24 novembro 2011

UMA REFLEXÃO SOBRE O FUTURO DO TRANSPORTE NAS CIDADES

Por Reinaldo Canto*

No último dia 22/09 ocorreu mais uma edição do Dia Mundial Sem Carro. Ocasião que serve ou deveria servir para pensar e refletir sobre a crescente dependência de veículos de transporte individual. Qual o futuro dessa opção? Quais os limites para o crescimento da indústria automobilística? Será possível equacionar o fato de que milhares de novos carros sejam despejados todos os meses nas ruas de nossas maiores cidades com a busca pela sustentabilidade e qualidade de vida de seus habitantes?

Vivemos um estranho e perigoso momento sem que tenhamos idéia de como sair dele. Só no ano passado, segundo a Anfavea - a associação dos fabricantes de veículos - foram vendidos 3,5 milhões de automóveis no país. As grandes cidades brasileiras estão abarrotadas de carros, em geral com apenas um ocupante em seu interior. Nos últimos anos, com o crescimento econômico e a comemorada ascensão social, o automóvel deixou de ser apenas um sonho de consumo de muitas pessoas para se tornar uma realidade ao alcance dos bolsos ou via crediário. Esse quadro que já vinha se desenhando ao longo do tempo acelerou muito em anos recentes. Os sucessivos recordes de produção da indústria automobilística obrigam a transformar fortemente a paisagem e a arquitetura das cidades. O carro adquire assim um protagonismo absoluto preenchendo e desvirtuando os espaços antes ocupados pelas pessoas.

É óbvio que se imaginarmos qualquer grande cidade brasileira sem carros da maneira como estão hoje configuradas, o caos seria inevitável. Nossos ônibus e trens do metrô já circulam com níveis de lotação máxima ou até mesmo, acima disso, quando esses veículos de transporte coletivo se transformam, em ”latas de sardinha”.

Por outro lado, se não vivemos atualmente um colapso urbano, parece que isso é apenas uma questão de tempo. Afinal, quantos novos viadutos terão de ser construídos, quantas novas avenidas precisarão ser rasgadas redesenhando e desfigurando o espaço urbano e substituindo espaços de ocupação legítimos das pessoas, ao reduzir ou mesmo eliminar calçadas, calçadões e praças? Quantos milhões, bilhões de reais ainda serão gastos para obras viárias que privilegiam o automóvel?

Uma cidade sem carros antes de mais nada, teria naturalmente de garantir um transporte coletivo eficiente, seguro e pontual; ciclovias espalhadas por todas as regiões e vistas mais como corredores de tráfego do que meramente para passeios e as calçadas seriam utilizadas naturalmente pelas pessoas, pois deixariam de parecer crateras lunares ou pistas para disputas de rally.

Praças, parques, calçadões e bulevares passariam a ser regra e não exceção. Os moradores da cidade, bem como seus visitantes recuperariam o que nunca deveriam ter perdido: a ocupação natural e democrática de todos os espaços públicos da cidade.

* Reinaldo Canto é jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de Comunicação do Greenpeace e coordenador de Comunicação do Instituto Akatu. É colaborador da Envolverde e professor de Gestão Ambiental na FAPPES.

PUBLICADO ORIGINALMENTE NO JORNAL DA TARDE EM 24/10/11

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