O progresso a qualquer custo tem negligenciado o ser humano. Construções sustentáveis tentam resgatar essa dívida.
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Por Reinaldo Canto*
Ao longo da nossa história, as cidades e comunidades humanas foram sendo formadas levando em conta as questões ambientais existentes no local. Bom exemplo é o da água, vital para a sobrevivência. Nós humanos íamos ao seu encontro e instalávamos nossas moradias próximas às fontes do líquido precioso. Não é à toa que todas as grandes civilizações do passado se desenvolveram em torno dos grandes rios e muitas continuam lá até hoje. O crescimento desordenado plenamente acompanhado da evolução tecnológica capacitou o homem, em sua megalomania, a vencer, domar a natureza criando espaços artificiais que aterraram e desviaram rios, asfaltaram a terra e eliminaram os outros seres vivos que, de alguma forma, bloqueassem esse caminho chamado de progresso, até mesmo outros seres humanos (indígenas e povos tradicionais, só para citar alguns). Claro que muita coisa boa foi criada, mas junto com interessantes inovações vieram também a total falta de bom senso em relação a uma análise criteriosa sobre os benefícios e malefícios envolvidos com essas transformações. Perguntas básicas deixaram de ser feitas, como as que envolvem, o quanto determinada obra impacta a vida de todos e interfere nas fundamentais leis naturais a que todos nós estamos subordinados. As cidades, assim como elas foram concebidas, representam a melhor e mais saudável maneira de se viver? Uma perversa consonância entre ganância, ignorância e ausência de planejamento foram os principais responsáveis pelo atual caos generalizado dos grandes aglomerados urbanos, notadamente nos países mais pobres e em desenvolvimento. Sem que isso signifique que o tal mundo desenvolvido tenha equacionado tais problemas, mas ao menos foram capazes de trabalhar em parte com maior seriedade. Um novo cenário. Tal estado de coisas ao menos foi capaz de fazer surgir um movimento povoado de boas intenções conhecidos por vários formatos como ecovilas, cidades e comunidades sustentáveis, movimentos de moradias alternativos e também as chamadas construções sustentáveis. Recentemente, São Paulo foi palco do Greenbuilding Brasil que em sua quarta edição mostra um mercado em crescente expansão. Só para ter ideia, esse mercado de construções sustentáveis partiu de um patamar de 3% do PIB geral da construção civil brasileira em 2010, para 9% em 2012. O registro de empreendimentos que buscam obter a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), principal certificadora do gênero no Brasil, partiu de 1 projeto em 2004 para 219 pedidos em 2012. O Brasil já registra um total de 109 edificações devidamente certificadas como sustentáveis e ocupa a 4ª posição no mundo nesse cenário atrás de EUA, China e Emirados Árabes. Ainda é pouco, principalmente se levarmos em conta o boom do mercado imobiliário nos últimos anos, mas demonstra uma crescente preocupação com os impactos causados pelo setor. Um estudo realizado pela Universidade de Oxford (Inglaterra), feito a pedido da OIT (Organização Internacional do Trabalho), constatou ser o setor da construção civil responsável por 40% das emissões dos gases de efeito estufa do planeta. Além disso, os custos maiores de uma obra sustentável que podem atingir de 1 a 3%, pouco mais do que uma construção convencional, serão plenamente compensados se analisarmos que ao longo da vida útil de um edifício, 80% dos custos envolvem gastos com manutenção. Portanto, redução nos consumos de energia, água e o uso de materiais locais e menos agressivos ao meio ambiente que já contribuem positivamente para a sustentabilidade, também irá aliviar o desembolso mensal daqueles que optarem por essas obras mais sustentáveis. Políticas públicas. Mas é verdade também que mais do que o crescimento das construções sustentáveis - ou novas ecovilas - e mesmo o desenvolvimento de núcleos de moradias autossuficientes será preciso um envolvimento mais sério dos nossos gestores públicos responsáveis pela elaboração de macro políticas urbanistas. Será preciso uma nova visão que pense as atuais cidades e as futuras aglomerações urbanas de modo a priorizar uma maior integração com o meio ambiente e o uso racional de todos os recursos disponíveis. Prioridade também para o bem viver de todos, mais próximo de uma imagem do paraíso, ao invés do inferno atual das metrópoles. Mais harmonia no dia a dia e menos estresses cotidianos que empobrecem as nossas rotinas e prejudicam a saúde física e psicológica de tantas pessoas. E, antes de mais nada, possam fazer a simples e óbvia pergunta que ainda não foi respondida no início dessa missiva e que de certa maneira também não foi feita ao longo de toda a nossa história, afinal, qual é mesmo o habitat do ser humano? Quem se habilita?
Artigo publicado originalmente na coluna do autor no site da revista Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/
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SHP permite expansão de moradias erguidas em menos tempo a custo reduzido.
Tudo o que se refere à construção civil é superlativo. Grandes obras embutem enormes impactos ambientais, como alta produção e descarte de resíduos sólidos e forte consumo de água e energia. No Brasil, a geração de resíduos da construção chega a 50% do total. Os desperdícios do setor também são grandiosos.
A Precon Engenharia, de Minas Gerais, encontrou um caminho que pode nortear empresas similares. Após exaustivas pesquisas, há três anos criou a Solução Habitacional Precon (SHP), tecnologia que agrega o uso de fôrmas metálicas, blocos cerâmicos em dimensões padronizadas, concretagem automatizada e elementos pré-fabricados, entre outros materiais modulares. Para Marcelo Monteiro de Miranda, diretor da empresa, a ideia é a mesma de um chassis de carro. “Você pode usar o acabamento que quiser, a cor que achar melhor, mas o chassis, a base, é a mesma”, explicou.
São gigantescos os ganhos com esse formato de produção. Para se ter uma ideia, a geração média de resíduos nas construções tradicionais é de 150 kgs/m², enquanto no sistema da SHP a queda é para impressionantes 28 kgs/m², uma redução de 81%. Até 2015, a construtora espera gerar 90% menos resíduos em relação às obras de construção convencionais.
O tempo médio para as construções modulares é simplesmente a metade em relação às comuns, fator que influencia fortemente na direção dos ganhos financeiros, inclusive para o comprador final. Em muitos casos, a prestação da casa própria é paga simultaneamente ao aluguel, enquanto a construção está sendo erguida. Quanto menor for o tempo de construção, mais reduzido será o custo para as famílias que adquirirem seu primeiro imóvel.
Mais leves, os materiais modulares possibilitaram a contratação de 30% de mulheres, fator está que ganhando escala na construção civil. O trabalho permanente das fábricas da SHP também foi capaz de melhorar as condições de trabalho e criar mecanismos para aumento da capacitação da mão-de-obra.
Menor desperdício e maior qualidade das construções levou também à boa notícia do lucro. Em 2010, a SHP tinha 16 clientes em uma cidade apenas. Hoje já são 700 clientes em seis municípios distintos. Para 2015, a previsão é de alcançar 2 mil clientes em 12 municípios.
Reinaldo Canto, especial para o Ethos
(Envolverde)