Por Reinaldo Canto*
Não desejo causar polêmica, muito menos ser condenado ao fogo dos infernos que habitam as profundezas de nossa eternidade, mas diante de fatos incontestáveis sou obrigado a fazer uma categórica afirmação que a alguns poderá parecer absurda:
- O mundo é redondo ou pelo menos algo muito próximo disso!
Claro que para alguns pode soar óbvio demais, já que a constatação cartesiana foi provada há muito tempo e ainda temos imagens de satélites capazes de refutar quaisquer outras teorias e interpretações a respeito da circunferência terrena.
Portanto, a troco de que inicio estas linhas temeroso de causar espanto e de receber admoestações e críticas por “chover no molhado”?
Simples: é que se fosse tão óbvio, como explicar que a lógica fordista, uma longa linha de produção a principiar na extração das matérias-primas passando por sua transformação em produtos, depois o consumo e, posteriormente, um simples e irreal descarte, funcione apenas como se vivêssemos numa infinita e eterna linha reta.
Era assim que pensavam alguns dos nossos primeiros navegantes. Ao singrar e enfrentar os mares desconhecidos eles teriam pela frente um mundo plano e contínuo e temerosos de cruzar com monstros e dragões a espreita, além de precipícios sem fundo. Mas aí surgiram nossos primeiros astrônomos e cientistas que ousaram, por meio da observação e cálculos precisos, provar, por A mais B, que habitamos um belo, finito e frágil planeta redondo, pois sim!
Se então apresentamos esse formato e contamos com recursos limitados existentes em nossa pequena esfera, por que estamos a esgotar tudo o que temos de maneira cada vez mais rápida e frenética?
Por que utilizamos materiais essenciais à sobrevivência da humanidade para produzir supérfluos em ritmo alucinante e, depois, com a mesma celeridade “jogamos fora” como se fossem coisas imprestáveis?
Em artigo recente fiz menção a constatações do relatório O Estado do Mundo publicado no ano passado de que nos dias atuais são extraídos 50% mais recursos naturais do que há 30 anos. São cerca de 60 bilhões de toneladas anuais de recursos arrancados do planeta.
Quando alguns, mesmo diante dessas obviedades ululantes, ainda se encorajam a dizer que são ações necessárias para se obter o crescimento econômico, podemos elaborar o seguinte questionamento:
- Afinal, sobre qual “crescimento” estamos nos referindo?
Será o tipo do qual o professor Ladislaw Dowbor, da PUC de São Paulo costuma se referir? Segundo ele, o nosso crescimento é baseado na lógica da célula cancerígena, ou seja, é o de crescer por crescer e nada mais.
As novas tecnologias foram responsáveis por mudanças extraordinárias, dignas dos sonhos de muitos de nossos ficcionistas mais famosos, mas, em quase todas elas, o modelo de produção é a mesma desde os primórdios da Revolução Industrial. As fábricas evoluíram em sofisticação e velocidade, mas a lógica fordista segue lá, seja no que era usado para produzir o Ford T nos anos 1920, ou agora nos tablets e ipods de última geração.
O que fica muito claro nessa dinâmica estúpida é a necessidade que temos de parar por alguns momentos e refletir sobre o produzir por produzir, o crescer por crescer, o comprar por comprar e por aí vai.
Talvez precisemos de um pouco mais de questionamentos filosóficos, daqueles que retomem as perguntas simples formuladas na Grécia antiga sobre as próprias razões de nossa existência. Por que e para que estamos aqui? Para consumir de maneira totalmente irresponsável tudo o que temos de melhor no planeta Terra? Provavelmente não seja essa a melhor resposta!
*Reinaldo Canto é jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de Comunicação do Greenpeace e coordenador de Comunicação do Instituto Akatu. É colunista da revista Carta Capital, colaborador da Envolverde e professor de Gestão Ambiental na FAPPES.
Artigo publicado originalmente na coluna do autor no site da revista Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/carta-verde/a-logica-ilogica-de-um-mundo-linear-e-infinito/?autor=599
Blog: cantodasustentabilidade.blogspot.com
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29 janeiro 2012
18 janeiro 2012
A VIDA SEM AS SACOLAS PLÁSTICAS
Por Reinaldo Canto*
As principais redes supermercadistas de São Paulo anunciam, por meio de cartazes e panfletos, que está chegando ao fim a entrega “gratuita” das sacolinhas plásticas em suas lojas. A campanha denominada “Vamos Tirar o Planeta do Sufoco” lançada pela APAS, a Associação Paulista de Supermercados, estipula a data de 25/01 para, conforme divulgado, “as sacolas descartáveis deverão ser substituídas por uma opção mais sustentável”. A mudança vai atingir os estabelecimentos associados em 150 cidades onde residem 80% da população do estado de São Paulo.
A campanha da APAS informa que apenas na capital são consumidas, mensalmente, 2,5 bilhões de sacolinhas descartáveis. Ainda para justificar a ação, enfatiza: “vamos começar desde já a cuidar do planeta e do futuro das próximas gerações. É um problema de todos nós e somente juntos podemos conquistar grandes vitórias”.
A iniciativa da entidade dos supermercadistas de São Paulo acabou, em parte, por substituir a lei sancionada em maio do ano passado pelo prefeito da capital Gilberto Kassab. Segundo a lei as sacolinhas plásticas deveriam ser banidas dos supermercados da cidade a partir de 1º de janeiro de 2012. A medida foi barrada por uma decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo suspendendo a entrada em vigor da lei. Até segunda ordem, a liminar mantêm as sacolas descartáveis livres da extinção.
Mais severas ou menos rígidas, o certo é que nos últimos anos temos assistido a uma cruzada que, invariavelmente, tem buscado cercear o uso das sacolinhas.
Entre os consumidores há os que defendem o seu banimento total e outros alegam ser difícil viver sem as onipresentes sacolas plásticas. Quanto à campanha da APAS, uma pesquisa informal feita por esse missivista em três supermercados da capital, constatou que os clientes demonstram perplexidade, surpresa e alguns mesmos afirmam que antes de ser uma medida positiva para o meio ambiente, ela será muito boa para “os próprios supermercados”.
Mas o que fez com que as sacolinhas passassem de solução genial para vilã destinada ao banimento? Eis a questão que nos últimos anos ganhou status de Fla x Flu.
Uma nova realidade de plástico
Ela surgiu na vida do brasileiro lá nos anos 1970. E a novidade não tardou em conseguir um lugar de destaque na vida dos consumidores. As, até então, tradicionais sacolas de papel, caixas de papelão e carrinhos de feira, perderam seu espaço para as sacolinhas descartáveis. Práticas, eficientes e baratas, logo elas dominaram o cenário das compras e dos transportes de pequenos objetos. Por onde quer que se olhasse, lá estavam elas soberanas nas mãos de toda a gente.
Mas, infelizmente, a sua presença não se restringiu as nobres funções. O uso, e mesmo o descarte indiscriminado, transformou as sacolinhas de polietileno confeccionadas a partir de derivados de petróleo, em grandes vilãs.
Despejadas no meio ambiente sua decomposição pode demorar algumas centenas de anos. Pesquisas indicam que esse período é oitocentas vezes maior que o necessário para a natural eliminação de materiais como papel ou papelão. Se o lixo orgânico, por exemplo, pode levar entre 2 meses e um ano para se decompor naturalmente, os plásticos permanecem impávidos, sem agentes como minhocas, fungos e bactérias que façam esse serviço.
Ao boiar em rios e mares, provocam a morte de peixes por asfixiamento. Nos lixões e aterros sanitários elas dificultam a degradação de outros materiais e na época das fortes chuvas entopem bueiros e contribuem para as enchentes.
Afinal diante de tantos malefícios, a sacolinha não é, definitivamente, um demônio em forma de plástico? A resposta é: claro que não!
Os maiores problemas residem na maneira indiscriminada de seu uso e, posterior descarte, sem o menor cuidado e responsabilidade por parte expressiva da população brasileira.
Acredito que entre a sua proibição total como prevê a lei paulistana e a iniciativa da APAS, fico sem dúvida com a segunda. Nada melhor do que “pesar no bolso” para fazer com que os “menos conscientes” pensem duas vezes antes de lançar mão de mais sacolinhas ou até mesmo jogá-las em qualquer lugar.
Por outro lado, é importante também beneficiar o cliente com a nova medida, não só com o apelo de “salvar o planeta”. Como? Em primeiro lugar premiando aqueles que utilizarem sacolas retornáveis, pois a sensação legítima dos clientes é a de que com a cobrança, os supermercados irão “ganhar mais dinheiro” e toda a iniciativa não passaria de apenas mais uma forma de engordar os lucros.
As grandes cadeias varejistas são potenciais transformadoras na busca de uma sociedade mais justa e sustentável, mas as ações precisam ser bastante claras quanto aos seus objetivos. Quanto melhor informados e beneficiados nas boas atitudes, mais fiéis serão os consumidores. Dessa maneira, se todos estiverem sintonizados e conscientes, aí sim, poderemos dizer que estamos juntos na luta pelo futuro do planeta.
*Reinaldo Canto é jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de Comunicação do Greenpeace e coordenador de Comunicação do Instituto Akatu. É colunista da revista Carta Capital, colaborador da Envolverde e professor de Gestão Ambiental na FAPPES.
Artigo publicado originalmente na coluna do autor no site da revista Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/carta-verde/a-vida-sem-as-sacolas-plasticas/?autor=599
Blog: cantodasustentabilidade.blogspot.com
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As principais redes supermercadistas de São Paulo anunciam, por meio de cartazes e panfletos, que está chegando ao fim a entrega “gratuita” das sacolinhas plásticas em suas lojas. A campanha denominada “Vamos Tirar o Planeta do Sufoco” lançada pela APAS, a Associação Paulista de Supermercados, estipula a data de 25/01 para, conforme divulgado, “as sacolas descartáveis deverão ser substituídas por uma opção mais sustentável”. A mudança vai atingir os estabelecimentos associados em 150 cidades onde residem 80% da população do estado de São Paulo.
A campanha da APAS informa que apenas na capital são consumidas, mensalmente, 2,5 bilhões de sacolinhas descartáveis. Ainda para justificar a ação, enfatiza: “vamos começar desde já a cuidar do planeta e do futuro das próximas gerações. É um problema de todos nós e somente juntos podemos conquistar grandes vitórias”.
A iniciativa da entidade dos supermercadistas de São Paulo acabou, em parte, por substituir a lei sancionada em maio do ano passado pelo prefeito da capital Gilberto Kassab. Segundo a lei as sacolinhas plásticas deveriam ser banidas dos supermercados da cidade a partir de 1º de janeiro de 2012. A medida foi barrada por uma decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo suspendendo a entrada em vigor da lei. Até segunda ordem, a liminar mantêm as sacolas descartáveis livres da extinção.
Mais severas ou menos rígidas, o certo é que nos últimos anos temos assistido a uma cruzada que, invariavelmente, tem buscado cercear o uso das sacolinhas.
Entre os consumidores há os que defendem o seu banimento total e outros alegam ser difícil viver sem as onipresentes sacolas plásticas. Quanto à campanha da APAS, uma pesquisa informal feita por esse missivista em três supermercados da capital, constatou que os clientes demonstram perplexidade, surpresa e alguns mesmos afirmam que antes de ser uma medida positiva para o meio ambiente, ela será muito boa para “os próprios supermercados”.
Mas o que fez com que as sacolinhas passassem de solução genial para vilã destinada ao banimento? Eis a questão que nos últimos anos ganhou status de Fla x Flu.
Uma nova realidade de plástico
Ela surgiu na vida do brasileiro lá nos anos 1970. E a novidade não tardou em conseguir um lugar de destaque na vida dos consumidores. As, até então, tradicionais sacolas de papel, caixas de papelão e carrinhos de feira, perderam seu espaço para as sacolinhas descartáveis. Práticas, eficientes e baratas, logo elas dominaram o cenário das compras e dos transportes de pequenos objetos. Por onde quer que se olhasse, lá estavam elas soberanas nas mãos de toda a gente.
Mas, infelizmente, a sua presença não se restringiu as nobres funções. O uso, e mesmo o descarte indiscriminado, transformou as sacolinhas de polietileno confeccionadas a partir de derivados de petróleo, em grandes vilãs.
Despejadas no meio ambiente sua decomposição pode demorar algumas centenas de anos. Pesquisas indicam que esse período é oitocentas vezes maior que o necessário para a natural eliminação de materiais como papel ou papelão. Se o lixo orgânico, por exemplo, pode levar entre 2 meses e um ano para se decompor naturalmente, os plásticos permanecem impávidos, sem agentes como minhocas, fungos e bactérias que façam esse serviço.
Ao boiar em rios e mares, provocam a morte de peixes por asfixiamento. Nos lixões e aterros sanitários elas dificultam a degradação de outros materiais e na época das fortes chuvas entopem bueiros e contribuem para as enchentes.
Afinal diante de tantos malefícios, a sacolinha não é, definitivamente, um demônio em forma de plástico? A resposta é: claro que não!
Os maiores problemas residem na maneira indiscriminada de seu uso e, posterior descarte, sem o menor cuidado e responsabilidade por parte expressiva da população brasileira.
Acredito que entre a sua proibição total como prevê a lei paulistana e a iniciativa da APAS, fico sem dúvida com a segunda. Nada melhor do que “pesar no bolso” para fazer com que os “menos conscientes” pensem duas vezes antes de lançar mão de mais sacolinhas ou até mesmo jogá-las em qualquer lugar.
Por outro lado, é importante também beneficiar o cliente com a nova medida, não só com o apelo de “salvar o planeta”. Como? Em primeiro lugar premiando aqueles que utilizarem sacolas retornáveis, pois a sensação legítima dos clientes é a de que com a cobrança, os supermercados irão “ganhar mais dinheiro” e toda a iniciativa não passaria de apenas mais uma forma de engordar os lucros.
As grandes cadeias varejistas são potenciais transformadoras na busca de uma sociedade mais justa e sustentável, mas as ações precisam ser bastante claras quanto aos seus objetivos. Quanto melhor informados e beneficiados nas boas atitudes, mais fiéis serão os consumidores. Dessa maneira, se todos estiverem sintonizados e conscientes, aí sim, poderemos dizer que estamos juntos na luta pelo futuro do planeta.
*Reinaldo Canto é jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de Comunicação do Greenpeace e coordenador de Comunicação do Instituto Akatu. É colunista da revista Carta Capital, colaborador da Envolverde e professor de Gestão Ambiental na FAPPES.
Artigo publicado originalmente na coluna do autor no site da revista Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/carta-verde/a-vida-sem-as-sacolas-plasticas/?autor=599
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04 janeiro 2012
Um ano realmente novo ou seguiremos na mesma batida da irracionalidade?
Por Reinaldo Canto*
Começo de ano é propício para a realização de reflexões, avaliações e promessas de todos os gêneros. As chamadas resoluções de ano novo servem para o estabelecimento de compromissos diversos que vão de mudanças de atitudes em relação aos outros e a si mesmo. Se depender da nossa vontade, seremos mais tolerantes, generosos, cultos, saudáveis e responsáveis, neste ano que se inicia, do que fomos em todos os anos anteriores de nossas vidas.
Certamente muitos dos nossos sinceros desejos não serão capazes de resistir ao primeiro mês, tragados pela dinâmica de nosso cotidiano. De qualquer modo, a passagem de ano possui esse efeito positivo. Não custa nada parar um momento para, quem sabe, redirecionar diversos aspectos de nossa vida.
Bom seria que fizéssemos também uma boa análise, mais abrangente mesmo, em dimensões globais sobre a irracional e destrutiva maneira pela qual estamos consumindo o planeta. E, isso não é maneira de dizer, literalmente estamos sugando os recursos planetários e o pior, não necessariamente para dar melhores condições de vida para todos os seres humanos. Até podemos afirmar: muito pelo contrário! O que temos feito é consumir mais rápido e descartar também em ritmo cada vez mais veloz.
Um bom exemplo são os celulares. Em 2007 os brasileiros trocavam seus aparelhos, em média, a cada dois anos. Atualmente essa troca já está sendo feita em 1 ano e 4 meses. Esse é apenas um caso entre muitos de produtos antes chamados de duráveis que tem se transformado ao longo dos anos em verdadeiras commodities.
O relatório O Estado do Mundo publicado ainda no ano passado pelo World Watch Institute e com versão em português divulgado pelo Instituto Akatu pelo Consumo Consciente já havia constatado essa preocupante situação. Só para se ter ideia das conclusões alcançadas pelo estudo, hoje são extraídos 50% mais recursos naturais do que há 30 anos. São cerca de 60 bilhões de toneladas anuais retiradas do planeta sem a devida reposição.
Entre 1950 e 2005, aponta o relatório, a produção de petróleo cresceu 8 vezes, a de metais 6, o consumo de gás natural 14, a de carvão 6 vezes e a de cobre, 25 vezes. Números assustadores, certo? Pois, vejam que podem ser ainda mais alarmantes, só a produção de plástico cresceu nesse período de pouco mais de 50 anos, 41 vezes!
Como disse antes, se ao menos toda essa voracidade tivesse o nobre objetivo de melhorar a vida de todos os habitantes do planeta... vá lá! Mas não é isso que o Estado do Mundo constatou. Segundo o documento, a fatia dos 16% mais ricos do mundo são diretamente responsáveis pelo consumo de 78% dos recursos disponíveis. Enquanto os outros 84% consomem 22%!
Entre as diversas e difíceis promessas de ano novo poderia constar uma que, no meu entender, teria boas chances de sucesso, bastando apenas uma pequena reflexão do consumidor: estou consumindo o que realmente preciso? Tenho exagerado nas minhas compras e desperdiçado demais?
Quem sabe se ao pensar nisso, a gente não conclua que alguns exageros poderão ser evitados daqui para frente. Uma sociedade mais consciente poderá contribuir em muito para frear o consumo irracional e desenfreado.
Para finalizar, mais alguns números insanos que irão ajudar na sua reflexão: Em 2008, nós habitantes do planeta adquirimos 68 milhões de veículos, 85 milhões de geladeiras, 297 milhões de computadores e 1,2 bilhão de celulares. Você imagina que esses números sofreram alguma redução nos anos seguintes?
Um feliz 2012 mais sustentável!
* Reinaldo Canto é jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de Comunicação do Greenpeace e coordenador de Comunicação do Instituto Akatu. É colunista da revista Carta Capital, colaborador da Envolverde e professor de Gestão Ambiental na FAPPES.
Artigo publicado originalmente na coluna do autor no site da revista Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/carta-verde/um-ano-realmente-novo-ou-seguiremos-na-mesma-batida-da-irracionalidade/?autor=599
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Começo de ano é propício para a realização de reflexões, avaliações e promessas de todos os gêneros. As chamadas resoluções de ano novo servem para o estabelecimento de compromissos diversos que vão de mudanças de atitudes em relação aos outros e a si mesmo. Se depender da nossa vontade, seremos mais tolerantes, generosos, cultos, saudáveis e responsáveis, neste ano que se inicia, do que fomos em todos os anos anteriores de nossas vidas.
Certamente muitos dos nossos sinceros desejos não serão capazes de resistir ao primeiro mês, tragados pela dinâmica de nosso cotidiano. De qualquer modo, a passagem de ano possui esse efeito positivo. Não custa nada parar um momento para, quem sabe, redirecionar diversos aspectos de nossa vida.
Bom seria que fizéssemos também uma boa análise, mais abrangente mesmo, em dimensões globais sobre a irracional e destrutiva maneira pela qual estamos consumindo o planeta. E, isso não é maneira de dizer, literalmente estamos sugando os recursos planetários e o pior, não necessariamente para dar melhores condições de vida para todos os seres humanos. Até podemos afirmar: muito pelo contrário! O que temos feito é consumir mais rápido e descartar também em ritmo cada vez mais veloz.
Um bom exemplo são os celulares. Em 2007 os brasileiros trocavam seus aparelhos, em média, a cada dois anos. Atualmente essa troca já está sendo feita em 1 ano e 4 meses. Esse é apenas um caso entre muitos de produtos antes chamados de duráveis que tem se transformado ao longo dos anos em verdadeiras commodities.
O relatório O Estado do Mundo publicado ainda no ano passado pelo World Watch Institute e com versão em português divulgado pelo Instituto Akatu pelo Consumo Consciente já havia constatado essa preocupante situação. Só para se ter ideia das conclusões alcançadas pelo estudo, hoje são extraídos 50% mais recursos naturais do que há 30 anos. São cerca de 60 bilhões de toneladas anuais retiradas do planeta sem a devida reposição.
Entre 1950 e 2005, aponta o relatório, a produção de petróleo cresceu 8 vezes, a de metais 6, o consumo de gás natural 14, a de carvão 6 vezes e a de cobre, 25 vezes. Números assustadores, certo? Pois, vejam que podem ser ainda mais alarmantes, só a produção de plástico cresceu nesse período de pouco mais de 50 anos, 41 vezes!
Como disse antes, se ao menos toda essa voracidade tivesse o nobre objetivo de melhorar a vida de todos os habitantes do planeta... vá lá! Mas não é isso que o Estado do Mundo constatou. Segundo o documento, a fatia dos 16% mais ricos do mundo são diretamente responsáveis pelo consumo de 78% dos recursos disponíveis. Enquanto os outros 84% consomem 22%!
Entre as diversas e difíceis promessas de ano novo poderia constar uma que, no meu entender, teria boas chances de sucesso, bastando apenas uma pequena reflexão do consumidor: estou consumindo o que realmente preciso? Tenho exagerado nas minhas compras e desperdiçado demais?
Quem sabe se ao pensar nisso, a gente não conclua que alguns exageros poderão ser evitados daqui para frente. Uma sociedade mais consciente poderá contribuir em muito para frear o consumo irracional e desenfreado.
Para finalizar, mais alguns números insanos que irão ajudar na sua reflexão: Em 2008, nós habitantes do planeta adquirimos 68 milhões de veículos, 85 milhões de geladeiras, 297 milhões de computadores e 1,2 bilhão de celulares. Você imagina que esses números sofreram alguma redução nos anos seguintes?
Um feliz 2012 mais sustentável!
* Reinaldo Canto é jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de Comunicação do Greenpeace e coordenador de Comunicação do Instituto Akatu. É colunista da revista Carta Capital, colaborador da Envolverde e professor de Gestão Ambiental na FAPPES.
Artigo publicado originalmente na coluna do autor no site da revista Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/carta-verde/um-ano-realmente-novo-ou-seguiremos-na-mesma-batida-da-irracionalidade/?autor=599
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