A IA está entre nós e o mundo será, em parte, governado pelos algoritmos
Por Reinaldo Canto*
O certo é que o avanço da IA ao mesmo tempo que abre enormes possibilidades também apresentam temores diferentes da ficção, mas não menos desafiadores e preocupantes.
Isso foi o que constatou a pesquisa realizada pela Market Analysis e cujos resultados estão sendo publicados com exclusividade por CartaCapital.
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No início de dezembro do ano passado foram realizadas entrevistas com 513 adultos usuários da internet no país para entender e identificar as percepções da influência da inteligência artificial em diversas áreas e seu impacto no futuro das profissões.
Questões como a robotização em atividades industriais; a eficácia dos algoritmos nos atendimentos do dia a dia e até mesmo nas vendas; seu uso nos diagnósticos médicos e até mesmo nas investigações policiais e na Justiça.
São inúmeras as suas possibilidades, assim como as dúvidas que nascem da utilização maciça da inteligência artificial impactando a todos seja de maneira mais direta ou indireta. E, claro, o futuro de muitas profissões colocadas em xeque!
A questão do trabalho parece ser o que mais preocupa os brasileiros de maneira geral. A pesquisa revelou que, conforme têm sido abordado com frequência pela mídia, algumas profissões tenderão a simplesmente desaparecer. Sete em cada dez brasileiros entrevistados acreditam que trabalhadores da indústria deverão ser cada vez mais substituídos por máquinas. Uma tendência que já vem sendo observada há algum tempo em linhas de produção ocupadas por robôs. Mas não só. Perguntados sobre outras profissões, a enquete constatou que mais de metade dos pesquisados acredita que contabilistas, faxineiras, motoristas e pesquisadores de mercado, entre outros, estão com suas profissões em sério risco. Já 1 a cada 3 ou 4 entrevistados crêem que até mesmo jornalistas, professores, enfermeiras e mesmo policiais podem desaparecer. Para os entrevistados, profissões como médicos, advogados e terapeutas aparentam estar menos ameaçadas.
Interessante notar que os riscos apontados pela pesquisa colocam a inteligência artificial atuando tanto nas atividades de produção tipo “mão na massa” como na coleta e análise de dados. Um leque amplo e profundo nas quais as novas tecnologias podem atuar.
Menos assustador e mais positivo quanto às suas consequências, a pesquisa revela as boas expectativas que as pessoas nutrem quanto à influência dessa inteligência artificial em áreas como a saúde, segurança e Justiça. 59% dos ouvidos pela pesquisa acreditam que a IA pode auxiliar os médicos, mas não substituí-los. Situação semelhante no que se refere ao sistema judicial. Apesar de sua contestada eficiência, de cada 10 consultados seis demonstram receio na fria decisão apresentada por dados e números enquanto apenas 27% dos entrevistados conferem apoio a uma realidade em que a inteligência artificial ditaria as sentenças judiciais. Já para a substituição de policiais, 31% ou 1/3 das pessoas que participaram da enquete consideram o uso da IA como uma boa alternativa às falhas humanas cometidas pelos representantes da lei.
Uma das menores resistências encontradas na pesquisa se refere à mobilidade urbana, tendo como pano de fundo a irresponsabilidade de motoristas que causam anualmente mais de 50 mil mortes no país. Mais de metade dos entrevistados se mostrou favorável à substituição de policiais rodoviários e motoristas por carros autônomos.
Para Fabián Echegaray, diretor-geral da Market Analysis e responsável pela pesquisa, “na medida em que cresça a frustração com o desempenho de alguns profissionais (médicos, motoristas, cuidadores) e algumas instituições (clínicas, polícia militar, justiça), e o discurso da efetividade e ganhos econômicos da robotização se popularizar, é provável imaginar um apoio maior para iniciativas que defendam um mundo governado por algoritmos”.
Difícil será imaginar que esse cenário realmente não se aprofunde. A inteligência artificial parece que veio mesmo para ficar e o que precisamos é que ela traga reais benefícios e não seja responsável por amplificar ainda mais problemas como a indiferença às questões sociais e a exacerbação a alguns dos principais desafios da humanidade, entre eles, as mudanças climáticas e a crescente radicalização ideológica.
*Exclusiva para Carta Capital