25 fevereiro 2011

A porta dos fundos do ensino “superior”

Por Reinaldo Canto*



Primeiro contato de muitos jovens com a faculdade começa com trotes violentos e humilhantes. O que esperar depois?

Todos os anos, nesta época, a triste cena se repete em dezenas de universidades. Calouros chamados de bichos são agredidos e obrigados a cumprir ordens de veteranos alterados e histéricos. Por vezes alguns desses novos universitários enfrentam situações ainda mais graves sofrendo traumas psicológicos, ferimentos e nos casos extremos, até mesmo a morte.

O mais comum é vermos jovens cobertos de tinta pedindo dinheiro nos cruzamentos para a compra de bebidas alcoólicas. As pessoas, com algumas poucas exceções, observam esse espetáculo, mais parecido com um circo de horrores, com complacência e mesmo simpatia. Claro, diriam muitos deles, são jovens comemorando um momento especial de suas vidas. Será mesmo?

Então, vejam abaixo algumas das manchetes de imprensa selecionadas aleatoriamente nas duas últimas semanas:

- Trotes com álcool levam calouros a posto médico;

- Faculdade é criticada por trote violento;

- Trote teve direito a desfile de “bixetes” sobre passarela de calouros;

- Universidade investiga trote com fezes de animal e urina;

- Três calouros são internados em coma alcoólico após trote.

(Tomei o cuidado de não citar os estabelecimentos e as cidades, pois fiz apenas um apanhado sem qualquer pretensão estatística, só ilustrativa).

Bem, diante desses fatos fartamente divulgados pelos veículos de comunicação, proponho uma reflexão:

O que esperar do futuro desses jovens? Qual a responsabilidade desses estabelecimentos ditos de ensino superior?

Os administradores dessas faculdades e universidades costumam fazer vistas grossas aos trotes. A alegação mais comum é de que não é possível controlar a ação dos estudantes que ocorrem em pontos diversos, muitas vezes fora do estabelecimento de ensino.

Lavar as mãos não parece ser a atitude correta de dirigentes universitários responsáveis pela formação das futuras lideranças do país. É preciso romper esse círculo vicioso e gratuito, e criar junto com seus estudantes, familiares e funcionários, alternativas mais amigáveis e construtivas.

Esses mesmos gestores, que nada fazem diante de casos de trotes violentos, deveriam refletir se estão realmente contribuindo para a formação de homens e mulheres aptos a construir um mundo melhor para se viver. Algo tão marcante para um jovem, que é o ingresso numa faculdade, não deveria ocorrer de uma maneira mais positiva e gratificante a ser lembrado pelo resto de suas vidas?

Ao permitir atos de barbárie logo na porta de entrada, dirigentes omissos, nada estarão contribuindo para a disseminação de valores como ética, respeito, solidariedade e compromisso com o futuro. Pelo contrário, estarão prestando seu apoio, mesmo que involuntário, a um mundo em que prevalece a prepotência, a selvageria e a truculência. Esse calouro maltratado, fatalmente tenderá, a reproduzir os mesmos atos nos anos seguintes.

A faculdade tem a obrigação de criar um ambiente propício ao desenvolvimento de seus estudantes. É um tempo e espaço preciosos na vida dos jovens que deve ser bem aproveitado para a troca de experiências e enriquecimento pessoal.

Enxergar a importância da universidade

Mas se as faculdades possuem responsabilidades inerentes à formação e educação de seus alunos, estes por sua vez também devem assumir um compromisso junto à sociedade que representam.

Segundo dados do MEC, o Brasil possui 5 milhões de estudantes universitários, sendo que a esmagadora maioria, ou 90% cursam faculdades particulares. No universo populacional de quase 200 milhões de habitantes essa classe com representação menor que 3% pode ser considerada a elite da elite ou como diriam os franceses .

Um jovem que tem a oportunidade de cursar uma universidade precisa ter em mente a responsabilidade de integrar um seleto grupo de privilegiados. Uma elite que deveria pensar e trabalhar pela construção de um Brasil melhor para o seu povo.

O desafio vai além de enxergar a faculdade como um mero caminho para se alcançar o mercado de trabalho. É preciso ser um profissional preparado a desempenhar habilidades técnicas, mas também repleto de valores fundamentais para o exercício de uma vida saudável em sociedade. Princípios éticos, solidários, livres de preconceito e com um olhar apurado para o respeito aos direitos das pessoas. Enfim, jovens com sólida formação humana e intelectual capazes de reverter em benefício de toda a sociedade, a confiança neles depositada.

Trotes solidários para o início de um processo de mudança

Uma maneira de romper com esse ciclo de inércia é exatamente colocar nossos jovens na linha de frente do voluntariado. Nesse sentido, as universidades deveriam criar condições e incentivar estudantes, por meio de palestras, eventos e programas específicos que envolvam atividades de cunho social e ambiental. Conhecer e colaborar com as diversas realidades que compõem o nosso país. Valores como cidadania, solidariedade e tolerância poderiam ser cultivados, inclusive, logo na entrada desses estudantes na universidade. Essas ações poderiam muito bem substituir os trotes medíocres e sem sentido.

É preciso mudar essa rota e desde já trilhar o caminho da construção de uma nova visão. Uma visão de sustentabilidade onde todos atuam e todos ganham, sejam eles estudantes, trabalhadores ou empresários. A Sociedade brasileira, com certeza, irá agradecer e recompensar essa nova elite mais comprometida com o futuro do país.

*Reinaldo Canto é jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de comunicação do Greenpeace e coordenador de comunicação do Instituto Akatu. É colunista de Carta Capital e colaborador da Envolverde.

**Artigo publicado originalmente na coluna Cidadania & Sustentabilidade: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/a-porta-dos-fundos-do-ensino-superior

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(Envolverde/Carta Capital)

19 fevereiro 2011

É a comida, estúpido*

Por Reinaldo Canto**



O mundo, assim denominado “rico e democrático”, comemorou a queda de persistentes e longevas ditaduras na Tunísia e no Egito. Esse mesmo mundo “rico e democrático” também exultou, recentemente, os sinais da retomada do crescimento global no Fórum Econômico de Davos.

Como diria a música da Blitz, “tudo muito bom, bom, tudo muito bem, bem”, se não fosse uma questão que vem sendo tratada de maneira bastante marginal dada a sua importância e urgência: a crise mundial de alimentos!

Quem acompanhou a cobertura passo a passo das manifestações que tomaram, primeiramente, as ruas de Túnis capital da Tunísia e até dias atrás as ruas e a agora globalmente conhecida Praça Tahrir, no Cairo, viu, ouviu e leu, os líderes da oposição e a própria população declararem estar fartos de corrupção, repressão e ávidos por liberdade. Mas esse contundente, basta! ocorreu, no caso da Tunísia, 23 anos depois da tomada do poder de Zine El Abidine Ben Ali e no caso do Egito após 30 anos da ditadura de Hosni Mubarak. E por que só agora?

Ao lado de fatores políticos, sociais e tecnológicos (redes sociais, internet e celulares contribuíram para disseminar as informações sobre os protestos), o aumento no preço dos alimentos é algo que não pode ser visto como secundário nos protestos.

Segundo a Organização para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês), em dezembro de 2010, os preços do trigo, óleo, milho, arroz, carne e leite tiveram aumentos recordes. O milho sofreu reajuste de 60%, o trigo de 43% e o açúcar aumentou 77%.

O aumento no preço dos alimentos afeta a todos, mas os países africanos estão entre os que importam a maior parte da comida consumida por seus povos. O Egito se destaca como um dos maiores importadores do mundo, principalmente cereais. Como em outros países árabes ao lado do Egito, entre eles a Tunísia e a Argélia, as famílias gastam de 40% a 50% da renda na compra de alimentos.

A comida mais cara agravou o problema do desemprego, já crônico entre os jovens dos países citados. E esses fatores estão muito longe de se restringir apenas as nações já convulsionadas por rebeliões. A situação ainda tende a se agravar.

Além da redução das áreas de plantio em razão da degradação do solo e das mudanças climáticas, além do uso de terras agricultáveis para a produção de biodiesel, a China aparece como outro grande fator de desestabilização. A previsão é a de que o gigante asiático irá importar 8 milhões de toneladas de milho e, tal volume deverá dobrar até 2015.

Será coincidência que tenha sido exatamente no continente africano, o mais afetado pela escassez e subida de alimentos, o palco de duas revoluções quase simultâneas?

Alguém acredita que, subitamente, a população egípcia decidisse derrubar Mubarak por apenas almejar a democracia. Adoraria acreditar que sim, mas tenho cá minhas dúvidas.

Até mais grave que o problema dos preços e da escassez dos alimentos está a incapacidade de nossas lideranças de enxergar os caminhos que busquem as soluções. Quando tentam, invariavelmente, reduzem a uma questão em defesa de interesses de fronteiras ou blocos.

É o caso da proposta do presidente francês, Nicolas Sarkozy, de controlar o preço das commodities. Felizmente, essa ideia não avançou quando apresentada no Fórum de Davos, o que traria ainda maiores problemas, pois o prejuízo seria grande para os países pobres exportadores de alimentos.

Como dito anteriormente, pensar o mundo em blocos e fronteiras é no mínimo burro. Todos os dias nos chegam sinais mostrando que a vida no planeta depende de visões e soluções globais. A sustentabilidade precisa parar de ser vista como utopia e sonho de ambientalistas. Ou trabalhamos em busca de um mundo mais sustentável ou teremos um futuro incerto e perigoso.

Enquanto assistimos a queda de ditaduras vemos motivos para comemorar e nos solidarizar com esses povos, mas o fato é que a crise de alimentos não vai se restringir aos países autoritários. Mesmo as democracias não estarão seguras se as pessoas não tiverem o que comer.

*O título do artigo é uma adaptação livre para o bordão “É a economia, estúpido!” usado na disputa presidencial de 1.992 nos Estados Unidos pela campanha vitoriosa de Bill Clinton. Naquele ano Clinton derrotou Bush pai que tentava a reeleição, ao chamar atenção para as reais preocupações do povo norte-americano.

**Reinaldo Canto é jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de comunicação do Greenpeace e coordenador de comunicação do Instituto Akatu. É colunista de Carta Capital e colaborador da Envolverde.

Artigo publicado originalmente na coluna Cidadania & Sustentabilidade: http://www.cartacapital.com.br/destaques_carta_capital/e-a-comida-estupido

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(Envolverde/Carta Capital)

17 fevereiro 2011

2º Prêmio Fecomercio de Sustentabilidade: Inscrições terminam dia 28 de fevereiro

Federação e Fundação Dom Cabral prorrogam as inscrições para a segunda edição do Prêmio que visa estimular práticas sustentáveis e instituir novas formas de relacionamento entre empresas, governo e consumidores



As inscrições para o 2º Prêmio Fecomercio de Sustentabilidade vão até 28 fevereiro de 2011. As inscrições podem ser feitas no site www.fecomercio.com.br/sustentabilidade . A premiação acontecerá em abril.



As inscrições e premiação foram distribuídas em três categorias, com algumas subcategorias: Empresa (Microempresa, Pequena/Média Empresa, Grande Empresa e Entidade Empresarial); Órgão Público e Academia (Professor e Estudante). O primeiro colocado de cada categoria/sub-categoria receberá como prêmio um título de previdência correspondente ao valor de R$ 15 mil.



O prêmio aborda nesta segunda edição o tema dos Princípios do Varejo Responsável. A escolha dos projetos vencedores seguirá critérios de avaliação como:benefícios sociais, ambientais e econômicos gerados na organização após implantação do projeto, alinhamento da prática relatada com um ou mais princípios fundamentais do Varejo Responsável, número de pessoas, organizações e regiões beneficiadas pelo projeto e a capacidade de aplicação do projeto em outras entidades.



Os materiais inscritos serão analisados por uma banca julgadora, formada pelos setores empresarial, público e órgãos públicos. Saiba mais sobre o prêmio e faça a inscrição do seu projeto no site: www.fecomercio.com.br/sustentabilidade

16 fevereiro 2011

Aldo Rebelo propõe vale-tudo premiando desmatadores

O colunista Reinaldo Canto comenta entrevista do deputado ao site Sul 21 republicada em CartaCapital*

Na entrevista intitulada “Aldo Rebelo diz que críticos estão “desinformados” sobre novo Código Florestal”, do site Sul 21, republicada aqui na CartaCapital, o deputado Aldo Rebelo, apenas insiste em bater na mesma tecla que tem causado tanto mal estar, desde que seu projeto foi aprovado em Comissão em julho do ano passado. Não é por outra razão que o próprio Governo Federal, por meio do Ministério do Meio Ambiente, está elaborando um projeto alternativo que modernize o Código Florestal, mas sem jogar por terra pontos importantes de preservação ambiental, que integram a lei vigente.

Entre eles, a revogação da anistia a produtores rurais que desmataram até 2008 e a reintrodução das áreas acima de 1.800 metros e topos de morros como sendo de preservação permanente.

Quando se fala da necessidade de modernização da lei e a adaptação à nova realidade, pouca gente discorda. O que não é concebível é que se destrua a lei vigente e se coloque no lugar um vale-tudo premiando os desmatadores e comprometendo o futuro de todos os brasileiros.

E os desafios para a modernização da lei também devem levar em conta a dramática expansão da ocupação humana desde a entrada em vigor do atual Código Florestal no já distante ano de 1965. Hoje quando se afirma que as águas de um rio invadiram casas e cidades, raramente ouvimos dizer que essas casas e cidades é que invadiram o espaço destinado ao escoamento das águas dos rios. Os cuidados, portanto, devem ser redobrados.

Diante desses fatos e se levarmos em conta que a nova lei proposta pelo deputado Aldo só agrada a um lado, obviamente deveria passar por novas discussões e revisões. Pois caso entrasse em vigor como está, certamente, não atenderia aos interesses da sociedade brasileira.

*Publicado originalmente em: http://www.cartacapital.com.br/carta-verde/aldo-rebelo-propoe-vale-tudo-premiando-desmatadores

Reinaldo Canto
Jornalista
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11 fevereiro 2011

A vez da sociedade civil

Fórum Social Mundial discute os novos caminhos para o futuro da humanidade

Por Reinaldo Canto*

De Davos na Suíça para Dacar no Senegal. Do frio congelante da Europa, para o calor escaldante da África. Essas são algumas, mas certamente não as maiores diferenças entre o Fórum Econômico Global encerrado na semana passada e o Fórum Social Mundial que está sendo realizado nestes dias. Elas, sem dúvida, vão muito além de questões geográficas e climáticas.

Ambos os encontros tem a nobre missão de discutir, refletir sobre atuais e futuros caminhos para a humanidade. E, terminam aí as suas semelhanças. Davos teve como protagonistas as cerca de 2.500 lideranças empresarias, executivos representantes do poder econômico mundial. Já o fórum de Dacar terá em torno de 100 mil participantes representantes de uma gama variada de etnias, ideologias, culturas, religiões, enfim de uma enorme diversidade que compõe boa parte da sociedade civil planetária. Um espaço aberto de discussão heterogêneo, plural e participativo.

Palco da pluralidade

O Fórum Social Mundial tem sido palco em suas diversas edições, de uma série de propostas que colocam o ser humano no centro do processo. São propostas e caminhos que tem em comum, o fato de colocar a economia a serviço do homem e não o homem a serviço da economia.

Entre as reflexões que definem o fórum está a busca por organizar a sociedade de uma maneira que ela seja capaz de atender as necessidades humanas. Daí vem o slogan sempre presente nesses encontros da construção de, “um outro mundo possível”. Do desenvolvimento de projetos alternativos para um novo modelo civilizatório.

Exemplos

Vale destacar, como exemplo, algumas das discussões que fazem parte do fórum nesses dias:

Princípios para um novo paradigma de civilização, que tem como objetivo superar as rupturas com a biosfera criando as condições para harmonizar as necessidades de sustentabilidade do planeta com as necessidades de desenvolvimento. Colocar na mesma agenda, o impulso as forças produtivas ao lado da implementação de justiça social, ética, integridade e transparência.

Diálogo, articulação e construção de plataformas de ação, na busca por uma nova relação entre governos e sociedade civil. Uma nova cultura política baseada na ética, transparência, horizontalidade e compartilhamento do conhecimento.

A crítica contundente é outro aspecto marcante do Fórum Social Mundial. Um painel denominado Críticas aos ideais civilizatórios de crescimento e progresso, afirma que o atual modelo de desenvolvimento e crescimento desordenado é responsável por destruições, exclusões e desigualdades. Pelos problemas climáticos e a agressão aos limites do planeta. Um modelo que valoriza mais o “ter” do que o “ser”.

Chama ainda a atenção propostas polêmicas como a de crescimento zero que visa antes do puro e simples crescimento econômico, a redução da pobreza, das desigualdades e a busca por melhorias na qualidade de vida das pessoas.

FSM: Rico, plural e democrático

Independentemente dos resultados obtidos no curto prazo, o Fórum Social Mundial é um espaço onde ocorrem momentos inspiradores capazes de trazer à tona, questões importantes sobre o papel a ser desempenhado por governos, empresas e sociedade civil. Papel que deve levar em conta, acima de tudo, a valorização da diversidade humana baseada em visões de mundo diferentes.

* Jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de comunicação do Greenpeace e coordenador de comunicação do Instituto Akatu. É colunista de Carta Capital e colaborador da Envolverde.

Artigo publicado originalmente na coluna Cidadania & Sustentabilidade: http://www.cartacapital.com.br/destaques_carta_capital/a-vez-da-sociedade-civil

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10 fevereiro 2011

Convocatória para o IV Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental

Conforme a deliberação no III CBJA – Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, estamos convidando a todos para o IV CBJA que, este ano, acontecerá na Cidade do Rio de Janeiro, nos dias 12, 13, 14 e 15 de outubro.

O local ainda está sendo buscado, assim como os patrocinadores. Aceitamos sugestões.

Desde já, peço aos colegas que nos ajudem com a presença, participação, reflexão, e também divulgação, transformando este momento numa oportunidade para que a sociedade possa refletir sobre a importância estratégica da democratização da informação socioambiental na mobilização da sociedade no rumo da mudança para a sustentabilidade.

DIVULGAÇÃO - Em breve, teremos uma página na WEB para o IV CBJA e banner, que convidamos os colegas a veicularem em seus sites e blogs.

O IV CBJA E A RIO+20 - Entre seus objetivos, este IV CBJA servirá como uma espécie de preparação para a cobertura da conferência Rio + 20, que acontecerá também no Rio de Janeiro, no próximo ano, em comemoração aos 20 anos da RIO 92, que reuniu Chefes de Estado do todo o planeta, no Rio, para criar uma pauta ambiental global. Esperamos que a dinâmica deste IV CBJA permita a reflexão e o debate sobre os avanços e retrocessos da pauta ambiental no Brasil e no mundo, em especial em relação aos impactos das mudanças climáticas sobre os diversos setores da sociedade, do ambiente e da economia.

OFICINAS DE CAPACITAÇÃO – O IV CBJA irá oferecer espaço para oficinas de formação para estudantes e jovens jornalistas em vários temas da pauta ambiental, como forma de melhor preparar esse público para o exercício do jornalismo ambiental nos próximos anos.

MOSTRA DE TRABALHOS CIENTÍFICOS: Nesse próximo congresso estaremos ampliando as formas de apresentação de trabalhos acadêmicos e também os eixos temáticos, com o intuito de estimular mais pesquisas na área da comunicação ambiental.

REDCALC - Nesta edição do CBJA vamos fazer, também, um Encontro da RedCalc –Red Latino-Americana de Periodismo Ambiental, que reúne jornalistas que atuam com pautas ambientais e de sustentabilidade em toda a América Latina.

MAIS INFORMAÇÕES:

REALIZAÇÃO: Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental – RBJA, Rede Brasileira de Informação Ambiental – REBIA, Instituto Envolverde – Jornalismo & Sustentabilidade e ECOMÍDIAS – Associação Brasileira de Mídias Ambientais.

CURADORIA: Dal Marcondes – Envolverde e RBJA e Vilmar Berna – REBIA e RBJA

SECRETARIA EXECUTIVA: Instituto Envolverde – Jornalismo & Sustentabilidade -
11 3034-4887 - anamaria@envolverde.com.br Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.

COORDENAÇÃO EXECUTIVA: Fabrício Ângelo RBJA/Rebia - fabrangelo@gmail.com Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. - (21) 9509-3960

GRUPO DE APOIO: Efraim Neto – RBJA/REBIA; Ana Maria Vasconcellos – Envolverde; Larissa Godoy – Envolverde.

Parceiros e veículos de apoio:
(Espaço para que os colegas possam indicar seus apoiamentos. Podemos aproveitar e atualizar a página http://www.portaldomeioambiente.org.br/comunicacao-ambiental/quem-cobre-meio
-ambiente.html )

07 fevereiro 2011

Coleta de lixo reciclável gera polêmica no site de CartaCapital

Redação Carta Capital

7 de fevereiro de 2011 às 16:30h

A estreia do jornalista Reinaldo Canto como colunista no site de CartaCapital deflagrou uma polêmica com a Arquidiocese de São Paulo, que nos mandou email contestando informações publicadas neste espaço. Assinada pelo seu secretário de Comunicação, Rafael Alberto, a nota desmente que a Arquidiocese tenha mandado fechar um ponto de coleta seletiva. O jornalista Reinaldo Canto respondeu à contestação e daí foi aberto um espaço que pode aprofundar o debate sobre o papel que a Igreja Católica pode assumir na defesa de um desenvolvimento economicamente sustentável. Leia a troca de correspondência entre eles:

A ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO CONTESTA ARTIGO DO COLUNISTA REINALDO CANTO

São Paulo, 3 de fevereiro de 2011

Assunto: Sobre artigo “Fim de ponto de coleta é retrocesso injustificável”, de Reinaldo Canto

Li, com espanto, na coluna de Reinaldo Canto publicada dia 27 de janeiro passado, a informação de que a Arquidiocese de São Paulo teria mandado fechar o ponto de coleta seletiva da Associação Reciclázaro, na Paróquia São João Maria Vianney, na Lapa.

O que causa espanto é o fato de o colunista ter ficado satisfeito apenas com, segundo ele, informações da imprensa, sem procurar nossa assessoria de imprensa para esclarecer o assunto.

Aliás, uma simples consulta ao site da própria associação, no link “http://www.reciclazaro.org.br/html/index.html“, mostraria ao colunista que “o local da coleta seletiva na Paróquia São João Maria Vianney foi desativado por entendimento da própria Associação, e não por oposição, orientação ou ordem da Arquidiocese de São Paulo, nem da autoridade eclesiástica”.

Enfim… Espero que a revista Carta Capital informe seus leitores a respeito da informação publicada, uma vez que ela não é verdadeira.

A Arquidiocese de São Paulo incentiva todas as ações sociais promovidas nos espaços de suas paróquias, e continuará apoiando o belo trabalho da Associação Reciclázaro – cuja diretoria entendeu ser melhor encontrar um local mais bem adequado, inclusive em parceria com o Poder Público, para substituir o ponto que funcionava no espaço da referida paróquia.

Sendo isso o que me cabe esclarecer,

Rafael Alberto

Secretário de Comunicação da Arquidiocese de São Paulo

O COLUNISTA REINALDO CANTO RESPONDE À ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO

São Paulo, 4 de janeiro de 2011

Prezado Rafael Alberto
Secretário de Comunicação da Arquidiocese de São Paulo

Realmente as informações utilizadas foram as publicadas na imprensa durante o mês de janeiro. As matérias fazem referência ao fechamento do ponto de coleta logo após a saída do padre José Carlos. Tanto que a associação direta entre os fatos motivou os moradores da região, representantes da sociedade civil a fazer um abaixo-assinado cujo destinatário é exatamente Dom Odilo Scherer, Cardeal Arcebispo de São Paulo. A Arquidiocese tem razão ao afirmar que a Associação Reciclázaro comunicou ter sido a responsável pelo fechamento, mas causa estranhamento a própria declaração de D. Odilo quanto a saída do padre José Carlos:

“É bom que a comunidade decida depois, com o novo pároco, como continua. Por outro lado, é também uma questão que a comunidade, o povo, deve decidir junto com a administração pública, não somente com a Igreja”, concluiu.

O que enfatizo, como está no artigo, é que independente de quem tenha partido a decisão, o que me deixa triste é o fechamento de um serviço tão importante em uma cidade carente de locais para a coleta de materiais recicláveis.

Não vi até agora, e estou pronto a relatar se for o caso, qualquer apoio da Arquidiocese a manutenção do ponto ou mesmo a abertura de outros locais de coleta nas muitas paróquias existentes em nossa cidade. Ao invés de reproduzir notas de defesa ou esclarecimento, ficaria muito mais satisfeito em escrever sobre ações efetivas tomadas pela igreja em prol da sustentabilidade. Serei o primeiro a aplaudir e agradecer a iniciativa da Igreja Católica em São Paulo.

Atenciosamente,

Reinaldo Canto

A ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO COMENTA A RESPOSTA DE REINALDO CANTO

São Paulo, 7 de janeiro de 2011

Como diz o Reinaldo, o mais importante é divulgar ações de sustentabilidade da Igreja…

Sobre isso, Reinaldo, posso te indicar centenas de ações. O próprio ponto de coleta na São João Maria Vianney é uma delas… Eu mesmo participei de uma reunião, em nome de dom Odilo, com a subprefeitura e a Secretaria do Verde, para cobrar do Poder Público um local adequado para reinstalar, mais satisfatoriamente, aquele ponto de coleta.

A Igreja se preocupa tanto com a questão da sustentabilidade que criou uma Pastoral que trabalha especificamente com a educação ambiental… Estou falando da Pastoral da Ecologia que, na Arquidiocese de São Paulo, é responsável, entre outras iniciativas, pela luta contra a instalação de um aterro sanitário no Morro do Cruzeiro (http://noticias.r7.com/sao-paulo/noticias/aterro-sanitario-ameaca-area-ambiental-em-sao-paulo-20100611.html).

Se você quiser acompanhar o trabalho da Pastoral da Ecologia (vale a pena.. .é trabalho de formiguinha mesmo), pode procurar pela Iracema. Diga que fui eu quem indicou.

Abraços!

Rafael

O COLUNISTA REINALDO CANTO RESPONDE AO COMENTÁRIO DA ARQUIDIOCCESE DE SÃO PAULO

São Paulo, 7 de janeiro de 2011-02-07

Olá Rafael,

Vou dar uma olhada nas informações disponíveis sobre o aterro e quem sabe fazer uma entrevista sobre a Pastoral Ecológica. O que acha?

Fico muito feliz em saber que a Igreja está bastante envolvida com a questão da sustentabilidade em São Paulo.

Abraço,

Reinaldo Canto
Jornalista

04 fevereiro 2011

O campo pode oferecer muitas soluções para alcançarmos uma sociedade sustentável

Por Reinaldo Canto*

Relatório Estado do Mundo mostra que inovações agrícolas serão capazes de enfrentar a fome e problemas climáticos do planeta

Ninguém coloca em dúvida a importância estratégica do setor agrícola para o equilíbrio da economia mundial, seja no que se refere à produção de alimentos, insumos para a indústria e nos biocombustíveis. E a enorme importância do setor vem acompanhada de uma quantidade de problemas de tamanho proporcional, muitos deles relacionados aos impactos causados pela atividade no meio ambiente, entre eles, podemos citar o enorme consumo de água (70% de toda a água consumida no mundo abastecem o setor agrícola); a contaminação do solo e das águas pelo uso excessivo de agrotóxicos; desmatamento e ocupação indiscriminada de áreas que deveriam ser destinadas à preservação e não para áreas de plantio.

Nos últimos anos temos outros fatores, a escassez e o aumento no preço dos alimentos, como responsáveis ou pelo menos um componente importante para a deposição de governos e revoltas generalizadas (Tunísia, cujo governo há 23 anos no poder, caiu tendo o valor dos alimentos como estopim para a rebelião popular e o Egito onde os alimentos tiveram aumento de pelo menos 40% nos últimos anos).

Desigualdade na distribuição

Temos ainda 1 bilhão de pessoas no mundo que vivem em situação de fome crônica por falta de acesso regular aos alimentos e de outro lado 40% desses alimentos são desperdiçados em seus diversos processos de produção antes de serem consumidos.
Outros problemas causados pela agricultura ainda podem ser nomeados: troca de produção de alimentos pela de biocombustíveis; crescimento na produção de alimentos transgênicos e ampliação de monoculturas e latifúndios. Isso sem entrar em detalhes com relação a todos os problemas causados pela pecuária.

Inovação agrícola como solução

Mas se a produção agrícola é causadora de muitos problemas da humanidade, ela é também o setor onde se encontram muitas das soluções na busca por um mundo mais sustentável.

É o que revela o recente relatório Estado do Mundo divulgado pelo WorldWatch Institute que trás experiências recentes de sucesso em inovação agrícola na África, exatamente o continente que mais sofre com problemas relacionados com a produção de alimentos ou a ausência dela. São projetos que contribuem para o combate a fome e a pobreza, além de minimizar o impacto ambiental.

São exemplos que podem ser reproduzidos facilmente. Entre eles, podemos destacar:

Movimento para Alimentos Locais que tem como objetivo servir alimentos produzidos localmente para abastecer as escolas. Dessa maneira é possível reduzir os custos de transporte desses alimentos, eliminar a figura do intermediário e fazer chegar aos estudantes, alimentos mais baratos, frescos e saudáveis. Como conseqüência ocorre a redução no consumo de alimentos processados melhorando a nutrição de crianças e jovens.

A adoção da Jardinagem Vertical é uma boa solução que pode ser adotada facilmente em aglomerados urbanos como a experiência adotada no Quênia. Na maior favela de Nairóbi, capital do país, cerca de mil agricultoras cultivam alimentos em sacos de terra perfurados. A medida têm sido tão eficaz que essas agricultoras urbanas além de prover alimentos em casa, estão sendo capazes até mesmo de abastecer a comunidade, contribuindo para terem também uma fonte de renda. Segundo o relatório Estado do Mundo, hoje 33% da população africana vivem nas cidades e essa porcentagem deverá subir para 60% até 2050. Portanto, a adoção da jardinagem vertical em outros países africanos e mesmo em outros continentes parece ser uma alternativa à segurança alimentar futura em várias partes do mundo.

A experiência de Planejamento de Co-gestão como o adotado por cerca de 6 mil mulheres em Gâmbia, outro país africano, para a produção de ostras, tem dado tão certo que está servindo de exemplo para que o governo local, incentive a formação de novos grupos em outras áreas de produção. O trabalho dessas mulheres resultou em um plano de manejo sustentável para um local que anteriormente era degradado devido à sobrepesca dos recursos. O governo por sua vez, faz a sua parte, com a abertura de linhas de crédito que dão sustentação ao negócio.

Em Uganda, o programa Developing Innovations in School está trabalhando com jadinagem de vegetais nativos, educação para nutrição e habilidades de cozinha visando ensinar as crianças como cultivar variedades locais e combater o déficit de comida ao mesmo tempo que revitaliza tradições culinárias nacionais.
Não é sem razão que o relatório Estado do Mundo 2011 divulgou projetos que obtiveram sucesso no continente mais pobre e mais afetado pela escassez de alimentos no mundo. Segundo o documento, atualmente 33% das crianças africanas passam fome ou são mal nutridas e até 2025 esse número deve crescer para 42 milhões de crianças.

O problema não é só africano

E, se o problema é mais crônico na África, é preciso estar alerta para a ocorrência do problema da falta de alimentos em outras partes do mundo. O documento destaca que meio século após a Revolução Verde, grande parte da humanidade ainda está faminta. Enquanto isso, os investimentos no desenvolvimento agrícola tanto por parte dos governos, quanto de financiadores e fundações internacionais estão em níveis historicamente baixos.

Desde 1980 a participação da agricultura nos auxílios ao desenvolvimento global caiu de mais de 16% para apenas 4% nos dias de hoje.
Apesar da gravidade do problema, em 2010, governos, fundações e indivíduos forneceram menos de 4 bilhões de dólares para apoiar projetos agrícolas na África, com base nas estatísticas das Nações Unidas, Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

Exemplo também para o Brasil

No Brasil, certamente, temos uma realidade bastante diferente, mas nada do que aconteça na África não deva servir de exemplo para o combate de alguns problemas que tenderão a evoluir nos próximos anos.

Segundo a ANVISA, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, o nosso país é o campeão mundial no uso de agrotóxicos, embora não seja o campeão mundial de produção agrícola posição ainda ocupada pelos Estados Unidos.

O consumo de biodiesel deverá continuar em franca expansão tanto para o mercado externo, mas principalmente absorvido pelo mercado interno. Graças à mistura obrigatória de biodiesel no diesel, na ordem de 5%, ela reduz a dependência da importação do óleo diesel e reflete positivamente na balança comercial brasileira.

No ano passado, o consumo de biodiesel no Brasil foi de 2,5 bilhões de litros, um crescimento de 56% em relação a 2009, segundo a União Brasileira de Biodiesel. Agora o setor espera um novo marco regulatório que irá elevar a mistura do biodiesel para 10% até 2014 e para 20% até 2020.

Se por um lado, o maior uso do biodiesel é bastante positivo para a balança comercial brasileira, também é verdade que precisaremos aumentar a produção utilizando mais áreas agricultáveis para dar conta dessa demanda.

Garantir alimentos para todos

Relatórios como o Estado do Mundo tem, entre seus vários objetivos, demonstrar que é possível, sim, resolver vários dos nossos problemas. Basta para isso a união de todos os setores, público, privado e sociedade.

Muitas das soluções contam com a criatividade das pessoas e são relativamente fáceis de executar e obter bons resultados. Mesmo assim é preciso apoio, seja na África, no Brasil ou em outras localidades do planeta. A governança mundial precisa estar voltada, em primeiro lugar, ao atendimento das necessidades das pessoas. Dessa maneira daremos passos decisivos para sermos capazes de construir uma sonhada sociedade, mais justa, solidária e sustentável.

* Jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de comunicação do Greenpeace e coordenador de comunicação do Instituto Akatu. É colunista de Carta Capital e colaborador da Envolverde.

Artigo publicado originalmente na coluna Cidadania & Sustentabilidade: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-campo-pode-oferecer-muitas-solucoes-para-alcancarmos-uma-sociedade-sustentavel

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02 fevereiro 2011

Fórum de Davos começa com olhos voltados para Europa e EUA

Por Reinaldo Canto, especialmente para o Instituto Ethos

A 41ª. edição do Fórum Econômico Mundial teve início na última quarta-feira, 26/01, como sempre na cidade de Davos, na Suíça. E o clima é de muitas incertezas diante de problemas que não são de hoje, mas persistem em preocupar os mais importantes países do mundo: dívidas impagáveis, desequilíbrio e guerra cambial, o futuro da zona do euro e a desaceleração econômica dos Estados Unidos.

Quanto à crise mundial, alguns dos economistas mais conhecidos e com importante papel na análise do cenário econômico mundial inverteram sua percepção sobre o momento atual. O eterno pessimista Nouriel Roubini afirmou em Davos que o mundo está saindo da crise, mas chamou a atenção para futuros problemas na produção de alimentos. Já o otimista,, se assim podemos chamar, Joseph Stiglitz expôs sua preocupação quanto a um recrudescimento da crise econômica.

O temor de Stiglitz, economista detentor do Prêmio Nobel, não encontra abrigo na visão dos executivos mundiais. Na véspera da abertura da conferência, a PricewaterhouseCoopers divulgou pesquisa anual sobre a confiança de executivos no futuro da economia. Dos 1.201 CEOs consultados em 69 países, 48% declararam estar “muito confiantes” sobre o crescimento de receitas nos próximos 12 meses – perto do nível de 50% atingido em janeiro de 2008 e bem acima da taxa de 31% observada há um ano. Os brasileiros estão entre os mais otimistas, com um índice de 68% entre aqueles que esperam contratar mais funcionários neste ano. Por outro lado, 63% dos executivos nacionais disseram temer o aumento de impostos.

Emergentes e a nova ordem mundial

O otimismo que reina nos países emergentes faz coro com o tema oficial da reunião deste ano – "Normas Compartilhadas para a Nova Realidade" –, que procura refletir um pouco a nova configuração do mundo, com a inserção das potências econômicas emergentes em lugar de destaque junto aos países desenvolvidos, os quais tradicionalmente ocupam uma posição de protagonismo nas relações internacionais.

Enquanto o chamado bloco de países ricos tenta encontrar saídas para seus sérios problemas econômicos, os emergentes continuam a desenhar uma nova ordem mundial e a consolidar-se como protagonistas, com o óbvio destaque para o desempenho econômico dos BRICs, nos últimos anos.

Em Davos, os emergentes têm sua própria agenda. Entre os pontos a levantar, querem soluções para suavizar a política monetária dos países desenvolvidos que prejudicam as exportações do bloco e buscam o definitivo reconhecimento como potências econômicas.

Todas essas questões, e outras que ainda irão surgir nos debates e encontros das lideranças, embora se refiram a problemas reais, ainda têm como base uma ordem antiga e ultrapassada, que a cada dia se mostra mais desconectada dos novos tempos.

Podemos considerar como a principal característica da velha ordem uma visão estanque que considera a solução para problemas nacionais ou, na melhor das hipóteses, a busca pelo atendimento pontual de questões ligadas a blocos econômicos.

O ansiado protagonismo dos emergentes é apenas um dos muitos sinais de que o mundo vem passando por um processo acelerado de mudanças. A interdependência das várias regiões do planeta deveria ser levada em conta num cenário tão importante quanto o do fórum de Davos. Pensar que o atendimento de reivindicações de alguns será benéfico para todo o conjunto de nações do mundo é parte de uma visão que, no fim das contas, compromete toda a economia do planeta, inclusive daqueles países que se acharam contemplados a priori.

Um momento importante, o qual esperamos que os participantes do fórum aproveitem para discutir e refletir a fundo, será o lançamento de uma rede de risco global pela qual empresas, governos e organizações sejam capazes de enfrentar em conjunto de ameaças complexas. A criação dessa rede pode dar origem a um processo de tomada de decisões que envolvam soluções mais globais e menos regionais em todas as esferas das relações entre os países, inclusive no enfrentamento das questões climáticas.

Instabilidade social e crise de alimentos

Sem a certeza de ter-se livrado da pior crise desde o pós-guerra, o mundo e suas lideranças ainda demonstram estar caminhando sem uma direção certa e consistente. Em alguns aspectos, essa indefinição se mostra perigosa, pois apresenta até mesmo uma tentativa de volta ao discurso neoliberal. O frouxo controle sobre o setor financeiro foi um dos principais pilares da crise que atingiu o mundo nos três últimos anos, com as graves conseqüências já conhecidas.

Tão importante quanto discutir as crises que atingem países do bloco europeu incapazes de pagar suas dívidas é não deixar e considerar as crises provocadas pelo aumento no preço dos alimentos e o descontrole inflacionário que já vêm ocorrendo em vários países do mundo. O exemplo mais recente é o da Tunísia, onde uma revolta geral provocou a queda de um regime que perdurava há 23 anos. Também não devem estar fora da agenda econômica dos países uma séria discussão sobre as mudanças climáticas, o uso racional da água e o investimento em energias limpas.

Ninguém espera do encontro de Davos a solução de todos os problemas atuais, mas que se dêem passos consistentes na direção de um cenário menos caótico e insustentável.