04 julho 2010

NADA SERÁ COMO ANTES

Por Ricardo Young*


O Pacto Global começa a se consolidar como um importante e fundamental espaço multilateral de integração unindo a Organização das Nações Unidas e as empresas transnacionais.

Na semana passada aconteceu em Nova York, o encontro da Cúpula de Líderes do Pacto Global da ONU, ao mesmo tempo em que se comemorava os 10 anos do Pacto. O evento reuniu cerca de dois mil líderes e altos dirigentes de empresas e organizações do mundo todo que aderiram aos princípios do Pacto Global, uma extraordinária iniciativa das Nações Unidas que tem o propósito de mobilizar, em escala mundial, as empresas e demais agentes para o desenvolvimento de ações capazes de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e sustentável ao redor do planeta.

Entre os pontos altos desse encontro destaco a participação intensa do secretário- geral da ONU, Ban Ki Moon. Ele assinalou que mais do que nunca, é hora das empresas mostrarem sua liderança e entenderem que o objetivo final das negociações no século XXI é a criação de valor de longo prazo, em oposição a resultados imediatistas como se viu na crise financeira de 2008. É necessário que as empresas entendam que os objetivos do milênio devam contribuir com os principais pontos de articulação entre o setor privado e os governos, na solução da pobreza, na preservação do meio ambiente, no combate a corrupção e na luta pelo trabalho decente. É fundamental que o setor financeiro priorize a adoção dos critérios pautados pelos Príncipios dos Investimentos Sustentáveis (Principles for Responsible Investment – PRI) e seja um dos setores líderes nesse processo.

O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, destacou durante o encontro, o quanto é importante as cidades aderirem a uma plataforma verde. E nesse sentido desfilou os objetivos de mitigação dos gases de efeito estufa que a cidade norte-americana pretende cumprir até 2.027, ou seja, o de reduzir em 30% as emissões da cidade. Outro destaque foi a exposição do presidente da Confederação de Indústrias da China ao mostrar o quanto a redução da emissão de carbono e o estabelecimento de medidas para uma economia de baixo carbono, se tornou prioritário para o desenvolvimento chinês. Ele deixou claro que não passa por nenhuma liderança empresarial do país, a possibilidade de não incorporar as questões do desenvolvimento sustentável em sua estratégia.

Outros pontos de destaque foram os lançamentos do BluePrint Corporate Sustainability Leadership (http://www.unglobalcompact.org/docs/news_events/8.1/ Blueprint.pdf) uma metodologia de utilização dos 10 princípios do Pacto Global na gestão estratégica das empresas e o New York Business Declaration (http://www.un.org/News/Press/docs/2010/eco181.doc.htm) que procura mostrar os progressos que a comunidade de negócios obteve nos últimos 10 anos ao assumir a estratégia da sustentabilidade como aspecto central nos seus negócios e ainda estabelecendo novos compromissos.

Lideranças brasileiras e o Pré-Sal - Estiveram presentes ao encontro representantes dos setores tradicionais do empresariado nacional como da construção pesada, papel e celulose, petroquímica e metalurgia. Mas quero destacar a participação de Sergio Gabrielli, presidente da Petrobrás que, na primeira mesa de debates, relatou o quanto os 10 princípios do Pacto Global estão sendo adotados para se elevar a qualidade dos valores da Petrobrás no estabelecimento das bases das licitações do pré-Sal. Essa é, sem dúvida, uma grande notícia se levarmos em conta que ainda pouco se falou da aplicação de critérios de desenvolvimento sustentável e sobre os impactos socioambientais gerados pela exploração dessa enorme reserva de petróleo. Esperemos que esse seja um bom começo para uma discussão mais ampla.

Em tempos que o mundo discute uma saída para a crise climática e financeira pela via da economia de baixo carbono, não deixa de ser alvissareiro o fato de que as Nações Unidas passem a assumir de forma definitiva uma interlocução firme, significativa e relevante com o setor empresarial incorporando-o definitivamente no horizonte das articulações multilaterais cada vez mais posicionadas pelo G-20 e pelas crises das mudanças climáticas.

*Empresário, militante da causa da sustentabilidade e candidato a senador de São Paulo pelo Partido Verde

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