Adaptação e tomada de
decisões com foco de longo prazo vão garantir investimentos e mudança de
patamar de empresas que já têm estratégia para se perpetuar
Por Juliana Lopes
O que você quer ser quando crescer? Essa pergunta feita inúmeras
vezes para crianças de regiões diferentes no mundo todo deve ser adaptada aos
empresários e executivos hoje, pois é urgente ter um plano cuja meta seja a
longevidade. Pensar desta forma é uma espécie de garantia da existência de seu
negócio dentro da nova economia e passa obrigatoriamente pelo comprometimento
com a transição para a economia de baixo carbono – que pavimentará nossa
existência futura à medida que dermos passos objetivos para mitigar os impactos
das mudanças climáticas e do aquecimento global. É esse diferencial, olhar para
o todo e não apenas para o resultado de curto prazo, a linha de corte de quem
vai se perpetuar ou não.
Uma empresa
dentro da nova economia, assim como a criança que sonha ser bombeira ou
astronauta, pensa nos passos que precisa dar para chegar ao seu objetivo. Ela
sonha. Ela sonha, cria uma visão de futuro e age. A empresa que hoje sonha traça
um caminho que possibilite ter a capacidade de regenerar a degradação que vivemos,
em como se adaptar. Pensa na sua resiliência que nada mais é que manter aquela
criança viva, seus objetivos no radar sem se seduzir pelos lucros do curto
prazo. A empresa não ignora os fatos e dados, mas atua de forma transparente em
suas operações. Esse é o comportamento que os investidores estão analisando,
procurando entender por exemplo a exposição de seus portfólios de ativos e
investimentos a riscos climáticos.
A procura desses
agentes financeiros que movimentam trilhões de dólares e euros em mercados
diversos é por companhias com estratégias de negócios resilientes às mudanças
climáticas porque esse é o fato que consideram que possibilitará a atividade
futura de corporações, mercados. É como se pensassem que essas empresas
precisarão se manter vivas para que recebam investimentos futuros. É um pouco
óbvio, sabemos, mas tem muita instituição desatenta com uma questão tão
elementar e vital. Mas as holografias são muitas no caminho, como o fato de o
presidente da maior economia global realizar um grande desserviço ao mundo
pensando apenas no curto prazo e ignorando o Acordo de Paris, para ficarmos
apenas em um exemplo.
O momento agora é de ir além da eficiência
durante a produção, sendo capazes de entender os impactos ao longo de todo o
ciclo de vida dos produtos e serviços. Trata-se de um nível de demanda
diferente em termos de performance socioambiental. Para atingi-lo, as empresas
devem refletir se as suas ações estão tendo escala no setor em que atuam e na
economia como um todo. Essa é a única forma de serem verdadeiramente
sustentáveis. Pensar em rede. Observar e interferir positivamente na cadeia de
valores.
As empresas devem se
preparar para conduzir suas estratégias por trajetórias de descarbonização, o
que exigirá inovação disruptiva e mudanças nos modelos de negócios. Elas
precisarão se perguntar qual a natureza da sua
atividade e quais as reais necessidades sociais atendidas por seus produtos e
serviços. E assim, encontrar um modelo para que operem e prosperem dentro de
limites ambientais e sociais seguros.
Uma empresa da nova economia não busca apenas
gerenciar seus impactos ambientais e sociais, mas também ter impactos positivos
ao orientar suas estratégias para oferecer soluções para os principais desafios
de nossos tempos. Mudanças climáticas, mobilidade, desmatamento e declínio de
serviços ecossistêmicos, segurança alimentar são alguns deles. Endereçar esses
desafios representa novas oportunidades de negócios.
Como um exercício
pedagógico de indicação de caminhos possíveis para a transição para a nova
economia, o CDP desenvolve uma série de ações voltadas ao mercado financeiro,
que acreditamos ser o grande catalisador da mudança necessária. As empresas
devem se preparar para um escrutínio cada vez maior dos diferentes stakeholders
em relação ao impacto ambiental dos negócios ao longo de toda a cadeia,
notadamente a pegada de carbono, uma vez que será necessária uma redução
drástica das emissões globais. Para manter o
aumento da temperatura em 2°C em relação aos níveis pré-industriais, limite
considerado seguro, a comunidade científica adverte que até 2050 as emissões
devem ser reduzidas entre 41% e 72% em relação aos níveis de 2010. Isso resulta
em um orçamento de aproximadamente 1000 giga toneladas disponíveis para serem
“gastos”. Mantendo o nível atual de emissões de 49 giga toneladas ao ano, esse
orçamento será gasto em 20 anos.
É crescente o entendimento
dos investidores de que as mudanças climáticas podem impactar a estabilidade
financeira. À exemplo disso, o Financial Stability Board – FSB divulgou em
junho deste ano um conjunto de recomendações da Task Force on Climate
Financial-Related Disclosure para reporte de informações sobre os riscos de
transição das mudanças climáticas nos informes financeira. Por riscos de
transição entende-se que as mudanças políticas, legais, tecnológicas e de
mercado devem ser extensivas para atender aos requisitos de mitigação e
adaptação relacionados às mudanças climáticas. Dependendo da natureza,
velocidade e foco dessas mudanças, os riscos de transição podem representar
níveis variáveis de risco financeiro e de reputação para as organizações.
A TCFD reforça
que a transparência sobre riscos climáticos é crucial para uma boa governança e
para a perenidade do negócio, agenda que o CDP vem trabalhando nos últimos 15
anos com as principais forças do mercado com o respaldo de uma rede de
investidores e clientes internacionais. A gestão corporativa de riscos
climática tem agora o potencial de se tornar uma norma para se fazer negócios,
por se tratar de uma iniciativa liderada pela indústria financeira como é o
caso do FSB.
O
CDP é uma organização internacional sem fins lucrativos, formada por
grandes investidores interessados na avaliação do desempenho das empresas em
função dos desafios ambientais de mudanças climáticas, recursos hídricos e
florestas. Atualmente é formada por 827 investidores que administram um total
de US$ 100 trilhões em ativos. A organização tem ainda em sua base de
respondentes mais de 570 cidades no mundo todo reportando seus dados em 2017. A
partir desses dados, são produzidos materiais que reportam regularmente a
evolução no uso de recursos hídricos e ambientais pelas empresas e cidades
signatárias, como este sobre desmatamento.
As
decisões que estão sendo tomadas hoje determinarão se seremos capazes de fazer
uma transição para uma economia próspera, que trabalhe para as pessoas e para o
planeta a longo prazo. Acreditando na possível e urgente mudança de cenário, o
CDP Latin America realiza no dia 30 de novembro, em São Paulo, o Conexão CDP,
evento que vai promover um diálogo com essa ótica entre investidores, empresas,
cidades e governo, oferecendo protótipos de ideias e soluções para materializar
a mudança que desejamos ver no mundo.
Além
disso, neste ano será apresentado um infográfico inédito – que apresenta
indicadores e dados de empresas e cidades na América Latina sobre como se
preparam, monitoram e gerenciam seus recursos. Por meio dessa ferramenta será
possível visualizar quais são as empresas que lideram em sustentabilidade na
região e que tipo de estratégias elas utilizam ou estão desenhando para
embarcar no único futuro possível, o da economia de baixo carbono. Contamos com
o apoio de todos os setores da sociedade!
Serviço: Conexão CDP 2017
Data: 30 de novembro
Local: Teatro Vivo – Av. Dr. Chucri Zaidan, 2460
– Vila Cordeiro, em São Paulo
Horário: 8h30 – 13h30 – atividade aberta ao
público geral
13h30 – 15h – atividade exclusiva para as
empresas inscritas na rodada de negócios
#ConexaoCDP #EconomiaEmTransicao
Juliana Lopes é graduada em jornalismo, com um
MBA em Marketing e Mestrado em Administração pela FEI na linha de pesquisa em
sustentabilidade. Como diretora do CDP Latin America, é responsável pelas
atividades da organização na região. Atuando há 12 anos na área de
sustentabilidade, Juliana começou sua carreira no terceiro setor, onde liderou
projetos de capacitação para empoderar a sociedade civil para uma gestão mais participativa
e eficiente da água. Foi editora da revista Ideia Sustentável, a primeira
revista brasileira especializada em Responsabilidade Social Corporativa, onde
também coordenou projetos de estudos e pesquisas, bem como de consultoria
estratégica em sustentabilidade. Trabalhou em empresas multinacionais como BASF
e Bridgestone-Firestone na área de comunicação corporativa. Também se dedicou a
elaboração e implementação de campanhas de comunicação da sustentabilidade para
clientes corporativos e organizações internacionais como WWF. Integra o Grupo
de pesquisa internacional sobre Licença social para operar.
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