CRISE MUNDIAL DE ALIMENTOS:
A INVERSÃO DE PRIORIDADES COLOCA EM
RISCO UM NÚMERO RECORDE DE SERES HUMANOS
Por Reinaldo Canto,
especial para a Quality Magazine
Pode ser que
alguns se surpreendam, mas nós humanos somos como, quaisquer das espécies que
habitam o planeta, notadamente nas funções mais básicas e ordinárias de nossas
existências, exatamente iguais. Afinal, assim como outros seres, a principal
tarefa que nos cabe cotidianamente é a de obter alimento suficiente à nossa
própria sobrevivência. Assim mesmo,
sejamos mais ou menos inteligentes, teremos que comer, hoje, amanhã e nos dias
vindouros de nossa limitada existência. Nada muito diferente do que faz uma
minhoca, um gambá ou um sabiá.
Esta é
apenas uma, entre as muitas leis naturais há que estamos subordinados. Mesmo
assim, tem sido comum nesses tempos modernos, que a ganância ilógica dos poderosos
busque colocar o homo sapiens aquém e além do óbvio. Só assim poderemos
entender a inversão de prioridades ao colocar em risco a produção dos alimentos,
tal como temos visto com certa frequência e cada vez com situações mais graves
e alarmantes.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E PANDEMIA
Se já não bastasse o cenário de fome crescente no mundo em função
das mudanças climáticas, a pandemia do coronavírus ampliou os desafios. Segundo informações divulgadas pela FAO, o órgão das Nações Unidas para a
Alimentação e Agricultura, este ano cerca
de 49 milhões de pessoas podem cair na pobreza extrema devido à crise da
COVID-19. “O número de pessoas expostas a uma grave insegurança alimentar e
nutricional vai crescer rapidamente. A queda de um ponto percentual no Produto
Interno Bruto global significa mais 700 mil crianças raquíticas”, afirmou
Antonio Guterres, Secretário Geral da ONU.
A
FAO também alerta que mesmo em países com abundância de alimentos, há riscos de
interrupções na cadeia de abastecimento alimentar, ou seja, problemas na
produção e na distribuição que ainda agravam esse cenário.
NOVOS E VELHOS PROBLEMAS
Mas sempre é bom lembrar que não
foi a crise sanitária que criou determinados problemas, eles de certa maneira
foram potencializados, já que o contexto da fome no mundo já era
suficientemente crítico.
A
ONU lembra que centenas de milhões de pessoas já viviam esse quadro de crise
alimentar muito antes dessa pandemia, lutando diariamente contra a fome e a
desnutrição.
“Há
alimentos mais do que suficientes no mundo para alimentar a nossa população de
7,8 bilhões de pessoas. No entanto, hoje, mais de 820 milhões de pessoas passam
fome. E cerca de 144 milhões de crianças com menos de 5 anos são raquíticas,
mais do que uma em cada 5 crianças em todo o mundo”, complementou
Guterres.
Outro problema apontado por economistas
da FAO é a especulação orquestrada pelos mercados futuros. “A financeirização
por meio de manobras especulativas contribue para elevar os preços dos
alimentos”, afirma a entidade.
Especulação, fenômenos climáticos
extremos e desvio da função primordial de dar de comer as pessoas, já seriam
razões suficientes para desequilibrar toda a oferta de alimentos mundial. Mas
ainda tem mais: a má distribuição!
Estudos feitos pelas Nações
Unidas já concluíram que existem alimentos suficientes para alimentar toda a
população do planeta, o problema é que ela não chega onde mais se precisa. E,
claro não poderia ser diferente, 98% dos que passam fome, vivem em países
subdesenvolvidos.
AQUI, O PROBLEMA É O DESPERDÍCIO
Segundo maior produtor
mundial de alimentos, o Brasil produz comida suficiente para alimentar
toda a sua população e ainda exportar excedentes. Mas além da má distribuição,
um dos maiores problemas do país é o desperdício. Dados da Embrapa estimam em
uma perda diária de alimentos na casa das 40 mil toneladas. Uma quantidade
suficiente para alimentar em torno de 19 milhões de pessoas com três refeições
por dia.
Estudo do Instituto Akatu
divulgado no caderno temático “A nutrição e o consumo
consciente” nas diversas etapas pelas quais o alimento passa antes de ser
adquirido pelo consumidor ocorrem perdas que perfazem essas milhares de
toneladas de comida boa que vai parar no lixo, sendo 20% na colheita; 8% no
transporte e armazenamento; 15% na indústria de processamento e 1% no varejo.
Além disso, devem-se levar em conta todos os recursos naturais que foram
utilizados para a produção desperdiçada desses alimentos.
É POSSÍVEL MUDAR, MAS É PRECISO RAPIDEZ