Por Reinaldo Canto*
Estar sujo de terra, ser picado por uma centena de mosquitos e caminhar por vezes debaixo de chuva torrencial e outras sob o sol inclemente foram apenas pequenos dissabores diante de sensações bem mais prazerosas. O contato com a natureza já é muito revigorante por si só, mas, se além disso for acompanhado de estimulantes conversas com pessoas conscientes do valor da preservação ambiental, aí tudo faz sentido e enche a gente de alegria e satisfação.
E é uma natureza que teima em mostrar sua beleza, pujança e importância para a sobrevivência de todos os seres vivos do planeta. Mesmo com tantas e constantes agressões basta uma pequena mãozinha para que ela refaça o caminho natural da vida.
Essa experiência foi possível ao acompanhar o trabalho da ONG Iniciativa Verde, que realiza projetos de reflorestamento no Vale do Ribeira, na região sul de São Paulo, conhecida por ser grande produtora de banana, palmito e também por inúmeros problemas relacionados à degradação ambiental.
Cílios do Ribeira
Um dos projetos é o Cílios do Ribeira, em parceria com o ISA – Instituto Socioambiental – e outras 40 instituições, a Iniciativa Verde é a responsável por recuperar diversas áreas em propriedades rurais com o plantio de 25 hectares, utilizando recursos oriundos de um programa chamado Carbon Free, no qual empresas e eventos compensam suas emissões de gases de efeito estufa, por meio do plantio de árvores de mata nativa em áreas degradadas de mata ciliar, na beira de rios.
Para o sucesso da empreitada é fundamental o apoio das comunidades e agricultores locais, os verdadeiros protagonistas para colocar e manter o projeto, literalmente, em pé.
É o caso da cooperativa de agricultores Empreendimento Socioambiental Guapiruvu, parceiro no projeto Cílios do Ribeira. Conforme conta o agricultor Gilberto Ohta, diretor da Cooperativa Agropecuária de Produtos Sustentáveis do Guapiruvu e um dos principais líderes da comunidade, o desmatamento para a venda da madeira associado ao cultivo intensivo de monoculturas, como o gengibre e a banana, durante anos foram responsáveis por levar doenças aos cultivos e, consequentemente, empobreceram o solo.
Hoje, após grande esforço de convencimento das 100 famílias (pertencentes à comunidade ou ao assentamento) pelo menos 70 famílias participam da cooperativa que beneficia a bananeira e o pupunheiro, dois dos principais cultivos da região. E, segundo Ohta, 95% dos agricultores já estão convencidos da importância de utilizar critérios de desenvolvimento sustentável em suas propriedades.
“Nesses últimos anos construímos o nome em cima da questão ambiental, das questões éticas e absorvemos a importância de se cuidar do solo e proteger o rio”, explica Ohta. “O projeto Cílios do Ribeira nos ajuda a recuperar as matas ciliares e a garantir água de qualidade para os nossos cultivos”, afirma.
Quando se estabelece essa sinergia em que todos os personagens convergem para a obtenção dos mesmos resultados, o cenário é o que podemos observar: uma bela mata se regenerando e trazendo de volta também a fauna: mamíferos, pássaros, peixes, além dos… mosquitos e suas picadas. Que sejam todos muito bem-vindos!!
*Reinaldo Canto é jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de Comunicação do Greenpeace e coordenador de Comunicação do Instituto Akatu. É colunista da revista Carta Capital, colaborador da Envolverde e professor de Gestão Ambiental na FAPPES.
Artigo publicado originalmente na coluna do autor no site da revista Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/carta-verde/preservacao-e-desenvolvi...
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