Por Reinaldo Canto*
Todos os anos em meados de dezembro realiza-se a chamada
Conferência do Clima na qual os países de todo o mundo discutem os rumos e as
ações para o combate às chamadas mudanças climáticas e o aquecimento global.
Esta última realizada em Paris no final do ano passado foi
festejada como a que conseguiu finalmente, diga-se de passagem, fechar um
acordo global que tem como objetivo principal, limitar o aumento da temperatura
do planeta em 1,5ºC.
Cobrir um evento como esse não é tarefa das mais fáceis, pois
além das chamadas discussões de alto nível que envolve a participação dos
representantes oficiais dos países, acontecem um grande número de eventos
paralelos muitos deles bastante relevantes, os chamados side events. E, são relevantes, pois mesmo não estando no “palco
principal”, muitas vezes representam setores fundamentais para que um acordo
climático consiga o sucesso esperado. São encontros da iniciativa privada, de
cientistas e pesquisadores do tema, de organizações e fóruns do terceiro setor,
que influenciam diretamente os resultados do encontro principal.
Tudo acontece simultaneamente em locais às vezes bem
distantes uns dos outros (basta lembrar que a COP de Paris foi realizada no
gigantesco Parque de Exposições Le Bourget, mesmo local onde acontece a famosa
feira aeroespacial).
Jornalistas
a beira de um ataque de nervos
Já vi muito jornalista ficar doente numa cobertura como essa,
em virtude do grau de ansiedade diante de tantas coisas acontecendo simultaneamente.
Difícil dizer como resolver essa situação se o seu veículo
exige notícias “quentes” com frequência e tem o objetivo de não ser “furado”
pela concorrência, mas acredito que manter o foco em algum tema mais específico
ou mesmo “colar” em algumas fontes próximas e confiáveis, sejam algumas das
possibilidades para dar mais clareza do que cobrir.
O começo
tumultuado
O início da COP não poderia ter sido mais impactante já que
os mais importantes líderes mundiais decidiram participar da abertura da COP.
Por essa razão, a sala de imprensa que sempre é muito bem estruturada nas
conferências montadas pela ONU, se transformou numa loucura, com pouco espaço
para abrigar os mais de três mil jornalistas de todo o mundo. Quase todos os
pontos de internet, além de mesas e cadeiras estiveram permanentemente ocupados
no primeiro dia da conferência.
Dois dias depois a realidade já era outra. Felizmente ficou
bem mais fácil de trabalhar com muitos locais disponíveis, mas também algo a
lamentar. É que com a saída dos líderes, mais da metade dos jornalistas foi
embora, numa triste revelação que, para muitos, a conferência do clima não era
a razão para estarem ali e sim acompanhar os presidentes, primeiros-ministros e
demais autoridades. Isso ficou bem claro quando da entrevista coletiva da
presidenta Dilma Roussef, quando o tempo utilizado para as perguntas foi quase
todo destinado às questões domésticas.
Nada contra aproveitar a ocasião já que normalmente Dilma não
concede entrevistas no Brasil, mas relegar o tema das mudanças climáticas a
algo insignificante, revelou certa falta de visão dos coleguinhas (lembrando
que além do impeachment, também poderíamos falar do futuro do pré-sal,
Petrobrás e a recentíssima tragédia de Mariana, que foi citada apenas de leve).
Até escrevi um texto sobre isso que foi publicado no Portal Envolverde
(www.envolverde.com.br).
Bem, o certo é que por mais complicado e desgastante que seja
participar desses eventos, a satisfação profissional vence qualquer cansaço e
possíveis frustrações.
Fecho esse meu artigo com um singelo pedido aos colegas: procurem
dar uma atenção maior aos temas ligados ao meio ambiente e a sustentabilidade.
Como temos visto em relação ao aquecimento global, fenômenos climáticos
extremos e a crise hídrica, essas questões são fundamentais para o nosso futuro
e, portanto, representam pautas
essenciais.
*O
jornalista publicou matérias e análises no Portal Envolverde, no site e em
edição impressa da revista Carta Capital e no Blog do Planeta, da revista
Época, entre outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário