25 julho 2017

Suspeita de corrupção afeta credibilidade de ações socioambientais

Pesquisa revela crescimento da desconfiança do brasileiro com relação às iniciativas corporativas na área de sustentabilidade

Por Reinaldo Canto*
Rogério Alves/TV Senado/Fotos Públicas
O distrito de Bento Rodrigues
A empresa Vale é uma das mais mal-avaliadas no quesito sustentabilidade. Na foto, município de Mariana (MG) alguns dias após rompimento da barragem da Mineradora Samarco
Os brasileiros estão perdendo a confiança no setor corporativo em geral, graças aos inúmeros escândalos envolvendo algumas das empresas mais importantes do setor. Consequentemente, o ceticismo está atingindo iniciativas ligadas à sustentabilidade praticadas pelo setor privado.
Isso é o que constatou a 12ª edição do estudo Monitor de Sustentabilidade Corporativa 2017, pesquisa feita anualmente pela Market Analysis e publicado com exclusividade por esta coluna.
Não está mesmo fácil pra ninguém, diria o verbete popular diante de tantos fatos desabonadores que atingem o País de cima a baixo!
Várias grandes empresas que se esforçaram ao longo dos anos para construir suas imagens viram esforços de anos serem comprometidos por, direta ou indiretamente, terem contribuído para a perda da credibilidade de todo o setor privado brasileiro.
Após a realização de 810 entrevistas com adultos entre 18 e 69 anos, em nove capitais do país, entre elas, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília, no primeiro semestre deste ano, a credibilidade das companhias brazucas caiu de 74,2% registrados em 2010 para 43,8% em 2017.
Dessa maneira, o estudo concluiu que os brasileiros passaram a demonstrar um nível recorde de descrença e indiferença quanto a identificação de bons exemplos de ações de responsabilidade social e/ou ambiental.
Na pesquisa de 2010, apenas um de cada cinco entrevistados tinha essa visão pessimista. Já em 2017 dois em cada três disseram não reconhecer exemplos positivos.
As melhores e as piores
O novo cenário apresentou um reforço à imagem da Natura, com um terço das menções positivas - também fato inédito apontado pela pesquisa - seguida depois por três multinacionais estrangeiras: Coca-Cola, Nestlé e Unilever. Fechando o quadro das cinco melhores vem a Petrobrás.
Já entre as cinco piores em sustentabilidade, em primeiríssimo lugar a JBS (dos célebres irmãos Batista), seguida pela Petrobrás, BRF (proprietária das marcas Sadia e Perdigão e envolvida na operação Carne Fraca), Odebrecht (outra grande empresa envolvida na Lava-Jato) e a Vale (mineradora que, entre outras, é proprietária da Samarco ligada a maior tragédia ambiental brasileira).
A pesquisa deste ano aponta algumas conclusões interessantes: o fato da Petrobrás fazer parte das duas listas revela o conhecimento que as pessoas têm da maior empresa brasileira, mas a citação positiva espontânea foi de apenas 1,7%, enquanto a negativa chegou a 4,5% deixando claro que a petroleira terá que aprofundar suas melhores práticas para superar essa imagem muito ainda associada à corrupção.
Também o fato de empresas estrangeiras ocuparem o espaço de companhias de capital nacional de maneira inédita nos 12 anos anteriores dessa pesquisa afasta as nossas empresas da ideia de serem ambientalmente responsáveis.
Isso, pelo menos, é o que passa pela cabeça dos consumidores. O que, diga-se de passagem, não parece nada bom para o futuro do capitalismo praticado por nossos patrícios.
Por fim, o que não surpreende é o fato das grandes empresas envolvidas nos escândalos de corrupção dos últimos anos serem citadas espontaneamente como vilãs e inimigas da responsabilidade corporativa.
Um comercial antigo dizia: “imagem não é nada, sede é tudo”! Claro, era um anúncio de bebida, mas nada mais longe da realidade imagem é sim tudo e muito mais.
Neste mundo altamente interconectado para se ter uma boa imagem é preciso fazer tudo certo cada vez mais de maneira cidadã, com responsabilidade crescente nos quesitos social e da sustentabilidade. Não atuar desse modo, começa assim como mostra a pesquisa, de uma lembrança ruim segue rapidamente para a rejeição do consumidor. Uma coisa leva a outra, rumo à extinção e lembranças nada agradáveis.
* Artigo publicado originalmente no site da Carta Capital

06 julho 2017

O QUE FALTA PARA O BRASIL SER A MAIOR POTËNCIA EM ENERGIA SOLAR?

Até pouco tempo atrás seria uma pergunta com várias respostas e desculpas, mas agora o caminho começa a ser trilhado e o futuro é promissor

Por Reinaldo Canto*

Consciência ecológica já era algo que não faltava a Luiz Alberto Vilalva, policial ambiental em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. Seu trabalho cotidiano é atuar para preservar e evitar danos ao meio ambiente. Como uma coisa puxa a outra, Luiz Alberto queria fazer mais e uma ideia, a princípio óbvia, seria a utilização da energia solar.
“Em casa somos sete pessoas, eu, minha esposa, minha mãe e quatro filhos, todos consumindo muita energia”. Filhos com idades variando de 16 a 22 anos quando estão em casa, certamente utilizam uma grande quantidade de equipamentos. Isso para não falar em seis aparelhos de ar condicionado que permanecem quase o tempo todo ligados.
Apesar de parecer uma solução simples pelo potencial energético da ensolarada cidade do Centro-Oeste brasileiro, os preços não eram convidativos. “Comecei pesquisar seis meses antes, pois os preços eram iguais aos de um carro”. Mas em novembro do ano passado Luiz Alberto decidiu contratar um projeto da NeoSolar Energia filial de Campo Grande e instalar 15 placas fotovoltaicas no telhado de sua casa.
Seis meses depois o policial se diz “extremamente feliz” e, pelas contas, irá recuperar o investimento em cinco ou seis anos, no máximo. “Sempre fui contra desperdícios e agora estou muito satisfeito de poder usufruir do conforto sem maiores problemas”.
Hugo Brandão, diretor da franquia da NeoSolar em Campo Grande e responsável pelo projeto na casa de Luiz Alberto, afirma que “a manutenção é simples e as placas possuem  garantia de 25 anos”.
E aí pergunto sobre questões antigas que sempre vêm à tona quando se fala em captação solar: E para armazenar essa energia? As baterias não são caras? E quando não tem sol, a casa fica sem energia? Calma, calma! “A instalação é simples, ligada diretamente na rede elétrica já existente”,  ou seja, nada de baterias, esclarece Brandão.
Como assim? Por meio da resolução 482/2012 a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou a instalação de equipamentos de geração distribuída de pequeno porte em residências, comércios e indústrias. Dessa forma foi criado o Sistema de Compensação de Energia. Toda a energia gerada nesses locais abastece a rede e o consumidor recebe créditos caso a energia gerada seja maior do que a consumida. Em caso contrário, paga só a diferença.
À noite, por exemplo, quando a captação solar para de produzir, a rede da companhia energética do Mato Grosso do Sul, a Energisa, é que abastece a casa do Luiz Alberto. Isso, claro, também vale para dias nublados ou chuvosos.
A resolução foi tão bem sucedida graças a redução de custos, em torno de 50%. De quatro projetos existentes em 2012, hoje são 10 mil projetos de micro e minigeração distribuída em todo o país. A Aneel estimou que até 2024 deverão ser ao menos 1,2 milhão de unidades totalizando 4,5 gigawatts (GW) desse tipo estarão aptas a gerar a sua própria energia da fonte mais abundante do mundo,  a solar.
E o setor se considera otimista? O presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Lopes Sauaia, prefere apresentar números: em relação à evolução tecnológica do setor, ele afirma que houve uma redução dos custos de produção entre 2008 e 2016 nos Estados Unidos na ordem de 83%. “Só no ano passado a redução foi de 15%”.
As razões, segundo Rodrigo, são várias: aumento da eficiência na produção de energia dos equipamentos, na fabricação dos mesmos e aumento na escala de produção. “Até 2030 a redução do custo vai continuar até se tornar uma das fontes mais baratas do mundo”, explica o presidente da entidade representativa do setor.
Em relação ao potencial brasileiro, Rodrigo Sauaia vai mais longe apresentando dados superlativos de levantamento feito pela Empresa Pesquisa Energética (EPE), ligada ao governo federal. “O potencial hidrelétrico brasileiro é de 172 gigawats boa parte localizado na Região Amazônica, o de geração eólica é de 440 GW e o solar é de 28.500 GW” e, completa, “isso representa 200 vezes a energia gerada pelas grandes usinas brasileiras”. Nessa hora ele que pergunta ao repórter: “você ainda acha que preciso responder sobre otimismo?”. Recebe de volta um sorriso silencioso!
Neste momento, a energia solar tem representação ínfima na matriz energética total do país, em torno de 0,02%, mas até 2030 deve chegar a 10% com 25 GW. Para se ter uma ideia a China já possui 75 GW e a Alemanha, 40 GW.
Nenhum desses dois países convenhamos, principalmente a Alemanha, são reconhecidos por serem ensolarados e muito menos bonitos por natureza, mesmo assim, estão bem à frente do Brasil. “Estamos atrasados pelo menos 15 anos em razão de gestões passadas por não terem dado a atenção devida a geração solar”, explica Sauaia.
Com tudo isso e mesmo diante da crise persistente dos últimos três anos, a energia solar no país avançou 400% em 2015; 320% no ano passado e são aguardados outros 300% neste ano.
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O policial ambiental Luiz Alberto Vilalva espera recuperar todo o investimento em no máximo seis anos (foto: Reinaldo Canto)
Novas empresas e geração de empregos
Foi exatamente esse potencial de crescimento do setor que motivou Hugo Brandão a abrir no ano passado uma franquia da NeoSolar em Campo Grande.
Ele ainda aguarda os bons resultados, mas acredita que existe uma demanda aquecida em busca de projetos solares, “o número de  consultas tem aumentado”. Para ele, algumas políticas públicas poderiam ajudar a impulsionar o mercado, “se tivéssemos uma linha de financiamento específica com juros mais baixos para pessoas físicas, teríamos muito mais instalações Brasil afora”.
A opinião do presidente da Absolar é semelhante e ele acredita que, neste momento, até a chamada geração centralizada, quer dizer, a energia produzida por usinas solares, também dependeria de uma política pública de incentivo para seu crescimento. Outros pontos apontados por ele como fundamentais são a redução e equalização da carga tributária.
Publicado em maio, o relatório “Mapeamento da Cadeia de Valor da Energia Solar Fotovoltaica no Brasil”, apresenta informações valiosas sobre o momento atual e o futuro do setor. Mesmo ainda incipiente, o Brasil hoje possui mais de 1.600 empresas, 400 fabricantes de componentes, oito montadoras de módulos e mais de mil fornecedores de serviços. O estudo projeta que em 2040, a energia solar irá representar 32% da matriz energética brasileira! Lembrem-se que hoje ela é de apenas 0,02%.
Até o final deste ano acredita-se que o Brasil vai chegar a 1 GW de produção solar.
No quesito geração de empregos, a solar é considerada a que mais cria vagas. São entre 25 a 30 empregos por megawatt produzido. O Portal Solar estima que nos próximos quatro anos serão gerados 100 mil novos empregos no setor e, em geral, empregos de qualidade.
O Futuro já chegou
O setor, certamente, ainda precisa de apoio, mas ações acontecem como as anunciadas recentemente pela MRV uma das empresas que mais atuam na construção de moradias do Minha Casa, Minha Vida, programa do Governo Federal. A MRV afirmou que pretende instalar módulos solares em 30% dos novos projetos e no prazo de cinco anos, todos os novos edifícios construídos por eles serão abastecidos por energia solar.
Aos empresários, empreendedores e interessados em atuar no setor, Rodrigo Sauaia, presidente da Absolar recomenda: “simplesmente façam as contas, é um investimento com retorno e economia no dia a dia; uma matriz mais resiliente, independente, além de fundamental para esses novos tempos”.
Tempos que exigem buscar fontes de energia limpa, renovável, abundante e que além do mais é um fortíssimo aliado no combate ao aquecimento global.
Seria preciso dizer mais alguma coisa?


*Publicado na coluna do autor no site da revista Carta Capital