24 novembro 2017

Ação empresas contra o desmatamento é fator de proteção ao lucro

Levantamento global do CDP aponta riscos aos quais grandes corporações e suas cadeias de valores estão expostas por não conduzir atividades em uma economia de baixo carbono
Sim, nós temos informação. Vasta, clara, abrangente e que dá a exata medida de para aonde caminhamos como espécie humana. Já sabemos que 15% das emissões de gás do efeito estufa vêm de desmatamento, que o cerrado brasileiro está ameaçado pela agropecuária, que as queimadas em Portugal originadas pelas fabricantes de papel e celulose podem causar desequilíbrios no mundo todo. Mas até que ponto o setor produtivo está realmente comprometido em construir uma agenda prática que reverta gradual e sustentavelmente a atividade, permanecendo lucrativa mas que possibilite a vida humana em 2050? A resposta pode ser óbvia: o ponto de inflexão está no risco ao negócio e na perda da lucratividade. E já estamos nesta etapa.
O relatório “Do risco para a receita: a oportunidade de investimento para enfrentar o desmatamento corporativo”, divulgado nesta terça-feira (21) pela plataforma de divulgação ambiental global sem fins lucrativos, CDP, aponta crescimento do prejuízo das empresas listadas em bolsa que perderam US$ 941 bilhões em volume de negócios neste ano ante perda de US$ 906 bilhões no ano passado (alta de 3,8%). Os quase US$ 1 trilhão em volumes de negócios foram perdidos por empresas de capital aberto de 2016 para 2017 que tinham suas operações vinculadas às commodities que mais alimentam o desmatamento no mundo – pecuária, soja, madeira e óleo de palma.
Neste cenário, o Brasil ganha importância negativa, pois é o segundo maior produtor de pecuária e de soja no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Caso essas empresas e seus stakeholders ainda não estejam se movimentando para modificar o caminho que fazem e a forma que atuam, esses dados desenham um futuro próximo no qual a longevidade delas fica comprometida. Em resumo, o ponto da virada chegou no Brasil e no mundo todo.
Dados do relatório mostram que a região na qual as empresas têm o maior percentual de riscos diretos nos negócios ligados às commodities é a América Latina, com 67% das empresas com amplos riscos diretos na cadeia de operações. A região é seguida pelo grupo Europa, Oriente Médio e África (57%), Ásia/Pacífico (33%) e América do Norte (26%). De acordo com os dados do CDP, as empresas dependem das florestas e reconhecem que os impactos ambientais e sociais do desmatamento ameaçam reduzir lucros e aumentar os riscos. Ao afetar as avaliações da empresa e a capacidade delas de reembolsar a dívida, esses riscos são suportados pelos investidores, ao mesmo tempo que os afasta.
CDP é uma organização internacional sem fins lucrativos, formada por grandes investidores interessados na avaliação do desempenho das empresas em função dos desafios ambientais de mudanças climáticas, recursos hídricos e florestas. Atualmente é formada por 827 investidores que administram um total de US$ 100 trilhões em ativos. A organização tem ainda em sua base de respondentes mais de 570 cidades no mundo todo reportando seus dados em 2017. A partir desses dados, são produzidos materiais que reportam regularmente a evolução no uso de recursos hídricos e ambientais pelas empresas e cidades signatárias, como este sobre desmatamento.
No relatório de hoje sobre desmatamento, 87% das empresas que responderam ao questionamento reconhecem pelo menos um risco – e 32% já experimentaram impactos – associados à produção ou ao consumo de commodities de risco florestal.
As decisões que estão sendo tomadas hoje determinarão se seremos capazes de fazer uma transição para uma economia próspera, que trabalhe para as pessoas e para o planeta a longo prazo. Acreditando na possível e urgente mudança de cenário, o CDP Latin America realiza no dia 30 de novembro, em São Paulo, o Conexão CDP, evento que vai promover um diálogo com essa ótica entre investidores, empresas, cidades e governo, oferecendo protótipos de ideias e soluções para materializar a mudança que desejamos ver no mundo.
Além disso, neste ano será apresentado um infográfico inédito – que apresenta indicadores e dados de empresas e cidades na América Latina sobre como se preparam, monitoram e gerenciam seus recursos. Por meio dessa ferramenta será possível visualizar quais são as empresas que lideram em sustentabilidade na região e que tipo de estratégias elas utilizam ou estão desenhando para embarcar no único futuro possível, o da economia de baixo carbono. (CDP/Envolverde)

23 novembro 2017

Longevidade das empresas depende da transição à economia de baixo carbono


Adaptação e tomada de decisões com foco de longo prazo vão garantir investimentos e mudança de patamar de empresas que já têm estratégia para se perpetuar

Por Juliana Lopes

O que você quer ser quando crescer? Essa pergunta feita inúmeras vezes para crianças de regiões diferentes no mundo todo deve ser adaptada aos empresários e executivos hoje, pois é urgente ter um plano cuja meta seja a longevidade. Pensar desta forma é uma espécie de garantia da existência de seu negócio dentro da nova economia e passa obrigatoriamente pelo comprometimento com a transição para a economia de baixo carbono – que pavimentará nossa existência futura à medida que dermos passos objetivos para mitigar os impactos das mudanças climáticas e do aquecimento global. É esse diferencial, olhar para o todo e não apenas para o resultado de curto prazo, a linha de corte de quem vai se perpetuar ou não.
            Uma empresa dentro da nova economia, assim como a criança que sonha ser bombeira ou astronauta, pensa nos passos que precisa dar para chegar ao seu objetivo. Ela sonha. Ela sonha, cria uma visão de futuro e age. A empresa que hoje sonha traça um caminho que possibilite ter a capacidade de regenerar a degradação que vivemos, em como se adaptar. Pensa na sua resiliência que nada mais é que manter aquela criança viva, seus objetivos no radar sem se seduzir pelos lucros do curto prazo. A empresa não ignora os fatos e dados, mas atua de forma transparente em suas operações. Esse é o comportamento que os investidores estão analisando, procurando entender por exemplo a exposição de seus portfólios de ativos e investimentos a riscos climáticos.
            A procura desses agentes financeiros que movimentam trilhões de dólares e euros em mercados diversos é por companhias com estratégias de negócios resilientes às mudanças climáticas porque esse é o fato que consideram que possibilitará a atividade futura de corporações, mercados. É como se pensassem que essas empresas precisarão se manter vivas para que recebam investimentos futuros. É um pouco óbvio, sabemos, mas tem muita instituição desatenta com uma questão tão elementar e vital. Mas as holografias são muitas no caminho, como o fato de o presidente da maior economia global realizar um grande desserviço ao mundo pensando apenas no curto prazo e ignorando o Acordo de Paris, para ficarmos apenas em um exemplo.   
            O momento agora é de ir além da eficiência durante a produção, sendo capazes de entender os impactos ao longo de todo o ciclo de vida dos produtos e serviços. Trata-se de um nível de demanda diferente em termos de performance socioambiental. Para atingi-lo, as empresas devem refletir se as suas ações estão tendo escala no setor em que atuam e na economia como um todo. Essa é a única forma de serem verdadeiramente sustentáveis. Pensar em rede. Observar e interferir positivamente na cadeia de valores.
            As empresas devem se preparar para conduzir suas estratégias por trajetórias de descarbonização, o que exigirá inovação disruptiva e mudanças nos modelos de negócios. Elas precisarão se perguntar qual a natureza da sua atividade e quais as reais necessidades sociais atendidas por seus produtos e serviços. E assim, encontrar um modelo para que operem e prosperem dentro de limites ambientais e sociais seguros.
Uma empresa da nova economia não busca apenas gerenciar seus impactos ambientais e sociais, mas também ter impactos positivos ao orientar suas estratégias para oferecer soluções para os principais desafios de nossos tempos. Mudanças climáticas, mobilidade, desmatamento e declínio de serviços ecossistêmicos, segurança alimentar são alguns deles. Endereçar esses desafios representa novas oportunidades de negócios.
            Como um exercício pedagógico de indicação de caminhos possíveis para a transição para a nova economia, o CDP desenvolve uma série de ações voltadas ao mercado financeiro, que acreditamos ser o grande catalisador da mudança necessária. As empresas devem se preparar para um escrutínio cada vez maior dos diferentes stakeholders em relação ao impacto ambiental dos negócios ao longo de toda a cadeia, notadamente a pegada de carbono, uma vez que será necessária uma redução drástica das emissões globais. Para manter o aumento da temperatura em 2°C em relação aos níveis pré-industriais, limite considerado seguro, a comunidade científica adverte que até 2050 as emissões devem ser reduzidas entre 41% e 72% em relação aos níveis de 2010. Isso resulta em um orçamento de aproximadamente 1000 giga toneladas disponíveis para serem “gastos”. Mantendo o nível atual de emissões de 49 giga toneladas ao ano, esse orçamento será gasto em 20 anos.
            É crescente o entendimento dos investidores de que as mudanças climáticas podem impactar a estabilidade financeira. À exemplo disso, o Financial Stability Board – FSB divulgou em junho deste ano um conjunto de recomendações da Task Force on Climate Financial-Related Disclosure para reporte de informações sobre os riscos de transição das mudanças climáticas nos informes financeira. Por riscos de transição entende-se que as mudanças políticas, legais, tecnológicas e de mercado devem ser extensivas para atender aos requisitos de mitigação e adaptação relacionados às mudanças climáticas. Dependendo da natureza, velocidade e foco dessas mudanças, os riscos de transição podem representar níveis variáveis de risco financeiro e de reputação para as organizações.
            A TCFD reforça que a transparência sobre riscos climáticos é crucial para uma boa governança e para a perenidade do negócio, agenda que o CDP vem trabalhando nos últimos 15 anos com as principais forças do mercado com o respaldo de uma rede de investidores e clientes internacionais. A gestão corporativa de riscos climática tem agora o potencial de se tornar uma norma para se fazer negócios, por se tratar de uma iniciativa liderada pela indústria financeira como é o caso do FSB.
            O CDP é uma organização internacional sem fins lucrativos, formada por grandes investidores interessados na avaliação do desempenho das empresas em função dos desafios ambientais de mudanças climáticas, recursos hídricos e florestas. Atualmente é formada por 827 investidores que administram um total de US$ 100 trilhões em ativos. A organização tem ainda em sua base de respondentes mais de 570 cidades no mundo todo reportando seus dados em 2017. A partir desses dados, são produzidos materiais que reportam regularmente a evolução no uso de recursos hídricos e ambientais pelas empresas e cidades signatárias, como este sobre desmatamento.    
            As decisões que estão sendo tomadas hoje determinarão se seremos capazes de fazer uma transição para uma economia próspera, que trabalhe para as pessoas e para o planeta a longo prazo. Acreditando na possível e urgente mudança de cenário, o CDP Latin America realiza no dia 30 de novembro, em São Paulo, o Conexão CDP, evento que vai promover um diálogo com essa ótica entre investidores, empresas, cidades e governo, oferecendo protótipos de ideias e soluções para materializar a mudança que desejamos ver no mundo.
            Além disso, neste ano será apresentado um infográfico inédito – que apresenta indicadores e dados de empresas e cidades na América Latina sobre como se preparam, monitoram e gerenciam seus recursos. Por meio dessa ferramenta será possível visualizar quais são as empresas que lideram em sustentabilidade na região e que tipo de estratégias elas utilizam ou estão desenhando para embarcar no único futuro possível, o da economia de baixo carbono. Contamos com o apoio de todos os setores da sociedade!


Serviço: Conexão CDP 2017
Data: 30 de novembro
Local: Teatro Vivo – Av. Dr. Chucri Zaidan, 2460 – Vila Cordeiro, em São Paulo
Horário: 8h30 – 13h30 – atividade aberta ao público geral
13h30 – 15h – atividade exclusiva para as empresas inscritas na rodada de negócios
Inscrições:  https://goo.gl/seZsjb
#ConexaoCDP #EconomiaEmTransicao


Juliana Lopes é graduada em jornalismo, com um MBA em Marketing e Mestrado em Administração pela FEI na linha de pesquisa em sustentabilidade. Como diretora do CDP Latin America, é responsável pelas atividades da organização na região. Atuando há 12 anos na área de sustentabilidade, Juliana começou sua carreira no terceiro setor, onde liderou projetos de capacitação para empoderar a sociedade civil para uma gestão mais participativa e eficiente da água. Foi editora da revista Ideia Sustentável, a primeira revista brasileira especializada em Responsabilidade Social Corporativa, onde também coordenou projetos de estudos e pesquisas, bem como de consultoria estratégica em sustentabilidade. Trabalhou em empresas multinacionais como BASF e Bridgestone-Firestone na área de comunicação corporativa. Também se dedicou a elaboração e implementação de campanhas de comunicação da sustentabilidade para clientes corporativos e organizações internacionais como WWF. Integra o Grupo de pesquisa internacional sobre Licença social para operar.

16 novembro 2017

Conferência do Clima 2017

Apesar dos pesares, energia limpa é um caminho sem volta

Crescimento da presença das eólicas no Nordeste e investimentos em renováveis no mundo são exemplos do roteiro do futuro energético

Marcos Santos / USP Imagens
Parque éolica
Em uma década, a geração eólica cresceu vertiginosos 1.772%
Motivos para otimismo faltam e muito! O planeta e sua população humana têm passado por inúmeros problemas causados ou amplificados pelas mudanças climáticas, já não bastassem os decorrentes da geopolítica suficientes para causar enormes desequilíbrios (vide os mais recentes: Yemen, Mianmar, Síria, etc, etc, etc).
Mesmo sendo difícil enxergar coisas positivas, uma que vem se destacando é o crescimento das energias limpas e renováveis no Brasil e no Mundo com grande destaque para a Geração Eólica em substituição às fontes fósseis (petróleo, carvão e gás natural).
E, isso não é conversa de ambientalista. Vamos aos fatos.
Em evento paralelo à realização da Conferência do Clima na Alemanha (COP 23), um estudo da Universidade de Tecnologia Lappeenranta (LUT), em parceria com o Grupo Energy Watch (EWG),  concluiu que uma transição global para o consumo de eletricidade 100% renovável já não é mais uma realidade de longo prazo, mas algo bem mais próximo no tempo.
Segundo esse levantamento, os investimentos que estão sendo feitos, o potencial energético e as tecnologias disponíveis serão capazes de gerar toda a energia necessária para o consumo planetário quem sabe até antes mesmo de 2050.
"Uma descarbonização total do sistema elétrico até 2050 é possível a um custo o menor do sistema do que hoje com base na tecnologia disponível. A transição energética não é mais uma questão de viabilidade técnica ou econômica, mas de vontade política ", segundo explicou Christian Breyer, principal autor do estudo, professor de Economia Solar na LUT e Presidente do Conselho Científico do EWG.
Essa transição para fontes renováveis, além de capazes de zerar as emissões de gases de efeito estufa do setor elétrico, ainda poderão criar 36 milhões de empregos até 2050, cerca de 17 milhões de empregos a mais dos que os hoje existentes.
Também não é preciso buscar na Conferência Climática os movimentos dessa profunda transformação no consumo energético. Temos aqui mesmo uma realidade cada vez mais próxima de nós brasileiros. Basta dar um pulo em alguns Estados Nordestinos para presenciar uma verdadeira revolução.
Complexo Eólico São Miguel do Gostoso
Recentemente este colunista pode conferir in loco na cidade de São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Norte, um exemplo do que vem acontecendo com cada vez maior frequência. Foi a inauguração de um parque eólico com potencial energético para produzir 108 MW. O projeto foi desenvolvido pela francesa Voltalia em parceria com a Copel, empresa de energia do Paraná. São ao todo 36 aerogeradores instalados em torres de 120 metros de altura. O investimento foi da ordem de R$ 500 milhões.
Não foi à toa que os franceses e os paranaenses decidiram instalar esse parque no Rio Grande do Norte. Os ventos ali são excelentes para a geração de energia o que faz do estado, o maior produtor de energia eólica do Brasil. Ali já são gerados 1.227 MW (megawatts) em média em 2017 o que representa um aumento de 25,6% em relação ao ano passado.
A Voltalia tem negócios em 16 países e no Brasil está presente desde 2006 com cinco complexos eólicos todos eles localizados no Nordeste.
“Dez anos atrás começamos a ver terras para montar o parque e na época pouco se falava no potencial eólico do Brasil”, contou o diretor-geral da Voltalia no Brasil, Robert Klein. E não será de estranhar se a empresa decidir por novos projetos na região já que existe o potencial e a necessidade, o que no ditado popular é traduzido como: “a fome com a vontade de comer”.
Principal fonte energética do Nordeste brasileiro
Em recente matéria publicada pelo jornal Correio Braziliense, de autoria da repórter Simone Kafruni, desde abril deste ano a força eólica no Nordeste se fez presente como nunca. Segundo dados levantados pela jornalista junto ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a geração de energia a partir dos ventos tem sido a principal fonte de abastecimento elétrico da região quebrando recordes sucessivos.
Em outubro, ela chegou a superar sozinha todas as outras fontes somadas com 52,6% do total na região Nordeste. A evolução constante nos índices de produção somada à dramática redução nos níveis dos reservatórios que abastecem as usinas hidrelétricas foram as principais razões para se alcançar esse resultado.
Ainda segundo a reportagem, em uma década a geração eólica cresceu vertiginosos 1.772%, passando de 935,4MW para 12.966MW.
A paisagem do Nordeste tem se alterado com esses imensos cataventos que, no meu entender, contribuem para dar um toque especial ao já belíssimo litoral da região. De certa maneira eles também contribuem para quebrar paradigmas quanto ao que representam essas não tão novas formas de gerar energia e apontar os caminhos para um futuro que já chegou.
Ao lado da Solar, outra fonte limpa, renovável e abundante em nosso país (também em crescimento constante, mas ainda à espera de seus dias de glória), teremos um novo momento e uma nova realidade sem a necessidade de queimarmos combustíveis fósseis e destruir o meio ambiente para a construção de novas usinas hidrelétricas na Amazônia.
Pessimismos à parte é possível acreditar em caminhos mais promissores!

21 outubro 2017

O que Michel Temer e Donald Trump
pensam sobre o meio ambiente?

As diferenças de personalidade e perfil não escondem o profundo desrespeito ao ecossistema
Foto: Beto Barata /PR

O discurso oficial de ambos em nada se parece, mas quanto ao meio ambiente são tais quais irmãos siameses.
 
Por Reinaldo Canto
O que de comum teriam Michel Temer e Donald Trump além do óbvio e mútuo pertencimento a elite branca, cabelos tingidos, casados com mulheres muito jovens e visão de mundo ultrapassada?
Não seria necessariamente na postura. Nos gestos empolados e antiquados do brasileiro, nada semelhante ao histrionismo caricato do norte-americano. Tão pouco no discurso arcaico e recheado de mesóclises de Temer em oposição à vulgaridade exibicionista e destemperada de Trump.
Até mesmo no tema deste artigo observam-se diferenças marcantes. Enquanto o presidente do império não usa meias palavras para desconsiderar a importância do meio ambiente e chamar de conspiração chinesa a questão do aquecimento global, o brasileiro, por seu turno não fala mal, até mesmo diz apoiar e reconhecer a importância da proteção ambiental, mas simplesmente descumpre até mesmo o que assina.
É o caso do Acordo de Paris chancelado com pompa e circunstância pelo presidente.
O discurso oficial de ambos em nada se parece, mas quanto aos seus resultados e no que efetivamente é do interesse dos habitantes deste planeta, que são as efetivas ações governamentais em prol do meio ambiente, eles se parecem e muito, tais quais irmãos siameses.
Poderíamos afirmar que no quesito transparência o presidente dos Estados Unidos é ao menos mais honesto, pois afirmou nos jardins da Casa Branca que o país abandonaria o Acordo de Paris. Uma visão limitada, tosca, mas há de se considerar, honesta.
Felizmente, parece que a realidade tenderá a prevalecer dado às repercussões negativas. Neste momento, vozes influentes dentro do governo norte-americano estão buscando uma saída honrosa para a volta dos Estados Unidos ao acordo climático. Vamos torcer para que o bom senso prevaleça!
Já no Brasil, como afirmamos anteriormente, o governo Temer apenas não se coloca oficialmente contrário às nossas florestas, mas a força avassaladora da bancada ruralista no Congresso e o estabelecimento de uma política ambiental até mais reacionária que a da ditadura civil militar, tenta e tem conseguido destruir as conquistas ambientais de décadas.
“O atual governo não tem política ambiental não se interessa pelo meio ambiente e pela conservação da natureza. Não tem compromisso ético ou moral com a dimensão pública. As decisões são tomadas em uma perspectiva oportunista de curto prazo que visa beneficiar poucos e não se importa com as consequências para a maior parte da sociedade brasileira”, afirma Luis Fernando Guedes Pinto, engenheiro agrônomo e gerente do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola – Imaflora.
Na mesma linha, Marcio Astrini coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace, avalia que agendas guardadas há muito tempo em gavetas no Congresso estão sendo retomadas e obtendo aprovações expressivas, “ Foi assim com a MP 759, que libera imensos estoques de terras públicas para a grilagem. Ocorreu o mesmo com a redução das áreas protegidas do Jamanxim, porém nesta feita o governo precisou voltar atrás no método e trocou a MP por um projeto de lei com urgência constitucional. Há alguns meses, integrantes do governo foram aos jornais anunciar as MPs de liberação de uso e registro de agrotóxicos e da venda de terras para estrangeiros. Ainda no balcão de negócios temos a questão indígena e o licenciamento ambiental. Infelizmente, esta é a importância do meio ambiente para Temer”.
Além dos exemplos citados, o que chamou muito a atenção nos últimos dias foi o tumulto provocado pela tentativa de extinção da Renca - Reserva Nacional de Cobre e Associados, localizada entre os estados do Pará e do Amapá, em plena Floresta Amazônica. Uma área gigantesca que seria liberada para exploração mineral e que, diante das grandes e negativas repercussões, foi posteriormente cancelada.
“O episódio deixou claro que a floresta, suas riquezas e sua importância estão hoje no mesmo espaço das negociatas que vemos inundar diariamente os noticiários e que jogam o país num mar de vergonha”, concluiu Astrini do Greenpeace.
No fim das contas, as semelhanças dos dois líderes estão calcadas na falta de visão de longo prazo. Ambos preocupados com sua sobrevivência política, claro que em momentos muito diversos e distintos. Ambos pouco ou nada comprometidos com temas caros à sustentabilidade e ao verdadeiro interesse comum.
Resta a esperança que, como acontece agora no possível recuo de Trump quanto à retirada do Acordo de Paris e da revogação da Renca pelo governo Temer, mobilizações da sociedade sejam capazes de frear ao menos os piores desmandos.
“Ficou evidente que não é possível toma uma decisão de impacto tão grande sem uma boa comunicação e sem o diálogo com a sociedade”, afirma Luis Fernando, do Imaflora.
Um futuro melhor para todos, sem dúvida, exige participação ativa da sociedade. O outro caminho repleto de omissões e conluios nos levará fatalmente a habitar um mundo mais difícil de se viver, ambientalmente insustentável e socialmente cada vez mais injusto.

10 agosto 2017

AÇÕES SUSTENTÁVEIS - CONFIRA:

APOIO AOS COMERCIANTES PARA O DESCARTE DE PILHAS E BATERIAS

Aos poucos a Política Nacional de Resíduos Sólidos, definida por lei em 2010, vai exigindo de empresas, governos e consumidores maior responsabilidade no descarte de resíduos.

O comércio é um setor que produz esses resíduos diariamente e, invariavelmente, em grande escala. Para facilitar a vida dos comerciantes de São Paulo, a FecomércioSP – Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo mantem o Portal Logística Reversa que presta informações importantes relativas à coleta e destinação correta de diversos produtos. Mas recentemente o portal  lançou uma plataforma voltada exclusivamente para atender os comerciantes que trabalham com pilhas, baterias portáteis e baterias de chumbo ácido. Esses materiais requerem atenção especial por seu alto grau de contaminação e possuem legislação específica e rigorosa quanto ao descarte irregular.

No link http://www.fecomercio.com.br/projeto-especial/logistica-reversa os comerciantes desses produtos que ainda não são pontos de entrega podem aderir aos termos de compromisso de sistemas de Logística Reversa definidos pelo estado de São Paulo. 

No portal, o comerciante também irá receber instruções sobre o que fazer ao receber esses produtos pós-consumo, como devem encaminhá-los para destinação ambientalmente adequada, de responsabilidade do fabricante ou importador. O objetivo da FecomércioSP é chegar em 2020 com a presença de pontos de coleta em todos os 645 municípios de São Paulo.

Além dos comerciantes, o Portal também orienta consumidores, sobre pontos de coleta e explica que pilhas e baterias portáteis não podem ser descartadas no lixo doméstico porque podem contaminar o solo, os lençóis freáticos e os cursos d'água. Elas devem ser mantidas em embalagens plásticas até serem levadas a um ponto de entrega. No caso das baterias de chumbo ácido usadas, o correto é deixá-las no mesmo local onde é feita a substituição pela nova.

Comerciante, não deixe de fazer a sua parte. Em caso de dúvida, basta enviar um email para logisticareversa@fecomercio.com.br.. 



GUIA CONTRIBUI PARA SUSTENTABILIDADE NA PRODUÇÃO DE LEITE

Conscientizar produtores rurais no uso consciente dos recursos naturais é o objetivo da parceria entre a Nestlé e a Embrapa Sudeste e que lançou recentemente o guia “Boas Práticas Hídricas” no campo. Como está no próprio título da cartilha, a ênfase está no melhor uso do consumo da água.
Essa nova ação da Nestlé está inserida no projeto “Consciência Hídrica: Saber como usar faz bem”,  que já chegou a 5.500 produtores de leite nos estados do Sul e Sudeste e que, entre outras ações, instalou hidrômetros nas fazendas para estimular o uso consciente da água.

“O manejo da água nas propriedades leiteiras ainda é pouco conhecido pelos produtores. O fato de o produtor tomar consciência do consumo mensal de água e entender a importância do correto manejo já serviu para alcançarmos resultados significativos: houve uma economia de mais de 2,5 milhões de litros/ano”, explica o executivo da Nestlé responsável pela área de leite, René Machado.

A elaboração do guia levou em conta pesquisas da Embrapa Pecuária Sudeste, segundo as quais, mudanças de hábitos e qualificação de mão-de-obra, entre outros, podem contribuir para a economia de até 30% no consumo de água. 

Para o pesquisador da Embrapa Júlio Palhares, responsável técnico pela elaboração do guia, quando o produtor faz o acompanhamento do consumo de água, permite que ele planeje melhor a eficiência no uso desse bem precioso.




SHOPPINGS CENTERS AVANÇAM EM AÇÕES SOCIOAMBIENTAIS



Um levantamento com 160 estabelecimentos realizado pela Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) em todo o país constatou que várias ações realizadas tem obtido bons resultados na redução dos impactos ambientais e de consumo. São dois programas criados pela Abrasce o “Acione-se Pela Vida” e o “Acione-se Pelo Planeta”, que tem incentivado e unificado experiências e ações no campo.

O estudo aponta que 94% dos shoppings possuem ações voltadas à redução do consumo de energia com, por exemplo, lâmpadas de alta eficiência e automação inteligente de escadas rolantes e ar condicionado, por exemplo.

A economia de água também tem apresentado resultados interessantes. Por mês os shoppings centers brasileiros participantes da pesquisa reutilizam mais de 126 mil m³ de água, quantidade suficiente para abastecer mais de 50 piscinas olímpicas. Além disso, são mais de 167 mil m³ de água tratada mensalmente.

Reciclagem de lixo, utilização de produtos ecológicos de higiene e limpeza e programa de doações também fazem parte da ação desses centros comerciais.

Que os resultados melhorem ainda mais e sirvam de exemplo para serem replicados Brasil afora!!

25 julho 2017

Suspeita de corrupção afeta credibilidade de ações socioambientais

Pesquisa revela crescimento da desconfiança do brasileiro com relação às iniciativas corporativas na área de sustentabilidade

Por Reinaldo Canto*
Rogério Alves/TV Senado/Fotos Públicas
O distrito de Bento Rodrigues
A empresa Vale é uma das mais mal-avaliadas no quesito sustentabilidade. Na foto, município de Mariana (MG) alguns dias após rompimento da barragem da Mineradora Samarco
Os brasileiros estão perdendo a confiança no setor corporativo em geral, graças aos inúmeros escândalos envolvendo algumas das empresas mais importantes do setor. Consequentemente, o ceticismo está atingindo iniciativas ligadas à sustentabilidade praticadas pelo setor privado.
Isso é o que constatou a 12ª edição do estudo Monitor de Sustentabilidade Corporativa 2017, pesquisa feita anualmente pela Market Analysis e publicado com exclusividade por esta coluna.
Não está mesmo fácil pra ninguém, diria o verbete popular diante de tantos fatos desabonadores que atingem o País de cima a baixo!
Várias grandes empresas que se esforçaram ao longo dos anos para construir suas imagens viram esforços de anos serem comprometidos por, direta ou indiretamente, terem contribuído para a perda da credibilidade de todo o setor privado brasileiro.
Após a realização de 810 entrevistas com adultos entre 18 e 69 anos, em nove capitais do país, entre elas, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília, no primeiro semestre deste ano, a credibilidade das companhias brazucas caiu de 74,2% registrados em 2010 para 43,8% em 2017.
Dessa maneira, o estudo concluiu que os brasileiros passaram a demonstrar um nível recorde de descrença e indiferença quanto a identificação de bons exemplos de ações de responsabilidade social e/ou ambiental.
Na pesquisa de 2010, apenas um de cada cinco entrevistados tinha essa visão pessimista. Já em 2017 dois em cada três disseram não reconhecer exemplos positivos.
As melhores e as piores
O novo cenário apresentou um reforço à imagem da Natura, com um terço das menções positivas - também fato inédito apontado pela pesquisa - seguida depois por três multinacionais estrangeiras: Coca-Cola, Nestlé e Unilever. Fechando o quadro das cinco melhores vem a Petrobrás.
Já entre as cinco piores em sustentabilidade, em primeiríssimo lugar a JBS (dos célebres irmãos Batista), seguida pela Petrobrás, BRF (proprietária das marcas Sadia e Perdigão e envolvida na operação Carne Fraca), Odebrecht (outra grande empresa envolvida na Lava-Jato) e a Vale (mineradora que, entre outras, é proprietária da Samarco ligada a maior tragédia ambiental brasileira).
A pesquisa deste ano aponta algumas conclusões interessantes: o fato da Petrobrás fazer parte das duas listas revela o conhecimento que as pessoas têm da maior empresa brasileira, mas a citação positiva espontânea foi de apenas 1,7%, enquanto a negativa chegou a 4,5% deixando claro que a petroleira terá que aprofundar suas melhores práticas para superar essa imagem muito ainda associada à corrupção.
Também o fato de empresas estrangeiras ocuparem o espaço de companhias de capital nacional de maneira inédita nos 12 anos anteriores dessa pesquisa afasta as nossas empresas da ideia de serem ambientalmente responsáveis.
Isso, pelo menos, é o que passa pela cabeça dos consumidores. O que, diga-se de passagem, não parece nada bom para o futuro do capitalismo praticado por nossos patrícios.
Por fim, o que não surpreende é o fato das grandes empresas envolvidas nos escândalos de corrupção dos últimos anos serem citadas espontaneamente como vilãs e inimigas da responsabilidade corporativa.
Um comercial antigo dizia: “imagem não é nada, sede é tudo”! Claro, era um anúncio de bebida, mas nada mais longe da realidade imagem é sim tudo e muito mais.
Neste mundo altamente interconectado para se ter uma boa imagem é preciso fazer tudo certo cada vez mais de maneira cidadã, com responsabilidade crescente nos quesitos social e da sustentabilidade. Não atuar desse modo, começa assim como mostra a pesquisa, de uma lembrança ruim segue rapidamente para a rejeição do consumidor. Uma coisa leva a outra, rumo à extinção e lembranças nada agradáveis.
* Artigo publicado originalmente no site da Carta Capital

06 julho 2017

O QUE FALTA PARA O BRASIL SER A MAIOR POTËNCIA EM ENERGIA SOLAR?

Até pouco tempo atrás seria uma pergunta com várias respostas e desculpas, mas agora o caminho começa a ser trilhado e o futuro é promissor

Por Reinaldo Canto*

Consciência ecológica já era algo que não faltava a Luiz Alberto Vilalva, policial ambiental em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. Seu trabalho cotidiano é atuar para preservar e evitar danos ao meio ambiente. Como uma coisa puxa a outra, Luiz Alberto queria fazer mais e uma ideia, a princípio óbvia, seria a utilização da energia solar.
“Em casa somos sete pessoas, eu, minha esposa, minha mãe e quatro filhos, todos consumindo muita energia”. Filhos com idades variando de 16 a 22 anos quando estão em casa, certamente utilizam uma grande quantidade de equipamentos. Isso para não falar em seis aparelhos de ar condicionado que permanecem quase o tempo todo ligados.
Apesar de parecer uma solução simples pelo potencial energético da ensolarada cidade do Centro-Oeste brasileiro, os preços não eram convidativos. “Comecei pesquisar seis meses antes, pois os preços eram iguais aos de um carro”. Mas em novembro do ano passado Luiz Alberto decidiu contratar um projeto da NeoSolar Energia filial de Campo Grande e instalar 15 placas fotovoltaicas no telhado de sua casa.
Seis meses depois o policial se diz “extremamente feliz” e, pelas contas, irá recuperar o investimento em cinco ou seis anos, no máximo. “Sempre fui contra desperdícios e agora estou muito satisfeito de poder usufruir do conforto sem maiores problemas”.
Hugo Brandão, diretor da franquia da NeoSolar em Campo Grande e responsável pelo projeto na casa de Luiz Alberto, afirma que “a manutenção é simples e as placas possuem  garantia de 25 anos”.
E aí pergunto sobre questões antigas que sempre vêm à tona quando se fala em captação solar: E para armazenar essa energia? As baterias não são caras? E quando não tem sol, a casa fica sem energia? Calma, calma! “A instalação é simples, ligada diretamente na rede elétrica já existente”,  ou seja, nada de baterias, esclarece Brandão.
Como assim? Por meio da resolução 482/2012 a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou a instalação de equipamentos de geração distribuída de pequeno porte em residências, comércios e indústrias. Dessa forma foi criado o Sistema de Compensação de Energia. Toda a energia gerada nesses locais abastece a rede e o consumidor recebe créditos caso a energia gerada seja maior do que a consumida. Em caso contrário, paga só a diferença.
À noite, por exemplo, quando a captação solar para de produzir, a rede da companhia energética do Mato Grosso do Sul, a Energisa, é que abastece a casa do Luiz Alberto. Isso, claro, também vale para dias nublados ou chuvosos.
A resolução foi tão bem sucedida graças a redução de custos, em torno de 50%. De quatro projetos existentes em 2012, hoje são 10 mil projetos de micro e minigeração distribuída em todo o país. A Aneel estimou que até 2024 deverão ser ao menos 1,2 milhão de unidades totalizando 4,5 gigawatts (GW) desse tipo estarão aptas a gerar a sua própria energia da fonte mais abundante do mundo,  a solar.
E o setor se considera otimista? O presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Lopes Sauaia, prefere apresentar números: em relação à evolução tecnológica do setor, ele afirma que houve uma redução dos custos de produção entre 2008 e 2016 nos Estados Unidos na ordem de 83%. “Só no ano passado a redução foi de 15%”.
As razões, segundo Rodrigo, são várias: aumento da eficiência na produção de energia dos equipamentos, na fabricação dos mesmos e aumento na escala de produção. “Até 2030 a redução do custo vai continuar até se tornar uma das fontes mais baratas do mundo”, explica o presidente da entidade representativa do setor.
Em relação ao potencial brasileiro, Rodrigo Sauaia vai mais longe apresentando dados superlativos de levantamento feito pela Empresa Pesquisa Energética (EPE), ligada ao governo federal. “O potencial hidrelétrico brasileiro é de 172 gigawats boa parte localizado na Região Amazônica, o de geração eólica é de 440 GW e o solar é de 28.500 GW” e, completa, “isso representa 200 vezes a energia gerada pelas grandes usinas brasileiras”. Nessa hora ele que pergunta ao repórter: “você ainda acha que preciso responder sobre otimismo?”. Recebe de volta um sorriso silencioso!
Neste momento, a energia solar tem representação ínfima na matriz energética total do país, em torno de 0,02%, mas até 2030 deve chegar a 10% com 25 GW. Para se ter uma ideia a China já possui 75 GW e a Alemanha, 40 GW.
Nenhum desses dois países convenhamos, principalmente a Alemanha, são reconhecidos por serem ensolarados e muito menos bonitos por natureza, mesmo assim, estão bem à frente do Brasil. “Estamos atrasados pelo menos 15 anos em razão de gestões passadas por não terem dado a atenção devida a geração solar”, explica Sauaia.
Com tudo isso e mesmo diante da crise persistente dos últimos três anos, a energia solar no país avançou 400% em 2015; 320% no ano passado e são aguardados outros 300% neste ano.
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O policial ambiental Luiz Alberto Vilalva espera recuperar todo o investimento em no máximo seis anos (foto: Reinaldo Canto)
Novas empresas e geração de empregos
Foi exatamente esse potencial de crescimento do setor que motivou Hugo Brandão a abrir no ano passado uma franquia da NeoSolar em Campo Grande.
Ele ainda aguarda os bons resultados, mas acredita que existe uma demanda aquecida em busca de projetos solares, “o número de  consultas tem aumentado”. Para ele, algumas políticas públicas poderiam ajudar a impulsionar o mercado, “se tivéssemos uma linha de financiamento específica com juros mais baixos para pessoas físicas, teríamos muito mais instalações Brasil afora”.
A opinião do presidente da Absolar é semelhante e ele acredita que, neste momento, até a chamada geração centralizada, quer dizer, a energia produzida por usinas solares, também dependeria de uma política pública de incentivo para seu crescimento. Outros pontos apontados por ele como fundamentais são a redução e equalização da carga tributária.
Publicado em maio, o relatório “Mapeamento da Cadeia de Valor da Energia Solar Fotovoltaica no Brasil”, apresenta informações valiosas sobre o momento atual e o futuro do setor. Mesmo ainda incipiente, o Brasil hoje possui mais de 1.600 empresas, 400 fabricantes de componentes, oito montadoras de módulos e mais de mil fornecedores de serviços. O estudo projeta que em 2040, a energia solar irá representar 32% da matriz energética brasileira! Lembrem-se que hoje ela é de apenas 0,02%.
Até o final deste ano acredita-se que o Brasil vai chegar a 1 GW de produção solar.
No quesito geração de empregos, a solar é considerada a que mais cria vagas. São entre 25 a 30 empregos por megawatt produzido. O Portal Solar estima que nos próximos quatro anos serão gerados 100 mil novos empregos no setor e, em geral, empregos de qualidade.
O Futuro já chegou
O setor, certamente, ainda precisa de apoio, mas ações acontecem como as anunciadas recentemente pela MRV uma das empresas que mais atuam na construção de moradias do Minha Casa, Minha Vida, programa do Governo Federal. A MRV afirmou que pretende instalar módulos solares em 30% dos novos projetos e no prazo de cinco anos, todos os novos edifícios construídos por eles serão abastecidos por energia solar.
Aos empresários, empreendedores e interessados em atuar no setor, Rodrigo Sauaia, presidente da Absolar recomenda: “simplesmente façam as contas, é um investimento com retorno e economia no dia a dia; uma matriz mais resiliente, independente, além de fundamental para esses novos tempos”.
Tempos que exigem buscar fontes de energia limpa, renovável, abundante e que além do mais é um fortíssimo aliado no combate ao aquecimento global.
Seria preciso dizer mais alguma coisa?


*Publicado na coluna do autor no site da revista Carta Capital

25 junho 2017

ENERGIAS RENOVÁVEIS AVANÇAM COM NOVAS OPÇÕES

Por Reinaldo Canto, especial para a Envolverde – 

Itaipu inaugura primeira usina de biometano do país capaz de transformar grama e restos de comida em energia
Mesmo com todos os percalços, crise política e econômica, entre outros, o avanço do Brasil rumo a uma economia de baixo carbono segue em expansão
Segundo a EPE – Empresa de Pesquisa Energética, só de 2014 para 2015 a expansão das renováveis havia sido de 39,4% para 41,2% com destaque para a energia eólica que saltou de 2% para 3,5% no total da matriz energética brasileira. Até a mesmo a solar tem crescido muito apesar de percentualmente ainda representar pouco mesmo diante de seu imenso potencial em nosso território. Isso para não citarmos a já consolidada e polêmica energia hidrelétrica por seus cada vez mais questionados impactos ambientais.
Mas além do crescimento de fontes conhecidas o que trás ainda mais esperança nas renováveis para um futuro abandono dos chamados combustíveis fósseis, é o surgimento de novas tecnologias capazes de transformar em energia boa o que antes eram resíduos causadores de problemas e impactos diversos.
Esse é o caso da primeira fábrica de biometano do país, inaugurada no começo do mês pela Itaipu Binacional em Foz do Iguaçu (PR). A usina custou pouco mais de R$ 2 milhões e foi desenvolvido em conjunto pela Itaipu Binacional, Parque Tecnológico de Itaipu e pela Eletrobrás.
Por mês a produção será de 4 mil metros cúbicos de biometano, um gás não poluente capaz de abastecer os cerca de 80 veículos da empresa. O mais interessante é que a matéria-prima dessa fábrica são restos orgânicos, esgoto e até a grama podada de todo o complexo com todo esse material podendo ser misturado e transformado em energia. A título de curiosidade, a poda em Itaipu resulta em 1,5 tonelada de grama por dia!!
Para Paulo Schmidt, superintendente de Energias Renováveis da Itaipu Binacional, “o domínio dessa tecnologia de ponta para a produção de biogás poderá contribuir, inclusive, para desenvolver outras iniciativas que permitam a produtores rurais tratarem dejetos e até transformar o seu resultado em renda adicional“.
Os ganhos ambientais também são notáveis já que, além da produção de biometano e biofertilizante, a transformação do biogás em biometano reduz a emissão de gases de efeito estufa e trata os resíduos que antes eram descartados no meio ambiente. “A ideia é introduzir uma nova economia e ainda tratar o passivo ambiental”, explica Rodrigo Régis, presidente do Cibiogás.
Novas tecnologias, novos negócios e, quem sabe, iniciativas como essa possam efetivamente ajudar no combate as temidas mudanças climáticas.
É preciso ter esperança, não é mesmo?
*Reinaldo Canto é jornalista, Membro do Conselho Editorial da Envolverde – Revista Digital, colunista de Carta Capital, ex-diretor de Comunicação do Greenpeace Brasil e do Instituto Akatu, além de professor e especialista em sustentabilidade.
(#Envolverde)


24 junho 2017

CÓDIGO FLORESTAL COMPLETA 5 ANOS LONGE DE ATINGIR OBJETIVOS

Entre trancos e barrancos, avanços e retrocessos, o nosso Código Florestal continua a viver momentos conturbados

Por Reinaldo Canto


As várias batalhas que há mais de cinco anos tomaram conta do Congresso Nacional durante as discussões sobre a nova versão do Código Florestal brasileiro (Lei 12.651/2012)  - o anterior era de 1965 - deram lugar a enfrentamentos mais localizados e menos histriônicos. Mas continua o barulho a manter em trincheiras opostas ruralistas e ambientalistas.
Ao invés da gritaria parlamentar, muitos dos enfrentamentos tem se dado em tribunais e até mesmo na imprensa e redes sociais. Em relação ao que se passa na Justiça, alguns dos problemas mais persistentes encontram-se na esfera federal.  
Quatro ADINs (Ações Diretas de Inconstitucionalidade) estão sob análise do Supremo Tribunal Federal (STF). Elas alegam que artigos da lei ferem a proteção ao meio ambiente prevista na Constituição Brasileira. Recebidas no início de 2013, as ações aguardam julgamento final. O impasse causa preocupação em todos os setores, pois compromete a efetiva aplicação do Código nas propriedades rurais.
Situação parecida ocorre no Estado de São Paulo. Uma ADIN questiona a lei estadual para a implantação do Programa de Regularização Ambiental (PRA). A ação proposta pelo Ministério Público considera a lei paulista mais permissiva do que o previsto na lei federal. A Justiça de São Paulo acatou a medida e suspendeu o Programa.
Tanto quanto no âmbito federal, o fato da Justiça estadual não tomar uma decisão desagrada a todos, pois antes de tudo, causa insegurança jurídica e, portanto, uma paralisia generalizada.
 Fortes críticas entre importantes avanços
Uma das primeiras medidas previstas no Código é o registro dos imóveis rurais no Cadastro Ambiental Rural (CAR) e nesses cinco anos não é possível negar que muita coisa aconteceu.
Até o final de abril deste ano, 4,1 milhões de propriedades, num total de 408 milhões de hectares, foram registradas no CAR. Segundo o Serviço Florestal, o País possui um total de mais de 460 milhões de hectares, ou seja, uma quantidade significativa desse universo já está devidamente mapeada.  
“O maior avanço do Código foi a criação desse Cadastro Ambiental de imóveis rurais que possibilita o planejamento ambiental em escala individual e de paisagem. Também permite uma maior transparência sobre o uso da terra no Brasil. O conceito dos Planos de Regularização Ambiental (PRAs) serem elaborados para cada estado, seguindo as suas especificidades socioeconômicas e ambientais também seria uma potencial fortaleza da nova lei”, afirma Luis Fernando Guedes Pinto, Gerente de Certificação Agrícola do Imaflora.    
O Sudeste e o Norte possuem registro de 100% das propriedades e a região mais atrasada é o Nordeste com 76% registradas em teoria. Por que teoria? Pois nessa primeira fase do CAR, o processo é autodeclaratório, ou seja, foram os proprietários que forneceram as informações ainda passíveis de fundamentais fiscalizações futuras e, sabe-se bem, várias inconsistências deverão surgir nesse processo. Será por meio do CAR que todas as propriedades rurais do país terão contabilizados os seus passivos ambientais e as respectivas áreas que devem ser protegidas e mesmo recuperadas.
Outro ponto do CAR considerado incompleto pelos ambientalistas é o que leva em conta apenas os imóveis particulares e individuais desconsiderando outros arranjos territoriais. “Isso faz com que povos e comunidades tradicionais estejam alijados desse processo, pois não se enxergam nas definições previstas na lei”, afirma Ivy Wiens, Assessora Técnica do Instituto Socioambeintal (ISA). 
Ela prossegue na análise, “​Há uma série de instrumentos legais que tratam desses territórios, e que não são considerados pelo cadastro, por exemplo, o fato dos territórios serem coletivos e o manejo tradicional feito nesses locais. A falta de assistência para a realização dos cadastros torna a adesão dessas populações baixa. Também existem equívocos nos cadastros, pois vários foram feitos na lógica da propriedade individual”.
Merece também uma atenção especial o Programa de Regularização Ambiental (PRA),  que mencionamos antes ao citar a questão da ADIN paulista. Considerado o passo seguinte ao registro no CAR, o programa, a cargo dos governos estaduais, é o que estabelecerá a efetiva adequação das propriedades ao Código Florestal. Entre os pontos mais significativos, o PRA em cada estado irá determinar, entre outros, como e onde recuperar áreas degradadas, definir a proteção dos biomas e dar sustentação legal as áreas agrícolas consolidadas. Nesse caso, as críticas se tornam mais severas e revelam gargalos importantes do Código Florestal.
Segundo especialistas, nada adianta termos avançado tanto no CAR se ele não for devidamente validado nos estados.  “A Lei anda não saiu do papel, pois o governo federal e os estaduais ainda não definiram os principais instrumentos para a sua real implementação no campo. O CAR não foi validado, muitos PRAS não foram definidos.
Alguns PRAs ao invés de avançarem, retrocederam nos estados. Os incentivos econômicos ainda não foram definidos e não mudamos o paradigma de somente termos comando e controle para o funcionamento de uma lei ambiental. Enfim, apesar dos avanços potenciais, em cinco anos estamos longe do Código Florestal cumprir a sua finalidade de ordenar a conservação da vegetação nativa em imóveis rurais”, critica Luis Fernando, do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora). 
Ataques recentes comprometem o futuro
O movimento em câmera lenta na implantação do Código favorece muito os que têm pouco interesse em compatibilizar de maneira equilibrada o meio ambiente e a produção agropecuária.
Ainda mais nesses últimos tempos em que a legislação ambiental brasileira tem sido desfigurada por um ataque inédito e brutal, conforme tivemos a oportunidade de abordar recentemente
Tanto que, conforme divulgado pelo Atlas da Mata Atlântica 2017, estudo que monitora o bioma há 31 anos foi detectado o maior desmatamento da Mata Atlântica em 10 anos, revertendo tendência de queda desses índices registrados nos últimos anos.
O estudo registrou o desmatamento de 29.075 hectares (ha), ou 290 Km2, nos 17 Estados do bioma que é o que mais sofreu destruição na história do Brasil. Esse número representa um aumento de 57,7% em relação ao período anterior (2014-2015), que foi de 18.433 ha.
Tudo bem que o cenário político atual favorece a ação do que de mais atrasado existe no país, mas a ausência de uma lei florestal brasileira efetiva também contribui decisivamente para esse quadro de vale-tudo. “Nesses seus cinco anos esta lei florestal ainda está incompleta na prática. Apesar de alguns avanços, faltam diversos pontos para que ela funcione.
Faltam regulamentos e principalmente decisões para sua implementação, para as oportunidades que ela apresenta possam se concretizar” define Roberto Resende, presidente da Iniciativa Verde, organização especializada em recomposição florestal.
Avançar na regulamentação, destravar as ações e entender que a efetivação do Código Florestal é fundamental para o futuro do Brasil deveria ser uma das principais prioridades estratégicas de todos os setores envolvidos nesse processo.