Os avanços foram poucos, mas o estabelecimento de regras para o REDD+ é um alento para as nossas sofridas florestas
Gabriel Bonis
O compasso se manteve coerente com as últimas Conferências do Clima realizadas anualmente. Duas semanas de discussões, todos os representantes de países muito preocupados com as óbvias e ululantes mudanças climáticas cada vez mais evidentes e perigosas e ao mesmo tempo um tal de simplesmente dizer que "não é comigo" e "vamos deixar como está para ver como é que fica". Uma total falta de compromissos e posicionamentos vacilantes em relação ao estabelecimento de ações que faça frente ao temido aquecimento global.
Não bastaram os novos dados apresentados recentemente pelos cientistas do IPCC (sigla em inglês para Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) dando conta do agravamento das condições climáticas e a inédita força do tufão Haiyan que dias antes havia arrasado as Filipinas. A insensibilidade imperou até o final da COP-19 em Varsóvia, na Polônia encerrada no final de semana, aliás, como já vem ocorrendo até com certa insistência nos últimos anos.
As ONGs (organizações não governamentais), entre elas as internacionais Greenpeace, WWF e Oxfam, além da brasileira Vitae Civilis até perderam a paciência e no penúltimo dia abandonaram a conferência, “para aproveitar melhor seu tempo”, conforme explicitado em comunicado conjunto.
Mas eis que no apagar das luzes, ao menos uma notícia contribuiu para algo de novo a anunciar, antes que fosse decretado o fracasso total da conferência. Os participantes chegaram a um acordo quanto ao estabelecimento de regras para o financiamento do REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação), um programa que visa garantir a preservação das florestas e apoiar os projetos de manejo sustentável e conservação. Os sempre difíceis consensos, neste caso teve um final feliz. Os países concordaram quanto à metodologia de rastreamento e fiscalização das áreas preservadas e também quanto à definição das regras e aportes financeiros ao Fundo Verde do Clima que irá ser destinado aos projetos de conservação.
Alguns países como Noruega, Reino Unido e Estados Unidos já anunciaram o aporte de recursos para o fundo da ordem de US$ 280 milhões. O Brasil é um potencial beneficiário desses investimentos em virtude da importância e das grandes ameaças às nossas florestas.
Claro que para uma conferência internacional desse porte, longas e desgastantes discussões, o anúncio de algo que já vinha sendo debatido desde 2010, não merece ser comemorado, mas diante dos resultados ainda mais pífios das COPs anteriores, vale brincar de contente e ressaltar esse avanço.
De qualquer maneira essa brincadeira precisa durar o tempo de uma rápida comemoração e partir para novas soluções e o efetivo reconhecimento das responsabilidades de todos nas mudanças que mais dia, menos dia, vão acontecer, sejam elas por bem ou por mal. Quem viver, verá!!