É bem difícil aceitar que o nítido e incontestável agravamento dos problemas climáticos mundiais seja acompanhado por tão poucas ações efetivas para enfrenta-los. Isso é o que podemos constatar quanto aos resultados da Conferência do Clima, a COP 18, realizada nas duas últimas semanas em Doha, Catar.
Os representantes dos cerca de 193 países presentes ao encontro chegaram a demonstrar alívio com o acordo que definiu a revalidação do Protocolo de Kyoto até 2020. O documento tinha encerramento previsto para o final de 2012, mas, mesmo tendo alcançado resultados insatisfatórios, o mundo concluiu que pior seria ficar sem o protocolo. Bem ou mal, Kyoto é o único acordo internacional que define a obrigatoriedade dos países desenvolvidos reduzirem as suas emissões de gases de efeito estufa.
O retrocesso foi evitado, mas temos realmente algo a comemorar? Nas palavras do economista britânico Nicholas Stern, a resposta é não. Segundo ele, caminhamos para um aumento da temperatura entre 3º e 5º C, o que vai trazer consequências muito negativas para a vida no planeta.
Diversas organizações que estiveram no Catar, como o Greenpeace e o WWF, demonstraram insatisfação e pessimismo diante da pouca ambição demonstrada pelas lideranças mundiais. “Baseados no que vimos aqui, não é possível ser otimista num futuro próximo”, afirmou o diretor-executivo do Greenpeace Internacional, Kumi Naidoo.
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Nesse segundo período do Protocolo de Kyoto, os países da União Europeia, Austrália e alguns outros – 36 nações entre as mais industrializadas do mundo -, se comprometem a reduzir suas emissões. Juntos, respondem por 15% das emissões globais. Seguem de fora os maiores contribuintes do aquecimento global: Estados Unidos, China, Brasil e Índia. Para piorar o novo acordo, Japão, Rússia, Nova Zelândia e Canadá decidiram não aceitar o compromisso.
O que estava longe de ser considerado bom ficou ainda pior.
No que se refere ao financiamento dos 100 bilhões de dólares anuais para compor um fundo climático de apoio aos países em desenvolvimento, mais uma vez nada foi decidido. Tudo permanece como estava, ou seja, totalmente indefinido. A crise internacional é a desculpa da vez para deixar tudo como está para ver como é que fica.
O que esperar dos próximos encontros?
Em matéria de decisões importantes as últimas conferências se equivalem, mas em relação à sua representatividade, há muitas diferenças. Da COP 15 realizada em 2009 na Dinamarca para cá, parece que as discussões climáticas vêm perdendo gradativamente seu espaço nas agendas dos países.
Em Copenhague, estiveram os principais líderes mundiais. Já nos encontros seguintes, escalões inferiores dotados de pouca autonomia para tomar decisões representaram seus governos.
Será que no ritmo em que estamos, em alguns anos as conferências do clima serão representadas por grupos de escoteiros de cada país*? Esses jovens possivelmente teriam um senso maior de urgência na tomada de decisões que contribuíssem para reduzir os riscos crescentes à raça humana, mas infelizmente não estariam autorizados a tomar as decisões que todos gostaríamos que se tornassem realidade.
Tudo faz crer que muitas COPs serão realizadas até que sejamos contemplados com ações efetivas de combate às mudanças climáticas. Mas ao que parece, são poucas as chances de que elas ocorram da maneira mais fácil e menos dolorosa. Vamos acompanhar!
*Aos politicamente corretos, um esclarecimento: o intuito da citação não é o de ofender os valorosos escoteiros que exercem uma importante missão na formação dos nossos jovens, mas por outro lado, não seria adequado assumirem funções diplomáticas no lugar de autoridades nacionais.
Artigo publicado originalmente na coluna do autor em: http://www.cartacapital.com.br/carta-verde/cop-18-a-inexplicavel-irrelevancia/?autor=599
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