Reinaldo Canto*
Todos aqueles que procuram trabalhar com os temas da comunicação ambiental e sustentabilidade conhecem bem os percalços sobre os diversos entendimentos que as pessoas tem sobre esses problemas. A semana que passou foi de muito trabalho associado a uma grande satisfação pessoal e profissional exatamente por poder disseminar informações que, infelizmente, ainda não são de domínio comum. Temas como recursos finitos do planeta, a escassez e contaminação da água e a urgente necessidade de frear a insanidade da sociedade de consumo causam espanto e muitas vezes ceticismo.
Tive a oportunidade de ministrar duas palestras com o título “Os Desafios da Sustentabilidade”. Uma foi realizada no CDE – Centro Democrático de Engenharia – entidade ligada ao Instituto de Engenharia e a outra na sede do Partido Verde Municipal (São Paulo). Considero os resultados de ambas muito satisfatórias e estou plenamente convencido da necessidade de falar cada vez mais para o maior número de pessoas possível.
Apesar de existirem níveis diferentes de consciência e informação sobre o tema, sempre que se conversa sobre sustentabilidade, as dúvidas, dificuldades e até mesmo desconfianças surgem a todo o momento. Para mim que cursou no passado uma pós-graduação com o pomposo nome “Inteligência Empresarial e Gestão do Conhecimento” que coloca como uma de suas premissas o aprimoramento intelectual e a troca de conhecimento em tempo integral, essas palestras foram muito gratificantes. A teoria da Gestão do Conhecimento diz que ao passar uma informação, a pessoa que recebe ganha algo, sem que o emissor dessa informação perca e, posteriormente, uma discordância, pergunta, ou mesmo um novo dado faz com que o emissor inicial também enriqueça em seu conhecimento.
Tenho total convicção que o conhecimento e as informações sobre sustentabilidade devam ser multiplicados de maneira rápida e urgente para todos os públicos com os quais tivermos essa oportunidade de falar e discutir o tema.
É importante que os estudiosos ligados a área ambiental deixem os seus nichos e apenas as conversas com os seus pares para se “infiltrar positivamente” no seio da sociedade. São milhares de segmentos, milhões de pessoas ávidos de informações sobre o tema. E, obviamente, serão essas pessoas e segmentos da sociedade que poderão de maneira efetiva, realizar as ações e mudanças em busca de um mundo mais sustentável.
Se a sociedade tiver como referenciais apenas os dogmas de um mundo de consumo desenfreado, será a ela que as pessoas irão se entregar. O poder de sedução do consumo, das propagandas maravilhosas que prometem prazer e felicidade, só podem ser combatidas com consciência e muita informação.
A importância do licenciamento ambiental
Numa dessas palestras fui bastante questionado quanto à atuação dos ambientalistas em relação ao desenvolvimento. Segundo disseram, muitas obras importantes demoram demasiadamente ou nem são aprovadas pelas regras impostas pelo licenciamento ambiental. Rebati esse posicionamento afirmando que o desenvolvimento não pode ocorrer em detrimento do futuro. Os licenciamentos têm entre suas principais funções, diagnosticar os efeitos que aquele determinado empreendimento pode causar a comunidades humanas e ao meio ambiente e, tentar minimiza-los ao máximo. Citei, inclusive, a Usina Hidrelétrica de Balbina no Amazonas que, em virtude de estudos precários hoje é um exemplo de como as coisas não devem ser feitas. O resultado de Balbina é conhecido por todos: pouca geração de energia e enormes danos ambientais, ou seja, altíssimos custos e baixíssimos benefícios.
E foi exatamente por esses dias que estive também envolvido com a redação, edição e análise de 5 RIMAs – Relatórios de Impacto Ambiental – para 5 hidrelétricas que deverão ser construídas entre o Piauí e o Maranhão. Fiquei muito satisfeito ao ler as informações constantes nos EIAs – Estudos de Impacto Ambiental – que servirão de base para os RIMAs. Tais levantamentos feitos por especialistas de várias áreas (de engenheiros a biólogos) contribuem para uma radiografia completa da realidade dessas regiões, os prognósticos para a instalação da hidrelétrica e tudo o que deve ser feito para minimizar seus efeitos.
Qualquer crítica que possa se fazer a esse tipo de legislação com todas as falhas em sua aplicação inerentes à natureza humana não devem, em hipótese alguma, desconsiderar a sua importância e necessidade. Em lugar de estudos teríamos apenas obras mal feitas e atropeladas sem visar o bem comum, mas de resultados imediatistas e bastante questionáveis.
Tive uma semana que gostaria de ver repetida muitas e muitas vezes nos próximos tempos. Semana de muito cansaço físico, mas alta produtividade. Minhas convicções estão ainda mais fortes para as batalhas que espero travar com muitas pessoas ao meu lado.
* Jornalista, consultor e palestrante, foi Diretor de Comunicação do Greenpeace e Coordenador de Comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente
20 agosto 2009
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