19 junho 2009

O QUE SUSTENTABILIDADE TEM A VER COM CIDADANIA

Foi no final de 2002 ao participar do evento Imprensa Verde em Belo Horizonte, que o Secretário de Meio Ambiente da cidade falou sobre uma reclamação freqüente da população: a sujeira constante da Praça Independência, no centro da cidade. Ele explicou que ali eram feitas de 4 a 5 varrições diárias, mesmo assim, a praça estava sempre suja.

Isso me fez refletir sobre o que de verdade acontece com o espaço público notadamente em nosso país. O que faz com que ocorra esse desrespeito ao que pertence a todos? Jogar lixo nas ruas, canteiros e praças é tão comum que já não nos espanta. Por vezes, é verdade, incomoda e, imediatamente, nossa ira é direcionada ao serviço público sempre chamado de ineficiente e corrupto.

Voltando ao secretário da capital mineira, ele fez a seguinte pergunta aos presentes: o que deveria ser feito? Aumentar o número de varrições o que talvez prejudique a realização de alguma outra atividade ou as pessoas poderiam deixar de jogar lixo na praça e utilizar as lixeiras ali presentes? Isso nos faz refletir, pois se existe a responsabilidade do setor público, qual é a responsabilidade individual do cidadão? Não é também zelar pelas melhores condições dos espaços coletivos? Ou será que devo cuidar apenas do que realmente me pertence e a minha família?

Se o que é público não nos pertence, interessante verificar como no sentido oposto existem aqueles que querem se apossar do patrimônio público. Quem não conhece exemplos de condomínios que fecham ruas públicas, impedindo que outras pessoas exerçam o direito de ir e vir; de terras griladas pertencentes à União ou mesmo fechar praias transformando um patrimônio nacional em propriedade privada?

Outros exemplos como bares e estabelecimentos comerciais que ocupam calçadas restringindo a livre circulação. Além do flagelo das vagas públicas de veículos que se tornam particulares para serem exploradas por grupos ou reservadas para comércio e edifícios.

Todos esses exemplos, tanto do espaço público como terra de ninguém, as tentativas de se apoderar dos bens coletivos, pertencem ao mesmo círculo vicioso que coloca nossos interesses individuais acima dos coletivos. Não é à toa que motoristas desrespeitem todo o tempo as mais banais leis de trânsito, em nome do seu direito individual de se sobrepor ao direito geral.

Como afirma o jornalista Dal Marcondes ao fazer uma reflexão ao observar de uma esquina durante apenas cinco minutos, 35 infrações de trânsito: - se não é possível manter um guarda em cada esquina, seria perfeitamente viável ter um cidadão em cada veículo. E aí muitos dos nossos problemas coletivos seriam minimizados ou simplesmente desapareceriam.

Ainda podemos citar o incrível e recorrente desrespeito à faixa de pedestres. Mesmo em flagrante desrespeito ao Código Brasileiro de Trânsito, os motoristas exercem o poder supremo diante do frágil pedestre. O respeito quando ocorre só diante de um outro igual, ou seja, outro veículo. Em São Paulo, assim como na esmagadora maioria das cidades brasileiras – com salutares exceções como Brasília e Goiânia – aquele que anda a pé é visto como um cidadão de segunda classe. Se não caminha sobre rodas deve se resignar a pelo menos não atrapalhar o fluxo dos motorizados.

Bem tudo isso para voltar ao título desse artigo: afinal, o que cidadania tem a ver com sustentabilidade?

Vale recordar o que cada um deles tem com definição:

Sustentabilidade refere-se a capacidade de atender às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades. Em outras palavras, é o equilíbrio na convivência entre o homem e o meio ambiente. Isso significa cuidar dos aspectos ambientais, sociais e econômicos e buscar alternativas para sustentar a vida na Terra sem prejudicar a qualidade de vida no futuro.
Já Cidadania (do latim,civitas,"cidade"), é o conjunto de direitos, e deveres ao qual um indivíduo está sujeito em relação à sociedade em que vive. Primeiramente, o conceito de cidadania sempre esteve fortemente atrelado à noção de direitos, especialmente os políticos. De maneira a permitir que o indivíduo intervenha, participe das decisões dos negócios públicos do Estado, de modo direto ou indireto. Desde a formação do governo e de sua administração. E esses direitos também são acompanhados de uma contrapartida de deveres em prol da coletividade, ou seja, o respeito aos direitos individuais e coletivos que trazem benefícios a sociedade em geral.
Diante desses conceitos, é possível afirmar que cidadania e sustentatibilidade tem tudo a ver!! Afinal, se cidadania é essencialmente respeito aos direitos coletivos, sustentabilidade também o é! Praticamente nasceram um para o outro apesar de muitos séculos separarem seus respectivos nascimentos. Pois se tivermos noção dos direitos e deveres coletivos e das nossas responsabilidades individuais estaremos caminhando em direção a um mundo mais harmônico, gentil e respeitoso entre humanos e, consequentemente também em relação a todas as espécies que nos cercam.

Portanto, CIDADANIA E SUSTENTABILIDADE PARA TODOS JÁ!

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