Por Reinaldo Canto*
As principais redes supermercadistas de São Paulo anunciam, por meio de cartazes e panfletos, que está chegando ao fim a entrega “gratuita” das sacolinhas plásticas em suas lojas. A campanha denominada “Vamos Tirar o Planeta do Sufoco” lançada pela APAS, a Associação Paulista de Supermercados, estipula a data de 25/01 para, conforme divulgado, “as sacolas descartáveis deverão ser substituídas por uma opção mais sustentável”. A mudança vai atingir os estabelecimentos associados em 150 cidades onde residem 80% da população do estado de São Paulo.
A campanha da APAS informa que apenas na capital são consumidas, mensalmente, 2,5 bilhões de sacolinhas descartáveis. Ainda para justificar a ação, enfatiza: “vamos começar desde já a cuidar do planeta e do futuro das próximas gerações. É um problema de todos nós e somente juntos podemos conquistar grandes vitórias”.
A iniciativa da entidade dos supermercadistas de São Paulo acabou, em parte, por substituir a lei sancionada em maio do ano passado pelo prefeito da capital Gilberto Kassab. Segundo a lei as sacolinhas plásticas deveriam ser banidas dos supermercados da cidade a partir de 1º de janeiro de 2012. A medida foi barrada por uma decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo suspendendo a entrada em vigor da lei. Até segunda ordem, a liminar mantêm as sacolas descartáveis livres da extinção.
Mais severas ou menos rígidas, o certo é que nos últimos anos temos assistido a uma cruzada que, invariavelmente, tem buscado cercear o uso das sacolinhas.
Entre os consumidores há os que defendem o seu banimento total e outros alegam ser difícil viver sem as onipresentes sacolas plásticas. Quanto à campanha da APAS, uma pesquisa informal feita por esse missivista em três supermercados da capital, constatou que os clientes demonstram perplexidade, surpresa e alguns mesmos afirmam que antes de ser uma medida positiva para o meio ambiente, ela será muito boa para “os próprios supermercados”.
Mas o que fez com que as sacolinhas passassem de solução genial para vilã destinada ao banimento? Eis a questão que nos últimos anos ganhou status de Fla x Flu.
Uma nova realidade de plástico
Ela surgiu na vida do brasileiro lá nos anos 1970. E a novidade não tardou em conseguir um lugar de destaque na vida dos consumidores. As, até então, tradicionais sacolas de papel, caixas de papelão e carrinhos de feira, perderam seu espaço para as sacolinhas descartáveis. Práticas, eficientes e baratas, logo elas dominaram o cenário das compras e dos transportes de pequenos objetos. Por onde quer que se olhasse, lá estavam elas soberanas nas mãos de toda a gente.
Mas, infelizmente, a sua presença não se restringiu as nobres funções. O uso, e mesmo o descarte indiscriminado, transformou as sacolinhas de polietileno confeccionadas a partir de derivados de petróleo, em grandes vilãs.
Despejadas no meio ambiente sua decomposição pode demorar algumas centenas de anos. Pesquisas indicam que esse período é oitocentas vezes maior que o necessário para a natural eliminação de materiais como papel ou papelão. Se o lixo orgânico, por exemplo, pode levar entre 2 meses e um ano para se decompor naturalmente, os plásticos permanecem impávidos, sem agentes como minhocas, fungos e bactérias que façam esse serviço.
Ao boiar em rios e mares, provocam a morte de peixes por asfixiamento. Nos lixões e aterros sanitários elas dificultam a degradação de outros materiais e na época das fortes chuvas entopem bueiros e contribuem para as enchentes.
Afinal diante de tantos malefícios, a sacolinha não é, definitivamente, um demônio em forma de plástico? A resposta é: claro que não!
Os maiores problemas residem na maneira indiscriminada de seu uso e, posterior descarte, sem o menor cuidado e responsabilidade por parte expressiva da população brasileira.
Acredito que entre a sua proibição total como prevê a lei paulistana e a iniciativa da APAS, fico sem dúvida com a segunda. Nada melhor do que “pesar no bolso” para fazer com que os “menos conscientes” pensem duas vezes antes de lançar mão de mais sacolinhas ou até mesmo jogá-las em qualquer lugar.
Por outro lado, é importante também beneficiar o cliente com a nova medida, não só com o apelo de “salvar o planeta”. Como? Em primeiro lugar premiando aqueles que utilizarem sacolas retornáveis, pois a sensação legítima dos clientes é a de que com a cobrança, os supermercados irão “ganhar mais dinheiro” e toda a iniciativa não passaria de apenas mais uma forma de engordar os lucros.
As grandes cadeias varejistas são potenciais transformadoras na busca de uma sociedade mais justa e sustentável, mas as ações precisam ser bastante claras quanto aos seus objetivos. Quanto melhor informados e beneficiados nas boas atitudes, mais fiéis serão os consumidores. Dessa maneira, se todos estiverem sintonizados e conscientes, aí sim, poderemos dizer que estamos juntos na luta pelo futuro do planeta.
*Reinaldo Canto é jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de Comunicação do Greenpeace e coordenador de Comunicação do Instituto Akatu. É colunista da revista Carta Capital, colaborador da Envolverde e professor de Gestão Ambiental na FAPPES.
Artigo publicado originalmente na coluna do autor no site da revista Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/carta-verde/a-vida-sem-as-sacolas-plasticas/?autor=599
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18 janeiro 2012
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