, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) suscitam um debate complexo e de difícil execução, mas também foram considerados por todos da mesa como totalmente imprescindíveis.
Para o setor privado, falta identificar e estabelecer metas que possam ser devidamente compreendidas pelo empresariado. Segundo eles, diferentemente dos pontos estabelecidos pelos Objetivos do Milênio, que traziam pontos facilmente identificáveis, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável ainda precisam ser traduzidos.
Para corroborar com o atual estado de ânimo do setor privado, o presidente do Instituto Ethos, Jorge Abrahão, apresentou dados de uma pesquisa que revela compreensão das empresas sobre a urgência de se colocar o tema do desenvolvimento sustentável na agenda de prioridades. Para tanto, os dados da pesquisa apontam que 90% dos entrevistados acreditam em parcerias com a sociedade civil.
José Antonio Marcondes de Carvalho, embaixador do Brasil na Venezuela, destacou a centralidade do tema da erradicação da pobreza nas discussões da Rio+20. Ele afirmou ter sido esse o grande avanço da Conferência do ano passado, o que revela uma importante mudança na maneira como se discute desenvolvimento. Destacou também que essa é uma conversa que vai muito além dos governos: é preciso o engajamento do setor privado, principalmente no que se refere ao combate aos grandes problemas globais, como a desigualdade e a pobreza.
Subathirai Sivakumaran, do Programme Specialist of Knowledge, Capacity and Results at the BCtA, das Nações Unidas, disse que, sem dúvida, existe um grupo de organizações empresariais com uma participação ativa nas discussões globais e trabalhando em rede ao lado de governos e da sociedade civil organizada. Ele também observou que muitas outras empresas colocam grande expectativa na tecnologia para a solução de problemas. “Sem dúvida, tecnologia é muito importante, mas não é a única resposta”, afirmou, de forma categórica.
Para Climéne Koechlin, diretora-geral do World Forum Lillie, sediado na França, as empresas, mesmo as de seu país, estão avançando muito em relação às suas missões econômicas tradicionais, mas ainda estão longe de cumprir os objetivos estabelecidos pelas Nações Unidas.
Protagonismo exigido – Homenageado com uma calorosa salva de palmas, o economista Ignacy Sachs, um dos maiores expoentes vivos que trabalham a temática do desenvolvimento sustentável, falou que é chegada a hora da ONU assumir seu papel de protagonista e liderar o processo de desenvolvimento mundial, “harmonizando os interesses dos diferentes países e continentes”.
Sachs ainda defendeu que qualquer processo de desenvolvimento mundial deveria ser, antes de tudo, desigual, explicando que os países mais pobres precisariam ser mais beneficiados, enquanto os mais ricos poderiam crescer menos. “Um desenvolvimento justo não deixa de ser desigual, pois precisa ser superior para os que estão embaixo da cadeia econômica”, conclui.
Carlos Lopes, secretário-executivo da Comissão Econômica da ONU para a África, que participou da conferência falando online da Etiópia, e Felipe Lira, vice-presidente do Fórum Empresas (Chile), foram mais enfáticos e questionadores quanto ao papel das empresas. Lira provocou os presentes, perguntando se eles estão fazendo o suficiente e se representavam o que realmente a sociedade necessita. “Existem empresas que não estão preocupadas com os impactos negativos quando os lucros forem consideráveis”, pondera. Lopes fez também referência aos muitos protestos que tem ocorrido no continente sul-americano e lembrou dos recentes protestos no próprio território chileno, na Colômbia e aqui no Brasil. “As empresas estão atentas ao seu papel nesses movimentos e suas reivindicações?”
Franklin Feder, presidente da Alcoa América Latina, ressaltou que a iniciativa privada é parte do problema, mas também da solução. Ele ressaltou que são muitas as demandas que envolvem o setor privado, como o estímulo a toda a cadeia produtiva, o engajamento com as comunidades, além da boa governança, ética e responsabilidade.
Reinaldo Canto, especial para o Instituto Ethos
(Envolverde)

Sustentabilidade com participação ativa da comunidade


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O diretor de distribuição da concessionária Light apresenta o case Projeto Light Legal para o auditório lotado / Foto: Thiago Lopes
Durante a Conferência Ethos 2013 um espaço patrocinado pelo banco Itaú se destina à discussão e debate sobre ações de empresas que obtiveram sucesso com sustentabilidade.
O primeiro caso apresentado foi o Projeto Light Legal da concessionária de energia Light, que atua no Rio de Janeiro. Implantado em agosto de 2012, o projeto é também conhecido por APZ (Área de Perda Zero), pois tem como principal desafio o combate à informalidade do uso de energia.
Os “gatos”, ligações clandestinas feitas, em geral, nas comunidades de baixa renda, são responsáveis por mais de 44% de perdas em relação a toda energia produzida pela empresa. “Esse gatos possuem mais do que as sete vidas de um gato normal, devem ser umas 15 vidas”, brinca o bem humorado diretor de distribuição da Light, José Humberto Castro, responsável pelo projeto. Daí a importância de dividir e compartilhar responsabilidades com a comunidade, governos e microempresas.
Ao lado da implantação de novas tecnologias como alternativa para a redução das perdas, consideradas por Castro como “uma nova proposta de combate a perdas e inadimplência de forma sustentada”, foi fundamental abrir o diálogo e estabelecer parcerias com o Estado, as comunidades e fomentar a criação de novos negócios, microempresas empresas que receberam o apoio e a orientação do Sebrae.
Desde sua implantação em 2005, o Ligth Legal já criou 20 APZs, que atendem de 10 a 20 mil moradores. Trabalham também com microempresas compostas de eletricistas e agentes comerciais capacitados para atuar junto à população. Eles buscam reduzir as perdas, aumentar a eficiência energética, modernizar as redes e manter um relacionamento diferenciado com os moradores, que acabam sendo beneficiados com a redução das contas e a negociação para o cancelamento de débitos. Até o final deste ano, o projeto deverá chegar a 30 unidades, beneficiando um total de 402.000 clientes.
Com atuação em áreas da Baixada Fluminense, zonas norte e oeste, o projeto já foi capaz de reduzir as perdas da Light de um total de 46% para 19,3% e a inadimplência caiu de 10 para 2,5%.
Para José Humberto Castro, o projeto é inovador, pois criou um novo modelo de relacionamento da empresa com os clientes, promove integração entre estado e concessionária, estabelecendo a ética e transparência neste relacionamento. Além disso, incentiva o empreendedorismo e gera emprego e renda. Somente em 2013, foram 320 empregos diretos. Tudo isso atendendo às expectativas mais tradicionais do mundo dos negócios, já que tem viabilidade econômica e contribui para disciplinar o mercado.
Perguntado se um modelo como esse poderia ser replicado, Castro respondeu categórico: “Tanto para toda a Light, como também para outros tipos de negócios”. Afinal, para gerar valor compartilhado novos negócios requerem novas visões e participação cada vez maior da sociedade.
Reinaldo Canto, especial para o Instituto Ethos 
(Envolverde)

25 agosto 2013

POR QUE A COPA PERDEU O APOIO DOS BRASILEIROS?

Em 2012, o evento e as empresas patrocinadoras tinham apoio da maioria da população. O que mudou?

Por Reinaldo Canto*

Para alguns, pode ter sido uma surpresa a desaprovação a empresas que estavam simplesmente patrocinando uma competição esportiva de alcance nacional, mas os novos tempos exigem também novas posturas e atenção às demandas da sociedade.
Um estudo divulgado pela empresa Nielsen mostra que os consumidores demonstram reprovação às empresas que anunciaram seus produtos e serviços durante a Copa das Confederações em junho último. A rejeição à realização da Copa do Mundo em 2014 no Brasil também atingiu níveis inéditos.
O que surpreendeu os pesquisadores foi a mudança de percepção dos consumidores. Em 2012 a Copa no Brasil era apoiada por 71% dos entrevistados; 67% também apoiavam as marcas patrocinadoras do evento. Na época apenas 3% rejeitavam as marcas que se vincularam à Copa e 33% consideravam o evento um mau negócio.
Ao final da Copa das Confederações, a mesma pesquisaconstatou que o apoio à realização da Copa caiu para 45% e o apoio às marcas patrocinadoras desabou para 32%. Ao mesmo tempo, a rejeição ao evento subiu para 22%. A pesquisa foi feita com 1.420 pessoas em São Paulo e nas seis cidades sede da Copa das Confederações.
Entre as razões para essa virada na opinião dos entrevistados estão as suspeitas de superfaturamento na construção dos estádios, a ausência de obras de infraestrutura e as manifestações de rua, que questionaram os gastos públicos para bancar a competição.
Grandes empresas e corporações privadas sempre tiveram e vão continuar a ter - imagina-se por muito tempo - influência sobre a vida das pessoas. Basta lembrar que existem conglomerados multinacionais maiores do que países (caso seus valores de mercado fossem comparados com os PIBs de algumas nações mais pobres e outras nem tão pobres assim).
Mais do que questionar esse poder, é preciso fazer com que a iniciativa privada seja capaz de assumir compromissos muito além do que faziam num passado recente, vinculado estritamente ao seu negócio. Quero dizer o seguinte: empresa que ainda olha para o seu próprio umbigo está ligada a um mundo ultrapassado. Quem pensa que pagar impostos, cumprir as leis e obedecer aos ditames da legislação trabalhista já está cumprindo de maneira satisfatória para o que se espera dela, pode começar a rever seus conceitos, pois o resultado será a perda gradativa de espaço ou até mesmo a falência.
Um mundo cada vez mais conectado e informado exige progressivamente das empresas um aumento também crescente em suas responsabilidades sociais e ambientais. Os que eram chamados de stakeholders, ou públicos de interesse como acionistas,clientes e governos, hoje podem ser estendidos a todos os setores sem distinção.
Uma sociedade mais organizada, como já está ocorrendo, irá cobrar dessas organizações uma posição muito mais proativa de participação e inserção nos grandes temas. Algumas delas já demonstram sensibilidade suficiente para cumprir um papel protagonista nesse novo cenário enquanto muitas, infelizmente, ainda resistem a compartilhar responsabilidades com governos e sociedade civil organizada.
A definitiva inserção do setor privado na busca de soluções e enfrentamento dos grandes problemas brasileiros certamente será um caminho sem volta e as possíveis resistências vão trazer, conforme revelou a pesquisa sobre a Copa do Mundo, um grande risco ao próprio mundo dos negócios.
Alcançar um mundo melhor, mais justo, equilibrado e sustentável, portanto, deve ser entendido e encarado como uma responsabilidade e dever compartilhado indistintamente por todos os setores.
*Reinaldo Canto é jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de Comunicação do Greenpeace e coordenador de Comunicação do Instituto Akatu. É colunista da revista Carta Capital, da Rádio Trianon, do Portal Mercado Ético, colaborador da Envolverde e professor de Gestão Ambiental na FAPPES.

Artigo publicado originalmente na coluna do autor no site da revista Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/sustentabilidade/por-que-a-copa-perdeu-apoio-entre-os-brasileiros-5740.html

Blog: cantodasustentabilidade.blogspot.com
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11 agosto 2013

AMBIENTALISTAS CATARINENSES SÃO ATACADOS POR CAÇADOR

Casal caminhava em meio à mata de sua propriedade, quando foi ameaçado e feito refém por um homem armado

Por Reinaldo Canto**

Foi por muito pouco!! E põe pouco nisso, para que o casal de ambientalistas Wigold B. Schaffer e Miriam Prochnow, conselheiros da Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), não se tornassem as mais novas vítimas a constar nas tristes estatísticas de mártires na proteção do meio ambiente.
Bastante conhecidos por seu trabalho em defesa da Mata Atlântica, certamente eles não esperavam por momentos tão dramáticos em sua própria casa. No último domingo 4, o casal caminhava tranquilamente em sua propriedade - uma área protegida - para, entre outras coisas, fotografar a fauna e a flora. Quando de repente, perceberam o movimento em uma moita, mas ao invés de uma boa surpresa como seria a presença de algum animal silvestre, detrás dela, saiu um caçador armado!
Não satisfeito em invadir uma propriedade particular e exercer uma atividade proibida por lei*, o tal troglodita passou a agredir e ameaçar de morte o casal.  Foram momentos de muita tensão. Os dois chegaram a ser mantidos como reféns por cerca de 20 minutos. O caçador a todo momento tentava tomar à força as câmeras fotográficas.
A tragédia só deve ter sido evitada, pois Miriam disse que a filha do casal, Gabriela tinha ido corrido para buscar ajuda e o assustado caçador fugiu do local.
Conforme noticiado pelo Mercado Ético, o caso foi denunciado às Polícias Civil, Militar e Ambiental e também ao Ministério Público Estadual e Federal. A Apremavi anunciou que, em conjunto com outras organizações, irá fazer uma campanha para que sejam realizadas operações para fiscalizar a caça ilegal, soltar animais aprisionados e apreender armas na região.
Wigold e Miriam estão bem e poderão continuar a desenvolver seu trabalho pacífico e em prol do meio ambiente brasileiro. Felizmente, eles não tiveram a mesma sorte que outros importantes ambientalistas como Chico Mendes, Doris Stang e o casal José Claudio e Maria do Espírito Santo, entre tantos que pagaram com a própria vida por defenderem seus ideais e de suas comunidades.
Casos como esse se repetem com grande frequência em todo o Brasil. São injustiças, agressões e assassinatos que atingem principalmente os mais pobres. Apesar de toda a consagrada impunidade que assola nosso país que este episódio sirva de lição e o responsável seja levado à Justiça.
*Lei de Crimes ambientais - 9.605/98: Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida. E a pena é detenção de seis meses a um ano, mais multa.
**Reinaldo Canto é jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de Comunicação do Greenpeace e coordenador de Comunicação do Instituto Akatu. É colunista da revista Carta Capital, da Rádio Trianon, do Portal Mercado Ético, colaborador da Envolverde e professor de Gestão Ambiental na FAPPES.

Artigo publicado originalmente na coluna do autor no site da revista Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/sustentabilidade/ambientalistas-catarinenses-atacados-e-ameacados-por-cacador-4368.html/view

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