Por Reinaldo Canto, especialmente para o Instituto Ethos
A 41ª. edição do Fórum Econômico Mundial teve início na última quarta-feira, 26/01, como sempre na cidade de Davos, na Suíça. E o clima é de muitas incertezas diante de problemas que não são de hoje, mas persistem em preocupar os mais importantes países do mundo: dívidas impagáveis, desequilíbrio e guerra cambial, o futuro da zona do euro e a desaceleração econômica dos Estados Unidos.
Quanto à crise mundial, alguns dos economistas mais conhecidos e com importante papel na análise do cenário econômico mundial inverteram sua percepção sobre o momento atual. O eterno pessimista Nouriel Roubini afirmou em Davos que o mundo está saindo da crise, mas chamou a atenção para futuros problemas na produção de alimentos. Já o otimista,, se assim podemos chamar, Joseph Stiglitz expôs sua preocupação quanto a um recrudescimento da crise econômica.
O temor de Stiglitz, economista detentor do Prêmio Nobel, não encontra abrigo na visão dos executivos mundiais. Na véspera da abertura da conferência, a PricewaterhouseCoopers divulgou pesquisa anual sobre a confiança de executivos no futuro da economia. Dos 1.201 CEOs consultados em 69 países, 48% declararam estar “muito confiantes” sobre o crescimento de receitas nos próximos 12 meses – perto do nível de 50% atingido em janeiro de 2008 e bem acima da taxa de 31% observada há um ano. Os brasileiros estão entre os mais otimistas, com um índice de 68% entre aqueles que esperam contratar mais funcionários neste ano. Por outro lado, 63% dos executivos nacionais disseram temer o aumento de impostos.
Emergentes e a nova ordem mundial
O otimismo que reina nos países emergentes faz coro com o tema oficial da reunião deste ano – "Normas Compartilhadas para a Nova Realidade" –, que procura refletir um pouco a nova configuração do mundo, com a inserção das potências econômicas emergentes em lugar de destaque junto aos países desenvolvidos, os quais tradicionalmente ocupam uma posição de protagonismo nas relações internacionais.
Enquanto o chamado bloco de países ricos tenta encontrar saídas para seus sérios problemas econômicos, os emergentes continuam a desenhar uma nova ordem mundial e a consolidar-se como protagonistas, com o óbvio destaque para o desempenho econômico dos BRICs, nos últimos anos.
Em Davos, os emergentes têm sua própria agenda. Entre os pontos a levantar, querem soluções para suavizar a política monetária dos países desenvolvidos que prejudicam as exportações do bloco e buscam o definitivo reconhecimento como potências econômicas.
Todas essas questões, e outras que ainda irão surgir nos debates e encontros das lideranças, embora se refiram a problemas reais, ainda têm como base uma ordem antiga e ultrapassada, que a cada dia se mostra mais desconectada dos novos tempos.
Podemos considerar como a principal característica da velha ordem uma visão estanque que considera a solução para problemas nacionais ou, na melhor das hipóteses, a busca pelo atendimento pontual de questões ligadas a blocos econômicos.
O ansiado protagonismo dos emergentes é apenas um dos muitos sinais de que o mundo vem passando por um processo acelerado de mudanças. A interdependência das várias regiões do planeta deveria ser levada em conta num cenário tão importante quanto o do fórum de Davos. Pensar que o atendimento de reivindicações de alguns será benéfico para todo o conjunto de nações do mundo é parte de uma visão que, no fim das contas, compromete toda a economia do planeta, inclusive daqueles países que se acharam contemplados a priori.
Um momento importante, o qual esperamos que os participantes do fórum aproveitem para discutir e refletir a fundo, será o lançamento de uma rede de risco global pela qual empresas, governos e organizações sejam capazes de enfrentar em conjunto de ameaças complexas. A criação dessa rede pode dar origem a um processo de tomada de decisões que envolvam soluções mais globais e menos regionais em todas as esferas das relações entre os países, inclusive no enfrentamento das questões climáticas.
Instabilidade social e crise de alimentos
Sem a certeza de ter-se livrado da pior crise desde o pós-guerra, o mundo e suas lideranças ainda demonstram estar caminhando sem uma direção certa e consistente. Em alguns aspectos, essa indefinição se mostra perigosa, pois apresenta até mesmo uma tentativa de volta ao discurso neoliberal. O frouxo controle sobre o setor financeiro foi um dos principais pilares da crise que atingiu o mundo nos três últimos anos, com as graves conseqüências já conhecidas.
Tão importante quanto discutir as crises que atingem países do bloco europeu incapazes de pagar suas dívidas é não deixar e considerar as crises provocadas pelo aumento no preço dos alimentos e o descontrole inflacionário que já vêm ocorrendo em vários países do mundo. O exemplo mais recente é o da Tunísia, onde uma revolta geral provocou a queda de um regime que perdurava há 23 anos. Também não devem estar fora da agenda econômica dos países uma séria discussão sobre as mudanças climáticas, o uso racional da água e o investimento em energias limpas.
Ninguém espera do encontro de Davos a solução de todos os problemas atuais, mas que se dêem passos consistentes na direção de um cenário menos caótico e insustentável.
02 fevereiro 2011
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