Por Reinaldo Canto* Especial para a Envolverde
Apenas na teoria a campanha eleitoral começa agora. De fato, os candidatos já se movimentavam antes de maneira menos explícita, para não chamar a atenção da Justiça Eleitoral. Agora, os candidatos já livres das amarras, terão escassos três meses para convencer os eleitores a votar em seus nomes.
Muito se discute quanto às injustiças próprias de um sistema eleitoral imperfeito e, claro, que sempre sujeito a futuros ajustes que busquem apresentar direitos iguais para todos. Mas quero chamar a atenção para uma questão que me incomoda como cidadão, eleitor e jornalista: a profunda miopia com que a mídia enxerga uma campanha eleitoral.
O eleitor terá que votar, nada mais nada menos, do que seis vezes, ou seja, Presidente da República, Governador de Estado, em dois Senadores, um deputado federal e um deputado estadual. E o que vemos nos grandes veículos? Todo o tempo de cobertura da campanha política é destinada a Dilma Roussef, a José Serra e em menor grau a Marina Silva.
Aos nossos veículos de comunicação, com honrosas exceções que só confirmam a regra, fazem parecer que só existe um cargo em disputa. Isso em um ano que iremos renovar quase todo o Congresso Nacional se levarmos em conta que apenas de oito em oito anos temos a possibilidade de renovar 2/3 do Senado e, como a cada quatro anos, 100% da Câmara dos Deputados.
Não creio que seja por má-fé, mas uma combinação de pobre simplificação de uma disputa tão complexa e a pura ignorância em relação à importância dos cargos em disputa. Não há dúvida sobre a relevância e o protagonismo da eleição presidencial, mas a corrida eleitoral merece outras abordagens e discussões.
Inúmeras reformas debatidas há anos são levadas em “banho-maria” tanto pelo executivo quanto pelo legislativo. As reformas política, tributária, da previdência e a trabalhista são algumas delas pouco destacadas na cobertura da mídia. E o que dizer das propostas e da capacidade de realização de candidatos ao Senado e as Câmaras legislativas, Federal e Estadual?
É óbvio que é muito mais difícil “pautar” como dizemos no jargão jornalístico matérias com esse grau de aprofundamento. Como falar de propostas sem parecer que se está “puxando sardinha” para um ou outro candidato? Como escrever sobre temas complexos buscando ouvir especialistas, analisar posições divergentes e ainda fazer pesquisas, quando é preciso produzir matérias em ritmo industrial?
Não são respostas fáceis! Fácil mesmo é “colar” um repórter e um fotógrafo nos principais candidatos à Presidência e descrever enfadonhamente o dia a dia da campanha até que algum fato importante apareça ou não, pouco importa. Vale até mesmo falar de um novo corte de cabelo ou uma roupa diferente, coisas irrelevantes se levarmos em conta os reais interesses do país.
O certo é que os nossos veículos de comunicação, tão zelosos na defesa da liberdade de imprensa e de expressão, condenam o cidadão/eleitor às trevas ao não cumprir o seu papel de levar a boa informação ao conjunto da sociedade brasileira.
Nossos profissionais de comunicação devem deixar essa zona de conforto, debater internamente e buscar os melhores caminhos para fazer do período eleitoral um momento especial de discussão democrática e assumir a relevância que todos nós esperamos da mídia.
Com o fim do sonho do hexa, a pátria de chuteiras deve dar lugar a uma pátria mais preocupada com o futuro. Bem entendido que esse futuro não se refere a escolha do técnico para a Copa de 2014, mas o futuro da cidadania, da democracia, da construção de um desenvolvimento sustentável e do fim da pobreza e das desigualdades no Brasil.
* Jornalista, consultor e palestrante, foi diretor de comunicação do Greenpeace e coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente.
14 julho 2010
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