04 maio 2013

Os efeitos colaterais do tal progresso

Índice de poluição por ozônio bate recorde e compromete a saúde do paulistano. 

Por Reinaldo Canto


Infelizmente ainda existem muitas dificuldades e resistências para que possamos analisar criticamente o chamado modelo de desenvolvimento. Questionar o crescimento determinado pelos critérios tradicionais estabelecidos pelo Produto Interno Bruto – PIB, invariavelmente,  são contestados como conversa de ambientalistas ou de quem é contra o país.
Já ouvi o economista Eduardo Giannetti da Fonseca afirmar que, se fossem contabilizadas as perdas em recursos naturais da China, o real crescimento da potência asiática, que avançava na casa dos dois dígitos em anos recentes, seria infinitamente menor.
Pois, se é mais difícil para muitos compreenderem o valor dos fundamentais serviços ambientais que a natureza do planeta nos oferece, talvez questões que impliquem na redução da qualidade de vida, possam ser mais fáceis de entender para ouvidos moucos e conservadores.
A poluição atmosférica é um desses fatores conhecidos de nós brasileiros, principalmente daqueles moradores das grandes metrópoles. Só em São Paulo, esse tipo de poluição é responsável pela morte de 4 mil pessoas por ano e também responde por milhares de internações graças a um ar cada vez mais carregado de partículas comprometedoras à saúde humana.
Neste período do ano muita gente sofre bastante com a piora na qualidade do ar. A dificuldade na dispersão dos poluentes afeta crianças e idosos em maior número, mas outras faixas etárias também são impactadas.
O maior responsável nas grandes cidades, claro, é o nefasto escapamento dos carros a soltar seus gases poluentes para serem consumidos livremente por nossos pulmões. E, por mais que muitos resistam à ideia de limitar o número de veículos a circular pela cidade dando prioridade ao transporte público, mas sim investir e implantar tecnologias menos poluentes, a realidade se mostra mais forte. É verdade que um carro deste século XXI polui muito menos que um veículo dos anos 70 do século passado, nem por isso respiramos um ar melhor. Simplesmente porque existem mais carros hoje do que no passado.
Situação piora sem solução no horizonte
Na semana passada foram divulgadas novas informações que comprometem ainda mais a saúde dos paulistas. A poluição por ozônio bateu um novo recorde na Região Metropolitana de São Paulo chegando ao pior nível em 10 anos. Para o professor Paulo Saldiva, coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica da USP, “o ozônio está fora de controle” (Estadão, 23/04). Segundo o pesquisador, a péssima qualidade dos nossos combustíveis, associado a poucas chuvas e temperaturas mais altas, criaram um ambiente propício à piora na qualidade do ar.
Chegará o dia, esperemos que não seja muito tarde, em que será preciso equilibrar o tal progresso baseado no aumento do lucro e nos ganhos imediatos com os reais interesses das pessoas e levando em conta os limites ambientais.  Afinal, o verdadeiro progresso não deve se basear meramente no aumento do poder de consumo, mas em elementos que possibilitem melhorar a qualidade de vida de vida de todos. Respirar um ar limpo, beber água pura e ter uma alimentação saudável devem preceder quaisquer fatores econômicos.

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