17 fevereiro 2016

UM PLANETA MAIS QUENTE E DESIGUAL

Estudos da Nasa e da Oxfam revelam que 2015 foi o ano mais quente e com a maior desigualdade já registrada
Por Reinaldo Canto
Tomaz Silva / Agência Brasil / Fotos Públicas
Marcha Global pelo Clima
Manifestantes realizam a Marcha Global pelo Clima no Rio chamando a atenção para a gravidade das mudanças climáticas


Dois estudos divulgados recentemente apresentam pontos aparentemente paralelos, mas que possuem uma terrível e nefasta convergência: 2015 foi o ano mais quente e, ao mesmo tempo, o mais desigual da história.
A constatação de que o ano passado foi o mais quente já registrado desde 1880, quando os dados começaram a ser levantados, foi feita pela agência espacial norte-americana, aNasa, e pela Agência Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA).
As duas entidades realizaram estudos separados, mas chegaram às mesmas conclusões: a temperatura do planeta ficou, em média, 0,90ºC acima da registrada no século XX e 0,16ºC acima do recorde anterior, registrado em 2014. Dezembro passado também foi o mês mais quente já observado.
Os cientistas apontam o fenômeno climático El Niño pelos resultados, mas, principalmente, o atribuem ao aquecimento causado pelas emissões de gases relacionados à ação do homem.
As consequências estão aí: aumento do nível dos oceanos e ocorrências cada vez mais frequentes de fenômenos climáticos extremos, como a onda de calor que matou 2,5 mil pessoas na Índia, também no ano passado.
Aquecimento global
O recorde de 2015 acompanha a tendência de aquecimento observada nos últimos anos, diz a Nasa
O outro ponto é o levantamento anual da ONG britânica Oxfam sobre desigualdade e concentração de renda. A organização afirma que, neste ano de 2016, as 37 milhões de pessoas que compõem o 1% mais rico da população mundial terão mais dinheiro do que os outros 99% juntos.
O relatório apresentado pela Oxfam toma como base o levantamento anual do banco Credit Suisse. E as estatísticas demonstram que ao longo dos últimos anos a concentração e a desigualdade só aumentaram!
São muitas as questões que nos afligem: a crise econômica brasileira, a questão dos refugiados na Europa, o mosquito Aedes aegypti, os fanáticos do Estado Islâmico – todas altamente relevantes e merecedoras de nossa atenção.
Mas fato é que os dois estudos apontados neste artigo possuem o poder de determinar os caminhos da humanidade para um futuro em que as demais questões serão decorrência desses dois fatores, ou seja, o crescimento da desigualdade e mudanças climáticas cada vez mais fortes e persistentes.
Winnie Byanyima, diretora-executiva da Oxfam e co-presidente do Fórum Econômico Mundial alertou sobre as consequências desses desequilíbrios: "Tanto nos países ricos quanto nos pobres, essa desigualdade alimenta o conflito, corroendo as democracias e prejudicando o próprio crescimento".
Isto é, quanto mais a temperatura e a desigualdade crescerem, menos possíveis serão os esforços para o equilíbrio e a harmonia do planeta e de seus habitantes. Tal acirramento se transformará em mais refugiados, em mais doenças e levará à eclosão de novas guerras e conflitos.
No entanto, a Nasa, a NOAA e a Oxfam consideram essas questões ainda possíveis de serem enfrentadas ou revertidas. Alguns dos caminhos relacionados ao clima foram exaustivamente debatidos na COP 21, realizada em Paris, em dezembro passado.
Já para enfrentar a concentração de renda, o caminho é a busca pela ampliação dos direitos das pessoas e por mais democracia e participação, buscando a educação e o empoderamento dos cidadãos como meta universal, entre outros grandes desafios.
A sustentabilidade, tão almejada, só será efetivamente alcançada quando a humanidade conseguir entender e combater todos esses desequilíbrios ambientais e sociais. Será preciso reverter essas nefastas tendências que colocam em xeque a nossa civilização e flertam fortemente com um indesejado cenário de fim do mundo.

11 fevereiro 2016

OS JORNALISTAS NA COBERTURA DA COP 21 EM PARIS


Por Reinaldo Canto*

Todos os anos em meados de dezembro realiza-se a chamada Conferência do Clima na qual os países de todo o mundo discutem os rumos e as ações para o combate às chamadas mudanças climáticas e o aquecimento global.

Esta última realizada em Paris no final do ano passado foi festejada como a que conseguiu finalmente, diga-se de passagem, fechar um acordo global que tem como objetivo principal, limitar o aumento da temperatura do planeta em 1,5ºC.

Cobrir um evento como esse não é tarefa das mais fáceis, pois além das chamadas discussões de alto nível que envolve a participação dos representantes oficiais dos países, acontecem um grande número de eventos paralelos muitos deles bastante relevantes, os chamados side events. E, são relevantes, pois mesmo não estando no “palco principal”, muitas vezes representam setores fundamentais para que um acordo climático consiga o sucesso esperado. São encontros da iniciativa privada, de cientistas e pesquisadores do tema, de organizações e fóruns do terceiro setor, que influenciam diretamente os resultados do encontro principal.

Tudo acontece simultaneamente em locais às vezes bem distantes uns dos outros (basta lembrar que a COP de Paris foi realizada no gigantesco Parque de Exposições Le Bourget, mesmo local onde acontece a famosa feira aeroespacial).

Jornalistas a beira de um ataque de nervos

Já vi muito jornalista ficar doente numa cobertura como essa, em virtude do grau de ansiedade diante de tantas coisas acontecendo simultaneamente.
Difícil dizer como resolver essa situação se o seu veículo exige notícias “quentes” com frequência e tem o objetivo de não ser “furado” pela concorrência, mas acredito que manter o foco em algum tema mais específico ou mesmo “colar” em algumas fontes próximas e confiáveis, sejam algumas das possibilidades para dar mais clareza do que cobrir.

O começo tumultuado   
  
O início da COP não poderia ter sido mais impactante já que os mais importantes líderes mundiais decidiram participar da abertura da COP. Por essa razão, a sala de imprensa que sempre é muito bem estruturada nas conferências montadas pela ONU, se transformou numa loucura, com pouco espaço para abrigar os mais de três mil jornalistas de todo o mundo. Quase todos os pontos de internet, além de mesas e cadeiras estiveram permanentemente ocupados no primeiro dia da conferência.
Dois dias depois a realidade já era outra. Felizmente ficou bem mais fácil de trabalhar com muitos locais disponíveis, mas também algo a lamentar. É que com a saída dos líderes, mais da metade dos jornalistas foi embora, numa triste revelação que, para muitos, a conferência do clima não era a razão para estarem ali e sim acompanhar os presidentes, primeiros-ministros e demais autoridades. Isso ficou bem claro quando da entrevista coletiva da presidenta Dilma Roussef, quando o tempo utilizado para as perguntas foi quase todo destinado às questões domésticas.

Nada contra aproveitar a ocasião já que normalmente Dilma não concede entrevistas no Brasil, mas relegar o tema das mudanças climáticas a algo insignificante, revelou certa falta de visão dos coleguinhas (lembrando que além do impeachment, também poderíamos falar do futuro do pré-sal, Petrobrás e a recentíssima tragédia de Mariana, que foi citada apenas de leve). Até escrevi um texto sobre isso que foi publicado no Portal Envolverde (www.envolverde.com.br).

Bem, o certo é que por mais complicado e desgastante que seja participar desses eventos, a satisfação profissional vence qualquer cansaço e possíveis frustrações.
Fecho esse meu artigo com um singelo pedido aos colegas: procurem dar uma atenção maior aos temas ligados ao meio ambiente e a sustentabilidade. Como temos visto em relação ao aquecimento global, fenômenos climáticos extremos e a crise hídrica, essas questões são fundamentais para o nosso futuro e, portanto,  representam pautas essenciais.


*O jornalista publicou matérias e análises no Portal Envolverde, no site e em edição impressa da revista Carta Capital e no Blog do Planeta, da revista Época, entre outros.  

04 fevereiro 2016

Para Izabella Teixeira o acordo de Paris coloca o mundo “em outra fase” das emissões de carbono

Por Pedro Z. Malavolta, de Paris–

Ministra do Meio Ambiente participou de debate organizado durante o último dia da COP 21 pela Iniciativa Empresarial pelo Clima, integrada, entre outros, pelo Ethos, CEBDS e GVCes
Otimista, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, avaliou que o rascunho do acordo da COP 21 “sinaliza uma nova fase nas emissões de carbono para o mundo”. Ela participou do evento, promovido pela Iniciativa Empresarial pelo Clima (IEC) para debater as ações do Brasil ate 2020, no último dia da Conferência do Clima em Paris. Além da ministra, o debate mediado pelo jornalista Reinaldo Canto, da Envolverde, contou com a apresentação de casos de sucesso de empresas na diminuição de emissão de carbono e de organizações ligadas a iniciativa privada.
A ministra aproveitou o clima de final de conferência para falar sobre os passos que o governo e a sociedade brasileira deve tomar no período depois da COP 21. Para ela a iNDC (intended Nationally Determined Contribution, em português pretendida Contribuição Nacionalmente Determinada) brasileira deverá servir como parâmetro do planejamento de longo prazo.
Teixeira defendeu que é preciso uma mudança de “cultura política” mas que é possível que a iNDC possa ser utilizada para o planejamento das organizações públicas e privadas no Brasil. Para que isso seja possível, no entanto, a própria ministra admitiu que ainda é necessário definir mecanismos e políticas que viabilizarão esse planejamento. Sem entrar em detalhes, ela listou algumas questões.
Não será possível condicionar as mudanças para uma economia de baixo carbono apenas no aporte de recursos. “O Brasil foi o único grande país em desenvolvimento que não condicionou a sua contribuição ao aporte de recursos internacionais”, lembrou a ministra. “Não podemos também passar anos debatendo como será financiado essa mudança, precisamos fazer acontecer, como um país”, afirmou.
Para reforçar seus argumentos, ela exemplificou com as dificuldades enfrentadas para implementar duas políticas públicas na área ambiental: os aterros sanitários, que são tema de debate no congresso nacional há mais de duas décadas; e a logística reversa da indústria de eletroeletrônicos, que não conseguiu até o momento financiar as ações nos Estados.
A ministra também lembrou que imagina que os debates sobre os mecanismos para estímulo para a transição para uma economia de baixo carbono deva acontecer até 2020, quando acaba a vigência do Plano Nacional de Mudanças Climáticas. “Até lá, podemos funcionar como business as usual. Depois, precisamos já ter mudado de patamar”, declarou Teixeira.
Na visão da ministra, “o papel da iniciativa privada não poderá ser reativo as mudanças climáticas. Também não poderá ser apenas estar atento as oportunidades de mercado. É mais do isso”. Ela se diz otimista com o que esperar das empresas brasileiras e já vê algum protagonismo nessa direção. “Essa nova geração de homens e mulheres de negócio com quem eu tenho conversado, precisam assumir a gestão dos seus negócios pensando o baixo carbono como um ativo econômico”, afirmou.
Na avaliação da ministra os dois pontos mais preocupantes na emissão de carbono do Brasil são a energia, em especial a questão da eficiência energética, e a agricultura. “A agricultura precisará mudar. Passar a ser de baixo impacto no carbono, já que o Brasil será o maior produtor mundial de comida em 2024, segundo a FAO”, explicou.
A IEC é uma ação conjunta de várias organizações empresariais e acadêmicas que atuam na área no combate às mudanças climáticas. Entre elas estão o Instituto Ethos, o Fórum Clima, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), a Rede Brasileira do Pacto Global da ONU, o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (Gvces), o Carbon Disclosure Project (CDP), e a agência Envolverde.
Diferenciação dos países
A ministra também comentou sobre o grupo de trabalho que coordenou na elaboração do acordo, sobre a diferenciação dos países em relação as suas obrigações e possibilidades na contribuição do combate às mudanças climáticas. Segundo ela trata-se de criar uma maneira que todos os mais de 190 países que participam da conferência consigam atingir as suas metas. “Nós estamos falando aqui de qual vai ser o caminho de desenvolvimento de todos os países. A questão da flexibilidade [que a diferenciação garante] é para que as adaptações não sejam algo imposto”, explicou.
Apoio a presença do “muito abaixo dos 2º”
Também presente ao evento, o secretário de mudanças climáticas do Ministério do Meio Ambiente, Carlos Klink, comentou sobre uma das polêmicas em relação ao texto final do acordo: a presença da meta de aquecimento “muito abaixo dos 2º” de aquecimento. “A proposta do Brasil é ainda a questão de limitar a 2º o crescimento. Mas achamos bom que essa questão possa aparecer como um indicativo no texto e para as revisões”, disse Klink
Klink também disso que avaliar a política nacional de combate a mudança climática avançou muito nos últimos 4 ou 5 anos e que a sua adaptação “é algo que já começa a ser feito aqui na COP”.
Casos de sucesso das empresas
Três empresas brasileiras apresentaram seus casos de sucesso na redução das emissões carbono durante o evento organizado pela IEC. A primeira delas foi a CPFL Energia. Rodolfo Sirol, Diretor de Sustentabilidade da empresa, explicou que os investimentos em energia renováveis, em especial as menos comum no Brasil, como eólica e solar, dão uma vantagem competitiva de longo prazo para a empresa e também “nos torna mais atrativo no mercado de trabalho, ajudando a atrair essas mentes jovens que querem contribuir com a mudança”, declarou.
Já Celina Carpi, do conselho de administração do grupo Libra e presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos, comentou sobre o projeto de expansão do porto do Rio de Janeiro. Durante a Rio+20, a empresa colocou como meta uma redução de 40% de emissão de gases de efeito estufa em suas obras até 2020. Em 2015, já atingiu uma redução de 21%. Porém este não é a única preocupação do projeto na questão de sustentabilidade. “A mais desafiadora para nós empresários é a dimensão do ser humano”, afirmou. Ao lado do porto do Rio de Janeiro, fica a comunidade do Caju, que possui um dos piores IDH da cidade do Rio de Janeiro. Para evitar piorar a situação dessa população, uma série de medidas forma feitas. Entre elas o transporte de material de construção por meio de balças, evitando assim, aumento da poluição e do barulho na região.
Carpi ainda afirmou “Estou muito orgulhosa da proposta do nosso país. E essa proposta de iNDC vai nos ajudar a mudar a forma de fazer negócios no Brasil.”
O terceiro caso de sucesso foi apresentado por Jorge Soto, diretor de desenvolvimento sustentável da Braskem. Uma das grandes inovações da empresa foi o inventário da emissão de carbono de todas as suas plantas. Ele também está otimista com o Brasil e afirma que o país precisa tomar a dianteira na pesquisa e produção de uma economia de baixo carbono. “Que outro país que vai conseguir fornecer produtos com baixo carbono com a intensidade que nós podemos?”, questionou.
Perspectivas para as políticas públicas para 2020
O evento foi encerado com uma mesa de debate com representantes das entidades que fazem parte da IEC. O primeiro a falar foi Carlos Pereira, da Rede Brasileira do Pacto Global da ONU, que defendeu que as empresas brasileiras precisam entender a transição para uma economia de baixo carbono como uma oportunidade.
Paul Dickson, o presidente do CDP, trouxe uma perspectiva de alguém de fora do Brasil sobre o protagonismo das empresas brasileiras nessa questão. A iniciativa que ele dirige reúne quase 8% do capital de investimento no Brasil, um número muito superior a outros países. Uma das razões serve para todos os lugares, como uma iniciativa que divulga a emissão de carbono de várias empresas de maneira comparável, estar no ranking do CDP é como participar de uma olimpíada. “E empresas são competitivas”, explica Dickson. Agora, o americano acredita que, diferente de outros países, as “empresas no Brasil tem uma face mais humana, como se tivessem mais coração”, supõe.
Coordenadora do GVCes, Mariana Nicolletti, listou uma série de desafios para a iniciativa privada em relação a meta presente no iNDC, como viabilização dos investimentos, dar escala ao que já é feito, planejar ao longo prazo. Nicolletti acredita que “essas não são questão simples” mas questiona, “a expertise da iniciativa privada não é fazer acontecer?”.
Mudança do estilo de vida
Jorge Abrahão, diretor-presidente do Instituto Ethos, também listou desafios para as empresas depois da COP 21. Para ele as empresas precisam trabalhar a adaptação, a transparência de seus dados, a ambição de longo prazo, o financiamento dessa mudança de perfil da economia e como elas vão participar das políticas públicas que vão delinear essa nova fase da economia.
Abrahão, lembrando do discurso do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que é preciso tratar da questão da mudança do estilo e modo de vida. “As empresas precisam tratar dessa questão, algo que ainda não começamos a fazer. Essa pode ser uma oportunidade para que as empresas brasileiras sejam liderança nesse processo”, declarou.
Coube a Marina Grossi, presidente do CEBDS, a última intervenção da mesa. Ela lembrou que nunca as iniciativas empresariais brasileiras estiveram tão organizadas numa COP. Na sua avaliação, 2016 será “o ano da implementação” de tudo que tem sido debatido em relação às mudanças climáticas nos últimos anos. E encerrou dizendo que “é a hora de mostrar que o Brasil não é melhor apenas comparativamente, mas também competitivamente aos outros países”. (#Envolverde)

03 fevereiro 2016

Tratamento de resíduos ocupa áreas do centro de Paris

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Foto: Reinaldo Canto
Fotos: Reinaldo Canto
Durante a COP 21 franceses revelam orgulho por suas usinas de tratamento de lixo.
Por Reinaldo Canto, especial de Paris para a Envolverde
Um evento importante como uma Conferência Climática de alcance mundial, também é uma oportunidade para que as cidades sede apresentem os seus exemplos de ações e soluções ambientais positivos. Claro que aquilo que não seja motivo de orgulho… talvez seja melhor esconder. Ainda mais que para a capital francesa chegaram a estar mais de 3 mil jornalistas de todos os cantos do mundo em busca de notícias.
E, falando de mostrar e esconder, o lixo ou melhor dizendo resíduos, em boa parte do planeta esse é um bom motivo para tirar da frente de todos, deixar bem longe dos olhares, ainda mais de nós jornalistas, doidos para descobrir coisas que nem sempre querem ser mostradas. Pois bem, não é o caso de duas usinas de lixo, opa, de novo, de resíduos, visitadas por jornalistas nesta sexta-feira de manhã ensolarada em Paris.
No centro mais conhecido da cidade luz, estamos acostumados a ver coisas belas como o Museu do Louvre, o Arco do Triunfo e a Torre Eiffel. Ao ser convidado para essa visita, imaginei uma longa viagem de ônibus para locais distantes e bem longe dos cartões postais. Pois para minha surpresa, a demora em chegar ao local nada teve a ver com distância, mas com o trânsito pesado na manhã de sexta-feira, pois ambas as usinas visitadas se encontram no centro de Paris, bem pertinho dos locais mais famosos da cidade.
residuos2A empresa Syctom, l’agence métropolitaine des dechets ménagers (Agencia Metropolitana de Gerenciamento de Resíduos) é a responsável pelo tratamento dos resíduos de Paris. Nas seis unidades por ela administrada são recolhidos os resíduos de 5,7 milhões de parisienses, sendo que 80% são reciclados e apenas 20%, considerados rejeitos, são incinerados.
Estivemos em uma unidade de reciclagem que possui capacidade para reciclar 20 mil toneladas de resíduos por ano. Os materiais ali recebidos, separados e posteriormente prensados, possuem destino certo para indústrias das mais variadas atividades, de papel, ferro e de embalagens plásticas, por exemplo.
Já na usina de incineração, o seu lado externo parece um limpo e organizado prédio de escritórios e apenas uma fumaça branca revela outra coisa que não pode ser vista de fora. Já dentro, o que se vê é como um filme de terror com garras metálicas e materiais sendo despejados constantemente. Graças à queima desses rejeitos, 500 mil residências de Paris são aquecidas todos os anos.
Mais do que o bom e eficiente sistema de coleta e reciclagem de Paris, o que chamou a atenção, realmente, foi o fato de ser algo bem visível, afinal eles nada tem a esconder. Lixo a gente joga debaixo do tapete, já resíduo é algo bom e merece atenção, claro que não tanto quanto a Torre Eiffel, ok? Também não vamos exagerar!! (#Envolverde)


Reinaldo Canto é jornalista especializado em Sustentabilidade e Consumo Consciente e pós-graduado em Inteligência Empresarial e Gestão do Conhecimento. Passou pelas principais emissoras de televisão e rádio do País. Foi diretor de comunicação do Greenpeace Brasil, coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e colaborador do Instituto Ethos. Atualmente é colaborador e parceiro da Envolverde, colunista de Carta Capital e assessor de imprensa e consultor da ONG Iniciativa Verde.