24 setembro 2015



Jornalistas debatem as pautas ambientais do século 21

Estudantes, profissionais e membros da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental se reúnem em seu 6º Congresso em São Paulo, em outubro de 2015

A cidade de São Paulo sediará a 6° edição do Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental (CBJA) nos dias 20, 21 e 22 de outubro de 2015, no Sesc Vila Mariana. Jornalistas de todo o Brasil se propõe a tratar a fundo as questões ambientais, sociais, econômicas e tecnológicas que implicam nas pautas, nas condições e nas práticas do exercício do jornalismo ambiental. O CBJA é um dos principais eventos para jornalistas e profissionais de comunicação que atuam com pautas ambientais e de sustentabilidade no Brasil.

O tema escolhido para nortear os debates será “Mundo em Transição”. A ideia, explica Dal Marcondes, diretor executivo da Envolverde, responsável pela organização do Congresso, é tratar dos principais dilemas de nosso tempo, que vão das mudanças climáticas, resíduos sólidos, desigualdade, até a transição dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis. “Precisamos construir pautas mais integradas, com uma visão estruturada dos desafios ambientais e como eles interagem”, explica o jornalista.

Participações

Este ano o evento contará com a presença confirmada do jornalista John Vidal, editor de meio ambiente do jornal The Guardian. Entre os brasileiros estarão presentes os jornalistas André Trigueiro, editor do programa Cidades e Soluções da TV Globo; Amélia Gonzalez, editora do blog Nova Ética Social, do Portal G1; Maria Zulmira (Zuzu), jornalista da Planetária Soluções Sustentáveis e criadora do Repórter Eco na TV Cultura; Paulina Chamorro, apresentadora e editora da rádio Eldorado; Luciano Martins Costa, pesquisador em jornalismo; Mário Evangelista, editor do jornal A Tribuna; Maristela Crispim, do Diário do Nordeste; Luanda Nera, da Rede Nossa São Paulo; Edgard Matsuki, desenvolvedor do site boatos.org; Sônia Araripe, jornalista, Publisher da revista Plurale; Gustavo Faleiros,  do Portal O Eco e do ICFJ - International Center for Journalists, além de outros nomes relevantes da cobertura ambiental nos meios de comunicação e nas mídias sociais.

O evento contará também com a presença de autoridades, como o Secretário Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional,  Arnoldo de Campos e representantes de Empresas, ONGs e Institutos como Natália Viana, da Agência Pública; Aldem Bourscheit, jornalista e especialista em Políticas Públicas; Gabriela Yamaguchi, gerente de comunicação do Instituto Akatu; Mário Mantovani, diretor de mobilização da Fundação SOS Mata Atlântica; Tasso Azevedo, membro do Observatório do Clima; André Vilhena, diretor do CEMPRE; Gina Rizpah Besen, consultora e membro da Cidade Democrática; Cláudia Diani - assessora de comunicação social da ANA (Agência Nacional de Águas); Nelton Friedrich, diretor de coordenação executiva Itaipu Binacional; Izabela Ceccato, idealizadora e fundadora da Eco Rede Social. 

Para mediar as mesas de diálogos e rodas de conversas o Congresso conta com a participação  dos membros da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental, correalizadora do VI CBJA. “A presença de especialistas e pesquisadores ligados a organizações sociais, governos, empresas, mídias e academia promove uma confraternização importante, com troca de experiências, novas ideias sobre os diversos temas de interesse socioambiental”, acrescenta Dal.

Pesquisadores
Durante o Congresso acontece também o Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo Ambiental, que reúne pesquisadores da área de jornalismo ambiental em uma mostra científica.
Informações

O VI CBJA é uma realização do Instituto Envolverde, da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental e do SESC Vila Mariana. Conta com o patrocínio da Agência Nacional de Águas (ANA) e da Tetra Pak e com o apoio do Ministério do Meio Ambiente. Tem como parceiros o CEMPRE, Fecomércio, Brasil Kirin,  Fibria, Maxpress, revista Eco21, revista Plurale, revista Ecológico, Instituto Mais, Instituto Ethos.
As INSCRIÇÕES SÃO GRATUITAS e podem ser feitas pelo site http://jornalismoambiental.org.br

SERVIÇO:
VI Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental
Dias 20, 21 e 22 de outubro de 2015
Sesc Vila Mariana – Rua Pelotas, 141, Vila Mariana, São Paulo
Inscrições e informações: jornalismoambiental.org.br/
III ENPJA
Informações e contato: http://enpja.com.br/normas/



09 setembro 2015

No ritmo atual uma montanha de lixo irá nos soterrar

Pesquisa revela que a produção de resíduos aumentou 29% em 11 anos no país e para reverter à situação um bom exemplo vem da nossa Amazônia
Por Reinaldo Canto*

Produção-de-lixo

Diferente da nossa economia, que apresenta desaceleração, o que não para de crescer é a  capacidade nacional de gerar cada dia mais lixo. Foi o que concluiu a nova pesquisa divulgada pela Abrelpe – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais.
Segundo os dados levantados pela entidade em cerca de 400 municípios nos quais residem quase 92 milhões de pessoas, de 2003 a 2014 a quantidade de resíduos produzidos pelos brasileiros foi cinco vezes superior ao aumento populacional do período que foi de apenas 6%. Hoje em média cada pessoa gera 1,062 quilos de lixo por dia!
Os formuladores da pesquisa afirmam que essa é a primeira e mais abrangente feita sobre a situação dos resíduos no Brasil, após a entrada em vigor da PNRS – a Política Nacional de Resíduos Sólidos, em 2010. Desde então pouca coisa prevista na lei foi efetivamente implementada, entre elas, um aumento na reciclagem da ordem de 7,2%. Quando a lei passou a valer, apenas 57,6% das cidades brasileiras tinham coleta seletiva, agora esse número saltou para 64,8% dos municípios que reciclam seus resíduos. Um avanço, sem dúvida, bem tímido!
Mas as boas notícias praticamente param por aí! No ano passado apenas 58,4% de um total de 78,6 milhões de toneladas de resíduos coletados tiveram destinação adequada, ou seja, foram ao menos encaminhados para aterros sanitários, locais apropriados e preparados para receber esses materiais. Outros 41% foram parar em lixões ou aterros controlados, lugares inadequados e que oferecem riscos à saúde das pessoas, ao meio ambiente e podem trazer sérias e irreversíveis consequências como a contaminação do solo e do lençol freático, entre outros.
Exemplo na Amazônia
Recentemente tive a oportunidade de conhecer uma realidade que dá uma medida de quanto à falta de uma ação mais efetiva para a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos deverá agravar um quadro que já pode ser considerado dramático.
À convite da empresa Tetra Pak, visitei experiências de coleta seletiva em comunidades ribeirinhas que fazem parte da Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Negro em Manaus, no estado do Amazonas.
O projeto desenvolvido em parceria com a FAS – Fundação Amazonas Sustentável tem o objetivo de reduzir os impactos causados pelo lançamento de resíduos que tradicionalmente eram jogados no Rio Negro ou enterrados e até mesmo queimados.
Quando a realidade dessas comunidades estava ligada, basicamente, ao descarte de material orgânico, ou seja, restos de alimentos, cascas de frutas e madeira, o próprio ambiente possuía condições razoáveis de absorção. A partir do momento em que as comunidades passam a consumir cada vez mais produtos descartáveis e alimentos industrializados embalados, entre outros, a situação muda completamente. Jogar no rio materiais como, plásticos, metais e até mesmo pilhas e baterias, altamente tóxicos e poluentes trás terríveis consequências para as pessoas e o meio ambiente amazônico.  
Algumas comunidades como a Três Unidos que fica às margens do Rio Cuieiras felizmente começam a entender os perigos do descarte indiscriminado desses materiais. O Centro de Triagem lá localizado recebe embalagens diversas e por meio de uma prensa entregue pela Tetra Pak, todo o material é compactado e depois enviado à Manaus para uma destinação correta.
Alunos de outras 19 comunidades se dirigem diariamente para estudar no Núcleo de Conservação e Sustentabilidade Assy Manana, onde estudam e são estimulados a enviar os resíduos de suas comunidades para serem prensadas no centro de triagem da Três Unidos. No ano passado cerca de 1,5 tonelada de resíduos passaram pelo local e neste ano são esperadas a coleta de duas toneladas de materiais recicláveis.
Fernando von Zuben, diretor de meio ambiente da Tetra Pak explica que o fornecimento dos materiais adequados para a construção do centro de triagem e os equipamentos compatíveis com as necessidades locais representam importantes apoios para a preservação ambiental, mas ressalta, “toda a mão de obra é local e os resultados só aparecem se as pessoas estiverem envolvidas com o projeto”. 
“Aqui na Amazônia as dificuldades para um processo como esse são bem maiores do que em São Paulo, por exemplo, por causa das questões logísticas da região”, afirma Virgílio Viana, engenheiro florestal e superintendente geral da FAS. Para ele, esses enormes desafios requerem uma conscientização ainda maior. A educação, o convencimento e o posterior engajamento das pessoas são as bases necessárias para o sucesso no trabalho de reciclagem.
Mesmo com a expansão do projeto previsto para atingir mais comunidades, ainda será pequeno diante de outras centenas de aglomerados humanos residentes na nossa Amazônia que, neste momento, estão jogando nos rios uma quantidade imensa de materiais poluentes e contaminantes. Por essa razão, os esforços precisam envolver seriamente mais atores da sociedade manauara e dos outros estados da região e de todo o Brasil. Só para se ter uma ideia, a geração de resíduos apenas em Manaus é superior a 1,5 milhão de toneladas anuais. De 2005 a 2012 houve um incremento de 38% na quantidade de resíduos produzidos pela capital do Amazonas, segundo a Secretaria Municipal de Limpeza e Serviços Públicos da cidade.
Como refletiu o cacique tuxaua Valdemir Triukuxuri, um dos líderes da comunidade Três Unidos, de acordo com a tradição indígena, tudo que é importante deve estar na frente, a vista de todos. Foi por essa razão que o Centro de Triagem possui localização privilegiada bem na frente da comunidade. “Índio considera um monumento, porque é bom para a saúde de todos”.
Pois bem são essas alternativas que nos restam: colocar o problema na frente para que todos possam ver e agir, parar de protelar indefinidamente os pontos principais previstos em lei como o fim dos lixões e o aumento da capacidade de reciclagem em todo o país ou só assistir o problema crescer perigosamente. Nesse último caso, o que o futuro nos reserva, se continuarmos a empurrar com a barriga a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos? Será mesmo uma imensa e vergonhosa montanha de lixo que não mais poderá ser escondida.
* Publicado originalmente no site da revista Carta Capital