19 julho 2018

Nossa vida não é feita de plástico: recuse canudos 

Por Reinaldo Canto


A falta de bom senso fez com que utensílios e materiais desnecessários sejam produzidos em larga escala colocando em risco o nosso futuro
Antes de mais nada vale destacar que poucos devem duvidar das imensas vantagens do plástico. Maleabilidade, segurança, higiene, facilidades diversas no transporte e no uso cotidiano. Componente principal em uma série de produtos que tornaram a vida moderna, sem dúvida mais confortável e prática.
Mas exatamente em nome desse conforto e praticidade enfrentamos uma trágica realidade. O uso indiscriminado e mesmo desnecessário de vários desses produtos, como canudos, copos, talheres, embalagens diversas e sacolas, nos levaram a uma situação insustentável e nefasta.
Só para ficar nos tais canudinhos plásticos, as estimativas dão conta de que a vida útil deles é de apenas quatro minutos. Nos Estados Unidos são consumidos 500 milhões desses pequenos cilindros por dia. Você leu certo: 500 milhões por dia. Também vale lembrar que o tempo para a sua decomposição está estimado em 200 anos.
São números tão absurdos que mesmo que seu descarte fosse correto não justificaria seu uso diário. Mas o pior é que eles também não são bem descartados e juntamente com outros desses materiais à base de plástico vão sendo despejados de maneira vertiginosa e totalmente inconsequente.
Para que não restem dúvidas quanto às preocupações e dimensões do problema, o Fórum Econômico Mundial que reúne anualmente as maiores economias do planeta, divulgou no início do ano um estudo da consultoria McKinsey e da Fundação liderada pela conhecida velejadora britânica Ellen MacArthur que alerta para os perigos do plástico.
Segundo os resultados, “o sistema atual de produção, de utilização e de abandono de plásticos tem efeitos negativos significativos que atingem a soma entre 80 bilhões de dólares e 120 bilhões de dólares (algo como 450 bilhões de reais) em embalagens de plástico perdidos anualmente”. O documento vai além dos valores financeiros e afirma que até 2050 se a escalada de descarte continuar no ritmo atual, haverá mais plástico que peixes nos oceanos.
Essas afirmações estão longe de exagero. Já existem “mares de plástico” em algumas regiões do mundo como no Caribe entre Honduras e Guatemala e na Índia.
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), estima que 8 milhões de toneladas de plástico que vão parar anualmente nos oceanos. Isso dá um caminhão carregado de lixo por minuto despejado nos mares de todo o planeta.
Por aqui também temos estudos sobre a questão do desperdício de plástico e perdas que também se aplicam a economia. A Selurb, o Sindicato das Empresas de Limpeza Urbana, calculou que todo o material plástico atualmente descartado em aterros e lixões  poderiam adicionar à economia brasileira, se fossem destinados à  reciclagem, cerca de 5,7 bilhões de reais. São em torno de 4,4 milhões de toneladas de resíduos plásticos que poderiam formar uma nova cadeia produtiva que geraria emprego e renda para milhares de pessoas. A reciclagem de plástico no Brasil está em cerca de irrisórios 4%. 
Proibições e mudanças de hábito
E quais são as alternativas para começar a reverter essa situação? No caso de nós consumidores que tal recusar alguns desses materiais? Canudos plásticos, por exemplo.
Pano rápido para aniversário da minha filha que completou 11 anos no último mês de junho. Presente do pai foi leva-la com algumas amigas para passear, brincar em parque e lanchar. Um discurso emocionado contribuiu para que oito canudos deixassem de ser usados durante o consumo de sucos e refrigerantes. Um sucesso pueril.
Já para outro momento, na hora da degustação de milk shakes, lá se foi a vitória pelo ralo junto com canudos que, se as estatísticas estiverem certas, estarão em breve ocupando as entranhas de alguns animais marinhos.
Bem, a luta continua. Até porque não nos resta outra alternativa a não ser batalhar pela própria sobrevivência, mas juntar forças é essencial. Além das recusas pessoais é preciso pressionar empresas e governos para que façam a sua parte.
Ações ainda tímidas
Cadeias de fast food anunciaram a gradativa abolição dos canudos plásticos. Na cafeteria Starbucks até... 2020 e no McDonald´s a transição para canudos de papel começa em setembro e vai até 2019, mas só no Reino Unido e na Irlanda.
A boa notícia por enquanto chega do Rio de Janeiro, onde a Câmara Municipal votou e o prefeito assinou há poucos dias a proibição dos canudos plásticos na cidade e estabeleceu a troca por canudos de papel. Agora é ver se a lei vai mesmo “pegar” como costumamos dizer por nossas bandas.
Projetos de lei também com a proibição de canudos tramitam em outras cidades como São Paulo e até já foi aprovada em Cotia próxima da capital paulista.
São reações importantes aos exageros da vida urbana e contemporânea, mas muito tímidas diante do tamanho do desafio.
Convido a todos os leitores para refletirem sobre seus hábitos de consumo e recusarem com convicção muitos desses apetrechos produzidos com plásticos convencionais à base de petróleo. Quase sem exceção, posso afirmar, nós não precisamos deles.
Garfos, facas, embalagens grandes e pequenas, sacolinhas, garrafas de formatos e tamanhos diversos e, para este momento, canudos plásticos. Dá sim para recusar.  Até porque precisamos começar a mudar e sempre será mais fácil por algo com pouca ou quase nenhuma utilidade. Faça sua parte.

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