Os resultados divulgados no mês passado pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, em tradução de sua sigla em inglês) reforçaram o que já era de conhecimento até, plagiando Mino Carta, do mundo mineral. O relatório mais uma vez ratifica que o ser humano e suas atividades de alto impacto ambiental têm causado mudanças substanciais na dinâmica climática do planeta. A emissão dos chamados gases de efeito estufa continua, desculpe o trocadilho, a todo vapor e os problemas acarretados por esse fenômeno só tendem a piorar dramaticamente o que já está afetando a vida de bilhões de pessoas.
Tudo bem que não é necessário ser cientista para perceber que alguma coisa muito errada já vinha acontecendo com o nosso clima e não é de hoje. Os fenômenos climáticos extremos estão cada vez mais presentes em nosso cotidiano. Mas nada melhor do que estudiosos gabaritados para respaldar com informações e pesquisas exaustivas a constatação de que o aquecimento global é sim uma realidade nua e crua. Gostem ou não gostem nossas autoridades públicas, dirigentes de grandes corporações, especuladores e representantes do mercado financeiro, todos tão zelosos por seus interesses mais particulares que coletivos, será preciso agir para salvar os dedos mesmo que seja necessário entregar alguns poucos anéis.
De qualquer forma, o novo relatório do IPCC apontou, entre suas principais conclusões, que não há mais como duvidar do aquecimento global e da ação humana para esse fenômeno. E, a partir dessa constatação, para que não ultrapassemos dois graus Celsius no aumento da temperatura média na Terra, seria necessário interromper imediatamente a emissão de gases de efeito estufa, produzidos principalmente pela queima de combustíveis fósseis (petróleo, carvão, gás natural, etc.).
O lado mais pessimista do texto conclui ser o aquecimento do planeta algo irreversível. Seria necessária, para evitar piores resultados no futuro próximo, uma imediata e inadiável ação em escala global. Certo também, como apontado pelo documento, é que neste exato momento não estamos preparados para enfrentar essas mudanças.
Segurança Alimentar
O relatório reserva um espaço importante para abordar a produção de alimentos. No estudo anterior, divulgado em 2007, o IPCC levantava a hipótese de que o aumento da temperatura poderia beneficiar a agricultura de regiões mais frias, o que talvez compensasse as perdas em outras áreas mais quentes. Neste novo texto, essa possibilidade ficou descartada, pois os impactos negativos que já vem sendo registrados em culturas fundamentais, como arroz, milho e trigo, não serão capazes de equilibrar a oferta de alimentos. Aliás, entre os maiores perigos destacados pelo IPCC está justamente o aumento no preço dos principais gêneros alimentícios, um dos mais preocupantes. A perda de áreas agricultáveis devido ao calor excessivo deve aumentar as causas de instabilidade que já afetam um grande número de países. A fome e as imigrações forçadas tendem a se multiplicar e trazer ainda mais sofrimento para milhões de pessoas, principalmente as que vivem nas nações mais pobres e desprovidas de uma boa infraestrutura para enfrentar os problemas criados pelo aquecimento global.
Por mais fatalista que seja o novo relatório das mudanças climáticas, não nos resta outra atitude a não ser enfrenta-las seriamente. Os fatos estão aí à disposição de todos. Se já era difícil entender a letargia de nossos líderes mesmo com tantas evidências, agora diante dessas novas comprovações resta perguntar: o que mais será preciso para começar a agir?
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