11 setembro 2013

Qual é o habitat do ser humano?

O progresso a qualquer custo tem negligenciado o ser humano. Construções sustentáveis tentam resgatar essa dívida.
Por Reinaldo Canto*


Manifestação pela Avenida M'Boi Mirim,
periferia na zona sul de São Paulo
Habitat é o local ideal para que uma espécie, seja ela animal ou planta, possa se desenvolver, se alimentar e procriar. Pesquisadores já identificaram os habitats de inúmeras espécies. Sabemos, por exemplo, quais são os melhores lugares para que o elefante, a onça, o tamanduá-bandeira e o esquilo possam viver. Identificamos os biomas naturais e os seres vivos que os habitam. Até mesmo fomos capazes de considerar algumas espécies como exóticas, quando elas passam a ocupar e interagir de maneira pouco saudável com as espécies chamadas nativas dessa região. E nós, humanos, quais são os nossos ambientes, nem diria naturais, mas ideais para podermos viver com qualidade?

Ao longo da nossa história, as cidades e comunidades humanas foram sendo formadas levando em conta as questões ambientais existentes no local. Bom exemplo é o da água, vital para a sobrevivência. Nós humanos íamos ao seu encontro e instalávamos nossas moradias próximas às fontes do líquido precioso. Não é à toa que todas as grandes civilizações do passado se desenvolveram em torno dos grandes rios e muitas continuam lá até hoje.

O crescimento desordenado plenamente acompanhado da evolução tecnológica capacitou o homem, em sua megalomania, a vencer, domar a natureza criando espaços artificiais que aterraram e desviaram rios, asfaltaram a terra e eliminaram os outros seres vivos que, de alguma forma, bloqueassem esse caminho chamado de progresso, até mesmo outros seres humanos (indígenas e povos tradicionais, só para citar alguns).

Claro que muita coisa boa foi criada, mas junto com interessantes inovações vieram também a total falta de bom senso em relação a uma análise criteriosa sobre os benefícios e malefícios envolvidos com essas transformações. Perguntas básicas deixaram de ser feitas, como as que envolvem, o quanto determinada obra impacta a vida de todos e interfere nas fundamentais leis naturais a que todos nós estamos subordinados. As cidades, assim como elas foram concebidas, representam a melhor e mais saudável maneira de se viver?

Uma perversa consonância entre ganância, ignorância e ausência de planejamento foram os principais responsáveis pelo atual caos generalizado dos grandes aglomerados urbanos, notadamente nos países mais pobres e em desenvolvimento. Sem que isso signifique que o tal mundo desenvolvido tenha equacionado tais problemas, mas ao menos foram capazes de trabalhar em parte com maior seriedade.

Um novo cenário. Tal estado de coisas ao menos foi capaz de fazer surgir um movimento povoado de boas intenções conhecidos por vários formatos como ecovilas, cidades e comunidades sustentáveis, movimentos de moradias alternativos e também as chamadas construções sustentáveis.

Recentemente, São Paulo foi palco do Greenbuilding Brasil que em sua quarta edição mostra um mercado em crescente expansão. Só para ter ideia, esse mercado de construções sustentáveis partiu de um patamar de 3% do PIB geral da construção civil brasileira em 2010, para 9% em 2012. O registro de empreendimentos que buscam obter a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), principal certificadora do gênero no Brasil, partiu de 1 projeto em 2004 para 219 pedidos em 2012. O Brasil já registra um total de 109 edificações devidamente certificadas como sustentáveis e ocupa a 4ª posição no mundo nesse cenário atrás de EUA, China e Emirados Árabes.

Ainda é pouco, principalmente se levarmos em conta o boom do mercado imobiliário nos últimos anos, mas demonstra uma crescente preocupação com os impactos causados pelo setor. Um estudo realizado pela Universidade de Oxford (Inglaterra), feito a pedido da OIT (Organização Internacional do Trabalho), constatou ser o setor da construção civil responsável por 40% das emissões dos gases de efeito estufa do planeta. Além disso, os custos maiores de uma obra sustentável que podem atingir de 1 a 3%, pouco mais do que uma construção convencional, serão plenamente compensados se analisarmos que ao longo da vida útil de um edifício, 80% dos custos envolvem gastos com manutenção. Portanto, redução nos consumos de energia, água e o uso de materiais locais e menos agressivos ao meio ambiente que já contribuem positivamente para a sustentabilidade, também irá aliviar o desembolso mensal daqueles que optarem por essas obras mais sustentáveis.
Políticas públicas. Mas é verdade também que mais do que o crescimento das construções sustentáveis - ou novas ecovilas - e mesmo o desenvolvimento de núcleos de moradias autossuficientes será preciso um envolvimento mais sério dos nossos gestores públicos responsáveis pela elaboração de macro políticas urbanistas. Será preciso uma nova visão que pense as atuais cidades e as futuras aglomerações urbanas de modo a priorizar uma maior integração com o meio ambiente e o uso racional de todos os recursos disponíveis. Prioridade também para o bem viver de todos, mais próximo de uma imagem do paraíso, ao invés do inferno atual das metrópoles. Mais harmonia no dia a dia e menos estresses cotidianos que empobrecem as nossas rotinas e prejudicam a saúde física e psicológica de tantas pessoas.

E, antes de mais nada, possam fazer a simples e óbvia pergunta que ainda não foi respondida no início dessa missiva e que de certa maneira também não foi feita ao longo de toda a nossa história, afinal, qual é mesmo o habitat do ser humano? Quem se habilita?

Artigo publicado originalmente na coluna do autor no site da revista Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/

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10 setembro 2013

Construção civil: empresa adota tecnologia que faz despencar impacto ambiental


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Marcelo Monteiro de Miranda (Precon Engenharia) durante exposição. Foto: Clovis Fabiano
SHP permite expansão de moradias erguidas em menos tempo a custo reduzido.
Tudo o que se refere à construção civil é superlativo. Grandes obras embutem enormes impactos ambientais, como alta produção e descarte de resíduos sólidos e forte consumo de água e energia. No Brasil, a geração de resíduos da construção chega a 50% do total. Os desperdícios do setor também são grandiosos.
A Precon Engenharia, de Minas Gerais, encontrou um caminho que pode nortear empresas similares. Após exaustivas pesquisas, há três anos criou a Solução Habitacional Precon (SHP), tecnologia que agrega o uso de fôrmas metálicas, blocos cerâmicos em dimensões padronizadas, concretagem automatizada e elementos pré-fabricados, entre outros materiais modulares. Para Marcelo Monteiro de Miranda, diretor da empresa, a ideia é a mesma de um chassis de carro. “Você pode usar o acabamento que quiser, a cor que achar melhor, mas o chassis, a base, é a mesma”, explicou.
São gigantescos os ganhos com esse formato de produção. Para se ter uma ideia, a geração média de resíduos nas construções tradicionais é de 150 kgs/m², enquanto no sistema da SHP a queda é para impressionantes 28 kgs/m², uma redução de 81%. Até 2015, a construtora espera gerar 90% menos resíduos em relação às obras de construção convencionais.
O tempo médio para as construções modulares é simplesmente a metade em relação às comuns, fator que influencia fortemente na direção dos ganhos financeiros, inclusive para o comprador final. Em muitos casos, a prestação da casa própria é paga simultaneamente ao aluguel, enquanto a construção está sendo erguida. Quanto menor for o tempo de construção, mais reduzido será o custo para as famílias que adquirirem seu primeiro imóvel.
Mais leves, os materiais modulares possibilitaram a contratação de 30% de mulheres, fator está que ganhando escala na construção civil. O trabalho permanente das fábricas da SHP também foi capaz de melhorar as condições de trabalho e criar mecanismos para aumento da capacitação da mão-de-obra.
Menor desperdício e maior qualidade das construções levou também à boa notícia do lucro. Em 2010, a SHP tinha 16 clientes em uma cidade apenas. Hoje já são 700 clientes em seis municípios distintos. Para 2015, a previsão é de alcançar 2 mil clientes em 12 municípios.
Reinaldo Canto, especial para o Ethos
(Envolverde)

Uniethos-Deloitte: instituições financeiras ainda muito distantes da sustentabilidade


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No painel da Conferência Ethos, logos de instituiç!oes financeiras participantes. Foto: Fernando Manoel
Em breve, resolução do Bacen deve tornar obrigatória adoção de política de responsabilidade socioambiental.
O estudo intitulado “Sustentabilidade nas Instituições Financeiras”, divulgado pelo Uniethos e a consultoria Deloitte nesta quarta-feira (4), segundo dia da Conferência Ethos 2013, revelou o pouco interesse que o tema ainda desperta no setor, apesar dos riscos existentes para o desenvolvimento econômico do Brasil, entre eles os causados pelas mudanças climáticas, poluição e esgotamento dos recursos naturais, o que impacta de frente o lucro desejado.
Com exceção de alguns grandes bancos, o que os números mostraram foi que, entre as 2.500 instituições financeiras atuantes no território nacional, “é possível contar nos dedos as que efetivamente possuem uma política de responsabilidade socioambiental”, como ressaltou Regi Magalhães, gerente-executivo do Uniethos.
A pesquisa foi trabalhada em duas frentes: a primeira ouviu mais detalhadamente 40 dessas instituições; enquanto a segunda se constituiu em questionários enviados para outras 888, que responderam livremente sobre sua atuação.
O resultado de ambas as consultas não pode ser considerado muito animador. A enquete feita com o grupo seleto de organizações indicou que apenas 29% delas possuem comitê de responsabilidade socioambiental; 38% seguem os Princípios do Equador, o Protocolo Verde e fazem seus relatórios seguindo a plataforma GRI (Global Reporting Initiative). Ainda neste núcleo, pouco mais da metade (55%) faz avaliação prévia de riscos ambientais e 82% não incluem critérios de sustentabilidade para o cálculo da remuneração variável de seus executivos. Este último dado evidencia o pouco interesse dado pelas empresas quanto a este fator.
Já entre as quase 900 instituições financeiras participantes da segunda rodada, somente 50 adotam políticas de responsabilidade socioambiental, 86 publicam relatórios de sustentabilidade e 92 praticam gestão de risco socioambiental. Em suma, cerca de 10% das entidades que se submeteram à consulta apresentam um trabalho mais efetivo ligado à sustentabilidade.
Normativa – Camila Araújo, sócia da área de Gestão de Riscos e Sustentabilidade da Deloitte, lembrou que está em discussão no Banco Central uma resolução que deverá estabelecer, de forma obrigatória, a implantação de uma política de responsabilidade socioambiental – até agora de adesão voluntária. A medida, ainda sem data para entrar em vigor, tem entre suas obrigações contemplar os impactos socioambientais de serviços e produtos financeiros; a avaliação dos riscos e oportunidades relacionados às mudanças climáticas e à biodiversidade e o gerenciamento do risco socioambiental.
Além disso, também deverá considerar a avaliação das operações do risco socioambiental, com base em critérios consistentes e passíveis de verificação. Segundo Camila, as instituições financeiras estão muito atrasadas, pois será apenas uma questão de tempo a implementação da nova resolução. Para a gestora da Deloitte, “a ação do Bacen oficializa a preocupação demonstrada ainda por algumas instituições”.
Reinaldo Canto, especial para o Ethos
(Envolverde)

Sustentabilidade a serviço do negócio


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Andressa de Mello (JBS Ambiental). Foto: Thiago Lopes
JBS alcança autossuficiência econômica na gestão de resíduos e reduz os impactos ao meio ambiente.
Um grande desafio e sinal de inteligência nos negócios para qualquer organização é transformar um problema em solução. Ou ao menos chegar perto disso. A cada dia as empresas se deparam com situações mais delicadas quando o assunto é a geração de resíduos de suas atividades.
Para a JBS, maior empresa na produção de proteína animal do mundo, esse desafio tem ainda peculiaridades que dificultam fazer a gestão da enorme quantidade de resíduos resultantes de seus processos de produção em mais de 70 plantas industriais, sendo 44 frigoríficos. A maior parte desse material está exatamente nos frigoríficos que, em razão dos abates e desossa resultante da industrialização da carne, geram resíduos com sangue que possuem baixo valor e de difícil venda ou descarte. Além desses, o grupo JBS possui outras atividades como a fabricação de sabonetes, biodiesel, latas de aço e couro.
Diante desse cenário, a multinacional decidiu no início de 2012 pela criação da empresa JBS Ambiental Recicladora, que tem como principal missão, dar soluções para o gerenciamento dos resíduos do grupo por meio da reciclagem e da revenda. Para Andressa de Mello, diretora da JBS Ambiental, o objetivo está sendo plenamente alcançado, apesar de ainda existirem inúmeras questões a serem trabalhadas.
O que antes representava um custo grande para a empresa dar destino adequado dos resíduos, a nova área de negócios já obteve alguns bons resultados, como redução nas despesas com descarte e destinação; minimização do passivo e riscos ambientais; e implementação em todo o grupo de uma visão sobre a importância da sustentabilidade para o futuro dos negócios.
Alguns números emblemáticos desse trabalho realizado durante todo o ano passado revelam o sucesso da empreitada para a empresa, colaboradores e meio ambiente. O volume total de resíduos coletados foi de 2.000 toneladas por mês. Desse total, foram tratadas e, posteriormente, vendidas, 2.300 toneladas de resinas plásticas e mais de 100 outros tipos de resíduos. O faturamento em 2012 com essas atividades chegou à marca de R$ 33 milhões. Mas os ganhos obtidos pela empresa vão muito além dos financeiros.
Andressa conta que esse trabalho contribui para a conquista de novos clientes e a garantia de manutenção dos atuais, principalmente os do exterior, pois os frigoríficos são constantemente auditados e certificados. O quesito resíduos tem sido aprovado em todas essas auditorias nas sete centrais de gerenciamento de resíduos mantidos pela empresa em frigoríficos.
Rastreabilidade, trabalho social e parcerias – Pouco comum no setor, a JBS também adotou o sistema de rastreabilidade de todos os resíduos resultantes de seus processos. Dessa maneira, a empresa garante o controle detalhado da destinação dos materiais e minimiza os riscos ambientais.
Paralelamente, é realizado um trabalho de educação ambiental destinado aos funcionários e extensivo às suas famílias sobre reciclagem, economia de recursos, gestão e processos, entre os principais temas.
Outro aspecto importante do trabalho da JBS Ambiental Recicladora está no fomento ao empreendedorismo e criação de novos negócios. Em cada central de gerenciamento de resíduos são identificados os possíveis clientes e/ou parceiros locais para trabalhar em conjunto. Também são estimuladas parcerias que sejam capazes de gerar valor agregado para tipos diferentes de resíduos e possíveis novos negócios.
Nesse último destaque feito por Andressa está contemplado o que prevê a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que fala exatamente em responsabilidade compartilhada nas soluções que envolvem toda a geração de resíduos no país. “Não daríamos conta de montar uma logística reversa de pós-consumo”, afirma. Ela ainda faz um alerta para concorrentes, mas que vale para todo o setor empresarial: “se cada empresa se preocupar em criar o seu próprio modelo de gestão de resíduos, acabará por comprometer o todo”.
Por Reinaldo Canto, especial para o Ethos
(Envolverde)

Case do Walmart é exemplo de indutor de mudanças no setor varejista


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Camila Valverde, diretora de Sustentabilidade, explica aos participantes da mesa e plateia a nova fase do programa Ponta a Ponta do Walmart. Foto: Fernando Manoel
Hipermercado apresenta nova rodada de resultados do programa Sustentabilidade de Ponta a Ponta.
Desde 2010, o programa Sustentabilidade de Ponta a Ponta do Walmart tem sido um importante instrumento de valorização, transformação e estímulo para que os fornecedores da cadeia varejista fabriquem produtos mais sustentáveis e, consequentemente, impactem menos o meio ambiente.
Camila Valverde, diretora de Sustentabilidade da empresa, ocupou o espaço Negócios Sustentáveis, patrocinado pelo Itaú Unibanco, para apresentar os números e os bons resultados alcançados pelo projeto apesar de seu curto período de existência.
Até agora foram realizadas duas edições e uma terceira está em andamento. Participaram já do projeto 23 fornecedores, entre as maiores empresas (Colgate-Palmolive, Coca-Cola e Nestlé, só para citar alguns exemplos), com a obtenção de resultados significativos como a economia de 232.430 litros de óleo diesel; redução na geração de resíduos (industrial e agrícola) na ordem de 250.400 kg; diminuição no uso de massas de embalagem de 79.450 kg e menor consumo de água (cerca de 2 milhões e 400 mil litros).
Camila explicou que isso foi possível a partir da constatação, em 2008, de que qualquer ação para reduzir os impactos causados pela rede só poderia ser feita com a participação direta das empresas vinculadas à sua cadeia produtiva. Os impactos ambientais diretos do Walmart estão na casa dos 8%, enquanto os indiretos, ou seja, os gerados por seus fornecedores representavam naquele momento 92%.
Os consultores do Centro de Tecnologia de Embalagens (Cetea), ligado ao Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), analisaram as melhorias nos produtos e os ganhos ambientais, econômicos e sociais alcançados. Foram consumidos um ano e meio até que os primeiros produtos e processos industriais fossem avaliados e aprovados pelo Cetea. O objetivo principal era o de obter melhorias nos processos da indústria de bens de consumo para o desenvolvimento de produtos mais sustentáveis durante todo o ciclo de vida do produto. “Também foram avaliados itens como transporte, logística e relação equilibrada com serviços ecossistêmicos”, completou Camila.
O poder de negociação do Walmart, nesse caso, foi usado inicialmente como ferramenta de convencimento para engajar as empresas, mas agora já se tornou uma prática de parceria e incentivo a que outros fornecedores da rede de supermercados adotem ações semelhantes aos seus concorrentes.
Após o sucesso inicial do Sustentabilidade de Ponta a Ponta junto a quem lhe fornece os produtos a serem vendidos, o Walmart está colocando foco no consumidor. “Temos exibido vídeos nas lojas, trabalhado com materiais impressos e cursos gratuitos na Fundação Getúlio Vargas (FGV) para trabalhar a conscientização do consumidor sobre a importância da sustentabilidade”, informou Camila. “De qualquer maneira, ainda há muito por fazer, completou”.
O caminho ainda é longo, mas diante dos bons resultados com os produtos feitos já com a meta de redução do uso de embalagens e otimização dos processos de produção, as perspectivas de crescimento são bastante animadoras. Como resultado do esforço e investimento, os itens desta grupo lideram em vendas em seus segmentos, mostrando que o consumidor está cada vez aderindo à causa da sustentabilidade.
Reinaldo Canto, especial para o Ethos
(Envolverde)

Natura apresenta case de linha ainda mais sustentável


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Fabiana Tomas Pelliciari apresenta nova linha da Natura. Foto: Fernando Manoel
Empresa reforça capacidade de reduzir impacto ambiental.
A Natura já é bastante reconhecida por seu trabalho na busca da adoção de critérios de sustentabilidade na fabricação de seus produtos e, neste segundo dia da Conferência Ethos, a empresa avança no seu compromisso ao apresentar a linha Sou, de sabonetes e hidratantes, que tem entre seus principais atributos a redução dos impactos ambientais e da emissão de gases de efeito estufa de suas embalagens.
No espaço destinado às discussões sobre Negócios Sustentáveis, a diretora da Natura, Fabiana Tomas Pelliciari, afirmou que com o lançamento desse novo produto, a empresa reforça o compromisso com o desenvolvimento sustentável e com o consumo consciente, “radicalizando a redução do impacto ambiental”, enfatizou Fabiana.
Nas embalagens desse produto são usados 70% menor quantidade de plástico. Além disso, sua produção reduziu em 60% as emissões dos gases de efeito estufa gerados em outros produtos similares. Além desses benefícios foram também apontados como fatores importantes na redução dos impactos ambientais, o menor tempo para a fabricação do produto, consumo menor de energia e até mesmo a redução no número de ingredientes e ausência de corantes.
Sustentabilidade e carestia – Outro ponto destacado foi o objetivo da Natura em democratizar a sustentabilidade, tornando a faixa de preços de seus produtos mais em conta e assim ser capaz de atingir novos consumidores. “Pesquisas do Akatu já revelaram que a maioria dos consumidores tem a disposição de comprar produtos mais sustentáveis, mas também não querem pagar mais por isso”, esclareceu Fabiana. Por isso, a linha de produtos Sou está sendo comercializada com valores mais acessíveis do que os normalmente praticados pela empresa. “Estamos buscando formas de aproximação maior com o consumidor. E o preço é um dos componentes, bem como passar uma visão de que consumir de maneira mais inteligente também deve ser sem excessos e desperdícios”.
A embalagem do Sou cabe bem nessa ideia de evitar desperdícios. Como ela é flexível, o consumidor poderá utilizá-la até o final sem optar por “virar a embalagem de cabeça para baixo ou colocar água em seu interior”, explicou a diretora da Natura.
Produto mais acessível e sustentável parece ser um bom caminho adotado pela empresa de higiene e beleza. Basta conferir os números de vendas das seis semanas em que o Sou foi comercializado, período em que já bateu os recordes da empresa em volume e faturamento, além de ter conquistado mais de 6 mil fãs nas redes sociais.
O case exemplifica para outras empresas que produtos sustentáveis devem estar ao alcance de todos e não apenas aos que podem pagar mais caro por eles.
Reinaldo Canto, especial para o Ethos
(Envolverde)

Objetivos do Desenvolvimento Sustentável ainda é tema de discussões complexas


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Foto: Clovis Fabiano
ODS ainda precisam ser melhor compreendidos pelas empresas para que cumpram seu papel.
Decorrido mais de um ano da realização da Rio+20 (Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável) no Rio de Janeiro, uma de suas discussões mais relevantes segue ainda na pauta da sociedade: o engajamento e o posicionamento da iniciativa privada na busca pelo desenvolvimento sustentável.
No lotado Teatro Geo, no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, os participantes da Conferência Ethos 2013 ouviram diferentes visões de representantes de entidades empresariais, da área governamental e estudiosos do tema, todas elas carregadas de preocupação e um discreto otimismo. Afinal, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) suscitam um debate complexo e de difícil execução, mas também foram considerados por todos da mesa como totalmente imprescindíveis.
Para o setor privado, falta identificar e estabelecer metas que possam ser devidamente compreendidas pelo empresariado. Segundo eles, diferentemente dos pontos estabelecidos pelos Objetivos do Milênio, que traziam pontos facilmente identificáveis, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável ainda precisam ser traduzidos.
Para corroborar com o atual estado de ânimo do setor privado, o presidente do Instituto Ethos, Jorge Abrahão, apresentou dados de uma pesquisa que revela compreensão das empresas sobre a urgência de se colocar o tema do desenvolvimento sustentável na agenda de prioridades. Para tanto, os dados da pesquisa apontam que 90% dos entrevistados acreditam em parcerias com a sociedade civil.
José Antonio Marcondes de Carvalho, embaixador do Brasil na Venezuela, destacou a centralidade do tema da erradicação da pobreza nas discussões da Rio+20. Ele afirmou ter sido esse o grande avanço da Conferência do ano passado, o que revela uma importante mudança na maneira como se discute desenvolvimento. Destacou também que essa é uma conversa que vai muito além dos governos: é preciso o engajamento do setor privado, principalmente no que se refere ao combate aos grandes problemas globais, como a desigualdade e a pobreza.
Subathirai Sivakumaran, do Programme Specialist of Knowledge, Capacity and Results at the BCtA, das Nações Unidas, disse que, sem dúvida, existe um grupo de organizações empresariais com uma participação ativa nas discussões globais e trabalhando em rede ao lado de governos e da sociedade civil organizada. Ele também observou que muitas outras empresas colocam grande expectativa na tecnologia para a solução de problemas. “Sem dúvida, tecnologia é muito importante, mas não é a única resposta”, afirmou, de forma categórica.
Para Climéne Koechlin, diretora-geral do World Forum Lillie, sediado na França, as empresas, mesmo as de seu país, estão avançando muito em relação às suas missões econômicas tradicionais, mas ainda estão longe de cumprir os objetivos estabelecidos pelas Nações Unidas.
Protagonismo exigido – Homenageado com uma calorosa salva de palmas, o economista Ignacy Sachs, um dos maiores expoentes vivos que trabalham a temática do desenvolvimento sustentável, falou que é chegada a hora da ONU assumir seu papel de protagonista e liderar o processo de desenvolvimento mundial, “harmonizando os interesses dos diferentes países e continentes”.
Sachs ainda defendeu que qualquer processo de desenvolvimento mundial deveria ser, antes de tudo, desigual, explicando que os países mais pobres precisariam ser mais beneficiados, enquanto os mais ricos poderiam crescer menos. “Um desenvolvimento justo não deixa de ser desigual, pois precisa ser superior para os que estão embaixo da cadeia econômica”, conclui.
Carlos Lopes, secretário-executivo da Comissão Econômica da ONU para a África, que participou da conferência falando online da Etiópia, e Felipe Lira, vice-presidente do Fórum Empresas (Chile), foram mais enfáticos e questionadores quanto ao papel das empresas. Lira provocou os presentes, perguntando se eles estão fazendo o suficiente e se representavam o que realmente a sociedade necessita. “Existem empresas que não estão preocupadas com os impactos negativos quando os lucros forem consideráveis”, pondera. Lopes fez também referência aos muitos protestos que tem ocorrido no continente sul-americano e lembrou dos recentes protestos no próprio território chileno, na Colômbia e aqui no Brasil. “As empresas estão atentas ao seu papel nesses movimentos e suas reivindicações?”
Franklin Feder, presidente da Alcoa América Latina, ressaltou que a iniciativa privada é parte do problema, mas também da solução. Ele ressaltou que são muitas as demandas que envolvem o setor privado, como o estímulo a toda a cadeia produtiva, o engajamento com as comunidades, além da boa governança, ética e responsabilidade.
Reinaldo Canto, especial para o Instituto Ethos
(Envolverde)

Sustentabilidade com participação ativa da comunidade


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O diretor de distribuição da concessionária Light apresenta o case Projeto Light Legal para o auditório lotado / Foto: Thiago Lopes
Durante a Conferência Ethos 2013 um espaço patrocinado pelo banco Itaú se destina à discussão e debate sobre ações de empresas que obtiveram sucesso com sustentabilidade.
O primeiro caso apresentado foi o Projeto Light Legal da concessionária de energia Light, que atua no Rio de Janeiro. Implantado em agosto de 2012, o projeto é também conhecido por APZ (Área de Perda Zero), pois tem como principal desafio o combate à informalidade do uso de energia.
Os “gatos”, ligações clandestinas feitas, em geral, nas comunidades de baixa renda, são responsáveis por mais de 44% de perdas em relação a toda energia produzida pela empresa. “Esse gatos possuem mais do que as sete vidas de um gato normal, devem ser umas 15 vidas”, brinca o bem humorado diretor de distribuição da Light, José Humberto Castro, responsável pelo projeto. Daí a importância de dividir e compartilhar responsabilidades com a comunidade, governos e microempresas.
Ao lado da implantação de novas tecnologias como alternativa para a redução das perdas, consideradas por Castro como “uma nova proposta de combate a perdas e inadimplência de forma sustentada”, foi fundamental abrir o diálogo e estabelecer parcerias com o Estado, as comunidades e fomentar a criação de novos negócios, microempresas empresas que receberam o apoio e a orientação do Sebrae.
Desde sua implantação em 2005, o Ligth Legal já criou 20 APZs, que atendem de 10 a 20 mil moradores. Trabalham também com microempresas compostas de eletricistas e agentes comerciais capacitados para atuar junto à população. Eles buscam reduzir as perdas, aumentar a eficiência energética, modernizar as redes e manter um relacionamento diferenciado com os moradores, que acabam sendo beneficiados com a redução das contas e a negociação para o cancelamento de débitos. Até o final deste ano, o projeto deverá chegar a 30 unidades, beneficiando um total de 402.000 clientes.
Com atuação em áreas da Baixada Fluminense, zonas norte e oeste, o projeto já foi capaz de reduzir as perdas da Light de um total de 46% para 19,3% e a inadimplência caiu de 10 para 2,5%.
Para José Humberto Castro, o projeto é inovador, pois criou um novo modelo de relacionamento da empresa com os clientes, promove integração entre estado e concessionária, estabelecendo a ética e transparência neste relacionamento. Além disso, incentiva o empreendedorismo e gera emprego e renda. Somente em 2013, foram 320 empregos diretos. Tudo isso atendendo às expectativas mais tradicionais do mundo dos negócios, já que tem viabilidade econômica e contribui para disciplinar o mercado.
Perguntado se um modelo como esse poderia ser replicado, Castro respondeu categórico: “Tanto para toda a Light, como também para outros tipos de negócios”. Afinal, para gerar valor compartilhado novos negócios requerem novas visões e participação cada vez maior da sociedade.
Reinaldo Canto, especial para o Instituto Ethos 
(Envolverde)