14 julho 2010

UMA ELEIÇÃO SEM MÍDIA

Por Reinaldo Canto* Especial para a Envolverde

Apenas na teoria a campanha eleitoral começa agora. De fato, os candidatos já se movimentavam antes de maneira menos explícita, para não chamar a atenção da Justiça Eleitoral. Agora, os candidatos já livres das amarras, terão escassos três meses para convencer os eleitores a votar em seus nomes.

Muito se discute quanto às injustiças próprias de um sistema eleitoral imperfeito e, claro, que sempre sujeito a futuros ajustes que busquem apresentar direitos iguais para todos. Mas quero chamar a atenção para uma questão que me incomoda como cidadão, eleitor e jornalista: a profunda miopia com que a mídia enxerga uma campanha eleitoral.

O eleitor terá que votar, nada mais nada menos, do que seis vezes, ou seja, Presidente da República, Governador de Estado, em dois Senadores, um deputado federal e um deputado estadual. E o que vemos nos grandes veículos? Todo o tempo de cobertura da campanha política é destinada a Dilma Roussef, a José Serra e em menor grau a Marina Silva.

Aos nossos veículos de comunicação, com honrosas exceções que só confirmam a regra, fazem parecer que só existe um cargo em disputa. Isso em um ano que iremos renovar quase todo o Congresso Nacional se levarmos em conta que apenas de oito em oito anos temos a possibilidade de renovar 2/3 do Senado e, como a cada quatro anos, 100% da Câmara dos Deputados.

Não creio que seja por má-fé, mas uma combinação de pobre simplificação de uma disputa tão complexa e a pura ignorância em relação à importância dos cargos em disputa. Não há dúvida sobre a relevância e o protagonismo da eleição presidencial, mas a corrida eleitoral merece outras abordagens e discussões.

Inúmeras reformas debatidas há anos são levadas em “banho-maria” tanto pelo executivo quanto pelo legislativo. As reformas política, tributária, da previdência e a trabalhista são algumas delas pouco destacadas na cobertura da mídia. E o que dizer das propostas e da capacidade de realização de candidatos ao Senado e as Câmaras legislativas, Federal e Estadual?

É óbvio que é muito mais difícil “pautar” como dizemos no jargão jornalístico matérias com esse grau de aprofundamento. Como falar de propostas sem parecer que se está “puxando sardinha” para um ou outro candidato? Como escrever sobre temas complexos buscando ouvir especialistas, analisar posições divergentes e ainda fazer pesquisas, quando é preciso produzir matérias em ritmo industrial?

Não são respostas fáceis! Fácil mesmo é “colar” um repórter e um fotógrafo nos principais candidatos à Presidência e descrever enfadonhamente o dia a dia da campanha até que algum fato importante apareça ou não, pouco importa. Vale até mesmo falar de um novo corte de cabelo ou uma roupa diferente, coisas irrelevantes se levarmos em conta os reais interesses do país.

O certo é que os nossos veículos de comunicação, tão zelosos na defesa da liberdade de imprensa e de expressão, condenam o cidadão/eleitor às trevas ao não cumprir o seu papel de levar a boa informação ao conjunto da sociedade brasileira.

Nossos profissionais de comunicação devem deixar essa zona de conforto, debater internamente e buscar os melhores caminhos para fazer do período eleitoral um momento especial de discussão democrática e assumir a relevância que todos nós esperamos da mídia.

Com o fim do sonho do hexa, a pátria de chuteiras deve dar lugar a uma pátria mais preocupada com o futuro. Bem entendido que esse futuro não se refere a escolha do técnico para a Copa de 2014, mas o futuro da cidadania, da democracia, da construção de um desenvolvimento sustentável e do fim da pobreza e das desigualdades no Brasil.

* Jornalista, consultor e palestrante, foi diretor de comunicação do Greenpeace e coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente.

04 julho 2010

NADA SERÁ COMO ANTES

Por Ricardo Young*


O Pacto Global começa a se consolidar como um importante e fundamental espaço multilateral de integração unindo a Organização das Nações Unidas e as empresas transnacionais.

Na semana passada aconteceu em Nova York, o encontro da Cúpula de Líderes do Pacto Global da ONU, ao mesmo tempo em que se comemorava os 10 anos do Pacto. O evento reuniu cerca de dois mil líderes e altos dirigentes de empresas e organizações do mundo todo que aderiram aos princípios do Pacto Global, uma extraordinária iniciativa das Nações Unidas que tem o propósito de mobilizar, em escala mundial, as empresas e demais agentes para o desenvolvimento de ações capazes de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e sustentável ao redor do planeta.

Entre os pontos altos desse encontro destaco a participação intensa do secretário- geral da ONU, Ban Ki Moon. Ele assinalou que mais do que nunca, é hora das empresas mostrarem sua liderança e entenderem que o objetivo final das negociações no século XXI é a criação de valor de longo prazo, em oposição a resultados imediatistas como se viu na crise financeira de 2008. É necessário que as empresas entendam que os objetivos do milênio devam contribuir com os principais pontos de articulação entre o setor privado e os governos, na solução da pobreza, na preservação do meio ambiente, no combate a corrupção e na luta pelo trabalho decente. É fundamental que o setor financeiro priorize a adoção dos critérios pautados pelos Príncipios dos Investimentos Sustentáveis (Principles for Responsible Investment – PRI) e seja um dos setores líderes nesse processo.

O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, destacou durante o encontro, o quanto é importante as cidades aderirem a uma plataforma verde. E nesse sentido desfilou os objetivos de mitigação dos gases de efeito estufa que a cidade norte-americana pretende cumprir até 2.027, ou seja, o de reduzir em 30% as emissões da cidade. Outro destaque foi a exposição do presidente da Confederação de Indústrias da China ao mostrar o quanto a redução da emissão de carbono e o estabelecimento de medidas para uma economia de baixo carbono, se tornou prioritário para o desenvolvimento chinês. Ele deixou claro que não passa por nenhuma liderança empresarial do país, a possibilidade de não incorporar as questões do desenvolvimento sustentável em sua estratégia.

Outros pontos de destaque foram os lançamentos do BluePrint Corporate Sustainability Leadership (http://www.unglobalcompact.org/docs/news_events/8.1/ Blueprint.pdf) uma metodologia de utilização dos 10 princípios do Pacto Global na gestão estratégica das empresas e o New York Business Declaration (http://www.un.org/News/Press/docs/2010/eco181.doc.htm) que procura mostrar os progressos que a comunidade de negócios obteve nos últimos 10 anos ao assumir a estratégia da sustentabilidade como aspecto central nos seus negócios e ainda estabelecendo novos compromissos.

Lideranças brasileiras e o Pré-Sal - Estiveram presentes ao encontro representantes dos setores tradicionais do empresariado nacional como da construção pesada, papel e celulose, petroquímica e metalurgia. Mas quero destacar a participação de Sergio Gabrielli, presidente da Petrobrás que, na primeira mesa de debates, relatou o quanto os 10 princípios do Pacto Global estão sendo adotados para se elevar a qualidade dos valores da Petrobrás no estabelecimento das bases das licitações do pré-Sal. Essa é, sem dúvida, uma grande notícia se levarmos em conta que ainda pouco se falou da aplicação de critérios de desenvolvimento sustentável e sobre os impactos socioambientais gerados pela exploração dessa enorme reserva de petróleo. Esperemos que esse seja um bom começo para uma discussão mais ampla.

Em tempos que o mundo discute uma saída para a crise climática e financeira pela via da economia de baixo carbono, não deixa de ser alvissareiro o fato de que as Nações Unidas passem a assumir de forma definitiva uma interlocução firme, significativa e relevante com o setor empresarial incorporando-o definitivamente no horizonte das articulações multilaterais cada vez mais posicionadas pelo G-20 e pelas crises das mudanças climáticas.

*Empresário, militante da causa da sustentabilidade e candidato a senador de São Paulo pelo Partido Verde