Por
Reinaldo Canto
Enquanto
áridas discussões tomam conta do palco principal da Conferência das Nações
Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, aqui no Riocentro algumas
boas iniciativas surgem do lado de fora do encontro principal.
Os prefeitos de algumas das cidades mais
populosas do mundo, reunidos no fórum C40, decidiram estabelecer metas de
reduzir a emissão dos gases de efeito estufa em 248 milhões de toneladas até
2020 e de 1,3 bilhões de toneladas até 2030.
A título de comparação, a diminuição das
emissões até 2030 é o correspondente aos que México e Canadá juntos lançam para
a atmosfera anualmente. Durante o anúncio, o prefeito de Nova York Michael
Bloomberg afirmou que “o acordo mostra o forte compromisso das cidades para
liderar a luta contra a mudança climática”.
O C40 é formado por 59 cidades cuja população
total ultrapassa os 544 milhões de pessoas, e só elas são responsáveis por 14%
das emissões dos gases causadores do aquecimento global.
Bloomberg também não perdeu a oportunidade de
alfinetar os integrantes do encontro oficial: “Não podemos esperar as decisões
dos governos (nacionais)”.
Texto fraco e decepcionante
E o prefeito de Nova York não deve esperar mesmo, caso a conferência siga os passos do texto consensual apresentado pelo Brasil.
E o prefeito de Nova York não deve esperar mesmo, caso a conferência siga os passos do texto consensual apresentado pelo Brasil.
Criticado por todos, o documento buscou
conciliar os interesses de europeus de um lado, norte-americanos de outro, além
de tentar agradar aos países em desenvolvimento. Resultado: não agradou a
ninguém, pois a ausência de compromissos concretos tornou o texto vago e vazio
demais até mesmo para os céticos.
Conforme definiu Antonio Patriota, ministro
das Relações Exteriores, “todos estão igualmente insatisfeitos, mas entendendo
que é o único caminho para o acordo”. Mas, estamos falando de que tipo de
acordo?
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Não restam dúvidas quanto as dificuldades
enfrentadas pelo Brasil para administrar interesses tão díspares. De
qualquer forma, da maneira que foi conduzido, a Conferência Rio+20 irá
simplesmente “jogar” para 2014 algumas de suas principais incumbências.
Em relação ao financiamento de ações em prol
do desenvolvimento sustentável, entre eles, a erradicação da pobreza e o acesso
à água, por exemplo, a tarefa de definir recursos e a criação de um fundo com
as respectivas fontes de financiamento ficarão a cargo de um comitê
intergovernamental até 2014.
Até mesmo os chamados Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável, tão caros aos organizadores do encontro, vão
também ficar para depois. Um grupo de trabalho estará incumbido de estabelecer
suas metas e, posteriormente serão entregues à Assembléia das Nações Unidas no
final de 2014.
Ao menos duas questões parecem ter atingido a
unanimidade até a manhã desta quinta-feira 21: a insatisfação geral e a
inadiável necessidade de buscar novos caminhos para a humanidade.
O documento-base das discussões que ocorrem
aqui no Rio de Janeiro cita inúmeras vezes a palavra “urgente” deixando uma
clara ideia da preocupação compartilhada por todos os países. E se ao lado da
urgência é nítida a insatisfação reinante entre os participantes da
conferencia, o que será preciso para uma mudança no comportamento letárgico das
delegações?
Talvez, para começo de conversa, ao menos
ouvir com mais atenção os muitos sinais que chegam a todo momento do lado de
fora dos muros e paredes do Riocentro.
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